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6.24.2016

Lava Jato, Impeachment e o desmonte nacional, só uma saída: o voto popular brasileiro

  • “Com as águas com que se ‘Lava a Jato’ a corrupção no Brasil, pretendem lavar para fora também a soberania nacional, o patrimônio público, tecnológico e mineral da nação e o direito dos trabalhadores.”

  • Requião: não é "volta Dilma"!  

    por senador Roberto Requião, extraído do blog O Cafezinho - Sociedade e Caos Social


bessinha obesidadeO Jantar

Recebi um convite para um jantar, terça-feira (28/julho), na casa do Presidente do Senado, nosso companheiro Renan Calheiros, na companhia do ministro da fazenda, Henrique Meirelles. Nesse jantar, como prato principal, servirão a soberania nacional e, como sobremesa, os direitos dos trabalhadores. Agradeço o convite do presidente, mas não é essa a dieta da minha preferência. Eu não estarei presente nesse jantar.

Todos nós somos a favor da luta contra a corrupção, mas, paralelamente a isso, vem o Governo interino agredindo pesadamente a soberania brasileira, o Estado social e os direitos trabalhistas. Rapidamente, enquanto prendem alguns bandidos, o Congresso, assustado, está entregando de bandeja tudo pelo qual lutamos por décadas, para saciar a fome do grande capital internacional e o interesse geopolítica das grandes potências.

O Sacrifício Ritual dos Pobres Brasileiros

Permitam-me uma incursão pela antropologia sociocultural, mais especificamente, o sacrifício ritual.

Como todos sabem, o sacrifício ritual faz parte da história da humanidade. Sacrifício de humanos, por exemplo, estão presentes nas crônicas de todas as civilizações em todos os continentes.

Um exemplo clássico está na Bíblia, no Gênesis, quando Deus testa a fidelidade de Abraão ordenando-lhe que sacrifique o seu filho Isaac. O sacrifício não se realiza, mas Abraão não vacila um segundo na determinação de matar o filho em louvor a Deus. O mesmo Deus que, segundo os Evangelhos, não poupa o seu próprio filho, Jesus; preso, torturado e executado para lavar, com o seu sangue, pecados alheios.

À medida que o homem evolui, civiliza-se, e, no compasso da desbrutalização de usos e costumes, o objeto do sacrifício ritual também muda. Os animais substituem os homens, mas a ideia do sacrifício ritual continua a mesma e está viva até hoje, inclusive na linguagem popular, o ‘bode expiatório’. O propósito é fazer com que Isaac, Cristo ou o cordeiro esvaiam-se em sangue até a morte para, dessa forma, aplacar a ira divina.

Más colheitas ou boas colheitas, falta de chuvas ou excesso de chuvas, pragas, pestes, doenças, vitória na guerra; seja o que fosse, sempre era necessário que o sangue jorrasse. O sangue de quem? De quem o sangue devia jorrar? É claro que não era o sangue dos sacerdotes, dos governantes, da nobreza, dos bem aquinhoados. Quem expiava em nome deles eram representantes dos estratos inferiores, o povo de sempre. E é assim até hoje.

Quando as coisas não vão bem, quem paga o pato, quem assume a conta, quem arca com os prejuízos são os trabalhadores, os assalariados, as camadas subalternas e a classe média.

O bode expiatório no Brasil

Elenquemos todas as medidas que o Governo interino quer propor ao País e digam-me, quem está sendo sacrificado, quem está sendo estendido na pedra do altar para ser imolado?

Não são as 20 mil famílias de rentistas que detêm a quase totalidade da dívida pública brasileira. E lucram de forma indecorosa, infame com os juros dessa dívida.

Não são os brasileiros que mantêm mais de um R$1,3 trilhão ilegalmente em contas no exterior.

Não são os banqueiros e seus lucros pornográficos.

Não é o capital vadio e sua ganância sem freios.

Não são os beneficiários da mais perniciosa e imoral concentração de renda do planeta Terra, como é a concentração de renda no nosso Brasil.

Não é a aristocracia do funcionalismo público, as carreiras privilegiadas no Judiciário, no Ministério Público, no Legislativo.

Como ao longo da história da humanidade, exigem-se vítimas que se sacrifiquem, que expiem, que sangrem para o bem-estar dos dominantes.

Mas não estamos mais na antiguidade, nos templos e nos tempos bíblicos. Estamos no ano 16 do século XXI.

Senado, Justiça e Ministério Público: a mesma cruel indiferença

No entanto, o Senado reage à condução dos trabalhadores, dos assalariados, das camadas inferiores das classes médias ao matadouro, ao sacrifício com a mesma indiferença dos sacerdotes maias ou astecas.

Será que este Senado não vai reagir?

Faço agora uma lista das barbaridades que os interinos pretendem perpetuar. E pergunto aos nobres senadores, se o distinto brasileiro e a valiosa e valorosa sociedade que nos veem e ouvem, neste momento, subscrevem, assinam embaixo. Vamos lá:

1)    Fixação de limite máximo para os gastos públicos.

2)    Desvinculação constitucional dos gastos com saúde e educação.

3)    Limitação da dívida pública.

4)    Torniquete sobre as estatais

O Governo interino quer congelar por dez anos, prorrogáveis por mais dez, os gastos com educação, saúde, saneamento, segurança, habitação popular, em pesquisas e tecnologia e assim por diante.

Os gastos com saúde e educação, que têm percentuais constitucionalmente amarrados, seriam desobrigados dessa vinculação. É uma loucura!

Quem é que vai ser sacrificado? Se a ação do Governo nas áreas de saúde e educação, hoje, é sofrível, imaginem o que vai acontecer se esses gastos forem reduzidos...

Os cortes nos gastos com a saúde colocam em risco a sobrevivência do SUS e a gratuidade da assistência à saúde. Terá atendimento quem puder pagar.

