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12.25.2014

Cientistas Sociais Dizem que Estamos Dentro da 3a. Guerra Mudial


Fim de uma era, uma nova civilização ou o fim do mundo?

Leonardo Boff

Há vozes de personalidades de grande respeito que advertem que estamos já dentro de uma Terceira Guerra Mundial. A mais autorizada é a do Papa Francisco.


 Há vozes de personalidades de grande respeito que advertem que estamos já dentro de uma Terceira Guerra Mundial. A mais autorizada é a do Papa Francisco. No dia  13 de setembro deste ano, ao visitar um cemitério de soldados italianos mortos em Radipuglia perto da Eslovênia disse:”a Terceira Guerra Mundial pode ter começado, lutada aos poucos com crimes, massacres e destruições”.

O ex-chanceler alemão Helmut Schmidt em 19/12/2014 com 93 anos adverte acerca de  uma possível Terceira Guerra Mundial, por causa da Ucrânia. Culpa a arrogância e os militares burocratas da União Européia, submetidos às políticas belicosas dos EUA. George W. Bush chamou a guerra ao terror, depois dos atentados contra as Torres Gêmea, de “World War III”. Eliot Cohen, conhecido diretor de Estudos Estragégicos da Johns Hopkins University, confirma Bush bem como Michael Leeden, historiador, filósofo neoconservador e antigo consultor do Conselho de Segurança dos USA que prefere falar na Quarta Guerra Mundial, entendendo a Guerra-Fria com suas guerras regionais como já a Terceira Guerra Mundial. Recentemente (22/12/2014)  conhecido sociólogo e analista da situação do mundo Boaventura de Souza Santos escreveu um documentado artigo sobre a Terceira Guerra Mundial (Boletim Carta Maior de 22/12/2014). E outras vozes autorizadas  se fazem ouvir aqui e acolá.

 A mim me convence mais a análise, diria profética, pois está se realizando como previu, de Jacques Attali em seu conhecido livro Uma breve história do futuro (Novo Século, SP 2008). Foi assessor de François Mitterand e atualmente preside a Comissão dos “freios ao crescimento”. Trabalha com uma equipe multidisciplinar de grande qualidade. Ele prevê três cenários:

(1) o superimpério composto pelos USA e seus aliados. Sua força reside em poder destruir toda a humanidade. Mas está em decadência devido à crise sistêmica da ordem capitalista. Rege-se pela ideologia do Pentágo do”full spectrum dominance”(dominação do espectro total) em todo os campos, militar, ideológico, político, econômico e cultural. Mas foi ultrapassado economicamente pela China e tem dificuldades de  submeter todos à lógica imperial.

(2) O superconflito: com a decadência lenta do império, dá-se uma balcanização do mundo, como se constata atualmente com conflitos regionais no norte da Africa, no Oriente Médio, na Africa e na Ucrânia. Esses conflitos podem conhecer um crescendo com a utilização de armas de destruição em massa (vide Síria, Iraque), depois de pequenas armas nucleares (existem hoje milhares no  formato de uma mala de executivo) que destroem pouco mas deixam regiões inteiras por muitos anos inabitáveis devido à alta radioatividade. Pode-se chegar a um ponto com a utilização generalizada de armas nucleares, químicas e biológica em que a humanidade se dá  conta de que pode se auto-destruir.

E então surge (3) o cenário final:  a superdemocracia. Para não se destruir a si mesma  e grande parte da biosfera, a humanidade elabora um contrato social mundial, com instâncias plurais de governabilidade planetária. Com os bens e serviços naturais escassos devemos garantir a sobrevivência da espécie humana e de toda a comunidade de vida que também é criada e mantida pela Terra-Gaia.

 Se essa fase não surgir, poderá ocorrer  o fim da espécie humana e grande parte da biosfera. Por culpa de nosso paradigma civilizatório racionalista. Expressou-o bem o economista e humanista Luiz Gonzaga Belluzzo, recentemente: “O sonho ocidental de construir o hábitat humano somente à base da razão, repudiando a tradição e rejeitando toda a transcendência, chegou a um impasse. A razão ocidental não consegue realizar concomitantemente os valores dos direitos humanos universais, as ambições do progresso da técnica e as promessas do bem-estar para todos e para cada um”(Carta Capital 21/12/2014). Em sua irracionalidade, este tipo de razão constrói os meios de dar-se um fim a si mesma.

 O processo de evolução deverá possivelmente esperar alguns milhares ou milhões de anos até que surja um ser suficientemente complexo, capaz de suportar o espírito que, primeiro, está no universo e somente depois em nós.

Mas pode também irromper uma nova era que conjuga a razão sensível (do amor e do cuidado) com a razão instrumental-analítica (a tecnociência). Emergirá, enfim, o que Teilhard de Chardin chamava ainda em 1933 na China a noosfera: as mentes e os corações unidos na solidariedade, no amor e no cuidado com a Casa Comum, a Terra. Escreveu Attali:”quero acreditar, enfim, que o horror do futuro predito acima, contribuirá para torná-lo impossível; então se desenhará a promessa de uma Terra hospitaleira para todos os viajantes da vida (op.cit. p. 219).

 E no final nos deixa a nós brasileiros esse desafio:”Se há um país que se assemelha ao que poderia tornar-se o mundo, no bem e no mal, esse país é  o Brasil”(p. 231).
http://cartamaior.com.br/?/Coluna/Fim-de-uma-era-uma-nova-civilizacao-ou-o-fim-do-mundo-/32501

12.13.2014

Somos escravos das telas de notebook, celular ou ...? *

Nos dias de hoje, usamos tela do celular, notebook, PC, ipod, ifone, TV, entre outras. Com toda esta tecnologia diária, podemos nos classificar como escravos das telas?

Do mesmo jeito que ganhamos tempo, 
o uso das telas como o celular começa a exigi-lo 
para coisas  que antes não fazíamos ... e a exploração das imagens é algo inusitado
Braulio Tavares**- Sociedade e Tecnologia
Vi uma matéria curiosa, há pouco tempo, sobre os hábitos dos frequentadores de restaurantes. O dono de um restaurante encontrou vídeos de cerca de dez anos atrás, filmados por câmera de segurança. Os vídeos registravam todo o movimento das mesas, desde a abertura da casa até a saída do último freguês. Para fazer um estudo da dinâmica do trabalho, tempo de atendimento ao cliente entre outras coisas., o dono do restaurante fez uma comparação entre o vídeo de dez anos atrás e um de hoje e tirou conclusões interessantes.
 
A primeira coisa que lhe chamou a atenção foi que, embora a quantidade de pratos consumidos e a quantia de dinheiro gasto (proporcionalmente a 10 anos atrás e hoje) continuassem os mesmos, as pessoas passavam o dobro do tempo no restaurante. Daí a queda de faturamento, que ele não sabia a que atribuir e era seu foco desta investigação. Mas percebeu que, se 10 anos atrás um grupo de 6 pessoas passava uma hora e meia para almoçar, esse tempo chegava hoje a duas e meia, quase três horas, com aproximadamente o mesmo consumo de comida.
 
Ele constatou que, antes, as pessoas sentavam, pediam o cardápio, conversavam um pouco, faziam os pedidos entre outras coisas. Hoje em dia é diferente. A primeira meia hora de atendimento mostrava as pessoas com os cardápios abertos à sua frente, mas concentradas nos seus celular, notebook ou ipad lendo, digitando mensagens, entre outras coisas.  Quando, finalmente, os pedidos eram atendidos e a comida chegava, a maioria das pessoas fotografava os pratos e começava a compor mensagens. Com isso se distraíam e muitas vezes os pratos eram devolvidos aos garçons para ser novamente aquecidos. No fim da refeição, havia mais um longo período de tempo em que os garçons eram solicitados a fazer fotos sucessivas do grupo, com o celular de cada um.
 
