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10.10.2016

O sol, a espera, a chuva e o sol, e a esperança

  • Nem sempre, nem todo tempo é sol de primavera. Nem sempre, nem para sempre a seca continua...

"O Semeador", pintura de Jean François Millet. (Reprodução)
“O Semeador”, pintura de Jean François Millet. (Reprodução Sub21)
 por Selvino Heck* para blog Sub21 - Sociedade e Luta Social (fonte no final)
3 de outubro de 2016, segunda-feira, bate o sol forte da primavera, na semana de São Francisco e do assassinato do Che. Enquanto vou pendurando no varal a roupa que acabei de tirar da máquina de lavar, vou pensando na vida e na política, neste primeiro dia de relativa calma depois da volta de Brasília, depois de três meses de intensa campanha eleitoral, e finalmente começando a inaugurar a nova fase da vida como aposentado do INSS, na casa de mamãe Lúcia, Santa Emília, interior do interior do Rio Grande do Sul.
Lembro da mais difícil campanha da qual participei em 36 anos de PT: 1990, eleições a governador, Tarso Genro o candidato, um ano depois da derrota de Lula para Collor, depois da queda do Muro de Berlim e do fim do socialismo real.
Vieram 12 anos de neoliberalismo puro, anos difíceis, duros. As pessoas diziam que o Partido dos Trabalhadores, os movimentos sociais não sobreviveriam ao Estado mínimo, ao desemprego dos governos FHC, ao mercado absoluto, à ditadura midiática da Globo.
Sobreviveram. Sobrevivemos todas e todos. Surgiu o Fórum Social Mundial (FSM) em 2001 em Porto Alegre, unindo todas as forças democráticas e populares, a resistência e a unidade para construir alternativas no terceiro milênio, seguido pelos governos Lula e Dilma nos anos 2000.
A primeira semana de outubro de 2016 era de espera, depois da segunda pior campanha em 36 anos de PT, depois do impeachment golpista, das medidas contra os direitos do povo trabalhador em curso, as ameaças crescentes à democracia. Os manos Elma e Marino, agricultores familiares que vendem o que plantam e colhem na Feira do Produtor em Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, há dias preparavam a terra e os canteiros, plantavam mudas, à espera da chuva anunciada e necessária. Fazia semanas que não chovia. O que estava plantado – verduras em geral, alface, couve, rabanetes, beterrabas – estava acabando ou com dificuldades de crescer. Enquanto não chovesse, era prudente não plantar. Tudo podia ser em vão, tudo podia acabar perdido.
A chuva começou mansa no final da tarde/início da noite de quarta, dia 5, estendeu-se por toda noite, enquanto finalmente o Grêmio ganhava fora de casa contra o Vitória da Bahia. Continuou sem parar até a quinta de noite, dia 6, quando o Internacional, em luta contra o rebaixamento no Brasileirão, ganhou dramaticamente do Coritiba no Beira Rio. Era uma chuva mansa, quase quieta, leve, que dava gosto de ouvir e olhar, molhando as mudas recém plantadas, as árvores, abençoando a vida. O Max, sempre atirado no sol, recolheu-se prudentemente para os galpões.
É assim na vida e na política. É preciso, muitas vezes, esperar a chuva, para voltar a plantar. Mas antes que ela chegue, é preciso aproveitar o sol da primavera, preparar os canteiros, ter mudas prontas, arar em tempo a terra, deixar tudo pronto para a chuva mansa, e plantar já enquanto ela ainda cai. Depois, é sentar na sala, ou, melhor, na varanda de casa, olhar os pingos caindo devagar na grama e nos canteiros, enquanto se toma um chimarrão e/ou uma caipirinha, aquecendo de vez o corpo, a alma, o coração.
Nem sempre, nem todo tempo é sol de primavera. Nem sempre, nem para sempre a seca continua. A intervalos, a chuva cai. O ciclo da vida segue em frente.
Hoje, 7 de outubro, véspera do assassinato do Che na Bolívia, o sol da primavera voltou a brilhar com toda força. A terra umedecida, com a força do sol, faz crescer os brotos colocados na terra durante a semana. Suas primeiras folhas verdes já se apresentam à luz do dia e ao meu olhar ansioso. Logo, logo seus frutos gostosos estarão disponíveis ao meu/nosso sabor e à minha/nossa saúde, sem venenos, apenas tocados pela mão do homem e da mulher, banhados pelas lágrimas da chuva, pelos suaves raios de sol e pelo leve calor da primavera em flor.
Nada como a vida, o tempo, a história. Na vida e na política. Na política e na vida.
(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)
Em sete de outubro de dois mil de dois mil e dezesseis
http://www.sul21.com.br/jornal/o-sol-a-espera-a-chuva-e-o-sol/