Da mesma forma, os cortes nos gastos com a educação colocarão em risco a gratuidade do ensino. Com isso, o acesso à escola será um privilégio para poucos, muito poucos.

Mas a insensatez da fixação de um teto para os gastos públicos vai além, ainda mais quando acompanhada de outra sandice, que é a limitação da dívida pública.

Qual o resultado dessa mistura peçonhenta? A privatização do que ainda restou de empresas públicas no País. Lá se vão a Petrobras e o pré-sal, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios e muito mais.

Enfim, de um lado, a deterioração e consequente privatização dos serviços públicos provocados pela limitação dos gastos governamentais; de outra banda, a privatização, a preço de fim de feira, e a entrega de nosso petróleo, dos minérios e até mesmo das florestas amazônicas.

E a nossa mídia, esses comentaristas de rádio e televisão, esses políticos que se proclamam liberais ficam dizendo que é preciso, sim, cortar gastos públicos e que a gastança do Governo é demais, sem, no entanto, esclarecer que não são objeto dos cortes:

- as mordomias,
- os salários exorbitantes
- os privilégios abusivos

Esses não serão cortados, mas sim aumentados! Porém, gastos para atender a população mais humilde e que impactam diretamente com a vida do povo brasileiro, serão sumariamente reduzidos pelo ajuste do governo Temer.

Outro item é (6) a mudança de idade para aposentadoria. O Governo interino quer fixar em 65 anos a idade mínima para aposentadoria. Em média, os homens dos Estados do Norte e do Nordeste vivem pouco mais que 65 anos. Quer dizer, com a nova regra, contribuem a vida toda, alguns desde os 14 anos, aposentam-se e morrem. Que maravilha para os que querem cortar os gasto públicos para pagar juros para os pobres banqueiros!

7) Fim do abono salarial.

8) Fim da correção das pensões dos aposentados que recebem um salário mínimo.

9) Fim do aumento real do salário mínimo.

O PIS e o Pasep estão aí há 46 anos. E nenhum governo mexeu com esse abono salarial, nem os militares da ditadura, pago para quem recebe até dois salários mínimos. No entanto, Meirelles e Goldfajn querem acabar com o abono para diminuir os gastos públicos.

Perderam até a máscara, a desindexação das aposentadorias e pensões e o fim do próprio aumento real do salário mínimo são um atentado explícito ao sonho de um país desenvolvido e às condições mínimas de vida de idosos e trabalhadores, Deus meu!

Um dos pilares da remissão dos pobres da miséria, do aumento do consumo, da elevação do poder de compra em consequência do aumento da produção foi, sem dúvida, a política de aumento real do salário mínimo implantada no governo Lula e continuada no governo Dilma.

Contudo, o governo interino pouco se lixa para isso, eles não querem um país com 200 milhões de consumidores. Para eles, basta um país com vinte milhões de consumidores ainda mais abastados.

10) Mudança na legislação trabalhista, com a prevalência do negociado sobre o legislado

11) A instituição, em larga escala da terceirização e precarização do trabalho.

O ministro Meirelles proclamou que não existem direitos adquiridos. Ao menos para os trabalhadores mais humildes...

E os sempre atentos editorialistas das Organizações Globo, do Estadão, da Folha e do Grupo Abril aproveitaram a deixa e se regozijam em coro exigindo mudanças nas leis trabalhistas, afinal, lembraram, a CLT é da distante década de 40. Algo ultrapassado, dizem.
Para ver o texto completo, acessar : http://www.conversaafiada.com.br/politica/requiao-nao-e-volta-dilma

6.23.2016

O golpismo no Brasil contra-ataca

Por Emir Sader para site 247 - Sociedade e Golpe no Brasil

Mesmo com as nuvens carregadas das acusações contra membros do governo e do próprio presidente interino, além da situação limite em que se encontra Eduardo Cunha, as forças golpistas retomaram iniciativa em todos os planos, contra atacam e buscam consolidar o projeto na votação de agosto no Senado.
Contam com a falta de iniciativa política unificada das forcas democráticas, de que a suspensão da segunda reunião, terça-feira passada, entre Dilma, Requião, movimentos sociais e parlamentares, foi um sintoma claro. Contam com uma certa baixa do ritmo de manifestações contra o golpe, compreensível, porque é impossível manter aquele ritmo por muito tempo, ainda mais sem uma perspectiva de solução política positiva no horizonte.
O governo abriu o cofre para governadores, senadores, Judiciário, entre outros. Ao mesmo tempo que a direção do projeto golpista promete aos senadores e congressistas em geral a renúncia de Temer em janeiro, para entregar na mão deles a decisão sobre quem será o presidente da República em toda a segunda metade do mandato. E Temer começa a dar entrevistas que, por mais desastradas que sejam, lhe projegem como personagem político. Ao mesmo tempo que o governo golpista tempera um pouco suas iniciativas mais radicais, deixando-as para depois da votação no Senado, e decreta medidas que possam lhe granjear apoios ou diminuir resistências no Senado.
Significativamente, depois da reunião de Moro com o ministro interino da Justiça, na última terça-feira, se retoma a operação repressiva contra o PT, no Paraná e, diretamente, na sede do partido em São Paulo.
Tudo para preparar o clima que virá depois de agosto, se o governo consegue os 2/3 no Senado. Um pacote cruel de expropriação dos direitos dos trabalhadores, de cortes nos recursos das políticas sociais, de privatização de empresas públicas e reinserção subordinada do Brasil no cenário internacional. Tudo projetando o país que o governo golpista pretende ter em 2018, incluindo a desqualificação e exclusão da esquerda como alternativa.
Enquanto a esquerda se recolhe a discussões internas sobre as alternativas, a direita retoma a ofensiva. O cenário atual já demonstra que, ficar simplesmente na resistência das mobilizações populares, favorece a ação dos golpistas, que são os únicos que aparecem com alternativas políticas. A resistência protesta, mobiliza, mas não desenha via de derrubada a curto prazo do governo que destrói o país. Que seria bloquear os 2/3 no Senado, para o qual seria indispensável ter proposta que agregue apoios mais além dos 22 senadores que votaram contra o impeachment. Plebiscito, como propõe Dilma, ou outra qualquer, que tenha o poder de impedir os 2/3 dos golpistas, com o qual eles terão possibilidade de seguir com seu projeto de destruição do pais até 2018.
A incapacidade de iniciativa política da luta contra o golpe, que combine mobilizações populares com proposta política viável no curto prazo, é o que permite que a direita contra-ataque em todos os campos.
Emir Sader