O celular, TV, notebook, internet, web, câmera fotográfica veio para ampliar nossa vida, e ampliar não quer dizer necessariamente facilitar. Do mesmo jeito que ganhamos tempo de um lado, o celular e outras ferramentas tecnológicas começam também a exigi -lo para coisas que antes não fazíamos. E numa sociedade que já foi chamada “a civilização dos Narcisos” ou faça seu "self", o celular é um veículo excelente para o exibicionismo, para a comunicação instantânea de “o que estou comendo”, para os selfies com gente famosa encontrada nos aeroportos, cinema, shopping nos clubes.
 
Se tem a impressão que somos a geração mais bem documentada da História. Somando a presença de celulares, tablets, notebook etc. e a disponibilidade das redes sociais, onde cada um entra e saí a seu bel prazer, estamos participando do maior experimento sociológico de todos os tempos, no sentido do uso descontrolado da tecnologia. Nunca se reuniu tanta informação voluntariamente fornecida sobre os hábitos sociais da população. Talvez, no futuro, digam que a História, para valer, começou no tempo de hoje ou digam que perdemos o bonde da História. 
 
*http://www.cartafundamental.com.br/single/show/356
**escritor e compositor

Investigação na Petrobrás pode ter final desastroso para a ecomia brasileira

Petrobras: Brasil precisa dar resposta rápida para escândalos, diz ONG

Redação, com DW - de Brasília - Sociedade e Economia

Para Transparência Internacional, economia do país sofrerá impactos negativos caso não haja uma reação adequada
Para Transparência Internacional, economia do país sofrerá impactos negativos caso não haja uma reação adequada
O Brasil vive um momento histórico na luta contra a corrupção, considera o diretor da organização Transparência Internacional, Cobus de Swardt. Mas o país pode ter sua economia gravemente afetada caso não dê uma resposta rápida para os recentes escândalos na Petrobras, aponta.
- Os empresários e o governo devem mudar a forma como se fazem negócios no Brasil. Se não agarrarem a oportunidade de fazer essa limpeza, a economia brasileira vai sofrer muito nos próximos anos – disse o diretor nesta quinta-feira, numa coletiva de imprensa da ONG em São Paulo.
Segundo De Swardt, as empresas brasileiras terão dificuldades para fazer negócios no exterior, caso permaneçam “sob suspeita”.
Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), lançado em dezembro, indica que os casos de corrupção levam em média sete anos para serem concluídos. Em 1999, demoravam apenas dois anos.
De Swardt afirma que agora a rapidez será crucial no Brasil. “Se o caso da Petrobras se alongar por sete anos, será um desastre para a economia. Além disso, há um risco real de que a impaciência da população brasileira chegue a um limite. O que seria muito difícil de reverter.”
Ele diz que o país precisa mostrar que está atacando o problema corretamente, com medidas imediatas e reformas a médio prazo. Também ressalta a importância da punição dos envolvidos, tanto indivíduos, quanto empresas.
- Eu não concordo com esse argumento de que responsabilizar as companhias destruiria a economia, o erro seria não lidar com o assunto – opina. O diretor acredita que a Petrobras também precisa implementar reformas para conseguir superar a crise ou corre o risco de quebrar.
Para De Swardt, a situação econômica desfavorável, com o crescimento do PIB próximo de zero, e os protestos nas ruas constituem “as condições ideais para a mudança”.
- Na Europa, ninguém se importava com a evasão de impostos. Com a crise econômica, eles passaram a rastrear os dados e intensificar o controle – afirma. “Você nunca consegue reformas políticas em momentos em que tudo vai bem, é necessário pressão.”
Atualmente, o Brasil está em 69ª lugar entre 175 países no Índice de Percepção da Corrupção, ranking da Transparência Internacional.
Empresas Offshore de Propriedade Secreta ou Não Divulgada
A ONG aproveitou a semana em que se celebra o Dia Internacional Anticorrupção para divulgar a campanha global “Desmascare o corrupto”. Entre outros objetivos, a iniciativa alerta para os perigos das empresas offshore, de propriedade secreta, comumente usadas para lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Essas empresas, muitas vezes fantasmas, podem ser criadas facilmente à distância, pela internet. Normalmente localizadas em paraísos fiscais, as empresas são abertas em apenas três dias, incluindo contas bancárias, com total confidencialidade.
Para isso, segundo a ONG, basta enviar a cópia de um passaporte, uma conta de luz ou eletricidade, por exemplo, e o pagamento de cerca de 1.500 euros pelo cartão de crédito. A operação é feita em minutos.
- Isso ocorreu também no caso da Petrobras. Por isso, nenhuma empresa deveria poder ter um contrato com o governo sem que todos os seus donos e beneficiários sejam públicos – diz De Swardt. “No Brasil, é comum uma empresa nacional assinar o contrato, mas ter como parceira uma entidade estrangeira desconhecida.”
Segundo um estudo da Global Financial Integrity (GFI), o Brasil perdeu 33,7 bilhões de dólares por ano em fluxos ilícitos para fora do país, no período de 2010 a 2012. O valor equivale a 1,5% do PIB.
- Pense em investir esse dinheiro em comunidades pobres, em desenvolvimento. Só o que o Brasil perde em corrupção já seria suficiente para alavancar o crescimento do país – aponta De Swardt.
http://correiodobrasil.com.br/meio-ambiente/energia/petrobras-brasil-precisa-dar-resposta-rapida-para-escandalos-diz-ong/743727/

12.12.2014

Mães, Pais e Pessoas que Respeitam a Criança: Pesquisa Mostra Conteúdos de TV, Internet X Horários

Pesquisa aponta preocupação de pais com conteúdos de TV e internet

Trabalho conjunto do Ministério da Justiça e da Unesco ouviu 3 mil pessoas no país; quase todos os entrevistados (98%) acreditam que as informações acessadas devem ter algum controle
por Redação da RBA - Sociedade e Infância
Valter Campanato/Agência Brasil
tvDiante da tela: preocupação com cenas de tortura, suicídio ou estupro, além de violência e consumo de drogas
Brasília – Pesquisa divulgada em 11.dez.2014 mostra que 97% dos pais ou responsáveis por crianças de quatro a 16 anos consideram importante, ou muito importante, que as emissoras de televisão aberta respeitem as restrições de horários determinadas pela classificação indicativa e 94% deles pedem que as TVs sejam multadas caso passem programas de conteúdo inadequado para as faixas de horário.
O trabalho, do Instituto de Pesquisas Socais, Políticas e Econômicas, do Ministério da Justiça, e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), analisou o comportamento das crianças ou adolescentes e dos pais ou responsáveis em relação ao uso das mídias e da percepção sobre a classificação indicativa. Ela ouviu 3.023 pessoas em todo o país. A margem de erro é 1,8 ponto.
Quase todos os entrevistados (98%) acreditam que deve haver algum tipo de controle sobre o que as crianças e adolescentes assistem na televisão ou acessam na internet. A maioria dos pais ou responsáveis se preocupa, principalmente, com cenas de tortura, suicídio ou estupro, seguidas pelo consumo de drogas, pela agressão física e pela violência.
A maioria dos entrevistados, 56%, conhece ou já ouviu falar da classificação indicativa e, para 94%, ela é muito importante. Quando um programa de televisão ou filme não é recomendado para a idade das crianças ou adolescentes, 55% dos responsáveis mudam de canal ou desligam a TV e 50% explicam que o conteúdo é inadequado e não permitem que ele seja assistido.
Para 85% dos entrevistados, as regras de classificação indicativa na TV aberta devem permanecer como estão, obedecendo à faixa de horário recomendada para cada idade. No entanto, 91% deles dizem que, além dos símbolos que são mostrados para informar a classificação indicativa, deveria ter na TV um apresentador falando para qual idade aquele programa não é recomendado.
Segundo a pesquisa, a televisão é usada por 67% das crianças e adolescentes e 50% deles costumam assistir à programação no período noturno. As mães são as responsáveis mais presentes no horário em que os filhos assistem. Entre os critérios adotados pelos pais para indicar um programa aos filhos estão: ter caráter educativo (95%), ser divertido (83%), incentivar o desenvolvimento pessoal, psicológico ou afetivo (83%) e passar informações sobre o mundo e a sociedade (81%).
A escola, para 93% dos entrevistados, é importante ou muito importante para auxiliar as crianças e os adolescentes a desenvolver uma opinião mais crítica sobre o que veem na TV e na internet – 56% deles afirmam que as crianças ou adolescentes sempre costumam conversar com a família sobre os programas a que assistem na televisão. Para 73% dos pais ou responsáveis, a internet pode influenciar muito o comportamento.
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/12/pesquisa-aponta-preocupacao-dos-pais-com-conteudos-de-tv-e-internet-7377.html

