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8.16.2014

A morte e seus significados simbólicos terrenos



Por Luís Pellegrini, editor da revista Oásis - espiritualidade
Na Grécia Antiga, cuja cultura deu origem a muito do que somos ou pretendemos ser em termos de seres pensantes, a morte sempre foi entendida e acatada como sinal de mutação, de mudança de ciclo pessoal, social ou histórico. Percebida – da mesma forma que o nascimento - como fenômeno natural inerente à própria dinâmica da existência, ela nunca foi vista como "fim", mas sim como ponte necessária para se alcançar um recomeço. Portanto, como um "meio". E para os gregos, inventores da filosofia ocidental, os meios sempre foram muito mais importantes do que os fins.
Como bem sabem os homens e mulheres sábios, sejam gregos antigos ou de qualquer outro tempo, inclusive nos dias de hoje, não há renascimento sem morte que o anteceda, seja ela real ou simbólica. Uma morte é sempre sinal de que um ciclo novo tem de acontecer, e toca a todos que a testemunham agir para que o ciclo novo aconteça.
Esta reflexão é importante e necessária, no momento em que todos nós, brasileiros, em determinados momentos da vida, nos defrontamos com a morte brusca ou natural.
Alguns comentários adjetivam o falecimento como "morte estúpida". Mas basta subir uma oitava na escala do pensamento para se perceber que nenhuma morte é estúpida. Toda morte encerra uma lição, uma mensagem, um significado que deve ser decifrado, se não quisermos – como tantas vezes já fizemos e continuamos a fazer - perder o cavalo sem rabo do ensinamento que a existência quer nos dar.
No caso do Brasil, para se chegar a tal leitura, convém começar pelo recurso à raiz, à própria origem e base da alma nacional: o sincretismo corporal, psíquico, mental e anímico que nos caracteriza. Este sincretismo, queiramos ou não, gostemos ou não, é europeu-africano-indígena. Nele pontifica o orixá Olodumarê, o senhor supremo do destino. Ao lado dele, atuando como seu fiel servidor, está o orixá Exu, seu mensageiro, o encarregado da execução na Terra, e entre os homens, dos desígnios de Olodumarê.
Exu, que a santa ignorância dos missionários cristãos identificou com o diabo (sic), nada mais é do que o braço regulador do destino. O princípio de poder que é ativado toda vez que a ordem natural das coisas é subvertida e quebrada, e que age – isento de qualquer consideração compassiva - para que essa ordem seja restabelecida.
O que provoca a ruptura da ordem natural das coisas? Em primeiro lugar a arrogância, a vaidade, o descomedimento, a perda da consciência de limites. Todos eles fatores perversos que o pensamento grego abrigava sob um mesmo denominativo: a hybris.
O mundo como um todo, vive hoje sob a égide da hybris. Não é por acaso falta de consciência de limites o que estamos fazendo ao dilapidar e poluir nossa própria casa, o planeta Terra? Não é descomedido o modelo de civilização que criamos, inteiramente assentado na escravidão da produtividade e do consumismo insustentáveis? Não será, por acaso, forrado de arrogância o mercado persa em que se tornou nosso mundo político, verdadeiro ringue de MMA vale tudo para o embate de todos os tipos de fisiologismos, de acordos e de alianças espúrias e pouco recomendáveis, praticados por legiões de pessoas transformadas em "peagadês" da Lei de Gérson?
Faz parte da ordem natural das coisas, no entanto, o fato de que carreira profissional é quase sinônimo de sacerdócio. Como um exemplo, se analisa a política. Na sua etimologia original, política significa: "Arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados". Será possível conceber-se a prática dessa arte ou ciência de modo dissociado do conceito de Sacrum Officium, ofício sagrado, significando a submissão dos desejos do ego pessoal às necessidades do bem comum?
Quando, no mundo, outro exemplo de função sagrada - seja ela a do professor, a do médico, a do sacerdote, a do homem privado ou público – é vilipendiada e descaracterizada, isso configura ruptura da ordem natural das coisas. Isso ativa o poder de Exu. O princípio regenerador se manifesta, quase sempre de forma violenta e cega, desfazendo na sua fúria cega coisas, valores e pessoas que num instante estavam íntegras e no instante seguinte viraram pó. É este o momento em que, com frequência, os inocentes pagam pelos pecadores...
É o momento em que o inexorável Olodumarê, ao tirar de nós algum familiar, amigo, conhecido ou pessoa famosa e principalmente aquilo que ele representava, talvez esteja querendo nos dizer: "Ambições mundanas, impulsos competitivos, a ânsia de status, poder ou bens materiais, tudo tende a dissipar-se quando visto contra o pano de fundo da morte potencialmente iminente. É como escreveu Carlos Castaneda, ao descrever os ensinamentos do feiticeiro yaki Don Juan: "Uma quantidade imensa de mesquinhez é abandonada quando a tua morte te acena ou a entrevês num breve relance. (...) A morte é a única conselheira sábia que possuímos".
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/150323/A-morte-de-Eduardo-Campos-%C3%A9-um-ponto-de-muta%C3%A7%C3%A3o.htm?acid=1422632&ls-acm0=10

