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9.07.2020

Amazônia: como influência o sul do Brasil


A Amazônia é essencial para manter a vida, a qualidade do meio ambiente, o regime de chuvas e clima para a região Sul. E essa água que chega até aqui é devido às árvores e à floresta em pé

por Eduardo Luís Ruppenthal * no Sul 21 – Sociedade e Meio Ambiente: o Homem sobreviverá a sua
própria destruição?
Foto: Jose Cruz/Agência Brasil 

A intenção do texto é aprofundar e enumerar a importância da Amazônia para o equilíbrio ambiental da região Sul do Brasil. Se abordará as mudanças climáticas e demais consequências da devastação da Amazônia, sua relação direta com a quantidade de chuvas que caem no Sul, provenientes de massas de ar de vapor de água e de nuvens formadas no Bioma Amazônico.
Isso se deve a um fenômeno chamado rios voadores, que são “cursos de água atmosféricos” que viajam centenas e milhares de quilômetros e que regam o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil, além dos países vizinhos. A Amazônia funciona como uma bomba d`água. Toda a umidade evaporada do Oceano Atlântico segue floresta adentro pelos ventos alíseos, é descarregada em forma chuva, que cai na floresta, e é muita chuva, que coloca a região em uma das mais quentes e úmidas do planeta. Com esse calor tropical, acontece a evapotranspiração nas árvores, retornando toda essa água para a atmosfera em forma de vapor de água. Os ventos direcionam essas massas de ar carregadas de umidade para o oeste, mas no caminho encontram a Cordilheira dos Andes, com mais de 4.000 metros de altitude. Uma parcela das massas de umidade precipita nas encostas da Cordilheira, o que forma as nascentes dos rios amazônicos que abastecem vários países e se transformam na maior bacia hidrográfica do mundo, a do Rio Amazonas. Nos impressionamos com a imensidão, grandeza e vazão do Amazonas (200.000 m³/s). A evapotranspiração não fica para trás. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a quantidade de vapor de água evaporada pelas árvores da floresta pode ser a mesma ou até maior do que a vazão do Amazonas.
Descrição: https://www.sul21.com.br/wp-content/uploads/2020/09/20200906-riovoadores-1-468x600.jpg (aumentar a imagem  para ver), o caminho dos rios voadores. Fonte: Projeto rios voadores, reprodução
Outra parte dessas massas de ar carregadas de vapor de água são direcionadas para o Sul, os rios voadores percorrem centenas e milhares de quilômetros, levam umidade que se transforma em chuva para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, além dos países vizinhos. Vale lembrar que essas chuvas abastecem o próprio Pantanal que, além do desmatamento e dos incêndios, atravessa estiagem histórica.
Assim, outras áreas abastecidas pelos rios voadores passam por estiagem em 2020: o Paraná, onde há neste momento racionamento de água em Curitiba e região metropolitana, e o Rio Grande do Sul, que passou por uma estiagem de mais de seis meses no início do ano, com consequências para centenas de municípios gaúchos.
A Amazônia é essencial para o regime de chuvas e clima para a região Sul. E essa água que chega até aqui é devido às árvores e à floresta em pé. As consequências já sentidas, amplamente estudadas e descritas por vários cientistas e centros de pesquisa (CPTEC, Inpa, Inpe, LBA e Imazon) [2], e nos cenários colocados nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tendem a se intensificar e aprofundar com o modelo predatório do agronegócio brasileiro, encabeçado pelo projeto ecocida e genocida do Bolsonaro e Salles. Faz-se necessário derrotar os capatazes, mas também esse modelo capitalista agroexportador, que alimenta os países do capitalismo central, caso contrário as chamas continuarão cada vez mais freqüentes e intensas, assim como a falta de água e os períodos de estiagem no Sul do Brasil. Essas chamas não queimam somente a floresta lá no Norte, mas a umidade, as chuvas e a água no Sul.
foto Eduardo Luís Ruppenthal * biólogo, professor da rede pública estadual, especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (Uergs), mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/Ufrgs), militante do coletivo Alicerce e da Setorial Ecossocialista do PSOL/RS.

Notas
[1] Filme “Amazônia em chamas” de 1994 Link: https://www.youtube.com/watch?v=DI6mhtMgr_o

[2] Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Publicado no Sul 21: 6 setembro 2020

Fonte:   https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2020/09/5-de-setembro-a-amazonia-e-o-sul-do-brasil-por-eduardo-luis-ruppenthal/