http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/239897/O-golpismo-contra-ataca.htm

Ensino Médio Avança no Brasil, mas Jovens QueremTrabalhar Após 18 Anos

  • Dados derrubam tese de que com avanço da escolaridade jovem entra mais tarde no mercado de trabalho. “Isso é verdade só até 18 anos. A partir dessa idade, os jovens querem trabalhar”, diz Helena Abramo
  • Pesquisadora diz que ensino médio avança no país, apesar de lacunas 

    por Helder Lima, da RBA - Sociedade e Educação (fonte no final)

reprodução da RBA
helena abramo 2.jpgHelena: dados são contribuição para pensar como se dá a educação e o trabalho entre os jovens
São Paulo – Pesquisa mostrada hoje (22) pela conselheira da Fundação Perseu Abramo (FPA) Helena Abramo mostra que a escolaridade de ensino médio entre os jovens (15 a 29 anos) está avançando no Brasil, apesar de ainda ter lacunas. “Tem crescido o número de jovens com ensino médio completo já nesta geração”, disse Helena, ao participar de seminário promovido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo de São Paulo.
Segundo Helena, que atuou na pesquisa “Agenda Juventude” quando participava da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), do governo federal, os dados mostram que na cidade de São Paulo 70% dos jovens entre 18 e 24 anos têm o ensino médio. “É claro que essa taxa tinha de ser de 100%, mas ela está avançando a cada ano”, afirmou. “A rapidez com que temos evoluído é significativa.”
A pesquisa da SNJ avaliou a evolução entre 2006 e 2013, estudando a situação dos jovens em três períodos da juventude: 15 a 17, 18 a 24 e 25 a 29 anos. Nesse período, em relação à qualidade do trabalho na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, a taxa de jovens desempregados recuou de 18,8% para 11,9%. A informalidade também recuou, de 37,2% para 24,4%.
A pesquisadora também afirmou que os dados derrubam a tese de que com o avanço da escolaridade média o jovem entra mais tarde no mercado de trabalho. “Isso é verdade só até os 18 anos. A partir dessa idade, os jovens querem trabalhar e nisso não há mudança”, destacou. Segundo ela, esse desejo de entrar no mercado de trabalho independe da classe social, pois todos os jovens desejam participar do mercado de trabalho.
Para Helena, os dados também são importantes para se avaliar como se dá o período de transição da escola para o trabalho, que marca a fase de juventude. Os dados mostram, por exemplo, que entre os 15 e 17 anos, a taxa dos que só estudam é de 67,8%, enquanto no segmento de 25 a 29 anos é de 3,2%. Já entre os que só trabalham, a taxa é de 5,5% no segmento de 15 a 17 anos e de 67,2% na faixa de 25 a 29 anos.
“Esses dados são uma contribuição para pensar como se dá a educação e o trabalho entre os jovens”, afirma, destacando que o período de 15 a 29 anos é marcado por uma longa transição. “Esse período se desenvolve em vários percursos de inclusão social e desenvolvimento de autonomia”, diz, destacando que o início no mercado de trabalho coincide muitas vezes pela saída da casa dos pais, em busca de uma vida independente. Segundo Helena, é também quando o jovem sai do âmbito de seu bairro para interagir com a cidade – e construir sua identidade. “A vida passa por uma equação entre todos esses elementos”, afirma.
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2016/06/pesquisadora-diz-que-ensino-medio-avanca-no-pais-apensar-de-lacunas-8958.html

Órgão que defende consumidor quer eliminar agrotóxico com "agente laranja" usado na guerra doVietnam

  • Órgão de defesa do consumidor cobra que Anvisa (Agencia Federal) proíba o uso da substância suspeita de causar câncer e complicações endocrinológicas
por Redação RBA - Sociedade e Luta Contra Ganância Capitalista
Arquivo/ABr
2,4-DSegundo agrotóxico mais utilizado no Brasil é apontado pela OMS como cancerígeno e causa danos ao ambiente
São Paulo – Após consulta pública encerrada na última semana, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mantém parecer favorável à liberação do agrotóxico 2,4-D (2,4-diclorofenoxiacético), apesar dos riscos apresentados à saúde. Tendo participado do processo, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) segue defendendo o banimento da substância no país e reclama da decisão.
"Para nós, foi muito preocupante essa posição da Anvisa. A gente tem inclusive posição da Organização Mundial da Saúde (OMS) dizendo que esse tipo de agrotóxico afeta o sistema reprodutivo, o cérebro e é apontados como potencialmente cancerígeno. A gente já tem evidências científicas suficientes para proibir o uso dessa substância, no Brasil, mas infelizmente a Anvisa adotou postura bem conservadora e a favor dos interesses do agronegócio", afirma Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.
O 2,4-D é um dos ingredientes ativos do "agente laranja", composto que ficou conhecido durante a Guerra do Vietnã (1955-1975), quando foi usado como arma química pelos Estados Unidos e provocou graves problemas de saúde na população local, e também nos próprios soldados, com aumento da incidência de câncer, problemas neurológicos e no sistema endócrino.
Atualmente, esse composto é o segundo agrotóxico mais vendido no Brasil, sendo aplicado em plantações de arroz, aveia, café, cana-de-açúcar, centeio, cevada, milho, pastagem, soja e trigo. Segundo a Anvisa, faltam evidências conclusivas sobre os riscos à saúde.
"O agrotóxico tem efeito cumulativo a longo prazo. Por isso também é um desafio para conseguir provar essa relação direta com problemas de saúde. O fato de ter uma possível evidência, para nós, já é o suficiente, baseado no princípio da precaução", comenta a nutricionista, que espera que a decisão da Anvisa seja revista nas instâncias superiores, mas para isso, segundo ela, é necessário mais informação e mobilização de toda a sociedade.
http://www.redebrasilatual.com.br/saude/2016/06/idec-quer-banir-agrotoxico-com-componentes-do-agente-laranja-417.html

