Páginas

8.27.2015

Brasileiros (as) rejeitam melhorias sociais, disse Mujica, ex-presidente do Uruguai













  • “Quem disse que para ser feliz é preciso comprar um telefone novo a cada quatro meses? Por que trocar o carro a cada dois anos? Pagar cotas e cotas e cotas para o resto da vida? Isso é felicidade? O que está em jogo é a felicidade humana, e ela está em poucas coisas: na juventude, no amor. Entre ser desenvolvido e ser feliz, mais vale não ser desenvolvido”.
  • Mujica: “Brasileiros não reconhecem melhorias sociais”

  • No Rio, ex-presidente uruguaio disse que políticos têm que viver como a maioria

Eduardo Miranda para o Jornal do Brasil
Em um diálogo sobre política e coletividade, o ex-presidente uruguaio Jose “Pepe” Mujica disse, após receber homenagem da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur), que o Brasil mudou muito positivamente, mas que a população, em geral, não reconhece os ganhos sociais e atribui o progresso exclusivamente ao esforço individual.
“Muita gente que melhorou não se dá conta de que a melhora é resultado de medidas que foram tomadas ao longo dos anos. Muita gente crê que melhorou apenas pelo seu esforço individual e não vê que lhe deram a oportunidade. Isso se passa não apenas no Brasil, mas em todos os lugares, em outras sociedades modernas”, apontou Mujica, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio.
O ex-presidente se recusou a fazer críticas à presidente Dilma Rousseff e disse que é preciso ter habilidade diplomática e carinho com o povo brasileiro. Ao ser informado sobre a ocorrência de manifestações de rua que pedem a volta dos militares no poder, Mujica foi enfático: “As pessoas que clamam por isso são loucas! Loucas! Qualquer democracia, por pior que seja, é melhor que uma ditadura”, disse ele, que passou 14 anos encarcerado no período ditatorial do Uruguai.
Mujica, que abriu mão de 90% de seu salário enquanto esteve no comando de seu país, argumentou que não prega voto de pobreza, mas alertou para o fato de que a ganância de homens públicos pelo dinheiro está matando a confiança na política. O uruguaio foi aplaudido de pé quando defendeu que os políticos devem viver como a maioria da população.
“Eles têm que viver como a maioria, e não como a minoria privilegiada. Se o político se acostuma a comer na mesa e a ir à casa dos muito ricos, ele pensará que é muito rico também. Se ele faz isso, ele afeta a confiança, e o homem precisa confiar em algo. Aquele que só gosta de dinheiro não deve ter lugar dentro da política.”, concluiu o senador uruguaio.
 Em seu discurso, que durou trinta minutos, o ex-presidente disse que não vive sem utopia, que “só a multidão pode mudar a realidade”, que “não há homens imprescindíveis, há causas imprescindíveis” e criticou os imperativos do capitalismo.
“Quem disse que para ser feliz é preciso comprar um telefone novo a cada quatro meses? Por que trocar o carro a cada dois anos? Pagar cotas e cotas e cotas para o resto da vida? Isso é felicidade? O que está em jogo é a felicidade humana, e ela está em poucas coisas: na juventude, no amor. Entre ser desenvolvido e ser feliz, mais vale não ser desenvolvido”.
http://www.jb.com.br/pais/noticias/2015/08/27/mujica-brasileiros-nao-reconhecem-melhorias-sociais/

Frei Betto: pensamos que o ter é mais importante que o ser pessoa ...


“Hoje, somos vítimas de nossos próprios erros”
                                                          frei Betto

Divulgação-3
Frei Fernando, Frei Betto, Frei Ivo e Frei Tito (da esquerda para a direita), durante julgamento dos dominicanos em 1971

Do Site da SMetal

O Dominicano tem mais de 60 livros publicados. Entre eles, os clássicos “Batismo de Sangue” e “Nos subterrâneos da história”.

O frade concedeu entrevista exclusiva para o setor de imprensa da SMetal:


betto

Imprensa SMetal: O comportamento de selfies, que se espalha pela internet, aponta para uma sociedade egocêntrica que não consegue visualizar o entorno?

Frei Betto: Antes, muitos protestavam contra a invasão de privacidade. Hoje, milhares promovem a evasão de privacidade… Havia um muro que separava os territórios da vida pública e da vida doméstica. Agora, o muro ruiu, graças às novas tecnologias eletrônicas. E muitas pessoas se mostram em redes sociais como são de fato na vida privada: egocêntricas, agressivas, vaidosas, preconceituosas… Em suma, frutos do capitalismo neoliberal, cujo valor supremo é a competitividade. Ou seja, suba pisando no próximo, reduzindo-o a seus degraus de ascensão.

IS: Vivemos um processo de intolerância na sociedade. O ser humano está perdendo a capacidade de se relacionar?

FB: Não. É que, antes, os territórios estavam bem delimitados: o plebeu não invade o terreno do nobre; o escravo, do senhor; o negro, do branco; a mulher, do homem; o pobre, do rico. Agora, com o avanço da consciência de direitos humanos (friso: consciência, e não vivência) e dos direitos civis, as barreiras se romperam, e isso provoca intolerância. Os do andar de cima se sentem sumamente incomodados de terem que dividir o espaço com os do andar de baixo… Ou seja, séculos de castas, estamentos, desigualdades sociais estão impregnados em cada um de nós, o que nos faz reagir atavicamente, como um animal diante de seu predador.

IS: Gostaria que o senhor comentasse sobre o repúdio dos manifestantes às instituições e entidades, ignorando a trajetória e contribuições delas, como é o caso da própria CNBB, que assina o projeto pela reforma política.

FB: Essa gente “pensa” com o fígado, e não com a razão. E sem memória histórica. Mas a culpa não é só deles. É do governo, que promoveu inclusão econômica e deixou de lado a inclusão política. E da educação, que não forma os educandos com consciência histórica.

IS: Na visão do senhor há algum movimento que esteja pensando em um novo projeto de sociedade para o país?

FB: Muitos movimentos sociais, como o MST e o MTST, estão na linha de pensar um novo projeto para o Brasil. Mas, infelizmente, órfãos de um partido que transforme isso em projeto político viável a curto prazo. Há tentativas louváveis de formação de frente de esquerdas. Costura que não é fácil, pois não há um alvo inimigo concreto, como na ditadura e, apesar de tudo, ruim com Dilma, pior sem ela…

IS: Nessas manifestações da direita diversos cartazes são exibidos pedindo retorno dos militares no poder. Falta arte e utopia aos jovens?

FB: Convém na confundir as viúvas da ditadura com os jovens, embora haja jovens entre elas. Mas faltam arte e utopia a muitos jovens. Infelizmente o PT no governo criou uma nação de consumistas, e não de cidadãos.Porque não se dedicou à sua proposta mais original: organizar a classe trabalhadora.

IS: Não é difícil encontrar depoimentos de trabalhadores fazendo discurso contra trabalhadores (pessoas pobres). A identidade do Brasil sempre foi tema estudado pelos intelectuais como Darcy Ribeiro e Sérgio Buarque de Holanda. O consumismo atrapalha o sentimento de pertencimento de classe?

FB: Sim, o consumismo é a ideologia do neoliberalismo. Forma de acelerar a apropriação privada do capital. Por isso, todos os produtos têm prazo de validade muito curto. Tudo é reciclável ou descartável. Até as relações humanas… A consciência de classe é algo muito difícil de se formar. Exige um trabalho político muito intenso, que raros movimentos sociais e sindicatos fazem. Penso nos camponeses alemães incorporados ao Exército Nazista. Sentiam-se orgulhosos de lutar por uma Alemanha hitlerista…

IS: Em 1998, o senhor escreveu o artigo “Para que votar?”, no qual afirmou que a ‘apatia coletiva é grave sintoma para a saúde da democracia. A indiferença do eleitor inviabiliza a diferença na política’. Hoje, o que se percebe é uma hostilização a qualquer movimento/mobilização que defenda os desvalidos e assalariados. O contexto dos dias atuais é de uma ‘partidarização’ elitista?

FB: Enfim, a direita “saiu do armário”. Eu mesmo fui agredido por ela nos lançamentos, no Rio e em Belo Horizonte, de meus livros PARAÍSO PERDIDO – VIAGENS AOS PAÍSES SOCIALISTAS e UM DEUS MUITO HUMANO – UM NOVO OLHAR SOBRE JESUS.
Todos os que, historicamente, defenderam os direitos dos pobres sofrem todo tipo de violência da parte dos que não abrem mão de serem os unidos de posse da riqueza social.