Saúde mental dos políticos e juizes uruguaios em avaliação


  • Desde el Frente proponen pericias psicológicas para legisladores uruguayos

  • El psicólogo e integrante del FLS, Andres Copelmayer, presentará la iniciativa en comisión del Parlamento
Por Leonardo Pereyra, para jornal El Observador e blog Sub21 - Sociedade e Direitos Humanos
smpoliticos
Las tentaciones que acechan a aquellos que padecen o disfrutan de la soledad del poder; los microclimas que confunden y marean a quienes viven casi permanentemente en el mundillo político; y las presiones sociales a las que se ven sometidos los gobernantes, son algunas de las razones por las cuales, desde el Frente Amplio, se propondrá que los legisladores se expongan todos los años a una pericia psicológica para conocer qué tal anda de su salud mental.
La iniciativa será presentada a la Comisión Especial de Fortalecimiento de los Partidos Políticos por parte del psicólogo e integrante del Frente Líber Seregni (FLS), Andrés Copelmayer, quien está asesorando a la izquierda en ese grupo de trabajo.
El exjefe de gabinete del Ministerio de Transporte dijo a El Observador que su propuesta apunta a que los parlamentarios electos adjunten a su declaración jurada una evaluación psicológica realizada por profesionales competentes, que sea anual y confidencial, y que quede a juicio del legislador hacerla pública o no.
“La salud mental es un estado de bienestar en el cual la persona conoce sus capacidades y limitaciones, puede enfrentar las tensiones emocionales de su vida cotidiana y es capaz de contribuir a la comunidad. Se apunta a proteger a los legisladores que, por su representatividad ciudadana, las exigencias de rol full time y el ajuste a la cultura del sistema político, habitualmente sufren tensiones extremas difíciles de manejar”, dijo Copelmayer.
Señaló que las pericias psicológicas no son extrañas en otras áreas del Estado. “En Uruguay el proceso de selección de aspirantes para el ingreso a la Judicatura (carrera para convertirse en Juez) incluye escolaridad, méritos, prueba de conocimiento, evaluación psicológica y entrevista personal”, explicó Copelmayer.
Observó que también se requiere ese examen en actividades privadas vinculadas con el transporte y los controladores de tráfico aéreo.
“De aceptarse esta propuesta el Parlamento daría una fuerte señal a la ciudadanía, en el sentido de que no hay individuos puros, inmaculados, perfectos ni sin conflictos. Que pedir ayuda profesional para lidiar con la vida no es un demérito sino una forma de cuidarnos a nosotros mismos, a nuestra familia y a la comunidad”, agregó el integrante del FLS.
Reconoció que uno de los cuestionamientos más fuertes que puede tener su iniciativa desde el punto de vista técnico, es la utilidad que tendría para un parlamentario una evaluación psicológica sin que exista una necesidad real propia.
“Frente a eso sostenemos que la obligatoriedad de la consulta puede de hecho terminar convirtiéndose en un alivio para el legislador. Con que se logre eso en el 10% de los casos ya se habrá hecho una interesante contribución a ellos mismos y a la comunidad que representan”, dijo.
A juicio de Copelmayer, el comportamiento político del líder colorado Pedro Bordaberry es un claro ejemplo de la necesidad de conocer más profundamente el funcionamiento psicológico de los políticos. “Muchos calificaron su propuesta de disolver las cámaras como una ‘locura’. Confieso que el suicidio político al que está llevando Bordaberry al Partido Colorado me es más fácil explicarlo por su confesa obsesión personal de ‘hacer mierda’ a Tabaré Vazquez y al FA. Pero si Bordaberry consultase a un especialista, capaz que ya lo hizo, este encuentro podría afianzar su actitud confrontativa como una convicción política pura, atravesada por su subjetividad pero sin interferencias patológicas. O tal vez el devenir terapéutico, como él mismo ha dicho tantas veces, le permitiría concluir que puede aportar más a la sociedad desde fuera de la política. Es imposible llegar a cualquier conclusión seria desde afuera y sin mediar una consulta profesional”, agregó el profesional.
Consultado acerca de si en sus años de funcionario de gobierno había acudido a la ayuda psicológica que hoy les exige a los lesgisladores, Copelmayer respondió que sí.
“La psicoterapia personal me ayudó a entender que mi ansiedad infantil y narcisista por la inmediatez de alcanzar lo que yo suponía logros, restringía el respeto y la escucha de la perspectiva de los otros; que me confrontaba torpemente con los tiempos y la cultura institucional, transformándome en un molesto y caprichoso botija especialista en tirar Chasquiboom”, dijo.
No obstante, admitió que el hecho de haber entendido sus debilidades no significa que se haya curado. “Así que por las dudas saque esos fósforos de ahí”, sugirió.
http://saudepublicada.sul21.com.br/2016/10/09/saude-mental-dos-politicos-e-juizes-em-avaliacao/