6.19.2016

Um Alerta Russo sobre conflitos entre EUA e Russia




 por The Saker, Dmitri Orlov e Eugenia V GurevichThe Vineyard of the Saker para o blog do Alok

Sociedade e Geopolítica militarista dos EUA e Russia (fonte no final do texto)

Traduzido por Tanya & Eugene

Nós, abaixo assinados, somos russos vivendo e trabalhando nos EUA. Temos assistido, com ansiedade crescente, como as atuais políticas dos EUA e da OTAN nos colocaram em rota de colisão extremamente perigosa com a Federação Russa, bem como com a China. Muitos americanos respeitados, patriotas, como Paul Craig RobertsStephen CohenPhilip GiraldiRay McGovern e muitos outros têm lançado alertas de uma iminente Terceira Guerra Mundial. Mas suas vozes acabaram se perdendo entre o alvoroço da mídia de massa que está cheia de histórias imprecisas e enganosas, que descrevem a economia russa como estando em ruínas, e os militares russos como fracos, tudo baseado em evidência nenhuma. Mas nós, conscientes tanto da história da Rússia quanto do estado atual da sociedade e dos militares russos, não podemos engolir tais mentiras. Sentimos agora que é nosso dever, como russos vivendo nos EUA, alertar o povo americano de que estão sendo enganados, e para lhes dizer a verdade. E a verdade é simplesmente esta:

Se vai haver uma guerra com a Rússia, então os Estados Unidos certamente
serão destruídos, e a maioria de nós vai acabar morto.

Vamos dar um passo atrás e colocar o que está acontecendo em contexto histórico. A Rússia tem sofrido muito nas mãos dos invasores estrangeiros, perdendo 22 milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial. A maioria dos mortos eram civis, porque o país foi invadido, e os russos se comprometeram a nunca deixar que um desastre como aquele aconteça novamente. Cada vez que a Rússia foi invadida, ela emergiu vitoriosa. Em 1812, Napoleão invadiu a Rússia; em 1814, a cavalaria russa marchou em Paris. Em 22 de Julho de 1941, a Luftwaffe de Hitler bombardeou Kiev; em 8 de maio de 1945, as tropas soviéticas entraram em Berlim.

Mas os tempos mudaram desde então. Se Hitler fosse atacar a Rússia hoje, ele estaria morto 20 a 30 minutos depois, seu bunker reduzido a escombros incandescentes pelo ataque de um míssil de cruzeiro supersônico Kalibr lançado de um pequeno navio da marinha russa em algum lugar no mar Báltico. As capacidades operacionais da novas Forças Armadas russas foram convincentemente demonstradas durante a recente ação contra o ISIS, Al Nusra e outros grupos terroristas financiados por fundos estrangeiros que operam na Síria. Há muito tempo a Rússia teve que responder a provocações lutando batalhas terrestres em seu próprio território, e depois lançando contraofensiva; mas isso não é mais necessário. As novas armas da Rússia fazem retaliação instantânea, indetectável, invencível e perfeitamente letal.

Assim, se amanhã uma guerra irrompesse entre os EUA e a Rússia, é incontestável que os EUA seriam obliterados, destruídos. No mínimo, não restaria mais rede elétrica, nem internet, nem oleodutos e gasodutos, nenhum sistema de rodovias interestaduais, nenhum transporte aéreo ou de navegação baseado em GPS. Os centros financeiros ficariam em ruínas. O Governo, em todos os níveis, deixaria de funcionar. As forças armadas dos EUA, estacionadas ao redor do globo, deixariam de ser reabastecidas. E no pior caso, toda a área terrestre dos EUA ficaria coberta por uma camada de cinzas radioativas. Estamos lhes dizendo isso, não para serem alarmistas, mas porque, com base em tudo o que sabemos, nós mesmos estamos alarmados. Se atacada, a Rússia não vai recuar; ela vai retaliar, e irá aniquilar totalmente os Estados Unidos.

A liderança dos EUA tem feito tudo para levar a situação à beira de um desastre. Em primeiro lugar, suas políticas anti-russas convenceram a liderança russa de que fazer concessões ou negociar com o Ocidente é fútil. Tornou-se evidente que o Ocidente irá sempre apoiar qualquer indivíduo, movimento ou governo que seja anti-russo, sejam oligarcas russos sonegadores de impostos, criminosos de guerra ucranianos condenados, terroristas Wahhabi sustentados pelos sauditas na Chechênia ou punks profanadores de catedrais em Moscou. Agora que a OTAN, em violação a seus compromissos anteriores, expandiu-se até a fronteira com a Rússia, com forças dos EUA implantadas nos Estados Bálticos, colocando São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia, ao alcance de sua artilharia, os russos não têm mais para aonde recuar. Os russos não vão atacar; mas também não vão desistir ou se render. A liderança russa goza de mais de 80% de apoio popular; e os 20% restantes parecem sentir que o país está sendo muito brando na oposição à intromissão ocidental. Mas a Rússia irá retaliar, e uma provocação ou um simples erro poderá desencadear uma sequência de eventos que resultará em milhões de norte-americanos mortos e com os EUA em ruínas.