IS: O senhor foi preso na ditadura civil militar. Pode-se fazer alguma comparação com 1964, em relação à caça aos militantes da época – com a ajuda da imprensa?

FB: O velho Marx já dizia que a ideologia de uma sociedade é a ideologia da classe que domina esta sociedade. O que lamento é o PT, em mais de uma década de governo, não ter feito a regularização da mídia. Hoje, somos vítimas de nossos próprios erros.

IS: Ainda está longe um Brasil soberano? Quais são as expectativas do senhor?

FB: Minha expectativa é que o que resta de esquerda – e resta muito pouco – se reorganize melhor em função da defesa dos direitos dos pobres e das mudanças estruturais de que o Brasil tanto necessita.

http://negrobelchior.cartacapital.com.br/frei-betto-hoje-somos-vitimas-de-nossos-proprios-erros/

8.25.2015

Alimentos: comida ou veneno? Produção orgânica se viabiliza como garantia de segurança alimentar

Ainda modesta no país, atividade agrícola sem agrotóxicos cresce 35% ao ano e se viabiliza também modelo de negócio – solidário, sustentável e lucrativo
 
por Eduardo Tavares - Sociedade e Alimentos Saudáveis
  
Eduardo Tavares/RBA
Produção Orgânica
Vilmar Menegat não tem filhos.
Mas se vê como "pai" de uma família numerosa de sementes nativas. São mais de 60 diferentes "filhotes" conservados com carinho em potes de vidro reciclados. Milho, feijão, trigo sarraceno, soja preta, chia são alguns dos nomes dessas crioulas – vistas pelo agricultor como sementes da preservação da biodiversidade do planeta. Vilmar, 42 anos, vive com os pais, descendentes de italianos, em um sítio de 50 hectares no interior de Ipê, município localizado na serra gaúcha, autointitulado "Capital Nacional da Agroecologia". A principal cooperativa da cidade, Eco Nativa, tem 67 produtores orgânicos associados que vendem diretamente em feiras de Porto Alegre e Caxias do Sul – o excedente vai para os supermercados. Ipê e a cidade vizinha Antônio Prado foram pioneiras da produção de alimentos orgânicos no Brasil. Toda semana levam quatro caminhões carregados às feiras de Porto Alegre. Normalmente retornam vazios.
Esses produtores desafiam uma realidade assombrosa: o agronegócio brasileiro é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. A venda de agrotóxicos saltou de US$ 2 bilhões em 2002 para quase US$ 10 bilhões em 2012. O Brasil tem um quinto do mercado mundial, com a marca de 1 milhão de toneladas, equivalente a um consumo médio de 5,2 quilos de veneno agrícola por habitante. Seis empresas dominam o mercado no Brasil: Monsanto, Syngenta, Basf, Bayer CropScience, Dow AgroSciences e DuPont. As seis são também as maiores proprietárias de patentes de sementes transgênicas autorizadas no Brasil. A modificação, em grande parte, torna as plantas de soja, milho e algodão resistentes aos agrotóxicos, exigindo aplicações de doses maiores de veneno para controlar insetos e doenças.
Eduardo Tavares/RBA Vilmar
“Pai” Vilmar tem uma família de sementes nativas
Eduardo Tavares/RBA padrão de vida
Bellé ajudou a criar a cooperativa em 1989
O agricultor é obrigado a comprar o pacote semente/agrotóxico da mesma empresa e não pode ter suas próprias sementes. A legislação brasileira ainda permite a pulverização aérea e a venda de agrotóxicos já proibidos nos Estados Unidos e União Europeia, e oferece incentivos fiscais aos fabricantes. Um exemplo do que o controle do mercado por essas empresas é capaz: a Monsanto, repentinamente, quintuplicou o preço da semente resistente ao agrotóxico glifosato, produzido pela empresa. Agricultores gaúchos que sempre foram favoráveis à difusão da soja transgênica resistente ao glifosato se revoltaram e foram à Justiça contra o pagamento desses royalties.
"O fundamento do agronegócio é que essas seis grandes empresas, através de pequenas modificações genéticas inseridas nas plantas, estão obtendo direito de propriedade sobre aspectos fundamentais para a vida de todos. As plantas transformadas, agora com dono, estão substituindo as plantas naturais, cujas sementes deixam de estar disponíveis", resume o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, dirigente da Associação Brasileira de Agroecologia. "Já as sementes transgênicas estão ao alcance de todos que podem pagar por elas. Não é possível aos agricultores familiares, estabelecidos em regiões dominadas pelo agronegócio, optar pelo plantio do milho crioulo, porque os grãos de pólen do milho transgênico alcançam de forma inexorável as lavouras daqueles que insistem em trabalhar com a base genética comum, comprometendo diversidade, autonomia e segurança alimentar dos povos."
O modelo polui o solo, o ar, mananciais de água e lençol freático. Os agricultores padecem de intoxicação aguda, coceiras, dificuldades respiratórias, depressão, convulsões, entre outros males que podem levar à morte. E os consumidores – a maioria da população brasileira – podem ter intoxicação crônica, que demora vários anos para aparecer, resultando em infertilidade, impotência, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer. A Fundação Oswaldo Cruz calcula que cada dólar gasto com agrotóxicos em 2012 corresponda a U$ 1,26 gasto no Sistema Único de Saúde (SUS).

Solução

A alternativa para esse panorama é o fortalecimento da agricultura familiar e do cultivo sustentável. Apesar do aumentos dos investimentos do governo federal nos últimos anos na agricultura familiar, o lobby do agronegócio dificulta avanços mais significativos. A bancada ruralista no Congresso é numerosa (cerca de 170 deputados e 13 senadores), enquanto o universo de 12 milhões de pequenos agricultores conseguiu eleger apenas 12 deputados. O agronegócio produz, principalmente, biocombustível, commodities para exportação e ração para animal, enquanto a agricultura familiar responde por 70% da produção de alimentos. A orgânica ainda é pequena, movimentou R$ 1,5 bilhão em 2013, mas está em expansão de, em média, 35% ao ano desde 2011, favorecida pela regulamentação do setor com a Lei dos Orgânicos.
Eduardo Tavares/RBA cooperative
Município gaúcho de Ipê é considerado um dos pioneiros na produção de alimentos orgânicos
Eduardo Tavares/RBA Leonardo
Leonardo: produtor familiar enfrenta dificuldades
A produção se concentra nos agricultores familiares organizados em associações ou cooperativas. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também incentiva do cultivo de orgânicos nos assentamentos. A Cooperativa Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), na Grande Porto Alegre, reúne 30 famílias assentadas numa área de 600 hectares, desde 1995. Segundo o diretor Airton Rubenich, o empreendimento produz por mês 40 mil litros de leite, e por ano 268 toneladas de carne de suíno e 2 mil toneladas de arroz. "Tudo orgânico. A maior parte da produção é adquirida pelas prefeituras de São Paulo e Porto Alegre para a merenda escolar e pelo programa Fome Zero."
O agricultor Gilmar Bellé, formado em Economia, dirigente da Cooperativa Aecia e vereador no município de Antonio Prado, vai toda quarta-feira de caminhão a Porto Alegre, levando sua produção e a de outros cooperativados para vender na Feira Cultural da Biodiversidade. Ele é pioneiro na produção de orgânicos. Participou da criação da cooperativa em 1989, junto com outros jovens atuantes na Pastoral da Juventude Rural. A iniciativa é sucesso comercial. Produz 500 toneladas de hortifrutigranjeiros e mais 500 toneladas de alimentos processados nas suas agroindústrias. Além das feiras, vendem para redes de supermercados, como Zaffari e Pão de Açúcar. Negociam tudo o que produzem pelo preço que estabelecem.
As 23 famílias da cooperativa têm bom padrão de vida. A de José Tondello comprova. Seus filhos Jonas, de 23 anos, estudante de Processos Gerenciais, e Neiva, 20 anos, dizem, enquanto colhem moranguinhos, que nem pensam em sair do campo. A mesma opinião tem Maiara Marcon, de 24 anos, que largou o curso de Educação Física para ajudar seu pai na produção de mudas e desenvolver um projeto de ecoturismo no sítio em Ipê.
Eduardo Tavares/RBA padrão de vida
Maiara largou curso para ajudar o pai e desenvolver projeto de ecoturismo