12.10.2014

A Distribuição de Renda não Avança: Aumenta os Pobres no Mundo

Em 34 países, diferença entre ricos e pobres alcança maior nível em 30 anos, aponta OCDE

Os BRIC'S Brasil, China e Índia não integram a organização, conclui que tendência prejudica o crescimento econômico e apela para que governos invistam em distribuição de renda e acesso à educação para diminuir os miseráveis na Terra.
por Carta Capital  - Sociedade e Pobreza
Foto de Lip Jin Lee/Flickr
desiguldadeNos 34 países integrantes da OCDE, 10% da população mais rica têm renda quase dez vezes maior que a dos 10% mais pobres
A desigualdade entre ricos e pobres alcançou seu maior nível em 30 anos, em uma série de países. Essa tendência tem prejudicado o crescimento econômico, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que divulgou o novo relatório envolvendo seus 34 países-membros nesta terça-feira 9, em Berlim e Paris. "Hoje, os 10% da população mais rica da OCDE ganha 9,5 vezes a renda dos 10% mais pobres; em 1980 esta relação era de 7 para 1 e tem aumentado continuamente desde então", afirmou a entidade.
A OCDE integra países desenvolvidos e em desenvolvimento, incluindo membros da União Europeia, os Estados Unidos, Turquia, México e Japão. A China, o Brasil e a Índia não integram a organização.
Nas décadas anteriores à crise econômica mundial, a renda média das famílias cresceu em todos os países da OCDE cerca de 1,6% ao ano. "No entanto, em três quartos das famílias que estão entre as 10% mais ricas dos países da OCDE os rendimentos cresceram mais rapidamente do que os das 10% mais pobres, resultando num aumento da desigualdade de renda", aponta o relatório.

Diferenças menores nos países nórdicos

Durante os últimos anos pós-crise, a renda familiar média estagnou ou caiu na maioria dos Estados-membros da OCDE, afirma o estudo. A diferença entre ricos e pobres, que varia consideravelmente, é, em geral, menor na Europa continental e nos países nórdicos.
Porém a relação da renda média entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres é bem mais alta em outros Estados-membros, prossegue o relatório, "chegando a cerca de 10 para 1 na Itália, Japão, Coreia do Sul, Portugal e Reino Unido; 13 a 16 para 1 na Grécia, Israel, Turquia e Estados Unidos, e 27 a 30 para 1 no México e no Chile".
Na Alemanha, a distância entre ricos e pobres também vem aumentando desde meados dos anos 1980. Os 10% mais ricos do país ganhavam, então, cinco vezes mais do que os 10% mais pobres. Agora, os 10% mais ricos ganham sete vezes mais.

Desigualdade e distribuição de renda

O relatório argumenta que o aumento da desigualdade de renda afeta negativamente as economias dos países membros, tendo custado mais de 10 pontos percentuais do crescimento econômico no México e na Nova Zelândia. "Nos Estados Unidos, Reino Unido, Suécia, Finlândia e Noruega, a taxa de crescimento teria sido mais de um quinto maior, se as disparidades de renda não tivessem sido ampliadas", diz o estudo.
Ao mesmo tempo, de acordo com estimativas da OCDE, uma maior igualdade ajudou a aumentar o PIB per capita de Espanha, França e Irlanda, antes da crise econômica. O relatório pede que sejam adotados programas de combate à pobreza, assim como uma melhoria no acesso à educação de alta qualidade, formação profissional e saúde.
"O estudo também não encontrou evidências de que as políticas redistributivas, como impostos (sobre grandes fortunas, por exemplo) e benefícios sociais, prejudiquem o crescimento econômico, desde que essas políticas sejam bem planejadas, direcionadas e implementadas", afirmou a OCDE, no comunicado que acompanhou a divulgação do relatório.
"Nossa análise mostra que só podemos esperar crescimento forte e duradouro se fizemos algo para combater a grande e crescente desigualdade", argumentou o secretário-geral da OCDE, Anjo Gurria. "A luta contra a desigualdade deve estar no centro do debate político. Os países que crescerão serão aqueles que fazem tudo para que seus cidadãos tenham igualdade de oportunidades desde a infância."
http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2014/12/diferenca-entre-ricos-e-pobres-alcanca-maior-nivel-em-30-anos-aponta-ocde-1704.html

12.06.2014

Possibilidades e riscos da nova fase em que a conjuntura brasileira entrou: operação lava-jato x Petrobrás

Operação Lava Jato: para defender a Petrobras ou sacrificá-la?

Prisão de executivos das grandes empreiteiras expõe corruptores e revela urgência da Reforma Política. Mas seu sentido estará em disputa — e o destino da Petrobras mora no centro do furacão, assim como os dividendos do pré-sal para a população brasileira na educação.
 
por Antonio Martins - sociedade e economia
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Executivos de grandes empresas chegam à Polícia Federal em Curitiba, para depor. Brasil finalmente punirá os corruptores?

Por que Arábia Saudita, aliada dos EUA, age para derrubar preços do combustível. Como isto afeta Petrobras, em meio à Operação Lava Jato, artigo baseado nos estudos de André Ghirardi.
As prisões de presidentes e executivos de grandes empreiteiras que prestam serviço à Petrobras, efetuadas em 14/11/2014 no âmbito da Operação Lava Jato, podem ter desdobramentos capazes de marcar, por meses ou anos, a vida brasileira. Pela primeira vez, foi exposta ao grande público a ação dos corruptores – sempre poupados pelo Judiciário e pela mídia, por razões tão fortes quanto sua potência financeira. Em breve, surgirão os elos entre grandes empresas e dezenas de políticos. O controle que o poder econômico exerce sobre o Parlamento ficará ainda mais escancarado.
Diante disso, emergirá por certo uma grande disputa de narrativas. Estará escancarada, para quem quiser enxergar, a necessidade imediata de uma Reforma Política – que, antes de tudo, proíba e puna severamente o financiamento, por corporações, dos partidos e campanhas eleitorais. Mas haverá, como no caso do “Mensalão”, a tentativa de sacrificar bodes expiatórios para, no fundo, preservar a promiscuidade entre o dinheiro e uma democracia cada vez mais esvaziada. A manobra consistirá em focar indivíduos (os deputados financiados pelas empreiteiras, que logo aparecerão) e fazer vistas grossas ao sistema político (que, no Brasil, praticamente obriga quem tiver pretensões de eleger-se a se associar a grandes grupos econômicos).
Na disputa de narrativas, um capítulo crucial envolverá a Petrobras. Maior empresa brasileira, responsável sozinha por cerca de 10% da arrecadação de impostos no Brasil, ela não poderia passar incólume, num sistema político em que a corrupção institucionalizada é a regra. Mas será grande a pressão para convertê-la em mais um bode expiatório. Estará em jogo a imensa riqueza petroleira do pré-sal. Ela tornou-se, nos últimos meses, especialmente cobiçada.
breve ensaio de André Ghirardi, que Outras Palavras orgulha-se de publicar aqui, revela por quê. Decisões políticas, adotadas principalmente pela Arábia Saudita, estão sacudindo a produção e os preços internacionais do petróleo. Maiores exportadores mundiais e aliados históricos dos Estados Unidos no Oriente Médio, os sauditas estão forçando uma baixa dos preços do produto, que tem vastas consequências econômicas e políticas. A produção de muitas áreas petrolíferas pode tornar-se inviável, porque os custos de extração do combustível serão menores que os preços internacionais. Mais importante: países cujos Estados dependem da renda petroleira para equilibrar seus orçamentos correm o risco de desestabilização. É o caso típico do Irã e Venezuela.
O pré-sal brasileiro destaca-se, neste cenário, por dois aspectos. Suas reservas já conhecidas situam-se na casa das dezenas de bilhões de barris, podendo estar entre as maiores do mundo. Seu custo de produção é relativamente baixo. É uma faca de dois gumes. Tornaria a extração viável mesmo num contexto de preços internacionais reduzidos – mas poderia levar o Brasil a esgotar um recurso precioso no período em que ele está mais desvalorizado. Além disso, quem faria a exploração – se houver pressões para queimar a Petrobras no altar da Operação Lava Jato?
O texto de Ghirardi expõe, em detalhes, o novo cenário. Examiná-lo é essencial para compreender os contextos, possibilidades e riscos da nova fase em que a conjuntura brasileira entrou, desde ontem.