Ao contrário de muitos norte-americanos, que veem a guerra como uma aventura externa emocionante e vitoriosa, os russos odeiam e temem a guerra. Mas também estão prontos para ela, e estão se preparando para a guerra há vários anos. E seus preparativos foram mais eficazes. Ao contrário dos EUA, que desperdiçam incontáveis bilhões em programas duvidosos armas superfaturadas, como o caça F-35 (F-35 Joint Strike Fighter), os russos são extremamente austeros com seus rublos gastos em defesa, chegando a obter 10 vezes o retorno para seus investimentos em comparação com a inchada indústria defesa dos EUA. Embora seja verdade que a economia russa sofreu com os baixos preços de matrizes energéticas, está longe de ficar arruinada, e um retorno ao crescimento é esperado já no início do próximo ano. O senador John McCain uma vez chamou a Rússia de "Um posto de gasolina disfarçada de um país." Bem, ele mentiu. Sim, a Rússia é a maior produtora mundial de petróleo e segunda maior exportadora de petróleo, mas também é a maior exportadora mundial de grãos e tecnologia de energia nuclear. É uma sociedade tão avançada e sofisticada como a dos Estados Unidos. As Forças Armadas da Rússia, convencionais e nucleares, agora estão prontas para lutar, e têm mais do que condições para enfrentarem os EUA e a OTAN, especialmente se uma guerra irromper em qualquer lugar perto da fronteira russa.

Mas uma luta dessas seria suicida para todos os lados. Acreditamos fortemente que uma guerra convencional na Europa corre grande risco de se tornar nuclear muito rapidamente, e que qualquer ataque nuclear dos EUA/OTAN sobre as forças ou território russos irá acionar automaticamente um ataque nuclear russo de retaliação sobre o continente dos EUA. Contrariamente às declarações irresponsáveis feitas por alguns propagandistas americanos, os sistemas de mísseis antibalísticos americanos são incapazes de proteger o povo americano de um ataque nuclear russo. A Rússia tem meios para atacar alvos nos EUA com armas nucleares de longo alcance, bem como com armamento convencional.

A única razão pela qual os EUA e a Rússia encontraram-se em rota de colisão, em vez de desarmar tensões e cooperar em uma ampla gama de problemas internacionais, é a recusa obstinada pela liderança dos Estados Unidos em aceitar a Rússia como um parceiro igual: Washington está absolutamente determinado em ser o "líder mundial" e a "nação indispensável", mesmo que a sua influência diminua de forma constante na esteira de uma série desastres militares e na política externa, como no Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Iêmen e na Ucrânia. A continuação da liderança global norte-americana é algo que nem a Rússia, nem a China, nem a maioria dos outros países está disposta a aceitar. Esta perda de poder e influência gradual, mas evidente, fez com que a liderança dos Estados Unidos tenha se tornado histérica; e da histeria ao suicídio é um passo muito pequeno. Os líderes políticos da América precisam ser colocados sob “vigilância de suicídio” (NT: suicide watch, no original).

Em primeiro lugar, apelamos aos comandantes das Forças Armadas dos Estados Unidos a seguirem o exemplo do almirante William Fallon, que, quando perguntado sobre uma guerra com o Irã, teria respondido "não sob meu comando". Sabemos que vocês não são suicidas, e que vocês não querem morrer por causa da descabida arrogância imperial. Se possível, informem seus funcionários, colegas e, especialmente, os seus superiores civis que uma guerra com a Rússia não acontecerá sob seu comando. Pelo menos, levem essa promessa com vocês mesmos e, se o dia já tiver chegado quando a ordem suicida for emitida, simplesmente se recusem a executá-la, justificando que é um ato criminoso. Lembrem-se que, de acordo com o Tribunal de Nuremberg, "Iniciar uma guerra de agressão... não é apenas um crime internacional; é o supremo crime internacional, diferindo apenas de outros crimes de guerra por conter em si o mal acumulado deles todos". Desde Nuremberg, "Eu estava apenas cumprindo ordens" não é mais uma defesa válida; por favor, não sejam criminosos de guerra.

Também apelamos ao povo americano para que adotem medidas pacíficas, mas contundentes, e que se oponham a qualquer político ou partido que se envolvam em ações irresponsáveis e assediadoras que provoquem a Rússia, que admitam e apoiem uma política de confrontação desnecessária com uma superpotência nuclear, capaz de destruir os EUA em cerca de uma hora. Manifestem-se, rompam a barreira de propaganda de mídia de massa, e façam seus colegas americanos cientes do imenso perigo de um confronto entre a Rússia e os EUA.

Não há nenhuma razão objetiva para que EUA e Rússia devam considerar um ao outro como adversários. O confronto atual é inteiramente resultado de pontos de vista extremistas do movimento neoconservador, cujos membros se infiltraram no governo federal dos EUA, e que consideram qualquer país que se recuse a obedecer suas ordens como um inimigo a ser esmagado. Graças aos seus esforços incansáveis, mais de um milhão de pessoas inocentes já morreram na antiga Iugoslávia, no Afeganistão, no Iraque, Líbia, Síria, Paquistão, Ucrânia, Iêmen, Somália e em muitos outros países – tudo por causa de sua insistência maníaca de que os EUA deva ser um império mundial, não um apenas um país comum e normal, e que cada líder nacional deva ou curvar-se diante dele, ou ser derrubado. Na Rússia, a força irresistível que é o movimento neoconservador encontrou definitivamente o objeto irremovível. Eles devem ser forçados a recuar antes que destruam a todos nós.