Biodinâmicos

Na Fazenda Capão Alto das Criúvas, no município Sentinela do Sul, a 100 quilômetros de Porto Alegre, o engenheiro agrônomo João Volkmann produz, desde 1989, arroz orgânico e biodinâmico. Em 182 hectares, João extrai 5 toneladas por hectare. O arroz Volkmann foi o primeiro a receber certificado de biodinâmico no Brasil; abastece o mercado interno e é exportado para os Estados Unidos, Alemanha, Bolívia e Uruguai. Desenvolvidos por Rudolf Steiner, criador da Antroposofia, os preparados biodinâmicos usados pelo produtor são elaborados a partir de cristais e plantas medicinais, constituindo uma fitoterapia para que as plantas cumpram melhor sua função e tenham mais potencial nutritivo. "No sistema de produção biodinâmico, a propriedade é vista como um organismo agrícola vivo e espiritual. Os objetivos são a cura da terra, o bem-estar dos agricultores, a produção de alimentos sadios para o consumidor e o desenvolvimento da espiritualidade."
Eduardo Tavares/RBA Airton
Airton: produção inclui leite, carne suína e arroz
Eduardo Tavares/RBA Começo
Alexandre iniciou projeto em feira ecológica. A consumidora Fabiane apoia
Sua fazenda promove cursos e estágios gratuitos. Um dos alunos, João Kranz, é diretor da agroindústria da Cooperativa Ecocitrus, em Montenegro, a 55 quilômetros de Porto Alegre. É a maior produtora brasileira de suco, polpa e óleo essencial de laranja e tangerina e exporta quase tudo para a Alemanha. Das 75 famílias associadas, 12 produzem com preparados biodinâmicos que, segundo Kranz, aumentam a produtividade e propiciam excelente relação custo/benefício.
As redes de supermercados vendem cerca de 70% da produção de orgânicos no Brasil, mas os preços são maiores que os de produtos da agricultura convencional. A alternativa são as feiras livres, onde o produtor vende direto para o consumidor e cria outros vínculos. As feiras estão presentes em todas as capitais brasileiras. Porto Alegre tem sete por semana. A mais antiga é a Feira Ecológica da Redenção – funciona há 25 anos todos os sábados. Anselmo Kanaan, veterinário e coordenador da Feira da Biodiversidade do Menino Deus, constata que tem aumentado o número de consumidores com problemas de saúde que buscam novos hábitos alimentares. A feira tem 24 módulos, e todos têm certificação de produtores orgânicos.
Entre eles está Gilmar Bellé, de Antônio Prado, com um avental, carregando caixas de tomates. Na banca ao lado, Alexandre Baptista, o Ali, é o mais novo produtor, e está iniciando um projeto bem-sucedido e consolidado na Europa e Japão: o CSA (da sigla em ingles A Comunidade Financia o Agricultor). São 30 famílias que pagam mensalmente R$ 93 e recebem toda semana uma cesta com oito produtos diferentes. Dessa maneira é garantido o escoamento da sua produção. A advogada Fabiane Galli é uma das apoiadoras. "As crianças não adoecem e têm muita vitalidade", diz Fabiane, mãe de três crianças e há nove anos consumindo produtos orgânicos.
Grãos
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/109/comida-ou-veneno-comida-4464.html

Dá licença, que sou pai...

Aos poucos, homens descobrem o prazer de cuidar dos filhos, deixam para trás a figura de provedor do lar e engrossam o caldo cultural para uma sociedade mais igualitária
 
por Luciana Ackermann - Sociedade e família 
 
VITOR VOGEL/RBA
Nova posturaVinícius: compartilhando visões do mundo com Pedro
Há quem diga que uma das mudanças comportamentais mais interessantes dos últimos anos é o novo papel do homem como pai. E seu desejo crescente de ser mais ativo no cuidado diário e na formação dos filhos. Não faltam tentativas de encontrar um termo que dê conta dessa transformação, ainda um tanto lenta – paternidade participativa, paternidade ativa, novo pai, pai cuidador, pai presente, paizão... Mas trata-se de um fato contemporâneo que tem tudo para afetar profundamente a sociedade, considerando que a maior participação dos pais no cotidiano dos filhos ajuda a romper o ciclo cultural de que cabe à mulher, mesmo a que trabalha fora, dedicar-se à prole e à casa.
Essa nova postura do homem também contribui para a emancipação das mulheres a partir da divisão mais igualitária das funções, como acontece com o casal Perrota, o advogado Julio, de 40 anos, e a economista Bruna, de 37. "Sempre gostei do meu trabalho, me esforcei muito para passar em concurso público, tive oportunidade de crescimento e quando me tornei mãe não quis ter de abrir mão de tudo que conquistei", diz Bruna, que eventualmente viaja a trabalho e, com frequência, participa de reuniões que excedem o expediente.
THIAGO RIPPER/RBA Julio
Julio e as filhas: descobertas
Perrota, que tem um negócio próprio, conta que busca ao máximo dar o suporte necessário para que a mulher continue a trilhar o caminho dela. "Tenho certeza de que nossas filhas terão orgulho da mãe. Penso que para a formação das meninas também será muito positivo ter dentro de casa essa referência de uma mulher bem-sucedida e realizada profissionalmente", defende. O advogado se surpreendeu com a própria habilidade nos cuidados diários com Gabriela, de 6 anos, e Giovana, de 3. "Eu não ligava para crianças. Quando perdemos a primeira gestação de gêmeas, a ideia da paternidade amadureceu muito. Chorei uma semana. Quando a Bruna engravidou de novo, acompanhava as consultas de pré-natal, ultras, participei de tudo", lembra.
Com a possibilidade de ter uma rotina profissional mais flexível, Julio assumiu tarefas como levar as filhas e buscá-las na creche, dar comida, banho, arrumar, acompanhar nas festinhas e consultas. "Foi o Julio que deu banho na Gabi até o sexto mês. Ainda grávida, fizemos um curso no hospital e fiquei com muito medo dessa aula. Depois, com a Gabi nos braços, eu pós-operada, o Julio quis dar o primeiro banho. Ficou todo orgulhoso, fez tudo certo e aí foi indo. Ele também trocava fraldas, colocava as roupinhas, sempre fez o que fosse preciso", conta Bruna.
Em 2013, a família mudou de bairro para que a mãe pudesse ficar mais próxima do trabalho e ganhar tempo com as meninas e o marido. "É puxado, mas sempre fiz tudo com prazer", diz Julio. "Agora, elas estão maiores, nós nos mudamos. Está mais tranquilo. Quando ela chega mais tarde, as meninas já jantaram e tomaram banho."

Grupo de mães

O palhaço Vinicius Daumas, de 41 anos, gestor da ONG Circo Crescer e Viver, é o único pai do grupo de mães do WhatsApp da classe de Pedro, de 9 anos. Diariamente revisa os deveres, leva e busca, acompanha a festinhas infantis. Para Vinicius, sempre será melhor duas pessoas cuidando: "São dois olhares, duas visões de mundo. Esse convívio é gratificante, uma troca interessante. Em cada fase que o Pedro entra, eu a redescubro com ele. O cuidado cotidiano que tenho com ele, certamente, fortalece a nossa ligação".
Caçula da família, crescido em meio às irmãs e "titio" com apenas 6 anos, Vinicius despertou desde cedo para o ato de cuidar. Por quase um ano, chegou a cuidar praticamente sozinho do filho enquanto a mãe, que é atriz, gravava uma novela em outro estado. "Pedro estava com 3 anos, eu preparava tudo. Foi um suporte importante para que Carol (sua mulher à época) pudesse dedicar-se à carreira. Isso também aconteceu em outros momentos com as peças de teatro e gravações de filmes", conta o palhaço-gestor. Depois da separação, há dois anos, Pedro passou a morar com a mãe e a avó materna. Depois de uma viagem por três países da Europa, durante um mês, em companhia do filho, Vinicius se recuperou da dor da separação. "Foi enorme a cumplicidade, o acolhimento e a afetividade. Nunca esqueceremos o que passamos juntos."
Há três anos, o gestor participou da Campanha de Paternidade e Cuidado Você é meu Pai. Na ocasião, foi montada uma exposição fotográfica sobre paternidade, no Rio de Janeiro. A ação foi parte da campanha global MenCare, promovida por uma organização não governamental, Instituto Promundo, que atua em diversos países promovendo a igualdade de gênero e a prevenção da violência, com foco no envolvimento de homens e mulheres na transformação de masculinidades, e incentiva as relações afetivas e de cuidado entre pais e filhos.