Blog Outras Palavras 
 ou
http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/operacao-lava-jato-para-defender-a-petrobras-ou-sacrifica-la-4692.html 

A carga tributária brasileira não é a “mais alta do mundo”, mas a 32ª entre 178 países

Um mito e algumas verdades sobre os tributos no Brasil

Debate questiona crença segundo a qual carga tributária brasileira é “altíssima”. Problema real é outro: ricos e poderosos pagam pouquíssimo; somos o país dos impostos injustos 
por Antonio Martins - Sociedade e distribuição de renda
 
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“O contador e sua mulher”, de Marinus van Reymerswaele, 1539

Ao longo do processo eleitoral deste ano, um mito voltará a bloquear o debate sobre a construção de uma sociedade mais justa. Todas as vezes em que se lançar à mesa uma proposta de políticas públicas avançadas, demandando redistribuição de riquezas, algum “especialista” objetará: “não há recursos para isso no Orçamento; seria preciso elevar ainda mais a carga tributária”. A ideia será, então, esquecida, porque a sociedade brasileira está subjugada por um tabu: afirma-se que somos “o país com impostos mais altos do mundo”. Sustenta-se que criar novos tributos é oprimir a sociedade. Impede-se, deste modo, que avancemos para uma Reforma Tributária.
A partir das 10h desta sexta-feira (29/8), três conhecedores profundos do sistema de impostos no Brasil enfrentaram este mito, num debate transmitido por webTV. O auditor da Receita Federal Paulo Gil Introini, ex-presidente do sindicato nacional da categoria e os economista Jorge Mattoso Evilásio Salvadorargumentaram, com base em muitos dados, que o problema da carga tributária brasileira não está em ser “a mais alta do mundo” (uma grossa mentira), mas em estar, seguramente, entre as mais injustas do planeta. Os grandes grupos econômicos e os mais ricos usam seu poder político para criar leis que os isentam de impostos — despejados sobre as costas dos assalariados e da classe média. A mídia comercial esconde esta realidade, para que nada mude. No debate, organizado em conjunto pela Campanha TTF Brasil e Fundação Perseu Abramo, emergiram alguns fatos muito relevantes, porém pouquíssimo conhecidos.

> A carga tributária brasileira não é a “mais alta do mundo”, mas a 32ª (entre 178 países). O cálculo é de um estudo comparativo da Fundação Heritage, um thinktank norte-americano conservador — mas com algum compromisso com a realidade.
> A carga tributária subiu consideravelmente, de fato, entre 1991 e 2011. Passou de 27% do PIB para 35,1%. Porém, a parte deste aumento de arrecadação foi consumido no pagamento de juros pelo Estado — quase sempre, para grandes grupos econômicos. A taxa Selic subiu para até 40% ao ano nas duas crises cambiais que o país viveu sob o governo FHC. O aumento do gasto social (de 11,24% do PIB para 15,24%, no período), que ocorreu de fato, a partir de 2002, consumiu apenas parte do aumento da receita.
> O poder econômico usa uma série de expedientes para livrar-se de impostos. O principal é a estrutura tributária brasileira. Ela foi cuidadosamente construída para basear-se em impostos indiretos (os que incidem sobre preços de produtos e serviços) e reduzir ao máximo os impostos diretos. Há duas vantagens, para as elites, nesta escolha. a)Impostos indiretos são, por natureza, regressivos. A alíquota de ICMS que um bilionário paga sobre um tubo de pasta de dentes, uma geladeira ou a conta de luz é idêntica à de um favelado; b) Além disso, assalariados e classe média consomem quase tudo o que ganham — por isso, pagam impostos indiretos sobre toda sua renda. Já os endinheirados entesouram a maior parte de seus rendimentos, fugindo dos tributos pagos pelo conjunto da sociedade.
> Esta primeira distorção cria um cenário quase surreal de injustiça tributária. Um estudo do IPEA  revela que quanto mais alto está o contribuinte, na pirâmide de concentração de renda, menos ele compromete, de sua renda, com impostos. Por exemplo: os 10% mais pobres contribuem para o Tesouro com 32% de seus rendimentos; enquanto isso, os 10% mais ricos, contribuem com apenas 21%…
> Basear a estrutura tributária em tributos indiretos é uma particularidade brasileira, que atende aos interesses dos mais ricos. Aqui os Impostos sobre a Renda respondem por apenas 13,26% da carga tributária. Nos países capitalistas mais desenvolvidos, membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os impostos diretos correspondem a 2/3 do total dos tributos.
> Além disso, e sempre em favor dos mais poderosos, o Brasil praticamente renuncia a arrecadar impostos sobre o patrimônio. Aqui, os tributos que incidem diretamente sobre a propriedade equivalem apenas a 1,31% do PIB. Este percentual chega a 10% no Canadá, 10,3% no Japão, 11,8% na Coreia do Sul e 12,5% nos Estados Unidos…
> Ainda mais privilegiados são setores específicos das elites. O Imposto Territorial Rural (ITR), que incide sobre a propriedade de terra, arrecada o equivalente a apenas 0,01% do PIB. A renúncia do Estado a receber tributos sobre os latifundiários provoca, todos os anos, perda de bilhões de reais — que poderiam assegurar, por exemplo, Saúde e Educação públicas de qualidade.
Nos últimos treze anos o Brasil viveu um processo real — embora ainda muito tímido — de redistribuição de renda. Entre 1991 e 2002, o Coeficiente de Gini caiu de 0,593 para 0,526, depois de décadas de elevação (segundo este cálculo, quanto mais alto o índice, que vai de 0 a 1, maior a desigualdade). Ainda é muito pouco: segundo cálculos do Banco Mundial, em 2013 o país era o 13º mais desigual do mundo. Para continuar reduzindo a desigualdade, uma Reforma Tributária é instrumento essencial. Não é por outro motivo que as elites insistem em manter este conservar este tema como tabu.

Blog Outras Palavras , ou

http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/um-mito-e-algumas-verdades-sobre-os-tributos-no-brasil-5576.html 

12.05.2014

Brasil é destaque na redução da desigualdade salarial, diz OIT


Sociedade e distribuição de renda


O Brasil, ao lado da Argentina, foi o país que mais reduziu a desigualdade salarial no mundo nos últimos dez anos, aponta relatório divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o "Global Wage Report 2014/15 Wages and income inequality".
O documento compara números de 130 países.
No caso do Brasil, mudanças nas distribuições dos salários e emprego assalariado representaram 72% da redução da desigualdade. No relatório global, muitos países em desenvolvimento registraram queda na desigualdade.
Já no caso das economias mias desenvolvidas, a desigualdade aumentou devido à maior desigualdade salarial e perda de empregos.
Espanha e Estados Unidos foram os países campeões no aumento da desigualdade, 90% em razão da piora na distribuição salarial no caso da Espanha e 140% no caso dos EUA. O relatório também aponta desigualdade salarial de gênero em países como Brasil, Lituânia, Rússia, Eslovênia e Suécia, algo que, segundo a OIT, poderia ser revertido se não houvesse discriminação salarial em relação a mulheres.
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/162820/Brasil-%C3%A9-destaque-na-redu%C3%A7%C3%A3o-da-desigualdade-salarial-diz-OIT.htm

12.03.2014

Encontro entre Dilma e grupo de teólogos, intelectuais católicos e evangélicos conversaram sobre o Brasil

11.26.2014

Atlas do IDH: o Brasil é um exemplo!