8.12.2014

Seu país, as eleições e os rumos que o Brasil pode avançar ou recuar

Marcio Pochmann - sociedade brasileira

As despesas do governo com juros pagos aos rentistas caíram de 14% do PIB em 2002 para os atuais 6%. E a participação da renda do trabalho no PIB subiu de 39% para 47%. Não é coincidência
Ministério da Integração Nacional/Divulgação/abril 2014
Mais água
Projeto de Integração do Rio São Francisco: na última década, a economia na despesa com ricos (no pagamento de juros da dívida pública) foi direcionada para o investimento público em infra-estrutura e para o gasto social

No Brasil, as eleições presidenciais tiveram impacto­ contido nos rumos da economia nacional até 1930, quando prevaleceu o regime da democracia censitária herdado do Império (1822-1889). Isso porque as eleições eram, em geral, assunto dos ricos, uma vez que os participantes do processo eleitoral se resumiam a apenas homens alfabetizados e detentores de renda, o que compreendia menos de 5% dos brasileiros.
As cédulas eleitorais impressas por partidos políticos financiados fundamentalmente pelos proprietários rurais e empresas comerciais garantiam, para além do voto dirigido (de cabresto), o compromisso dos candidatos com a manu­tenção da ordem econômica depen­dente do ­comércio externo. Assim, a política não ousava contrariar os interesses econô­micos de ricos e poderosos.
Com a Revolução de 1930, o Brasil transitou para o regime da democracia­ representativa fundada na gradual universalização do voto. De imediato, a constituição da Justiça Eleitoral, a inclusão do voto feminino e o fim da declaração de renda permitiram multiplicar por cinco a participação da população no processo eleitoral.
Apesar disso, dois constrangimentos à plena participação popular se estabe­leceram até a metade da década de 1980. De um lado, a força do autoritarismo vigente no Estado Novo (1937-1945) e na ditadura  (1964-1985) afastou qualquer possibilidade eleitoral de a vontade democrática e popular vir a interferir no comportamento da economia dirigido por ricos e poderosos.
De outro, a ausência da liberdade na organização partidária e a proibição do voto dos analfabetos, que representavam cerca da metade dos brasileiros, retirou da parcela mais pobre da população a possibilidade de consagrar nas eleições realizadas no período democrático (1945-1964) a defesa de seus interesses em torno da melhor qualidade de vida e justiça social. Somente em 1985 o voto se tornou de fato universal, com a plena inclusão de analfabetos no processo eleitoral. A partir daí, cerca de dois terços da população passaram a participar das eleições e a interferir nos rumos da economia nacional.

Turbulências

Como em 2014 será realizada a sétima eleição presidencial desde o fim da ditadura (1985), o Brasil consagra o mais longo período democrático de sua história. Podem ser registrados dos anos de 1989, 1994, 1998 e 2002 tanto o impacto do comportamento da economia no resultado eleitoral como as consequências das turbulências políticas na dinâmica da produção, emprego e renda.
Em 1989, por exemplo, o fato de nenhum dos candidatos à Presidência defender o governo Sarney refletiu-se na trajetória de oscilações bruscas na economia da época. Na eleição presidencial de 1994, a complexa instalação do Plano Real teve impacto na política e levou a ­alteração significativa no comportamento da economia nacional.
Também nas duas eleições seguintes ocorreram conexões importantes entre a política e a economia, e vice versa. Em 1998, por exemplo, a crise do Plano ­Real foi escondida dos brasileiros, somente percebida depois frente ao acordo realizado em dezembro daquele ano com o Fundo Monetário Internacional e suas conseqüências recessivas para a economia brasileira. Na sucessão do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002, ocorreu verdadeiro terrorismo eleitoral identificado pelo disparo da inflação e pela desvalorização do real numa economia que operava em frangalhos.
Nas eleições presidenciais de 2006 e 2010, contudo, as repercussões da política na economia brasileira foram de contida monta frente à continuidade da trajetória de crescimento da produção, emprego e rendimento dos brasileiros. E nas eleições de 2014, o que se poderia observar?