Cenário desigual

De acordo com dados do instituto, em todo o mundo mulheres, que representam 40% da população ocupada, e meninas continuam a assumir a maioria das atividades familiares. A participação limitada dos homens em cuidados com as crianças continua a ser uma grande barreira para a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres. No Brasil, elas gastam, em média, 20 horas por semana cuidando dos filhos e do lar, enquanto os homens dedicam pouco mais de dez horas. "A direção está certa, mas nesse ritmo lento só daqui a 50 anos se chegará à equidade", afirma o psicólogo Gary Barker, diretor internacional do Promundo.
Durante dois anos, integrantes da organização se debruçaram em pesquisas sobre a participação dos homens na paternidade nos sistemas da Organização das Nações Unidas (ONU), do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e de universidades. "A falta de dados consistentes revela a invisibilidade do tema, que é muito grave, pois o que você não consegue mensurar, não existe, com exceção dos países escandinavos, Canadá, Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, onde há pesquisas", diz Barker.
THIAGO RIPPER/RBA felicidade
“Ser pai mudou o meu jeito de pensar”, diz Marcio, com Maria Luiza no colo
Segundo ele, o ciclo da desvalorização na remuneração da mulher, que ganha 24% menos que os homens, em média, é o principal entrave no mundo inteiro para uma sociedade mais igualitária. "Se alguém precisar se retirar do mercado de trabalho para cuidar dos filhos, fatalmente será quem ganha menos. Para quebrar esse ciclo, é fundamental valorizar o trabalho feminino, aumentar o número de creches subsidiadas e o período de licença-paternidade", afirma o psicólogo. Ele destaca experiências testadas nos países escandinavos nos anos 1980, como a licença-parental com períodos destinados aos pais, às mães e podendo ser divididos entre eles. Porém, como o pagamento baseava-se no salário das mulheres, o que implicaria num corte no orçamento familiar, muitos homens não quiseram usufruir de tal direito.
Na década seguinte, dois ajustes fizeram a diferença, segundo Barker, à impossibilidade de transferir o tempo destinado ao homem, assim como à aplicação da remuneração que cada um recebia. O percentual de homens que usava a licença-paternidade, que era de 10% a 20%, saltou para 90%. Islândia, Noruega e Sué­cia têm sistemas parecidos, um ano de licença-parental – dois meses no mínimo são destinados exclusivamente aos pais, e a partir daí cada casal faz a combinação que preferir. "Para o mundo fica o exemplo de que é possível avançarmos nesse caminho, pois essas economias ricas não caíram aos pedaços porque os pais estão tendo um tempo remunerado para cuidar de seus filhos."
No Brasil, a licença-paternidade é de apenas cinco dias. Há alguns projetos de lei no Congresso que visam a aumentar esse período para 15 e 30 dias, ainda um abismo gigantesco perto dos 120 a 180 dias a que as mulheres têm direito. Para Mariana Azevedo, socióloga e coordenadora-geral do Instituto Papai, avanços vêm sendo incorporados em diversos setores da sociedade, como a inclusão do tema nas negociações de acordos coletivos de trabalho ou o estímulo à inserção dos homens nas consultas de pré-natal das companheiras, parte da Política Nacional de Saúde do Homem do Ministério da Saúde desde 2009. "É preciso sistematizar essa política e capacitar profissionais de saúde para lidar com essa conquista da sociedade", reforça Mariana.
A socióloga destaca a guarda partilhada entre casais separados como meio de desconstruir a ideia de que a mãe é única pessoa responsável ou capaz de cuidar dos filhos. Ela admite que é crescente o debate público em torno do novo papel do pai, da licença-paternidade e da divisão de tarefas nos lares. Mas considera que também mulheres – esposas, mães e sogras – ainda precisam abrir a guarda e encorajar os pais. Muitas ainda insistem com aquela velha opinião de que o homem não combina com cuidados e tarefas domésticas, e acabam atropelando o pai.
Não há um consenso sobre essa prática no lar do gerente de marketing Marcio Vellozo, de 42 anos, e da advogada Andréa Luiza Belém Gouveia, de 43. Andréa se sente sobrecarregada, mas Vellozo diz que ela e a sogra fazem quase tudo em relação à filha Maria Luíza, de 2 anos, e à casa. "Ele gosta de passear com a Malu, o que ajuda, porque só assim consigo fazer alguma coisa para mim", resume a advogada.
Vellozo defende-se: "Já troquei fraldas, dei de mamar, fazia arrotar, sabia fazer o melhor embrulho na Maluzinha. Só não faço mais porque a Malu é louca pela mãe e cola nela", justifica. Quanto aos passeios: "Eu não ando na rua com a Malu, eu desfilo. É a maior felicidade ser pai, a gente entra num outro mundo. Mudou meu jeito de pensar, não consigo nem explicar", diz. "Quero levá-la no primeiro dia na escola, na aula de natação. Ao pediatra eu já vou e continuarei indo. Todo final de semana levo a Malu ao parquinho do Fluminense e quando ela estiver maior vai comigo ao Maracanã", avisa.
Psicólogo com doutorado em desenvolvimento infanto-juvenil, Gary Barker ressalta que a participação efetiva do pai nos cuidados das crianças, assim como nas tarefas domésticas, reduz o nível de estresse ao eliminar a sobrecarga que recai sobre a mulher. "Num lar sem estresse, identificamos maior rendimento escolar e desenvolvimento cognitivo entre crianças. Os homens se sentem mais felizes quando conseguem cuidar dos filhos, percebem relações mais próximas e tendem a cuidar mais da própria saúde."

THIAGO RIPPER/RBA estar junto


“Sempre gostei de crianças”, diz Edson, pai de Maria Clara (foto) e de Pedro. “Quando me tornei pai, quis aproveitar cada instante”
O produtor de cinema Edson da Silva Costa, de 50 anos, lembra que ainda na infância sua mãe costumava dizer que ele nasceu para ser pai. "Sempre gostei de crianças. Quando me tornei pai, quis aproveitar cada instante. Estar junto, fazer comida, cuidar, dar banho. Não consigo entender um homem que não fique feliz em cuidar dos filhos", diz Edson, que tem Pedro, de 23 anos, e Maria Clara, de 13, de dois casamentos. O menino tinha 3 anos quando ficou viúvo. "Jamais passou pela minha cabeça deixá-lo com os avós. Eu já cuidava de muita coisa em casa, era só continuar", relembra.
Na segunda união, também participou de cada fase de Maria, mesmo com as idas e vindas do casal, que acabou se separando. "Nunca faltei ou cheguei atrasado nos meus dias com a minha filha, inclusive a Maria, quando a mãe se mudou para São Paulo, não quis ir e passou a morar comigo e com o Pedro em Niterói, por um ano e meio", destaca. Maria concorda com o pai e diz sentir saudades desse tempo.
Hoje, Pedro faz faculdade em Minas Gerais, a mãe de Maria voltou a morar no Rio, com a adolescente e a nova família, e Edson deixou Niterói. "Não existe isso de eu escolher um ou outro. Todo mundo dizia que o meu lugar era ao lado da minha mãe. Mas meu pai sempre cuidou muito bem de mim e do meu irmão. O que me incomodava era eu ter de me explicar porque eu vivia com ele e não com ela. Puro machismo. No fundo e de um jeito diferente, meu pai e minha mãe querem a mesma coisa, que eu me torne uma pessoa cada vez melhor", diz a adolescente.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/109/da-licenca-que-sou-pai-7408.html

Conhecido economista Paul Krugman: políticas atuais agravarão crise, não culpe a China

Terremotos financeiros e fragilidade da economia global têm causas profundas. Resposta convencional – cortar gastos públicos e elevar juros – é a pior possível.
 