A desigualdade entre as metrópoles diminuiu. Por causa dos programas sociais !
Alisson Matos, editor do Conversa Afiada -sociedade e qualidade de vida
Árvore do IDHM compara os anos 2000 e 2010 (Foto: Reprodução)

As regiões metropolitanas de posição mais baixa no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal  foram as que mais cresceram entre os anos 2000 e 2010.

Com isso, o Brasil reduziu, em dez anos, pela metade, a desigualdade entre as regiões metropolitanas.

Entre São Paulo (SP) e Manaus (AM), respectivamente melhor e pior colocadas no IDHM, a porcentagem da desigualade caiu de 22,1% para 10,3%.

É o que aponta o relatório “Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras”,  que foi lançado nesta terça-feira (25) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro.

“O Atlas das Regiões Metropolitanas mostra como o Brasil está avançando. A ênfase da pesquisa é local e pode ajudar no desenvolvimento de políticas públicas”, afirmou Marcelo Neri,  Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Segundo a analise, as disparidades entre as 16 regiões metropolitanas estudadas diminuíram e todas estão na faixa de alto desenvolvimento humano.

São Paulo (0,794), Distrito Federal e Entorno (0,792), Curitiba (0,783), Belo Horizonte (0,774) e Vitória (0,772) são as regiões que apresentaram os melhores resultados para o IDHM em 2010.

Embora a distância tenha diminuído e todas tenham melhorado, as regiões metropolitanas de mais baixo índice em 2000 são as mesmas dez anos depois: Manaus (0,720), Belém (0,729), Fortaleza (0,732), Natal (0,732) e Recife (0,734).

A diferença é que, em 2000, somente São Paulo tinha índice de desenvolvimento humano alto. Manaus tinha baixo e as outras regiões, médio. Agora, todas passaram a ter IDHM alto.

De acordo com o documento divulgado hoje (25), as políticas públicas do Governo brasileiro foi a principal causa dessa redução.

“Foram adotadas políticas anticíclicas eficientes, políticas públicas ativas de diminuição da desigualdade, de transferência de renda condicionada e de superação da pobreza e da pobreza extrema. O fato é que o Brasil de hoje ainda luta para superar um passivo histórico que é resultado de décadas de descaso com o desenvolvimento humano. Mas já é possível perceber melhoras significativas no cotidiano”, observa o texto.

O IDMH é composto de três variáveis: longevidade, renda e educação, que foi a que mais avançou.

O indicador é um número que varia entre 0 a 1: quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano de um estado, município ou região metropolitana.

As regiões avaliadas foram Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Distrito Federal, Fortaleza (CE), Goiânia GO), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Luís (MA), São Paulo (SP) e Vitória (ES).

O avanço na Educação

No ano 2000, os índices de maior diferença em Educação estavam entre as regiões metropolitanas de São Paulo (0,592) e a de Manaus (0,414). Passados dez anos, as maiores disparidades se encontram entre São Luís (0,737), que aparece à frente, e Manaus (0,636), ou seja a diferença diminuiu para 15,9% agora, já que antes era de 43%.

“Para além de evidenciar o fato de que o país ainda tem um caminho a percorrer na redução das desigualdades em suas cidades, a intenção do Atlas é justamente ajudar no estabelecimento de políticas inclusivas que tenham como fim a melhoria das condições de vida das pessoas”, disse o representante do Pnud no Brasil, Jorge Chediek.

Em relação ao IDHM Longevidade, o maior índice é o da região do Distrito Federal e entorno, com 0,857. O DF lidera também no IDHM Renda, com 0,826.

Em 2000, as Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e de Porto Alegre apareciam entre as cinco com maior Índice de Desenvolvimento Humano. Em 2010, entraram em seus lugares o DF e a região metropolitana da Grande Vitória.

Brasil como exemplo

O levantamento ainda analisou 9.825 Unidades de Desenvolvimento Humano (UDHs), áreas menores que bairros nos territórios mais populosos e heterogêneos, mas iguais a municípios inteiros quando estes têm população insuficiente para desagregações estatísticas. Em casos de extremidade, na mesma região metropolitana há UDHs com renda domiciliar per capita mensal de quase R$ 7,9 mil, enquanto em outras  o valor não ultrapassa a R$ 170.

A esperança de vida ao nascer varia, em média, 12 anos dentro das RMs. Se consideradas todas as mais de 9 mil UDHs pesquisadas, das 16 RMs analisadas, o melhor dado corresponde a 82 anos, enquanto o mais baixo é de 67 anos. São 15 anos de diferença em termos de expectativa de vida ao nascer.

Na divulgação dos dados, Neri ressaltou que tanto a renda quanto o Produto Interno Bruto (PIB) subiram mais no Nordeste do que no resto do país, na última década.  “É verdade que as regiões com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) são as do Norte, do Nordeste, mas existe uma desigualdade dentro das regiões bastante grande. A boa notícia é que ela está em queda”, confirmou.

O relatório conclui que o Brasil é “um exemplo bem-sucedido” na redução de vulnerabilidades.
http://contrapontopig.blogspot.com.br/2014/11/contraponto-15438-atlas-do-idh-o-brasil.html

O que falta no Brasil são nacionalistas

por Marco Aurélio Mello - sociedade e poder

Do Facebook 25//11/2014"O que falta ao Brasil são nacionalistas." A frase saiu da boca de um libanês radicado aqui há mais de 60 anos. Confesso que fiquei assustado. Sempre tomei nacionalismo como palavrão, associado a regimes políticos fundamentados no ódio, no arbítrio e na exceção. Afinal, o nacionalismo serviu de base para o fascismo, para o nacional-socialismo alemão que desaguou no nazismo e que também fincou raízes aqui, com o integralismo.
O libanês, por sua vez, tomava como parâmetro pessoas que lutaram pela libertação de países próximos à realidade dele, e baseado ao certo em sua experiência de imigrante, forçado a deixar pequeno com a família seu país de origem, o Líbano. Sua história de vida permitiu que ele passasse a admirar em particular dois nomes: Gamal Abdel Nasser (15/01/1918 - 28/09/1970), primeiro-ministro do Egito e responsável pelo fim da dominação Franco-Britânica e o indiano Mahatma Gandhi (02/10/1869 - 30/01/1948), o maior líder revolucionário pacifista da história da humanidade, depois de Jesus Cristo.

Portanto, o conceito de nacionalismo forjado por meu interlocutor ía muito além das minhas amarras históricas limitadas pelos livros. Conceito que virou pergunta, depois que li o artigo do empresário e economista Ricardo Semler na Folha de São Paulo, na semana passada. Um texto que captura um "espírito do tempo" e propõe um novo paradigma logo no título, que vem a ser sua tese central: Nunca se roubou tão pouco no Brasil. Seria Semler um desses nacionalistas em falta no Brasil, aos quais se referia o libanês?

Afinal, o artigo partira de alguém cuja ficha de filiação partidária leva rubrica de nada mais, nada menos, do que a cúpula do tucanato, partido de oposição ao Governo de turno e que levou a guerra pelo poder às últimas consequências nas eleições deste ano. Ao se posicionar em favor da Petrobras, alvo de um "escândalo sem precedentes", muitos consideraram Semler como mais um desertor. Se é assim, que o empresário serre suas fileiras ao lado de outros traidores, como Luiz Carlos Bresser-Pereira, Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ives Grandra Martins e Claudio Lembo.

A menção ao "quarteto dissonante" é necessária. Todos eles levantaram suas vozes contra o golpismo midiático, sempre pela legalidade, pedra de toque de qualquer Estado dito republicano, pelo combate às profundas desigualdades sociais, fundamental para a consolidação de democracias modernas, e também por transcenderem o debate superficial imposto pela mídia: se neoliberalismo ou "bolivarianismo".

Aliás, minha ignorância não permitia alcançar que o termo bolivarianismo também tem raízes no nacionalismo, sentimento que emerge de quando em quando, sempre associado a mudanças, seja de modelo econômico, político ou mesmo social. Se foi assim na Europa pós-medieval quando da ascensão da burguesia, não foi diferente nas lutas de libertação da América Latina, nos tempos das colônias de exploração, com Bolívar, nem na África de Mandela, nem na Índia de Gandhi, nem no Oriente Médio de Nasser...