Choque ortodoxo

A menos de três meses das eleições, nota-se que o governo Dilma persegue o receituário do gradualismo heterodoxo das medidas de política econômica voltadas ao afastamento da recessão que faz dos ricos mais ricos e dos pobres mais pobres. Ao mesmo tempo, busca manter a inflação no controle, bem como o crescimento do emprego e da renda dos brasileiros.
Pela oposição, ainda que diversa ideológica e politicamente, parece haver certa convergência em torno de um choque ortodoxo recessivo a ser aplicado logo em 2015. Para isso, a defesa insistente do ajuste fiscal (corte no gasto público, elevação do superávit fiscal de 1,9% do PIB para 3,5% ou mais e restrição ao orçamento dos bancos públicos) e da elevação real dos juros, com a redução do crédito bancário e da meta de inflação.
Em síntese, a oposição parece repetir linha básica das políticas governamentais adotadas na década de 1990, com o uso do choque recessivo para ajustar a economia. Assim, a aceleração do desemprego, o rebaixamento dos salários dos ocupados e a contenção das políticas de renda evidenciadas pela elevação real do salário mínimo e dos benefícios dos programas nacionais de garantia de renda poderiam se tornar realidade, mais uma vez.
Tudo isso para favorecer os tubarões da economia nacional. De fato, os ricos não estão nada satisfeitos. No ano de 2002, por exemplo, o governo federal transferiu o equivalente a 14,2% do Produto Interno Bruto (PIB) na conta financeira aos ricos detentores da dívida pública, cujo montante da época representava quase dois terços do PIB.
Atualmente, a ­­­Dívida Líquida do Setor Público representa um terço do PIB e o governo paga na forma de juros o equivalente a menos de 6% do PIB.
Assim, os ricos que abocanharam R$ 570 bilhões de reais em 2002 (em valores) como juro da dívida pública, receberam R$ 230 bilhões no ano passado. A economia de R$ 340 bilhões na despesa com ricos foi direcionada para o investimento púbico em infra-estrutura urbana (portos, aeroportos, estradas, saneamento) e para o gasto social (valorização do salário mínimo, Bolsa Família, programa Minha Casa, Minha Vida).
Não causa espanto, portanto, que a eleição presidencial deste ano representa mais um round no verdadeiro cabo de guerra na economia representado pela divergência entre o conjunto dos interesses de ricos e pobres. O choque recessivo defendido pela oposição ao governo Dilma favorece os ricos e enfraquece trabalhadores, pois mais desemprego reduz o poder de barganha na luta por maior salário, enquanto o gradualismo atual das políticas de combate à inflação e ativação econômica mantém forte o poder das classes do trabalho no interminável conflito distributivo.
De 2003 pra cá, as forças do trabalho têm obtido conquistas importantes, como a elevação dos rendimentos dos trabalhadores de 39% para 47% do PIB.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/97/as-eleicoes-e-a-economia-1520.html

8.10.2014

Gostos e sabores de uma feliz recordação familiar.

Divagações em forma de crônica do imaginário.