A crise é do capitalismo!
 
por Paul Krugman - site Outras Palavras - Sociedade e Oscilações Globais de Economia
 
CC0 Domínio Público
moeda.jpgQue está causando as quedas abruptas das bolsas de valores? O que elas significam para o futuro? 
Ninguém tem muitas respostas.
Tentativas de explicar as oscilações diárias nos mercados são normalmente insanas: uma pesquisa em tempo real sobre o crash de 1987 da bolsa de Nova York não encontrou evidência alguma para nenhuma das explicações que os economistas e jornalistas ofereceram para o fato. Descobriram, ao invés disso, que as pessoas estavam vendendo ações porque – você adivinhou! – os preços caíam. E o mercado de ações é um péssimo guia sobre o futuro da economia. Paul Samuelson brincou, certa vez, que os mercados haviam previsto nove das cinco recessões anteriores, e nada havia mudado a este respeito…
De qualquer forma, os investidores estão claramente nervosos – e têm boas razões para isso. Nos EUA, as notícias econômicas mais recentes são boas (ainda que não ótimas), mas o mundo como um todo parece muito propenso a acidentes. Há sete anos, vivemos numa economia global que tropeça de crise em crise. Cada vez que uma parte do mundo finalmente parece colocar-se em pé, outra despenca.
Mas por que a economia mundial continua capengando?
Na superfície, parece uma sucessão incomum de azares. Primeiro, o estouro da bolha imobiliária e a crise bancária desencadeada em consequência. Então, quando o pior parecia haver passado, a Europa mergulhou numa crise de dívidas e numa recessão em dois mergulhos. A Europa ao fim alcançou uma estabilidade precária e começou a crescer de novo – mas agora, assistimos a grandes problemas na China e em outros mercados emergentes, que haviam sido pilares de força.
Contudo, não se trata de acidentes sem relação entre si. Estamos, na verdade, vivendo o que sempre ocorre quando muito dinheiro está em busca de poucas oportunidades de investimento
Mais de uma década atrás, Ben Bernanke, então o presidente do banco central dos EUA (FED), argumento que a disparada do déficit comercial norte-americano não era o resultado de fatores domésticos, mas de uma “abundância global de poupança”. Um volume de poupança muito maior que o de investimentos – na China e em outras nações em desenvolvimento, provocado em parte pelas políticas adotadas em reação à crise asiática dos anos 1990 – estava deslocando-se para os EUA, em busca de lucros. Ele alertou levemente para o fato de que o capital que entrava não estava sendo canalizado para investimentos produtivos, mas para imóveis. É claro que o alerta deveria ter sido muito mais forte (alguns de nós o fizemos). Mas a sugestão de que o boom imobiliário dos EUA era em parte causado por fraqueza em economias de outros países permanece válido.
É claro que o boom converteu-se numa bolha, que provocou enorme estrago ao estourar. E não foi o fim da história. Houve também uma inundação de capitais, da Alemanha e outros países do norte da Europa, para a Espanha, Portugal e Grécia. Isso também provocou a formação de uma bolha, cujo estouro, em 2009-2010 precipitou a crise do euro.
E ainda não acabou. Quando os EUA e a Europa deixaram de ser destinos atraentes para o capital [devido à redução das taxas de juro a quase zero], a abundância global saiu em busca de novas bolhas a inflar, levando moedas como o real brasileiro a altas insustentáveis. Não poderia durar e agora estamos em meio a uma crise de mercados emergentes que faz alguns observadores lembrarem-se da Ásia nos anos 1990 – lembre-se, onde tudo começou.
Portanto, para onde o fluxo cambiante da abundância aponta agora? Talvez, de novo para os EUA, onde um novo fluxo de capitais externos provoca a alta do dólar e pode tornar a indústria novamente não-competitiva.
O que provoca a abundância global? Provavelmente, uma soma de fatores. O crescimento populacional está arrefecendo em todo o mundo e, apesar de toda a fanfarra com as últimas tecnologias, elas não parecem criar nem um grande aumento de produtividade, nem demanda para investimentos. A ideologia da austeridade, que conduziu a um enfraquecimento sem precedentes dos gastos públicos, ampliou o problema. E a inflação baixa, em todo mundo, que significa taxas de juros baixas, mesmo quando as economias estão crescendo aceleradamente, reduziu o espaço para cortar estas taxas, quando as economias se contraem. Qualquer que seja o mix preciso das causas, o importante agora é que os governos assumam seriamente a possibilidade – eu diria probabilidade – de que excesso de poupança e fraqueza econômica global tenha se tornado a nova normalidade.
Minha percepção é de que há, hoje, uma profunda falta de vontade política, mesmo entre governantes sofisticados, para aceitar esta realidade. Em parte, é devido a interesses especiais: Wall Street e os mercados não gostam de ouvir que um mundo instável requer regulação financeira, e os políticos que desejam matar o estado de bem-estar social não querem ouvir que os gastos governamentais não são um problema, no cenário atual.
Mas há também, estou convencido, uma espécie de preconceito emocional contra a própria noção de abundância global. Políticos e tecnocratas gostam de se enxergar como pessoas sérias, que tomam decisões difíceis – como cortar programas populares e elevar taxas de juros. Eles não querem ser informados de que estamos num mundo em que políticas aparentemente rigorosas irão tornar as coisas piores. Mas nós estamos, e elas vão.
Tradução de Antonio Martins
http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2015/08/paulo-krugman-politica-atuais-agravarao-crise-nao-culpe-a-china-3876.html

8.14.2015

União Europeia: Mundo enfrenta pior crise de refugiados desde a 2ª Guerra

Comissão Europeia apresentou, em maio, uma proposta para aliviar os países que recebem maior número de imigrantes, mas foi recusada...

                             por Agência Brasil  - Sociedade e Guerras

                             I. Prickett/UNHCR          
refugiados1.jpg  
Hungria é "um dos países mais expostos" desde que a rota dos Balcãs é a preferida por muitos refugiados da Síria
Bruxelas – O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a 2ª Guerra Mundial e a Europa deve contribuir para resolvê-la de forma "decente e civilizada", afirmou hoje (14) o comissário europeu para as Migrações, Dimitris Avramopoulos. "O mundo encontra-se hoje diante da pior crise de refugiados, desde a 2ª Guerra Mundial", disse o comissário numa conferência de imprensa em Bruxelas.
A Europa "não tem conseguido gerir o grande fluxo de pessoas que procuram refúgio nas nossas fronteiras", acrescentou o comissário, frisando que a Europa foi construída sobre o princípio da "solidariedade com os que precisam". "São seres humanos, pessoas desesperadas. Precisam da nossa ajuda e do nosso apoio", afirmou.
"O que temos de fazer é organizar o nosso sistema para enfrentar este problema de forma decente e civilizada, à maneira europeia", disse, ao mencionar a situação "especialmente urgente" da Grécia, mas também de outros países, como Itália e Hungria.
A Comissão Europeia apresentou, em maio, uma proposta de distribuição dos refugiados pelos Estados membros da União Europeia, para aliviar os países que recebem maior número de imigrantes e refugiados, mas a proposta foi recusada pelos líderes europeus.
De acordo com o comissário, a Grécia recebeu, só em julho, 50 mil pedidos de asilo, quase dez vezes mais que os 6 mil registrados em julho de 2014. O comissário europeu esteve esta semana em Atenas e na ilha grega de Kos, no Mar Egeu, onde o grande fluxo de refugiados sírios e afegãos e a falta de locais para acolhê-lhos têm provocado tensões. Em breve, vai à Turquia, de onde partem diariamente centenas de migrantes com destino à costa grega.
Também vai visitar, nos próximos dias, Calais, no Norte de França, onde centenas de imigrantes que pretendem ir para o Reino Unido tentam entrar no Eurotúnel para atravessar o Canal da Mancha. Essas tentativas resultam, frequentemente, em morte.
O comissário reconheceu também que a Hungria é "um dos países mais expostos" desde que, há vários meses, a rota dos Balcãs é a preferida por muitos refugiados da Síria e do Afeganistão. Só em julho, afirmou, a Hungria recebeu 35 mil pedidos de asilo.
http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2015/08/mundo-enfrenta-pior-crise-de-refugiados-desde-a-2a-guerra-diz-uniao-europeia-569.html

Por que comprar no mercadinho da esquina?

por Felipe Campos Mello — Sociedade e Compras no Mercadinho
“Ele é perto da sua casa, o dinheiro fica no seu bairro e gera empregos. É o motor da economia e, quando analisado o conjunto, possui uma amplitude econômica  importantíssima.”
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
verduraVerdura à venda em mercado no Pará 