O nacionalismo a que se refere nosso amigo libanês ali de cima certamente tem a ver com identidade nacional. Esta mesma identidade que os sulistas rejeitam, quando manifestam publicamente o desejo de que nordestinos e nortistas devam ser queimados vivos no fogo do inferno.

Para voltar ao tal quarteto e recuperar nossa memória de tão curto prazo, Bresser-Pereira foi fundador do PSDB, ex-ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso que, com coragem, anunciou em setembro último seu voto em Dilma, para espanto de seus pares. Seus critérios de escolha?

Fundamentalmente dois: "quanto o candidato está comprometido com os interesses dos pobres, e quão capaz será ele e os partidos políticos que o apoiam de atender a esses interesses, promovendo o desenvolvimento econômico e a diminuição da desigualdade."

Outro a assombrar o ninho tucano, também em setembro, foi Luiz Carlos Mendonça de Barros. Ele teve a petulância de escrever na Folha de São Paulo às vésperas do pleito que a ideia de associar o Brasil à Argentina e à Venezuela era uma grande bobagem. "A recessão que estamos vivendo é fruto de um ajuste natural e benéfico de nossa economia." O texto desmontou a tese em construção pela mídia de que o Brasil passava por uma "venezualização" ou "argentinização". No primeiro caso, pelo suposto abuso do controle do Estado sobre a sociedade e, no segundo, pela briga de Cristina Kirchner com os credores internacionais quando do anúncio da reestruturação da dívida do país vizinho.

Já Cláudio Lembo, filiado ao PSD, e ex-governador de São Paulo, é aquele que no poder cunhou a célebre expressão “elite branca”, para nomear os "pobres paulistas" tão cheios de ira. Pobres paulistas... Ira... Captou? Disse Lembo à época: “Temos uma burguesia má, uma minoria branca perversa”. Hoje, ele acusa o tucanato de não estar a serviço do Brasil. “Eles estão mais preocupados em servir a interesses de grandes grupos econômicos do que com a manutenção de programas sociais”. Mais recentemente Lembo chamou os legalistas de plantão para por um basta na mais recente tentativa de golpe que se forja, via STF.

Outra manifestação de civilidade republicana relativamente recente veio de Ives Gandra Martins, um advogado e professor especializado em "planejamento tributário". Traduzindo: sonegação fiscal legalizada. Técnica de encontrar brechas na lei para grande grupos econômicos arrecadarem menos.

Afinal, é sempre bom lembrar, quem paga muito imposto ou é pobre, ou de classe média, classe média que se inspira nos ricos das novelas, aceita doses cavalares de telejornais sanguinolentos e consome intervalos comercias cheios de glamour. Quanto tempo gasto diante da TV...

Gandra teve a insensatez de, no ano passado, acusar o STF de condenar José Dirceu sem provas, para desespero de seus iguais, na mídia e fora dela. Segundo ele, um dos alicerces do direito, o de que a dúvida é sempre em favor do réu, foi simplesmente jogado no lixo. O jurista foi duro ao criticar a adoção de uma teoria que não é aplicada nem mesmo em seu país de origem, a Alemanha: a do domínio do fato, que isenta a Justiça da necessidade de se produzir prova de materialidade antes de se condenar qualquer réu.

Portanto, pelo menos pela pequena amostra acima, acho que não faltam nacionalistas no Brasil. Eles estão bem vivos e abrem boas possibilidades de diálogo, à direita ou à esquerda do espectro político-ideológico. São homens que podem enxergar a floresta em vez da árvore e que pensam o país como nação, como um todo integrado, muito além do individualismo egoísta e preconceituoso da grande maioria. E promovem um debate de nível mais elevado ao buscar responder à seguinte questão: o que queremos para o futuro do nosso país, dependência ou soberania?
 
Marco Aurélio Mello.
Jornalista na empresa Mello e Moreira de Mello Ltda.Atual: Mello e Moreira de Mello e Rede Record
http://contrapontopig.blogspot.com.br/2014/11/15441-o-que-falta-ao-brasil-sao.html
 

11.17.2014

Campeão de cesáreas, Brasil quer resgatar parto normal


Dados mostram que 52% dos partos realizados no país são cesáreas, bem acima da média mundial (18%) e da recomendação da OMS, que é de apenas 15%.
  Deutsche Welle sociedade e saúde - 16/11/2014
Flickr / maturana
gravidez Cesáreas aumentam a necessidade de cuidados na UTI, o que mantém bebês longe das mães nos primeiros dias de vida
Há cinco meses Theo Henrique nasceu saudável, de parto normal, apesar de estar com o cordão umbilical enrolado no pescoço. "Desde o começo da gravidez eu queria o parto normal, pois achava mais seguro. Além disso, a recuperação é melhor e mais rápida, e para o bebê também é melhor, porque ele entra em trabalho de parto junto e sabe que está nascendo", explica Paola Ferrarezi, mãe de Theo Henrique.
O caso de Ferrarezi é uma exceção no Brasil, país com um dos maiores percentuais de operações cesarianas no mundo. Segundo dados oficiais, 52% dos partos no país são cesáreas. No setor privado a incidência é ainda maior: 88%.
De acordo com a médica Maria do Carmo Leal, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, é tradição da prática médica brasileira considerar a cesárea um parto sem risco e mais seguro. "Até as mulheres acreditam que o bebê sofre menos, quando na verdade é o contrário: a melhor maneira de nascer ainda é o parto normal", afirma.
Apesar de as cesarianas terem se tornado procedimentos cotidianos no Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a melhor forma de nascer continua sendo o método natural, e recomenda que a taxa de cesáreas não exceda 15% dos nascimentos. A média mundial de nascimentos por cesarianas é de aproximadamente 18%.
Leal coordenou o estudo Nascer no Brasil e acrescenta que a cesárea é um procedimento cirúrgico com riscos tanto para mãe quanto para o bebê. Estudos indicam que as cesarianas aumentam o risco de hemorragia e infecções em mulheres, podendo levar à morte. Além disso, em gravidezes futuras, aumentam as chances de óbito fetal sem causa aparente e formação anormal da placenta.
Para o bebê, como muitas cesarianas são realizadas antes das 39 semanas recomendadas, cresce a necessidade de ajuda para respirar e também de cuidados na UTI, o que deixa a criança longe da mãe nos primeiros momentos de vida.
Para tentar mudar o cenário brasileiro e adequá-lo à recomendação internacional, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Ministério da Saúde, o Hospital Israelita Albert Einstein e a ONG americana Institute for Healthcare Improvement (IHI) assinaram, no final de outubro, um acordo de cooperação técnica para ampliar a realização de partos normais em hospitais privados. O projeto piloto terá duração de três anos e utilizará metodologia desenvolvida pelo IHI.
"Entre as ações destacam-se a assistência ao parto por equipes compostas de médicos e enfermeiros obstetras, além da utilização de recursos para alívio da dor e o estímulo à presença de acompanhante", diz Teófilo Rodrigues, gerente geral de Regulação Assistencial na ANS.
A partir de fevereiro de 2015, o projeto piloto começa a ser executado em hospitais interessados, o primeiro deles é o Hospital Albert Einstein. A proposta será testada até o final de 2017. Após a fase de teste, o modelo será disponibilizado para qualquer estabelecimento de saúde que tiver interesse em ampliar a realização de partos normais.
Entre os fatores que levaram ao aumento da realização de cesarianas estão a comodidade para pacientes e, principalmente, médicos, que podem marcar previamente os horários de nascimentos. A cesárea também possibilita aos hospitais programar antecipadamente a disponibilidade de leitos.
Além disso, muitos médicos não estão mais acostumados a realizar partos normais. "Na faculdade, eles são treinados a fazer cesáreas e saem de lá com muito mais segurança para realizar essa cirurgia do que para fazer parto normal, que é muito simples, mas às vezes tem pequenas complicações que exigem algumas manobras", destaca Leal.
E como a maioria dos partos é marcada com antecedência, muitas instituições não têm mais equipes de plantonistas para atender mulheres que optam pelo parto natural.
Muitas gestantes optam pela cesárea pelo receio de ter o bebê com um médico diferente daquele que as atendeu durante o pré-natal. "No início da gravidez, eu preferia a cesárea, pois tinha medo da dor e ouvi dizer que era mais seguro para o bebê. Ao longo das consultas fui ganhando confiança de fazer o parto normal, mas como a data do nascimento era próxima do Natal e eu queria fazer o parto com meu médico e não com um plantonista, optei pela cesárea", conta Juliana Sinestri Jensen, mãe de Otto, hoje com quase dois anos.
Assim como Jensen, muitas mães de primeira viagem também têm medo da dor do parto. Segundo a pesquisa Nascer no Brasil, esse é o principal fator que leva mulheres grávidas pela primeira vez a optarem pela cesariana. Já entre as mulheres que já tiveram filhos, cerca de 33% optaram pela cesárea para aproveitar o procedimento cirúrgico e fazer a laqueadura das trompas.
Além disso, entre as mulheres que já tiveram filhos, outro motivo que pesa na hora da escolha da forma de dar à luz é a experiência com o parto anterior. Ferrarezi, por exemplo, conta que o parto normal foi muito bom e deseja seguir o método para o nascimento do próximo filho.
Já Jensen ainda não sabe se deseja ter mais filhos, mas afirma que achou a cesárea frustrante. "Não senti a emoção de colocar meu filho no mundo."
  • Autoria Clarissa Neher
http://www.cartacapital.com.br/saude/campeao-de-cesareas-brasil-quer-resgatar-parto-normal-em-hospitais-privados-240.html