Fundo de Investimentos dos EUA de professores da Harvard passa a controlar ilegalmente 270 mil hectares de terras no Brasil

  • A informação sobre a compra ilegal da Radar foi dada pelo jornal Valor Econômico, entre outros veículos, neste sábado (8/09/2016)

Empresa Radar administra 270 mil hectares em nove estados (SP, GO, PI, MT, MS, MA, MG, TO e BA). (Foto: Divulgação)
Empresa Radar administra 270 mil hectares em nove estados (SP, GO, PI, MT, MS, MA, MG, TO e BA). (Foto: Divulgação do blog sul21)
A Cosan vendeu fatia não revelada de sua participação – antes metade – na empresa Radar, que administra 270 mil hectares em nove estados (SP, GO, PI, MT, MS, MA, MG, TO e BA). As 555 propriedades agrícolas passam a ser controladas pelo TIAA, um fundo de pensão de professores americanos – e uma das 100 maiores corporações financeiras estadunidenses. O fundo já tinha a outra metade da empresa.
Quem presidia até o mês passado a empresa era Collin Butterfield, que está de mudança para o fundo de pensão da Universidade de Harvard. Ele é um dos líderes do Vem Pra Rua, movimento que participou ativamente da queda de Dilma Rousseff – e que elegeu uma vereadora em São Paulo, Janaina Lima (Novo). Confira aqui em <http://outraspalavras.net/deolhonosruralistas/2016/09/22/lider-de-vem-pra-rua-sai-da-cosan-para-investir-em-ativos-florestais-pela-universidade-de-harvard/>:“Líder de Vem Pra Rua sai da Cosan para investir em ativos florestais pela Universidade de Harvard“.
A informação sobre a compra da Radar foi dada pelo Valor Econômico, entre outros veículos, no sábado. Segundo o jornal, o Grupo Cosan – o mais poderoso no setor usineiro – vendeu sua participação por R$ 1,06 bilhão à Mansilla Participações, veículo de investimento do TIAA. O fechamento definitivo da operação depende do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
PODE OU NÃO PODE?
Em novembro de 2015 o TIAA foi acusado, conforme um relatório da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e da organização espanhola Grain, de comprar irregularmente terras no Brasil. A notícia saiu até no New York Times (http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/the-new-york-times/2015/11/18/fundo-norte-americano-e-acusado-de-comprar-terras-agricolas-no-brasil-apesar-de-proibicao.htm): “Fundo norte-americano é acusado de comprar terras agrícolas no Brasil“.
Segundo o jornal, o fundo gastou centenas de milhões de dólares para comprar terras no Cerrado: “Em um empreendimento labiríntico, o grupo financeiro americano e seus parceiros acumularam novas terras agrícolas apesar da decisão do governo brasileiro em 2010 de proibir acordos de grande escala desse tipo por estrangeiros”.
A aprovação de lei que autoriza a compra de terras em grande escala por estrangeiros é uma das prioridades do governo Temer e da bancada ruralista no Congresso. O Ministério da Justiça restringe desde 2010, em tese, essas aquisições. Na prática, milhões de hectares já estão nas mãos de multinacionais.
O relatório da Grain e da Rede Social pode ser lido aqui <http://www.social.org.br/files/pdf/RevistaREDE2015paranet%202.pdf>: “A Empresa Radar S/A e a Especulação com Terras no Brasil“.
Ele diz que as fazendas adquiridas no Maranhão e Piauí eram controladas por Euclides de Carli, acusado de ser o “maior grileiro da região”. O Grupo de Carli teria destruído plantações e incendiado a casa de um líder comunitário. O ex-deputado estadual Manoel Ribeiro chegou a dizer publicamente que ele já teria grilado 1 milhão de hectares e mandado matar mais de 70 pessoas.
http://www.sul21.com.br/jornal/fundo-americano-de-professores-passa-a-controlar-270-mil-hectares-no-brasil/