Comprar uma cerveja na esquina de casa ou almoçar por 15 reais em um restaurante do seu bairro tem um valor que vai além de apenas suprir suas necessidades. Esse é o conceito do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) ao elaborar o "Movimento Compre do Pequeno Negócio", lançado nesta quarta-feira 5.
“Ele é perto da sua casa, o dinheiro fica no seu bairro e gera empregos. É o motor da economia e, quando analisado o conjunto, possui uma amplitude econômica  importantíssima.”, explica Luiz Barretto, Presidente da entidade. Para ele, a concepção de pequeno negócio ainda é muito vaga para sociedade brasileira.
“A ideia é juntar um ato de cidadania com um ato de mercado, que faça o consumidor entender porque é importante comprar de uma pequena empresa”, afirmou Barretto.
O quadro maior do setor dá uma dimensão mais ampla do conceito da campanha: mais de 17 milhões de brasileiros vivem com carteira assinada por uma pequena empresa, e o setor responde a 27% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Em São Paulo, já são mais de 2,7 milhões de micro e pequenas empresas.
Crise econômica
Paulo Solmucci, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (entidade que também apoia a medida), falou sobre o momento econômico do país: “evidentemente a crise existe. Em alguns segmentos e localidades, ela é muito intensa, mas quando você olha o Brasil como um todo, ela não tem a força que os jornais falam. A grande maioria do nosso setor, os pequenos estabelecimentos, estão crescendo até 15 %.”
mercado.jpgA opinião converge com a análise de Barretto, presidente do Sebrae. Para ele, o momento é de crise mas também de oportunidade. “Nós vivemos um ano de ajuste, de dificuldade, mas a pequena empresa continua gerando emprego. O saldo do primeiro semestre de 2015 é positivo, entre janeiro e 31 de junho foram geradas 116 mil vagas, muito mais do que as médias e grandes empresas. Estas, por sua vez, apresentaram um saldo negativo em torno de 450 mil vagas."
A presidenta da Associação Brasileira de Franchising, Maria Cristina Franco, seguiu na mesma linha: afirmou que o franchising, presente em 37% dos municípios brasileiros, fechará o ano de 2015 com um crescimento entre 7,5% a 9%.
http://www.cartacapital.com.br/economia/por-que-consumir-na-esquina-7342.html

Doping no atletismo: denúncia coloca testes e milhares de medalhistas sob suspeita

Se as denúncias forem comprovadas, pode ser a ruína do atletismo como conhecemos hoje...

Por Esporte Final - Sociedade e Doping nos Esportes
 
Corredoras disputam prova no Mundial de Osaka-2007 (Foto: Eckhard Pecher)Corredoras disputam prova no Mundial de Osaka-2007 (Foto: Eckhard Pecher)
Esqueça Lance Armstrong, Ben Johnson, Carl Lewis ou Marion Jones. Um novo caso envolvendo o uso de substâncias proibidas tem poder de ofuscar tudo que já se ouviu falar sobre doping. Por enquanto, é apenas uma supeita. Mas, se confirmado, tem potencial para se tornar o maior escândalo da história e colocar um grande sinal de interrogação sobre as grandes conquistas do atletismo.
A TV alemã ARD e o jornal britânico “Sunday Times” publicaram reportagem em que dizem ter tido acesso a dados guardados pela Iaaf, a federação internacional de atletismo. Eles mostrariam 12 mil amostras de sangue de 5 mil competidores com evidências de doping.
A Wada (Agência Mundial Antidoping) disse estar muito alarmada com o conteúdo da reportagem.
O caso estourou três semanas antes do início do Mundial de Atletismo de Pequim, que começa em 22 de agosto. E coloca sob suspeita um terço dos medalhistas olímpicos e mundiais de 2001 a 2012.
A Iaaf diz que as denúncias são “sensacionalistas e confusas”. Afirma que as amostras de sangue não tiveram resultado positivo para doping e que os dados não eram secretos -foram analisados mais de quatro anos atrás e coletados antes antes da implementação do passaporte biológico (sistema em que o sangue do atleta é monitorado por longos períodos; se houver alteração, ele pode ser punido mesmo que não teste positivo para uma substIancia proibida).
Segundo a reportagem, russos e quenianos seriam os que mais trapacearam. Especialistas analisaram os dados dos testes sangue e relataram que 800 atletas, de provas que vão dos 800 m à maratona (42,125 km) apresentaram números muito suspeitos. A Rússia teria 80% de seus atletas medalhistas entre os possíveis dopados. O Quênia teria conquistado 18 pódios com ajuda de dopagem.
Os testes teriam mostrado uso de transfusão de sangue e EPO (que aumenta as células vermelhas do sangue).
A Wada deve iniciar uma investigação do caso. Se as denúncias forem comprovadas, pode ser a ruína do atletismo como conhecemos hoje.
Mas mesmo que isso não aconteça, que sejam dados falsos, é uma boa chance para refletir sobre o controle de doping no esporte. Os testes estão sempre atrás da indústria de dopagem. Estamos encontrando hoje meios de detectar drogas usadas há anos. Quando se descobre como detectar uma substância, ela já não é mais a top entre os dopados ou sua utilização é tão bem planejada que é preciso contar só com a sorte para acertar o dia certo de um teste surpresa.
E, em posse de um resultado positivo, sempre pode haver um cartola interessado em não expor um atleta ou um esporte.
Coincidência ou não, a Iaaf anunciou no início da semana um novo potencial escândalo de uso de doping. A entidade fez re-análises de amostras guardadas dos Mundiais de 2005 e 2007. Encontrou 32 testes suspeitos, de 28 atletas que há foram suspenso preventivamente, mas não tiveram seus nomes revelados. Nenhum atleta estará no Mundial de Pequim, a maioria está aposentada.
http://esportefinal.cartacapital.com.br/atletismo-doping-mundial-olimpiada/

Jesús y sus humanidad en el nuevo libro de Frei Betto

Cristina Fontenele* - Adital - Sociedade e Jesus
En sus reflexiones, el autor destaca que la fe es un don políticamente encarnado, no habiendo neutralidad en las elecciones de Jesús, cuando asumía, por ejemplo, la óptica de los pobres en sus enseñanzas...

En su nuevo libro, "Un Dios muy humano: una nueva mirada sobre Jesús", Frei Betto expone la figura de Jesús, "plenamente humano y plenamente Dios", cuya divinidad no sería la negación de la humanidad, sino una convergencia. En la obra, el autor presenta el contexto histórico de un Jesús político, contradictorio, que siempre actuó en defensa de los pobres y que transformaba la sociedad con el amor y la simplicidad.
 
El inconsciente colectivo de Occidente gira en torno de la figura enigmática de Jesús. Según el libro, un líder de la contradicción y dominante en la historia occidental hace cerca de 20 siglos, pero que, tal vez, se zambulliría en la oscuridad si no hubiese un grupo de apóstoles organizado para divulgar su vida y enseñanzas.

Compilados por Mateo, Marcos, Lucas y Juan, los textos bíblicos del Evangelio presentan una síntesis de relatos y acciones de Jesús, contados y enviados de comunidad en comunidad cristianas. Los registros se distancian en más de 40 años de la muerte y resurrección de Cristo y cada Evangelio trae una visión particular de Jesús, siendo el de Juan, según Frei Betto, el que más "desentona” de los demás por el lenguaje alegórico, que enfatiza la doctrina y no los episodios de la vida de Cristo.

Pan nuestro

Frei Betto discurre sobre la figura de Cristo como siendo un hombre político y conflictivo, que irritó a las autoridades judías al rehusarse a idolatrar la política romana y al predicar otro reino, que no era el de César [emperador romano]. El autor defiende que todo cristiano sería, por lo tanto, discípulo de un prisionero político.

En sus reflexiones, el autor destaca que la fe es un don políticamente encarnado, no habiendo neutralidad en las elecciones de Jesús, cuando asumía, por ejemplo, la óptica de los pobres en sus enseñanzas. Así, la espiritualidad de Jesús tenía como nota central el compromiso con los pobres. "La pobreza es un mal, fruto de la injusticia. Sin embargo, el pobre es bienaventurado porque Dios asume su causa". Ningún orden político puede considerar el derecho a la propiedad por encima del derecho a la vida. De esa forma, Frei Betto exhorta a la Iglesia Católica a no confundirse con partidos políticos, sino velar para que todos tengan una vida "en abundancia".

El mandamiento mayor

El libro expone que Jesús habría dejado a cargo de la humanidad el enigma de lo que es amar, y que tal vez, lo más difícil en el mandamiento mayor, "amar al Padre y al prójimo como a ti mismo", sea justamente amarse a sí mismo. "Parece que tan sólo nos soportamos" y, por veces, "nos odiamos". Para el autor, la capacidad de amar sería también selectiva, "amamos a quien nos ama, a quien nos agrada", no siendo tarea fácil delimitar las sutilidades entre amor e interés.

mmgerdauFrei Betto, en uno de los lanzamientos de su más nuevo libro.
En lo que respecta a los enemigos, la prédica de amor de Jesús no significaría soportar callado las ofensas, sino ir más allá y ayudar a esos enemigos a transmutar la figura de opresor o explotador. La radical vocación del ser humano sería "transfigurarse", superarse.

Un Dios accesible

Para Betto, Jesús enseñó que "Dios no está allá arriba", en montañas a escalar, no siendo una propiedad privada de las religiones o de un lugar cultural, sino que puede ser encontrado en el corazón humano.