O abismo entre ricos e pobres cresce

Com raras exceções, a desigualdade tem aumentado em todos os países do mundo.
por Claudio Bernabuccisociedade e economia
Joe Klamar / AFP
desigualdade
O relatório quebra o mito da naturalidade da desigualdade entre os seres humanos
De Roma
Em um mundo angustiado pela crise econômica, aprendemos que de março de 2009 a março de 2014, exatamente o período considerado mais crítico, depois da bancarrota do Lehman Brothers, o número de bilionários do planeta dobrou: eram 793 no começo do furacão e agora somam 1.645. Os 85 mais ricos entre eles, no mesmo período, incrementaram seus capitais em 668 milhões de dólares a cada dia e sua renda equivale àquela de metade da população mundial, 3,5 bilhões de outros seres humanos. Os dados constam, entre outras “pérolas”, do recente estudo sobre a desigualdade no mundo, publicado pela Oxfam, rede internacional de 19 ONGs que combatem a pobreza. Na sequência da divulgação do relatório, originalmente chamado Even It Up: Time to end extreme inequality, foi lançada a campanha mundial de sensibilização “Equilibre o jogo”.
Crise é um termo utilizado no mundo inteiro para descrever situações diferentes, mas com um denominador comum, a desaceleração do crescimento das economias, que em média superava os 4% anuais na década passada e hoje sofre para chegar perto dos 3,5%. Para resolver os problemas provocados por esse recuo e retomar o ritmo anterior, os defensores do atual sistema econômico-financeiro indicam um caminho único, a ampliação do espaço da iniciativa privada em detrimento do setor público, com corolário de cortes nos gastos sociais e intensificação da produtividade no trabalho. Em outras palavras, salários mais baixos para criar produtos mais baratos. Essa receita, baseada numa visão brutalmente quantitativa do bem-estar da humanidade e sem nenhuma atenção à equilibrada convivência social, é rotundamente recusada pela Oxfam. Com riqueza de informações e análises, a desigualdade é descrita sob diversos aspectos, e o estudo chega à conclusão de que essa praga contemporânea não só é contrária a uma ética humanista, mas também a causa fundamental da crise econômica em curso.
O primeiro mito que o relatório se encarrega de derrubar é aquele que considera natural a desigualdade entre os seres humanos. Melhor se concentrar na redução da pobreza, afirmaram os liberais a partir da Revolução Industrial, pois a compaixão é a única maneira de mitigar a lei natural que inevitavelmente produz as diferenças. Mas a desigualdade excessiva tem comprometido o combate à pobreza, apesar dos bons resultados conseguidos nesse campo até o início dos anos 80 do século passado. O abismo entre ricos e pobres nas últimas três décadas, demonstra a pesquisa, tem clara correlação com a baixa mobilidade social. Em outros termos, nos países em que o fenômeno é mais acentuado, quem nasce rico fica rico, quem nasce pobre não tem outra alternativa além de permanecer pobre. A esperança de uma vida melhor, na evolução entre pais e filhos, é banida do horizonte de bilhões de seres humanos.
Com raras exceções, a desigualdade tem aumentado em todos os países do mundo. Caso particularmente emblemático, a Oxfam calcula que até na África do Sul a desigualdade é hoje maior do que no período do Apartheid. Com base em dados de 2013, 7 de cada 10 habitantes do mundo vivem em países em que a desigualdade econômica é maior do que há 30 anos.
O enriquecimento desmedido de um número restrito de indivíduos, a depender dos países, encolheu ou limitou o crescimento da classe média, comprometendo a sua capacidade de gasto e, em última análise, o motor do crescimento mundial. Desde 1990, a participação do trabalho na composição do PIB mundial é constantemente decrescente. O ataque ao valor e à dignidade do trabalho é particularmente acentuado nos países mais pobres, mas também ocorre nas nações ricas. Por consequência, o PIB mundial é composto por uma porcentagem crescente do capital, que se autoalimenta cada vez mais da especulação financeira.
As 150 páginas da pesquisa, com amplíssima bibliografia, demonstram que a desigualdade extrema também está associada à violência. A América Latina, a região mais desigual do mundo do ponto de vista econômico, reúne 41 das 50 cidades mais violentas do planeta e registrou 1 milhão de assassinatos entre 2000 e 2010. Países desiguais são lugares perigosos para viver, e a insegurança afeta tanto ricos quanto pobres.
A desigualdade econômica produz ainda diferenças em termos de oportunidades de vida. Quem está na parte baixa da escada social tem grande desvantagem em termos de escolaridade, saúde e expectativa de vida. A Oxfam demonstra com dados e gráficos que a “pobreza interage com desigualdades econômicas e de outros tipos para criar ‘armadilhas de desvantagens’ que empurram os mais pobres e marginalizados para o fundo – e os mantêm lá”. E a globalização da economia aumentou consideravelmente o número de super-ricos nos países em desenvolvimento e emergentes. Na África Subsaariana, 16 bilionários convivem com 358 milhões em pobreza extrema.
No atual cenário, o Brasil, que nos últimos 12 anos tirou da pobreza dezenas de milhões de indivíduos, é citado várias vezes no relatório como positiva exceção por ter agido na contracorrente mundial, mas também como exemplo de uma desigualdade ainda gravíssima que afeta as perspectivas de resgate econômico e de pacificação nacional. É extremamente fácil evidenciar a imediata correspondência entre o aumento de 50% no valor do salário mínimo entre 1995 e 2011 e a redução da pobreza e desigualdade no País.
Como exemplo oposto, dados de 40 países europeus e latino-americanos revelam que a capacidade redistributiva de um bom sistema fiscal, combinada com gastos sociais bem-focados, pode reduzir as disparidades de ingressos produzidas pelo mercado. A Finlândia e a Áustria conseguem reduzir pela metade essa desigualdade por meio de impostos, enquanto o sistema fiscal e o gasto social brasileiro a limitam de maneira insignificante.
O relatório da Oxfam não se restringe à análise da situação de fato, mas identifica as causas que provocaram a absurda desigualdade atual: o fundamentalismo de mercado e a captura do poder pelas elites econômicas. A ideologia neoliberal, que continua dominante, apesar das contradições que suscitou, segue a impulsionar as diferenças, que não poderão ser reduzidas enquanto os países forem forçados a engolir remédios como a desregulamentação financeira, a austeridade fiscal, as privatizações, a redução de programas sociais ou o corte de impostos para os ricos. Por outro lado, como em um círculo vicioso, o dinheiro compra a influência e o poder político, tanto nos países ricos quanto nos pobres.
Para “reequilibrar o jogo”, a Oxfam identifica uma série de medidas específicas que, acrescentamos, não poderão ser alcançadas com base em alguma milagrosa fulguração de bondade da parte de quem hoje dirige o jogo, mas apenas à medida que as relações de força e de poder entre as minorias ricas e as maiorias pobres se inverterem. O mérito do relatório é demonstrar implicitamente que a batalha deve ser combatida em cada lugar de trabalho e em cada país, mas, para ser vencida, deve incluir um pensamento e uma ação global de todas as vítimas da desigualdade e de todos os seus aliados de boa vontade. Se a economia e a riqueza do mundo são globalizadas, a resposta para redistribuir deve ter a mesma escala. O nacionalismo é uma ferramenta arcaica. O que hoje precisamos é de um novo internacionalismo.
*Reportagem publicada originalmente na edição 825 de CartaCapital, com o título "Desiguais até na crise"
http://www.cartacapital.com.br/revista/825/desiguais-ate-na-crise-6331.html