A Segurança Pública como Prática Social


Junião / Ponte.org

  • É preciso desmilitarizar a política

 
A política militarizada tem como paradigma o mero enfrentamento pelas armas. Constrói, na categoria dos 'bandidos', um inimigo a ser vencido e exterminado, disseminando o falso antagonismo entre direitos humanos e segurança pública
          O leitor poderia perguntar: o que seria uma política militarizada? A resposta tem relação com o que cotidianamente vemos nos jornais e na TV. A política militarizada tem como paradigma o mero enfrentamento pelas armas. Constrói, na categoria dos chamados “bandidos”, um inimigo a ser vencido e exterminado, disseminando o falso antagonismo entre direitos humanos e segurança pública, como se aqueles fossem um empecilho para que esta se concretize; dessa forma, produz um sentimento de guerra na sociedade.
           Além disso, essa política militarizada toma a segurança pública como assunto meramente policial, fazendo com que apenas os profissionais de segurança pública, especialmente da polícia militar, sejam enviados para comunidades completamente abandonadas pelos serviços públicos e sociais, envolvendo-se em uma batalha sem vencedores, sob o pretexto da terrível e fracassada “guerra às drogas”.
         É importante lembrar que a polícia é uma instituição fundamental para a defesa da legalidade e que não existe Estado democrático de direito sem polícia. A política militarizada, no entanto, ao utilizar essa valorosa instituição apenas pelo viés bélico do enfrentamento na tentativa de “pacificação”, tem banalizado as vidas dos policiais e dos moradores das comunidades pobres, que dividem a mesma sorte de desprezo, já que oriundos da mesma classe social. As mortes de policiais – que são trabalhadores e humanos, frise-se – têm se tornado cada vez mais frequentes, o que deveria chocar a todos nós.
         Diante desse quadro horrendo, pergunta-se: em que consistiria, então, a desmilitarização da política? Ora, uma política desmilitarizada é aquela cujo foco da segurança pública é a investigação, a inteligência e a prevenção de delitos, e não o combate e a repressão dos crimes somente após o seu acontecimento. É, acima de tudo, aquela que toma a palavra segurança como a designação de algo bem maior do que policiamento ou a não ocorrência de crimes.
         A segurança deve ser a proteção do Estado aos seus cidadãos, especialmente nas questões sociais. A fome, as desigualdades, o não reconhecimento de direito fundamentais, o abandono e, principalmente, a criminalização de comunidades e populações inteiras podem culminar em graves problemas de insegurança pública. E não será com medidas penais, como redução da maioridade penal, agravamento de penas e abandono do ideal de ressocialização daqueles que cometem delitos, que eles serão resolvidos.
       A segurança, antes de ser pública, deve ser social. Essa é a questão central da desmilitarização da política.

*Anderson Duarte é policial militar e doutorando em educação brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Publicado originalmente no site Ponte.org
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/45281/e+preciso+desmilitarizar+a+politica.shtml