En la relación de las mujeres con Jesús, el autor destaca la presencia del diálogo y la postura de acogimiento, defendiendo la necesidad de la Iglesia de abrir todos sus ministerios a las mujeres, impedidas hoy de tener acceso al sacerdocio.

Ficha Técnica
Titulo: Un Dios muy humano: una nueva mirada sobre Jesús
Autor: Frei Betto
Editorial: Fontanar
Año: 2015
Páginas: 136
*Cristina Fontenele
Estudiante de Periodismo en Faculdades Cearenses (FAC), publicista y Experta en Gestión de Marketing por la Fundação Dom Cabral (FDC/MG).
Correo electrónico: cristina@adital.com.br e crisfonte@hotmail.com 
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=ES&cod=86139

Como os bancos tornaram-se uma ameaça global


Por Joseph E. Stiglitz – de Bogotá-Colombia

O G-7 dominava as políticas econômicas globais; hoje, a China é a maior economia do mundo (segundo o critério de poder real de compra das moedas), com poupança cerca de 50% superior à dos EUA...


A III Conferência Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento reuniu-se recentemente na capital da Etiópia, Adis Abeba. A conferência aconteceu num momento em que os países em desenvolvimento e mercados emergentes demonstraram capacidade para absorver produtivamente enormes volumes de recursos. As tarefas que esses países estão assumindo – investindo em infraestrutura (estradas, geração de energia, portos e muito mais), construindo cidades onde um dia viverão bilhões de pessoas e movendo-se em direção a uma economia verde – são verdadeiramente enormes.
Rep/Web
Ao mesmo tempo, falta no mundo dinheiro que possa ser utilizado produtivamente. Poucos anos atrás Ben Bernanke, então presidente do Federal Reserve (Banco Central) dos EUA, falou sobre o excesso de poupança global. Apesar disso, projetos de investimento com elevado retorno social estavam parados por falta de fundos. Isso continua sendo verdade hoje. O problema, à época e agora, é que os mercados financeiros do mundo — cuja função deveria ser intermediar eficientemente recursos de poupança e oportunidades de investimento — fazem, ao invés disso, má alocação dos recursos e geram riscos.
Há outra ironia. A maioria dos projetos de investimento de que o mundo emergente necessita é de longo prazo, assim como a maioria dos recursos disponíveis – trilhões em contas de aposentadoria, fundos de pensão e enormes fundos soberanos. Mas nossos mercados financeiros, cada vez mais incapazes de enxergar o longo prazo, atravancam o caminho entre as duas partes.
Muita coisa mudou nos últimos treze anos, desde que a I Conferência Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento ocorreu em Monterrey (México), em 2002. Na época, o G-7 dominava as políticas econômicas globais; hoje, a China é a maior economia do mundo (segundo o critério de poder real de compra das moedas), com poupança cerca de 50% superior à dos EUA. Em 2002, as instituições financeiras ocidentais eram consideradas mágicas em gerenciamento de riscos e alocação de capital; hoje, vemos que são mágicas em manipulação de mercado e outras práticas enganosas.
Ficaram para trás os apelos para que os países desenvolvidos honrassem seu compromisso de destinar ao menos 0,7% do seu PIB para ajuda ao desenvolvimento. Algumas poucas nações europeias – Dinamarca, Luxemburgo, Noruega, Suécia e, surpreendentemente, o Reino Unido, em meio a sua austeridade autoinfligida – cumpriram as promessas em 2014. Mas os Estados Unidos (que doaram 0,19% do PIB em 2014) encontram-se muito, muitíssimo atrás.
Agora, os países em desenvolvimento e mercados emergentes dizem aos EUA e aos outros ricos: se não vão cumprir suas promessas, ao menos saiam do meio do caminho e deixem-nos criar uma arquitetura de economia global que trabalhe também para os pobres. Não surpreende que os países hegemônicos, liderados pelos EUA, estejam fazendo de tudo para frustrar tais esforços. Quando a China propôs o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, para ajudar a destinar parte de seu excesso de poupança para onde os recursos são extremamente necessário, os EUA tentaram torpedear o esforço. O governo do presidente Barack Obama sofreu, então, uma derrota doída e altamente embaraçosa.
Os EUA estão também bloqueando os caminhos do mundo em direção a uma lei internacional sobre dívidas e finanças. Para que os mercados de títulos funcionem bem, por exemplo, é necessário que se encontre uma forma organizada de resolver casos de insolvência dos países. Hoje, essa forma não existe. Ucrânia, Grécia e Argentina são exemplos do fracasso dos acordos internacionais existentes. A grande maioria dos países reclama a criação de um caminho para a reestruturação das chamadas “dívidas soberanas”. Washington continua a ser o maior obstáculo.
O investimento privado também é importante. Mas as novas disposições de investimento embutidas nos acordos comerciais que o governo Obama está negociando, com seus parceiros do Atlântico e Pacífico, sugerem que qualquer investimento direto no exterior terá agora, como contrapartida, uma acentuada limitação na capacidade dos governos de regular o meio ambiente, a saúde, as condições de trabalho e até mesmo a economia.
A posição dos EUA relativa à parte mais disputada da conferência de Adis Abeba foi particularmente decepcionante. Como os países em desenvolvimento e mercados emergentes abriram-se para as multinacionais, torna-se cada vez mais importante que eles possam tributar esses gigantes sobre lucros gerados pelos negócios ocorridos dentro de suas fronteiras. Apple, Google e General Electric têm revelado enorme capacidade de driblar tributos que excedam o que empregaram na criação de produtos inovadores.
Todos os países – tanto desenvolvidos como em desenvolvimento – vêm perdendo bilhões de dólares em receitas tributárias. No ano passado, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos divulgou informações sobre fraude e evasão fiscal em escala global, praticadas graças às regras tributárias frouxas de Luxemburgo, um paraíso fiscal. Talvez um país rico, como os EUA, possa arcar com o comportamento descrito no chamado Luxemburgo Leaks, mas os países pobres não podem.
Integrei uma comissão internacional, a Comissão Independente para a Reforma da Tributação de Corporações Internacionais, que examinou as possibilidades de reforma do sistema tributário atual. Num relatório apresentado à III Conferência Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento, fomos unânimes em afirmar que o sistema atual está quebrado, e que pequenos ajustes não o consertarão. Propusemos uma alternativa – semelhante ao modo como as corporações são taxadas dentro dos EUA, com lucros alocados a cada estado com base na atividade econômica ocorrida dentro de suas fronteiras. Os EUA e outros países desenvolvidos têm pressionando para fazer apenas pequenos ajustes, a serem recomendados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clube dos países mais ricos. Em outras palavras, os países de onde vêm os fraudadores e evasores fiscais, poderosos politicamente, deveriam conceber um sistema capaz de reduzir a evasão fiscal. Nossa Comissão explica por que as reformas da OCDE, ajustes num sistema fundamentalmente falho, são, na melhor das hipóteses, simplesmente inadequadas.
Os países em desenvolvimento e mercados emergentes, liderados pela Índia, argumentaram que o fórum apropriado para discutir tais temas globais é um grupo já existente dentro das Nações Unidas, o Comitê de Especialistas em Cooperação Internacional e Assuntos Tributários, cujo status e orçamento precisavam ser elevados. Os EUA opuseram-se fortemente: quiseram manter as coisas como no passado, com a governança global feita pelos e para os países desenvolvidos.
Novas realidades geopolíticas demandam novas formas de governo global, com mais voz para países emergentes e em desenvolvimento. Os EUA prevaleceram em Adis Abeba, mas também mostraram que estão no lado errado da história.
Joseph E. Stiglitz , é Professor universitario da Universidade de Columbia.
http://correiodobrasil.com.br/como-os-bancos-tornaram-se-uma-ameaca-global/ 