por Mazinho



Família formada a 34 anos, em que 2 jovens idealistas sonharam, como muitos da classe média alta brasileira, em deixar a individualidade para trás, e seguir cada um com o seu jeitinho apaixonado de ser, a moça e o moço. Cada qual com suas ideias e maneiras. Algumas ótimas, outras nem tanto, mas 2 individualidades próprias. Uma masculina e outra feminina.
Com o passar do tempo, parecido com um diamante bruto, que se lapidando, e fica mais fácil de ser apreciado pelas pessoas ao seu redor. Bem devagarinho as coisas foram mudando. Umas para melhor, outras para pior, cada qual do seu jeito.
O sonho do namoro ligeirinho foi ficando para trás, o noivado para cumprir o ritual familiar também teve. E assim, chegaram ao casamento. Simples, de cidade pequenininha, com as famílias dos noivos na expectativa de mais um casório, e torcendo pra que tudo desse certo.
Foi o que aconteceu. Bem rapidinho, já que os noivos moravam distantes um do outro, uns 300 quilômetros. Lá pela década de 80, tudo era mais difícil que hoje. Mas deixa o saudosismo para ser escrito em outro hora.
Em um salto próximo a 30 anos no tempo, do jeito como as coisas andam nesta vida atribulada, esta união do feminino e masculino deu certo. Se pode brincar que foi um femilino, igual a feminino+masculino=femilino.
Com este mundo moderno, algumas vezes, isso se torna quase impossível, onde vamos parar. Chega de sair do assunto...
Aqui o papo é femilino e pronto.
E, neste rítmo, para os dois jovens, a vida seguiu a 2, que, dando um salto no tempo de 14 anos, tinham sob sua responsabilidade o filho mais velho de 13 anos, o menino do meio com 11 anos e uma meninha de 3 anos. Uma família de 5 pessoas.
E a vida foi seguindo, cada um do seu jeito foi se virando, indo e vindo...
Trabalhando em uma grande empresa estatal, o pai conseguiu juntar um patrimônio razoável, pois era um tanto quanto, vamos dizer, casquinha.
A mãe decidindo o que era melhor para cada filho, ajudou-os a enfrentarem o dia-a-dia. E assim, de ano em ano passando, tendo já se ido uns 34 aninhos, como se diz, talvez bem vividos, quem sabe, só o futuro dirá ...
Depois de todo este tempo, com um mundaréu de quinquilharias e coisinhas acumuladas, esta turma está se reorganizando. Como?
Querem até promover um brechó familiar, isto mesmo, essas coisas que organizam, dizem que é bem moderno fazer isto.
Se pega aquilo que está bom, funcionando, ou se arruma para voltar a funcionar, se organiza em um espaço, para outras pessoas poderem ver ou se interessar.
Se gostarem, compram por um preço razoável. Se não gostarem, deixam lá mesmo. Outro jeito de se livrar de tudo o que não se precisa, é doar para quem não pode ter e quer. Pelo menos se consegue fazer algo de bom, mesmo que alguns em sua isoladissima individualidade, jamais aceitarão.
E assim a vida segue, para aquela turma que começou uma nova vida a 34 anos, e hoje, estão mirando o futuro para mais uns, quem sabe, tempinho de vida, se a natureza assim o permitir...
Ah, antes que se esqueça, as melhores coisas, aquelas do emocional, que estão no consciente ou in-consciente não ficarão expostas naquele espaço que foi comentado antes, o brechó. 
Bem rapidinho, era isso que se divagou e imaginou por ora, nesta sopa de letrinha em preto e branco.