Estamos absolutamente e categoricamente certos de que a Rússia nunca vai atacar os EUA, nem qualquer estado membro da UE, que a Rússia não está, de forma alguma, interessada em recriar a URSS, e que não existe "ameaça russa" ou "agressão russa." Uma boa dose do recente êxito econômico da Rússia tem a ver com  seu desapego a antigas dependências soviéticas, permitindo a busca por uma política que tem como lema "a Rússia em primeiro lugar". Mas também estamos tão certos que, se a Rússia for atacada, ou mesmo ameaçada, ela não voltará atrás, e que a liderança russa não irá “piscar”. Com grande tristeza e um coração pesado ela cumprirá seu dever solene e desencadeará uma barragem nuclear da qual os Estados Unidos nunca irão se recuperar. Mesmo se toda a liderança russa for morta num primeiro ataque, o chamado "Dead Hand" (o sistema"Perimetr") irá automaticamente lançar armas nucleares suficientes para varrer os EUA para fora do mapa político. Sentimos que é nosso dever fazer tudo o que pudermos para evitar tal catástrofe.

Eugenia V Gurevich, PhD

Dmitri Orlov
http://cluborlov.blogspot.com/            

The Saker (A. Raevsky)

Postado por Dario Alok 

 http://blogdoalok.blogspot.com.br/2016/06/um-alerta-russo-por-saker-dmitri-orlov.html

6.17.2016

As relações dos EUA com a América do Sul e o golpe do Temer

Por Paulo Paiva Nogueira para o site O Cafezinho - Sociedade e Geopolítica dos EUA na América do Sul (fonte no final)

ST-45-1-62                6 February 1962

Meeting with the U.S. Ambassador to Brazil. President Kennedy; Lincoln Gordon. Oval Office, White House.

Please credit Cecil Stoughton/White House, John F. Kennedy Presidential Library and Museum
  • Esse golpe, entretanto, deve ser compreendido dentro do contexto internacional, em que os Estados Unidos tratam de recompor sua hegemonia sobre a América do Sul, ao ponto de negociar e estabelecer acordos com o presidente Maurício Macri para a instalação de duas bases militares em regiões estratégicas da Argentina

Moniz Bandeira denuncia apoio dos EUA a golpe no Brasil


O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira esclareceu nesta terça-feira (14/06/2016) que por trás do processo golpista no Brasil, que levou à ascensão do presidente interino Michel Temer no lugar da presidenta Dilma Rousseff, há interesses dos Estados Unidos, para ampliar sua presença econômica dominadora e geopolítica na América do Sul.

“Esse golpe deve ser compreendido dentro do contexto internacional, em que os EUA tratam de recompor sua hegemonia sobre a América do Sul, ao ponto de negociar e estabelecer acordos com o presidente Maurício Macri para a instalação de duas bases militares em regiões estratégicas da Argentina. O processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff não se tratou, portanto, de um ato isolado, por motivos domésticos, internos do Brasil”, afirmou Moniz Bandeira, em entrevista concedida por e-mail na Câmara dos Deputados.

Moniz, que é autor de mais de 20 obras, entre elas "A Segunda Guerra Fria - Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos" (2013, Civilização Brasileira) e está lançando agora "A Desordem Internacional", entende que o processo golpista no Brasil recebeu apoio dos EUA e de outros setores estrangeiros com interesse nas riquezas do Brasil e principalmente da América do Sul.

Ele criticou também setores da burocracia do Estado (como Procuradoria-Geral da República, Polícia Federal e Judiciário) por atuarem para solapar a democracia brasileira, prejudicar empresas nacionais e abrir caminho para a consolidação de interesses estrangeiros no País, em especial dos EUA. “Muito dinheiro correu na campanha pelo impedimento. E a influência dos EUA transparece nos vínculos de algumas pessoas e do juiz Sérgio Moro, que conduz o processo da Lava-Jato. Ele realizou cursos no Departamento de Estado, em 2007”, disse o escritor.

Entrevista completa:

P)Como o senhor avalia o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff?

R - O fato de que o presidente interino Michel Temer e seus acólitos, nomeados ministros, atuarem como definitivos, mudando toda a política da presidenta Dilma Roussefff, evidencia nitidamente a farsa montada para encobrir o golpe de Estado, um golpe frio contra a democracia, desfechado sob o manto de impeachment. Esse golpe, entretanto, deve ser compreendido dentro do contexto internacional, em que os Estados Unidos tratam de recompor sua hegemonia sobre a América do Sul, ao ponto de negociar e estabelecer acordos com o presidente Maurício Macri para a instalação de duas bases militares em regiões estratégicas da Argentina. O processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff não se tratou, portanto, de um ato isolado, por motivos domésticos, internos do Brasil.

P) Onde seriam implantadas tais bases?

R – Uma seria em Ushuaia, na província da Terra do Fogo, cujos limites se estendem até a Antártida; a outra na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai), antiga ambição de Washington, a título de combater o terrorismo e o narcotráfico. Mas o grande interesse, inter alia, é, provavelmente, o Aquífero Guarani, o maior manancial subterrâneo de água doce do mundo, com um total de 200.000 km2, um manancial transfronteiriço, que abrange o Brasil (840.000l Km²), Paraguai (58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina (255.000 Km²). Aí os grandes bancos dos Estados Unidos e da Europa - Citigroup, UBS, Deutsche Bank, Credit Suisse, Macquarie Bank, Barclays Bank, the Blackstone Group, Allianz, e HSBC Bank e outros – compraram vastas extensões de terra.