8.11.2015

Pesquisadores desenvolvem técnica para tratamento do ronco

Por Redação, com ABr – de São Paulo:
Pesquisadores do Laboratório do Sono, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, desenvolveram uma técnica para reduzir a frequência e a altura do ronco até que ele se torne imperceptível em alguns casos. A aplicação também ajuda no tratamento da apneia do sono de grau leve e moderado, porque resulta na diminuição do número de engasgos à noite.
A técnica consiste em uma série de seis exercícios para fortalecer os músculos envolvidos na produção do ronco e na apneia do sono obstrutiva. Os exercícios devem ser feitos três vezes ao dia, durante 8  minutos e incorporados às atividades corriqueiras do indivíduo. Segundo a fonoaudióloga Vanessa Ieto, os exercícios ajudam a melhorar a flacidez na musculatura da língua, fim do céu da boca e a úvula (conhecida como campainha). O estudo foi publicado na revista acadêmica Chest.
– Todos os pacientes que participaram da pesquisa fizeram seis exercícios durante três meses, mas, para ser eficaz, é preciso ter o diagnóstico correto, a avaliação de fonoaudiólogo especializado, orientação do profissional e acompanhamento durante os exercícios para não fazer nenhum movimento errado e não surtir efeito – disse Vanessa.
A técnica consiste em uma série de seis exercícios para fortalecer os músculos envolvidos na produção do ronco
A técnica consiste em uma série de seis exercícios para fortalecer os músculos envolvidos na produção do ronco
De acordo com o diretor do Laboratório do Sono do Incor, Geraldo Lorenzi Filho, muito mais comum do que se pensa, o ronco é causado por uma vibração da musculatura da garganta quando o ar passa. O ronco ocorre quando a pessoa dorme, relaxa a musculatura, e a passagem para o ar na faringe é muito estreita. “Pode parecer uma coisa boba, mas incomoda muito, e ficar roncando todas as noites pode deixar a musculatura mais flácida e, no futuro, causar apneia”, afirmou o médico.
Lorenzi informou que, na cidade de São Paulo, um a cada três indivíduos tem algum grau de ronco variável (30% com relação ao número de roncos por hora na noite e 60% com relação à intensidade ou volume). No caso dos roncos mais leves, o tratamento é perder peso, dormir de lado, não beber álcool ou tomar sedativos durante a noite e desobstruir o nariz. “Entre as causas do ronco estão a garganta estreita, a obesidade e a mandíbula afastada para trás. Estudamos muito a relação da apneia do sono com a doença cardíaca. Com a idade, o ronco também aumenta. Nos casos de apneia grave, aumenta o risco de pressão alta, arritmia, diabetes e alterações de arteriosclerose.”
O aposentado Nelson Ieto, de 65 anos, disse que aos 35 anos teve um infarto e decidiu mudar de vida. Parou de fumar e beber e adotou práticas mais saudáveis no cotidiano. Mais tarde, a filha de Ieto formou-se em fonoaudiologia, o que aumentou o interesse dele pelo assunto. Como roncava demais, a indicação foi a de fazer a polissonografia, o que o fez descobrir que tinha apneia do sono. “Há dois anos, faço os exercícios de fono, além dos meus exercícios diários normais. Mudou totalmente minha vida. Minha esposa percebeu que parei de roncar, e eu durmo mais tranquilo.”
Marisa Curi tem 56 anos, trabalha no setor de administração de uma empresa e, diariamente, levantava da cama cansada, sentindo-se indisposta e sonolenta durante todo o dia. O marido reclamava de seu ronco e, por ter problemas respiratórios, ela resolveu procurar um profissional e fazer a polissonografia, que detectou apneia do sono moderada.
– Eu já fazia o tratamento da asma, mas, como não melhorava, fui encaminhada para um médico do sono, quando fui convidada a fazer parte do projeto dos exercícios. No começo, eram só exercícios de respiração, e eu achava que não ia fazer diferença, mas, depois que passei a exercitar a musculatura, mudou muito. Não acordo mais no meio da noite sufocada, a qualidade do sono melhorou, consigo dormir a noite toda, fico mais disposta – disse Marisa.
http://correiodobrasil.com.br/pesquisadores-desenvolvem-tecnica-para-tratamento-do-ronco/

8.09.2015

Por que usamos o celular e redes sociais de forma excessiva?

Por Eduardo Guedes*
 
Adital - Sociedade e Relações Sociais

Não faz muito tempo, para falar com alguém precisaríamos ligar para o telefone fixo da pessoa. Conhecíamos as vozes dos pais, irmãos, filhos, marido ou esposa. Tínhamos uma certa disciplina e normas de etiqueta social, pois telefonar muito tarde para a casa de alguém significaria, possivelmente, acordar a sua família inteira. Tínhamos também um certo planejamento, pois marcar um encontro no final de semana exigia pontualidade no horário e local previamente acordado.

O mundo evolui. E evoluiu rápido, felizmente. O telefone fixo, que antes era patrimônio declarado no imposto de renda, deixou de ser a estrela da casa. Cada membro da família ganhou o seu telefone particular. Na verdade, mais do que isso, receberam poderosos computadores de bolso que funcionam como tocadores de músicas, despertador, e-mail, GPS, mensagens instantâneas, câmera fotográfica, gravador, entre milhares de outras funções.
Sem dúvida, não podemos negar os benefícios que o avanço das tecnologias de informação e comunicação (TICS) produziram e produzem. Desde as tecnologias mais antigas, como a pintura rupestre, o propósito original sempre foi otimizar o tempo, encurtar distâncias ou nutrir as relações humanas. Através do Waze, se consegue escolher as melhores rotas, fugir do transito e otimizar o tempo; com o WhatsApp, se compartilha momentos com fotos e emoticons enviados para a esposa, filhos ou outros familiares; e através das redes sociais se comunica com pessoas distantes com quem não falaria normalmente no dia a dia.
O curioso é que estas mesmas tecnologias que aproximam pessoas distantes, se mal utilizadas, também distanciam pessoas próximas, prejudicam o tempo e servem como gatilho de problemas relacionais. Na verdade, o problema não é a tecnologia em si, ou o tempo que se dedica, mas sim o uso abusivo e a forma com que se relaciona com a tecnologia. A esposa que briga com o marido pela mensagem que foi lida mas não foi respondida naquele mesmo instante; a família que mal conversa entre si durante os almoços de domingo, pois cada um prefere ficar mergulhado no mundo particular de seus dispositivos e apps; e as horas de sono perdidas em navegações intermináveis madrugada adentro no mural do Facebook.
O mundo das tecnologias é mesmo muito convidativo, benéfico e transformador, mas pode se tornar um universo raso, de muitas interações e pouca profundidade e, também , palco de fuga ou idealizações.
Assim como aconteceu com a chegada do jornal, o rádio e a televisão, a internet está atualmente transformando os hábitos da sociedade. Em paralelo à vida real há uma sociedade virtual, movida por meio das novas tecnologias. Em função disso, as pessoas também estão vivendo vidas paralelas: uma real e uma virtual. Através da internet, elas adicionam novos amigos, namoram, compram, trabalham, ganham dinheiro, pesquisam, estudam, escrevem mensagens no lugar de bilhetes ou cartas. O problema é que muitos agem como se tivessem de fato duas personalidades, o que na verdade é uma ilusão. A vida virtual é uma extensão da vida real e não um substituto ou uma alternativa.
O mecanismo do prazer, vivenciado através de redes sociais, estimula uma determinada área do cérebro conhecida como córtex cerebral e ativa um sistema de recompensa equivalente a se alimentar, dormir, praticar sexo, ganhar dinheiro etc. 
O uso abusivo destas tecnologias ativa o mesmo sistema neurobiológico, estimulado no consumo de álcool e drogas, liberando no corpo substâncias como a dopamina, que geram uma sensação de prazer. Entretanto, na prática, o usuário abusivo começa a, lentamente, substituir as relações na vida real pelo mundo virtual e passa a ter um comportamento repetitivo em busca das mesmas sensações de prazer vivenciadas anteriormente.
Em outras palavras: falar de si mesmo gera prazer. Nas conversas normais uma pessoa usa em torno de 30% do tempo para falar de si próprio em média. Nas redes sociais este indicador sobe para 90%, com possibilidade de um feedback instantâneo, pois muitas pessoas curtem ou comentam a foto ou a mensagem publicada. Entretanto, pesquisas indicam que mais da metade dos usuários ativos de redes sociais se consideram mais infelizes do que os seus amigos virtuais, pois substituem as relações na vida real pelo mundo virtual e vivem uma história editada, que não conseguem sustentar no dia a dia. No Facebook e Instagram, não existe crise financeira nem problemas conjugais, todos têm dinheiro, o emprego dos sonhos, o casamento perfeito, viagens maravilhosas, etc.
Vivemos realmente tempos barulhentos. Nossa cultura ensina que é preciso produzir sempre mais como indicador de sucesso ou felicidade. Dentro deste contexto, precisamos postar e compartilhar numa tentativa de gritar ao mundo o desejo de pertencimento e alimentar a satisfação do próprio ego. Nos casos mais graves, as redes sociais passam a ser um palco sombrio de fuga ou idealização, em uma peça de teatro inventada mas que sempre terá plateia cheia, virtual, longe da real.
*membro do Instituto Delete, pesquisador do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e especialista sobre o impacto das redes sociais no comportamento humano. 
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=85965&langref=PT&cat=24