8.09.2014

O embargo Russo de alimentos e o Brasil

Mauro Santayana - Comércio Exterior
Moscou anunciou, nesta quarta-feira, como consequência da imposição, pela Europa e os Estados Unidos, de três grupos de sanções contra a Rússia, a proibição, a partir do dia 8 de julho de 2014, e pelo período inicial de um ano, da importação de alimentos oriundos da União Europeia e dos EUA. A medida, que abarca carne bovina, peixes, mariscos, frutas, legumes, verduras, carne de frango,  leite e derivados, atinge também as exportações da Austrália, do Canadá e da Noruega, e poderá ser estendida, como afirmou o Presidente Vladimir Putin, a "todos os países que decidiram impor sanções econômicas a entidades e/ou indivíduos russos, ou que se tenham associado a elas".
Se essa decisão é má notícia para os agricultores europeus, que vendem 11 bilhões de euros, ou 10% de suas exportações, para o mercado russo, e, em menor medida, também para os norte-americanos, ela pode ser excelente para outros países, e, principalmente, para o Brasil.
Quando veio ao Brasil em julho, o Putin já havia anunciado - assim como fez também a China - a retomada das importações brasileiras de carne bovina. Agora, o Ministro da  Agricultura da Rússia, Nikolai Fiorodov, acaba de anunciar que as importações de carne passarão a ser da Nova Zelândia e do Brasil - que deverá exportar também 150 mil toneladas de frango a mais.
O Diretor do Serviço de Inspeção Sanitária e Agrícola russo, Serguei Dankvert, se reuniu com diplomatas brasileiros (carnes) , chilenos (frutas e peixes) e equatorianos (peixes e carne) para detalhar as oportunidades de exportação.  
Mais uma vez, é preciso tomar cuidado com os cantos de sereia do “ocidente”.
O produtor brasileiro de alimentos conhece, há anos, as múltiplas facetas do protecionismo europeu na área de alimentos, que vai da mera taxação da mercadoria, à restrição de cotas, barreiras sanitárias de todo tipo, e fartos subsídios para a sua agricultura e suas exportações, que subtraem e sabotam a competitividade de nossos produtos em várias regiões do mundo.
Por um lado, os europeus falam de “livre comércio”, mas atrasam o fechamento de sua proposta ao MERCOSUL no contexto das negociações comerciais em curso; diversos países predominantemente agrícolas recentemente incorporados ao euro colocam obstáculos ao acordo; e diversos  setores da agricultura europeia, reunidos em organizações como a COPA e a COGECA, lançam manifestos contra qualquer acordo com os nossos países.
Para o produtor brasileiro, é fácil  raciocinar: é melhor aproximar-se de um dos maiores importadores de alimentos do mundo, que é a Rússia, e da China e da Índia, países que estão crescendo mais de 5% ao ano, e incorporando dezenas de milhões de pessoas ao consumo a cada ano – todos eles nossos parceiros no BRICS?
Ou investir tempo e energia com a Europa, um continente no qual a curva demográfica é descendente, o crescimento está estagnado e a população se encontra em acelerado processo de envelhecimento?
Um continente que é o maior exportador mundial de alimentos, e que concorre diretamente conosco, subsidiando direta e indiretamente seus produtos no mercado internacional?
Na hora de negociar, não devemos bater a porta na cara de ninguém. Mas não podemos perder de vista, nem os nossos interesses, nem a lógica, nem a razão.
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2014/08/08/o-campo-e-os-brics/

8.05.2014

Por que a mídia brasileira é tão reacionária?

Silvio Caccia Bava * - mídia
Com um noticiário econômico com profunda carga ideológica, a desinformação e a dose diária de violência e insegurança que a mídia nos impõe, produzem a impressão de uma guerra de todos contra todos, na qual a família e o indivíduo estão à mercê da violência geral, com inimigos invisíveis por todos os lados. Propagam-se o medo e a ideia de crise iminente, de um governo fraco, omisso e patético. São os fundamentos para criar uma sociedade sem democracia e socialmente individualista.
As alianças que governos no passado fizeram com os poderes econômicos romperam-se na prática, ao menos com importantes setores como o financeiro e o das grandes corporações. Ainda que tenham contribuído com as campanhas eleitorais, eles estão visívelmente contra a administração pública. Mas não estão sós. O Brasil e suas riquezas interessam também ao capital internacional. Por exemplo, não é à toa que a revista The Economist sugere a mudança do ministro da Fazenda brasileiro, ou que as agências de rating ameacem rebaixar as notas para investimento no Brasil e suas companhias estatais. Tudo para criar um clima de derrotados...
O que permanece oculto nestas eleições é o projeto do Estado e os recursos públicos estarem direcionados cada vez mais para a distribuição de riqueza e poder. O projeto dos que detém o capital é promover um ajuste estrutural para aumentar os ganhos do setor financeiro, rebaixar o custo da força de trabalho e, com isso, facilitar a venda dos produtos brasileiros no exterior e aumentar seus já enormes lucros, privatizar os bens públicos, fazer o governo refém das políticas sociais hoje em prática, e abrir a economia para o capital internacional.
E contra o que se opõem com tanta força esses grandes interesses? Contra um modelo de distribuição de renda, contra a dinâmica da economia de hoje no aumento da distribuição de renda e da melhoria do mercado de consumo interno. O modelo atual da economia é distributivo e não dominante, e está crescendo em vários países da América do Sul, único continente que conseguiu reduzir a pobreza e a desigualdade na última década. No Brasil, esse modelo distributivo apresenta uma face moderada, mas com resultados positivos inquestionáveis e comprovados na prática. Sua manutenção e aprofundamento requerem políticas e investimentos públicos que vão contra os interesses do grande capital.
Há ainda uma dimensão política que preocupa os conservadores. O fortalecimento dos pequenos atores os faz também atores políticos, que pressionarão para alargar as fronteiras da atual democracia, melhorando assim a forma de pensar cidadã, onde se precisa avançar mais.
* Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil
http://www.diplomatique.org.br/editorial.php?edicao=85