P)-A eleição de Maurício Macri significa que a Argentina vai voltar ao tempo em que o ex-presidente Carlos Menem, com a doutrina do “realismo periférico”, desejava manter “relações carnais” com os Estados Unidos?

R – Os EUA estão a buscar a recuperação de sua hegemonia na América do Sul, hegemonia que começaram a perder com o fracasso das políticas neoliberais na década de 1990. Com a eleição de Maurício Macri, na Argentina, conseguiram grande vitória. E, na Venezuela, o Estado encontra-se na iminência do colapso, devido à conjugação de desastrosas políticas dos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro com a queda do preço do petróleo e as operações para a mudança de regime, implementadas pela CIA, USAID, NED e ONGs financiadas por essas e outras entidades. A implantação de bases militares em Ushuaia e na Tríplice Fronteira, além de ferir a soberania da Argentina, significa séria ameaça à segurança nacional não só do Brasil como dos demais países da região. Os EUA possuem bases na Colômbia e alguns contingentes militares no Peru, a ostentarem sua presença nos Andes e no Pacifico Ocidental. E com as bases na Argentina completariam um cerco virtual da região, ao norte e ao sul, ao lado do Pacífico e do Atlântico.

P)-Que implicações teria o estabelecimento de tais bases na Argentina?

R) - Quaisquer que sejam as mais diversas justificativas, inclusive científicas, a presença militar dos EUA na Argentina implicaria maior infiltração da OTAN, na América do Sul, penetrada já, sorrateiramente, pela Grã-Bretanha no arquipélago das Malvinas, e ab-rogaria de fato e definitivamente a resolução 41/11 da Assembleia Geral das Nações Unidas, que, em 1986, estabeleceu o Atlântico Sul como Zona de Paz e Cooperação (ZPCAS). E o Brasil jamais aceitou que a OTAN estendesse ao Atlântico Sul sua área de influência e atuação. Em 2011, durante o governo da presidente Dilma Rousseff, o então ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim (do PMDB, o mesmo partido do presidente provisório Temer), atacou a estratégia de ampliar a área de ingerência da OTAN ao Atlântico Sul, afirmando que nem o Brasil nem a América do Sul podem aceitar que os Estados Unidos “se arvorem” o direito de intervir em “qualquer teatro de operação” sob “os mais variados pretextos”, com a OTAN “a servir de instrumento para o avanço dos interesses de seu membro exponencial, os Estados Unidos da América, e, subsidiariamente, dos aliados europeus”.

P)-Mas estabelecer uma base militar na região da Antártida não é uma antiga pretensão dos EUA?

R – Sim. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial esse é um objetivo estratégico do Pentágono a fim de dominar a entrada no Atlântico Sul. E, possivelmente, tal pretensão agora ainda mais se acentuou devido ao fato de que a China, que está a construir em Paraje de Quintuco, na província de Neuquén, coração da Patagônia, a mais moderna estação interplanetária e a primeira fora de seu próprio território, com poderosa antena de 35 metros para pesquisas do “espaço profundo”, como parte do Programa Nacional de Exploração da Lua e Marte. A previsão é de que comece a operar em fins de 2016. Mas a fim de recuperar a hegemonia sobre toda a América do Sul, na disputa cada vez mais acirrada com a China era necessário controlar, sobretudo, o Brasil, e acabar o Mercosul, a Unasul e outros órgãos criados juntamente com a Argentina, seu principal sócio e parceiro estratégico, a envolver os demais países da América do Sul. A derrubada da presidente Dilma Rousseff poderia permitir a Washington colocar um preposto para substituí-la. A mudança na situação econômica e política tanto da Argentina como do Brasil afigura-se, entretanto, muito difícil para os EUA. A China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil, com investimentos previstos superiores a US$54 bilhões, e o segundo maior parceiro comercial da Argentina, depois do Brasil. O Brasil, ao desenvolver uma política exterior com maior autonomia, fora da órbita de Washington, e de não intervenção nos países vizinhos e de integração da América do Sul, conforme a Constituição de 1988,constituía um obstáculo aos desígnios hegemônicos dos EUA, que pretendem impor a todos os países da América tratados de livre comércio similares aos firmados com as repúblicas do Pacífico. Os EUA não se conformam com o fato de o Brasil integrar o bloco conhecido como BRICs e seja um dos membros do banco em Shangai, que visa a concorrer com o FMI e o Banco Mundial.

P)- Como o senhor vê a degradação da democracia no Brasil, com a atuação de setores da burocracia do Estado (Ministério Público, Polícia Federal e Judiciário) que agem de modo a rasgar a Constituição, achicanando o país?

R - A campanha contra a corrupção, nos termos em que o procurador-geral Rodrigo Janot e o juiz Sérgio Moro executam, visou, objetivamente, a desmoralizar a Petrobras e as grandes construtoras nacionais, tanto que nem sequer as empresas estrangeiras foram investigadas, e elas estão, de certo, envolvidas também na corrupção de políticos brasileiros. Ao mesmo tempo se criou o clima para o golpe frio contra o governo da presidente Dilma Rousseff, adensado pelas demonstrações de junho de 2013 e as vaias contra ela na Copa do Mundo. A estratégia inspirou-se no manual do professor Gene Sharp, intitulado Da Ditadura à Democracia, para treinamento de agitadores, ativistas, em universidades americanas e até mesmo nas embaixadas dos Estados Unidos, para liderar ONGs, entre as quais Estudantes pela Liberdade e o Movimento Brasil Livre, financiadas com recursos dos bilionários David e Charles Koch, sustentáculo do Tea Party, bem como pelos bilionários Warren Buffett e Jorge Paulo Lemann, proprietários dos grupos Heinz Ketchup, Budweiser e Burger King, e sócios de Verônica Allende Serra, filha do ex-governador de São Paulo José Serra, na sorveteria Diletto. Outras ONGs são sustentadas pelo especulador George Soros, que igualmente financiou a campanha “Venha para as ruas”.