11.14.2014

O Brasil das Desigualdades

A ampliação das atividades do Estado contraria os chavões que pregam a sua ineficiência e permite enfrentar a desigualdade no país.
por Marcio Pochmann - sociedade e emprego
EVELSON DE FREITAS/FOLHAPRESS
papel do estado novembro 14Participação do Estado é essencial no estímulo ao crescimento do emprego no país. O reposicionamento do Estado foi fundamental para o estabelecimento da nova trajetória do desenvolvimento brasileiro desde o ano de 2003. Se comparado ao Estado que vigia no regime militar (1964-1985) ou durante a experiência neoliberal dos anos de 1990, podem ser constatadas mudanças consideráveis.
Inicialmente pela queda relativa no peso do emprego público no total da ocupação, de 12,2% na década de 1980 para 11,3% nos anos 2000. A diminuição da participação dos servidores públicos no total da ocupação nacional se deu paralelamente à elevação do conjunto do gasto do setor público (descontado o pagamento com juros da dívida pública), de 22,8% para 30,2% do Produto Interno Bruto (PIB), no mesmo período de tempo.
A ampliação do peso relativo do Estado no gasto total com a diminuição da participação do emprego público não resultou na piora do desempenho da administração do setor público. Pelo contrário, observa-se uma melhora geral nos anos 2000 acompanhada tanto pela ampliação no número de beneficiários dos programas de garantia de renda como da previdência e assistência social.
Entre os anos de 1980 e 2000, por exemplo, a parcela dos beneficiários atendidos pelos programas sociais passou de 6,5% para 33,1% do conjunto da população. Resumidamente, constata-se a ampliação em 5,1 vezes no contingente beneficiado pelos programas de transferência sociais, enquanto a somatória dos recursos públicos comprometidos com as políticas sociais relacionadas ao PIB foi duplicada. No mesmo sentido, registra-se também que na década de 2000 a quantidade de recursos públicos comprometidos com as transferências sociais alcançou 15,3% do PIB. Nos anos 1980, os gastos sociais representavam 7,3% do PIB.
Além dos programas sociais, pode-se destacar os avanços em atividades como educação e saúde públicas. Durante a década de 1980, havia cerca de 22 milhões de matrículas no ensino básico no Brasil, o que significou apenas três quintos do que passou a existir nos anos 2000, posto que o setor público responde por mais de 80% da oferta educacional do país. Na saúde, a função estratégica do Sistema Único de Saúde, que apresenta dimensões significativas de atendimento quantitativo e qualitativo. A incorporação de praticamente a totalidade da população é, por si só, algo jamais registrado em todo o país, ademais da diversidade de especializações no atendimento populacional.
De tudo isso, percebe-se, de imediato, que a ladainha neoliberal, que prega a ineficiência do Estado, se apresenta cada vez mais enfraquecida. Por um lado, a ampliação das atividades do Estado permitiu enfrentar a desigualdade no país, bem como a elevação do padrão de vida do conjunto da população, especialmente dos segmentos de menor rendimento.
Por outro lado, observa-se um avanço da produtividade no setor público brasileiro. Na década de 2000, verifica-se a elevação nos ganhos de produtividade frente a ampliação das funções do Estado e do gasto público paralelamente ao decréscimo relativo da quantidade de funcionários público. Para a segunda década do século 21, torna-se importante considerar novas demandas que surgem em função da transição do país para uma sociedade de serviços. Recorda-se que parcela significativa das reivindicações da sociedade em junho de 2013 localizou-se no tema dos serviços (educação, saúde, transportes, entre outros), o que exige uma reformulação do Estado em busca da matricialidade e interdisciplinaridade das funções e orçamento público.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/101/marcio-pochamann-o-novo-papel-do-estado-6180.html

A fábula petista

  Por Frei Betto - do Rio de Janeiro - sociedade e poder

"Com o tempo, o PT deixou de valorizar o trabalho da formiga e passou a entoar o canto da cigarra. O projeto de Brasil deu lugar ao de poder."
Rep/Web
A disputa presidencial se resumiu em um verbo predominante na campanha: desconstruir. Em 12 anos de governo, o PT construiu, sim, um Brasil melhor, com índices sociais “nunca vistos antes na história deste país”. Porém, como partido, houve progressiva desconstrução.
A história do PT tem seu resumo emblemático na fábula “A cigarra e a formiga”, de Ésopo, popularizada por La Fontaine. Nas décadas de 80 e 90, o partido se fortaleceu com filiados e militantes trabalhando como formigas na base social, obtendo expressiva capilaridade nacional graças às Comunidades Eclesiais de Base, ao sindicalismo, aos movimentos sociais, respaldados por remanescentes da esquerda antiditadura e intelectuais renomados.
No fundo dos quintais, havia núcleos de base. Incutia-se na militância formação política, princípios ideológicos e metas programáticas. O PT se destacava como o partido da ética, dos pobres e da opção pelo socialismo.
À medida que alcançou funções de poder, o PT deixou de valorizar o trabalho da formiga e passou a entoar o canto presunçoso da cigarra. O projeto de Brasil cedeu lugar ao projeto de poder. O caixa do partido, antes abastecido por militantes, “profissionalizou-se”. Os núcleos de base desapareceram. E os princípios éticos foram maculados pela minoria de líderes envolvidos em maracutaias.
Agora, a cigarra está assustada. Seu canto já não é afinado nem ecoa com tanta credibilidade. Decresceu o número de sua bancada no Congresso Nacional. A proximidade do inverno é uma ameaça.
Mas onde está a formiga com suas provisões? Em 12 anos, os êxitos de políticas sociais e diplomacia independente não foram consolidados pela proposta originária do PT: “Organizar a classe trabalhadora” e os excluídos.
Os avanços socioeconômicos coincidiram com o retrocesso político. Em 12 anos de governo, o PT despolitizou a nação. Preferiu assegurar governabilidade com alianças partidárias, muitas delas espúrias, em vez de estreitar laços com seu esteio de origem, os movimentos sociais.
Tomara que Dilma cumpra sua promessa de campanha de avançar nesse quesito, sobretudo no que diz respeito ao diálogo permanente com a juventude, os sem-terra e os sem-teto, os povos indígenas e os quilombolas.
O PT até agora robusteceu o mercado financeiro e deu passos tímidos na reforma agrária. Agradou as empreiteiras e pouco fez pelos atingidos por barragens. Respaldou o agronegócio e aprovou um Código Florestal aplaudido por quem desmata e agride o meio ambiente.
É injusto e ingênuo pôr a culpa da apertada e sofrida vitória do PT nas eleições de 2014 no desempenho de Dilma.
Se o PT pretende se refundar, terá que abandonar a postura altiva de cigarra e voltar a pisar no chão duro do povo brasileiro, esse imenso formigueiro que, hoje, tem mais acesso a bens materiais, como carro e telefone celular, mas nem tanto a bens espirituais: consciência crítica, organização política e compromisso com a conquista de “outros mundos possíveis”.
Frei Betto, é assessor de movimentos sociais e escritor.
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