8.03.2014

A religião obriga os EUA a ficarem reféns de Israel

As fatais afinidades religiosas entre EUA e Israel

Para o professor Mokhtar Ben Barka, professor de Ciências Políticas especializado em Estados Unidos e Oriente Médio, Barack Obama não teria coragem de deixar de proteger Israel
por Gianni Carta — Oriente Médio
Mokhtar Ben Barka O professor de Ciências Políticas, especializado em EUA e Oriente Médio, Mokhtar Ben Barka explica que o elo entre os EUA e Israel é antes de tudo religioso
Para Mokhtar Ben Barka, professor de Ciências Políticas especializado em Estados Unidos e Oriente Médio na Universidade de Valenciennes, na França, o elo entre os EUA e Israel é antes de tudo religioso. “Escolhidos de Deus”, os americanos acreditam que “amar Israel é obedecer à vontade de Deus”. Como seus predecessores, Barack Obama não teria coragem de deixar de proteger Israel.
CartaCapital: O senhor costuma dizer que o “fator religioso” é mais forte nos Estados Unidos do que em outros países democráticos. De que forma a religiosidade americana faz de Israel um aliado?
Mokhtar Ben Barka: O “fator religioso” tem enorme impacto nos EUA. Essa religiosidade é histórica, remonta ao século XVII, quando judeus começam a ir aos Estados Unidos. É conectada à certeza de que eles, os americanos, foram os escolhidos de Deus, como dita a Bíblia. Nasce então nos americanos a certeza de que eles vivem na Nova Jerusalém. Amar Israel, especialmente para os evangélicos, os protestantes conservadores, faz parte da fé cristã. De fato, você não pode ser cristão se não amar Israel. Amar a Grande Israel, aquela de Abraão, como na Bíblia, é obedecer à vontade de Deus. Por isso, em 1948, sob a presidência de Harry Truman, os Estados Unidos foram o primeiro país a ratificar Israel, como novo Estado. A criação de Israel passa a ser uma profecia cumprida. Israel torna-se o principal aliado dos EUA. Os evangélicos, inclusive aqueles fundamentalisas, passam ainda a ter maior influência na política exterior dos EUA sob George W. Bush.
CC: E o lobby judeu?
MBB: É fortíssimo, principalmente nos EUA. Lobistas judeus têm muita influência sobre os congressistas americanos.
CC: A mídia israelense critica John Kerry, o qual busca mediadores para o cessar-fogo na Turquia e no Catar, não no Egito. Pela primeira vez, faria sentido o comportamento do secretário de Estado?
MBB: Os EUA encontram-se em uma posição bastante desconfortável. De fato, a Turquia é uma potência emergente, um país respeitado no mundo árabe. Os cataris, embora dominados pelos EUA, podem negociar com o Hamas, considerado um movimento terrorista por americanos e europeus. Esses países poderiam formular um tratado de paz favorável também para Gaza. Por sua vez, o Egito, que tirou do poder a Irmandade Muçulmana, um braço do Hamas, está mais preocupado em favorecer Israel.
CC: Pelo fato de Obama ter raízes na África muçulmana, ele não poderia, como se pensava quando foi eleito pela primeira vez, posicionar-se de forma mais equilibrada no Oriente Médio do que seus predecessores?
MBB: Seria a primeira vez na história. Nenhum presidente americano tem coragem para agir de tal modo. Uma posição equilibrada no Oriente Médio marcaria o fim da carreira de Obama, e com repercussões graves para o Partido Democrata.
CC: Os EUA foram o único país a votar na semana passada contra uma resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU para fomar uma comissão internacional chamada a investigar os ataques israelenses contra a Palestina. Aquele voto, dado por um país que busca o cessar-fogo, não lhe parece contraditório?
MBB: Voltamos à herança religiosa dos EUA, ao elo com Israel. É impensável para Washington se opor a Israel. Obama tenta satisfazer ambos os lados. Fala em cessar-fogo para ajudar Gaza, vítima de um massacre, mas vota contra uma comissão de observadores da ONU para averiguar se os ataques de Israel
fogem às normas do direito internacional.