P)-Os pedidos de prisão de próceres do PMDB e do presidente do Senado, encaminhados pelo procurador-geral da República, podem desestabilizar o Estado brasileiro?

R - Os motivos alegados, que vazaram para a mídia, não justificariam medida tão radical, a atingir toda linha sucessória do governo brasileiro. O objetivo do PGR poderia ser de promoção pessoal, porém tanto ele como o juiz Sérgio Moro atuam, praticamente, para desmoralizar ainda mais todo o Estado brasileiro, como se estivessem a serviço de interesses estrangeiros. E não só desmoralizar o Estado brasileiro. Vão muito mais longe nos seus objetivos antinacionais. As suspeitas levantadas contra a fábrica de submarinos, onde se constrói, inclusive, o submarino nuclear, todos com transferência para o Brasil de tecnologia francesa, permitem perceber o intuito de desmontar o programa de rearmamento das Forças Armadas, reiniciado pelo presidente Lula e continuado pela presidente Dilma Rousseff. E é muito possível que, em seguida, o alvo seja a fabricação de jatos, com transferência de tecnologia da Suécia, o que os EUA não fazem, como no caso do submarino nuclear. É preciso lembrar que, desde o governo de Collor de Melo e, principalmente, durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi virtualmente desarmado, o Exército nem recursos tinha para alimentar os recrutas e foi desmantelada a indústria bélica, que o governo do general Ernesto Geisel havia incentivado, após romper o Acordo Militar com os Estados Unidos, na segunda metade dos anos 1970.

P)- O senhor julga que os Estados Unidos estiveram por trás da campanha para derrubar o governo da presidente Dilma Rousseff?

R - Há fortes indícios de que o capital financeiro internacional, isto é, de que Wall Street e Washington nutriram a crise política e institucional, aguçando feroz luta de classes no Brasil. Ocorreu algo similar ao que o presidente Getúlio Vargas denunciou na carta-testamento, antes de suicidar-se, em 24 de agosto de 1954: “A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de liberdade e garantia do trabalho”. Muito dinheiro correu na campanha pelo impeachment. E a influência dos EUA transparece nos vínculos do juiz Sérgio Moro, que conduz o processo da Lava-Jato. Ele realizou cursos no Departamento de Estado, em 2007. No ano seguinte, em 2008, passou um mês num programa especial de treinamento na Escola de Direito de Harvard, em conjunto com sua colega Gisele Lemke. E, em outubro de 2009, participou da conferência regional sobre “Illicit Financial Crimes”, promovida no Rio de Janeiro pela Embaixada dos Estados Unidos. A Agência Nacional de Segurança (NSA), que monitorou as comunicações da Petrobras, descobriu a ocorrência de irregularidades e corrupção de alguns militantes do PT e, possivelmente, passou informação sobre o doleiro Alberto Yousseff a um delegado da Polícia Federal e ao juiz Sérgio Moro, de Curitiba, já treinado em ação multi-jurisdicional e práticas de investigação, inclusive com demonstrações reais (como preparar testemunhas para delatar terceiros). Não sem motivo o juiz Sérgio Moro foi eleito como um dos dez homens mais influentes do mundo pela revista Time. Ele dirigiu a Operação Lava-Jato, coadjuvado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como um reality show, sem qualquer discrição, vazando seletivamente informações para a mídia, com base em delações obtidas sob ameaças e coerção, e prisões ilegais, com o fito de macular e incriminar, sobretudo, o ex-presidente Lula. E a campanha continua.

P)- Aonde vai?

R – Vai longe. Visa a atingir todo o Brasil como nação. E daí que se prenuncia uma campanha contra a indústria bélica, a começar contra a construção dos submarinos, com tecnologia transferida da França, o único país que concordou em fazê-lo, e vai chegar à construção dos jatos, com tecnologia da Suécia e outras indústrias. Essas iniciativas dos presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff afetaram e afetam os interesses dos Estados Unidos, cuja economia se sustenta, largamente, com a exportação de armamentos. Apesar de toda a pressão de Washington, o Brasil não comprou os jatos F/A-18 Super Hornets da Boeing, o que contribuiu, juntamente com o cancelamento das encomendas pela Coréia do Sul, para que ela tivesse de fechar sua planta em Long Beach, na Califórnia. A decisão da presidente Dilma Rousseff de optar pelos jatos da Suécia representou duro golpe na divisão de defesa da Boeing, com a perda de um negócio no valor US$4,5 bilhões. Esse e outros fatores concorreram para a armação do golpe no Brasil.

P)-E qual a perspectiva?

R) – É sombria. O governo interino de Michel Temer não tem legitimidade, é impopular e, ao que tudo indica, não há de perdurar até 2018. É fraco. Não contenta a gregos e troianos. E, ainda que o presidente interino Michel Temer não consiga o voto de 54 senadores para efetivar o impeachment, será muito difícil a presidenta Dilma Rousseff governar com um Congresso, em grande parte corrompido, e o STF comprometido pela desavergonhada atuação, abertamente político-partidária, de certos ministros. Novas eleições, portanto, creio que só as Forças Armadas, cujo comando do Exército, Marinha e Aeronáutica até agora está imune e isento, podem organizar e presidir o processo. Também só elas podem impedir que o Estado brasileiro seja desmantelado, em meio a esse clima de inquisição, criado e mantido no País, em colaboração com a mídia corporativa, por elementos do Judiciário, como se estivessem acima de qualquer suspeita. E não estão. Não são deuses no Olimpo.
Fonte: http://www.ocafezinho.com/2016/06/15/moniz-bandeira-denuncia-conexoes-internacionais-do-golpe/