CC: No mundo árabe, com seus 19 países, há diferenças enormes entre eles. Mas, de forma geral, até que ponto os árabes apoiam a Palestina?
MBB: É um tema importante para a vasta maioria. No entanto, países em diferentes regiões reagem de maneiras diferentes. As monarquias conservadoras do Golfo Pérsico não querem se envolver no conflito, embora possam lamentá-lo. Já no Magrebe é intenso o apoio aos palestinos. A Tunísia, por exemplo, está a enviar medicamentos, mantimentos e roupas para Gaza. De todo modo, apesar de simpatizar com os palestinos, nem todos os governos árabes concordam com a ideologia do Hamas.
http://www.cartacapital.com.br/revista/811/as-fatais-afinidades-religiosas-entre-eua-e-israel-333.html

Culinária na TV, massa bruta ?

Ou alguém já ouviu um apresentador provar a comida e dizer que é ruim?
por Marcio Alemãomídia


Imeh Akpanudosen/Getty Images/AFP, Dylan Rives/Getty Images/AFP, Joerg Carstensen/AFP
Culinária na tevê
Os restaurantes de Jamie Oliver, um dos representantes da culinária na TV , são um fracasso, porque lá não há câmeras ligadas e amigos elogiando os dotes culinários.
Tenho um amigo que é bom para sugerir pautas. Ele prefere não ser identificado. Sua última sugestão, na verdade, daria um bom quadro de humor. Perguntou para mim se eu costumava assistir aos programas de culinária, que viraram modinha. Vejo alguns. Ver todos é tarefa impossível. Daí começou a conversa que divido nesta sopa de letrinhas com os leitores.
Em algum desses programas de culinária na TV, alguém chegou a ver um apresentador ou o convidado provar o que foi feito e dizer: “Uau! Isso ficou horrível!”? Nunca aconteceu. Mas, fora das câmeras, todos apostam que já aconteceu e deve acontecer direto.
Semana passada, falei do inglês cabotino que decidiu ensinar ao mundo como se cozinha e come. Por que seus restaurantes são um fracasso de público e crítica? Porque as câmeras não estão ligadas na cozinha dele. Porque seus amigos não estão lá para dizer em frente as câmeras: “Nossa! Como isso está maravilhoso!”
Emeril Green é o programa do chef Emeril Lagasse. Um chef conhecido nos Estados Unidos, que fez um acordo com o Whole Foods Market e faz o programa acontecer nas instalações do supermercado. O programa é charme zero, mas vale notar a quantidade de pimenta-do-reino moída que o chef coloca em tudo. É assustador. Nada além do gosto de pimenta deve sobreviver. Mas, até hoje, nenhum convidado reclamou. Em frente as câmeras, tudo vira maravilhoso, óóóhh mundo cruel.
E que tal aquele programa do chef Curtis Stone, que tem o carisma de uma barbatana de colarinho? O sujeito aborda uma moça no supermercado e promete fazer um jantar encantador para ela e o marido. A pior parte: ela aceita.Em um filme, na sequência, veríamos o pessoal do CSI entrando na casa da mulher e vendo suas partes assadas, cozidas, marinadas. E alguém diria: “É ele. O serial killer gourmet”.
Outro ponto interessante da conversa: o vocabulário do especialista, do gourmet, já está na boca de qualquer apresentador em qualquer situação. O sujeito dá uma bocada em um sanduba que leva 500 gramas de bacon frito, sem pagar nada.
Frito em fritadeira. Uma folha de alface, duas rodelas de tomate e 500 gramas de bacon. Outra fatia de bacon sobre tudo, claro. Ele morde, revira os olhos, só não solta um palavrão, porque as malditas câmeras estão lá, solta exclamações e diz: “Isso tem textura, tem a crocância do bacon com a suavidade do pão. Os açúcares do bacon com a acidez do tomate... hummm! Você sente a suculência, a força com delicadeza...”
Chega, né? 
Com meio quilo de bacon na boca você fica sem sentir gosto de outra coisa que não seja bacon durante 12 anos. Vai contaminar sua boca e seus sentidos. Vai odiar bacon para o resto da vida. Não estranharia se você ficasse surdo.
Mas tudo faz parte do realiy show. 
Quem sabe um programa de humor gourmet esteja tomando forma aí pelos 4 cantos do mundo.
http://www.cartacapital.com.br/revista/811/culinaria-na-teve-uma-bela-falacia-2166.html