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8.03.2014

Culinária na TV, massa bruta ?

Ou alguém já ouviu um apresentador provar a comida e dizer que é ruim?
por Marcio Alemãomídia


Imeh Akpanudosen/Getty Images/AFP, Dylan Rives/Getty Images/AFP, Joerg Carstensen/AFP
Culinária na tevê
Os restaurantes de Jamie Oliver, um dos representantes da culinária na TV , são um fracasso, porque lá não há câmeras ligadas e amigos elogiando os dotes culinários.
Tenho um amigo que é bom para sugerir pautas. Ele prefere não ser identificado. Sua última sugestão, na verdade, daria um bom quadro de humor. Perguntou para mim se eu costumava assistir aos programas de culinária, que viraram modinha. Vejo alguns. Ver todos é tarefa impossível. Daí começou a conversa que divido nesta sopa de letrinhas com os leitores.
Em algum desses programas de culinária na TV, alguém chegou a ver um apresentador ou o convidado provar o que foi feito e dizer: “Uau! Isso ficou horrível!”? Nunca aconteceu. Mas, fora das câmeras, todos apostam que já aconteceu e deve acontecer direto.
Semana passada, falei do inglês cabotino que decidiu ensinar ao mundo como se cozinha e come. Por que seus restaurantes são um fracasso de público e crítica? Porque as câmeras não estão ligadas na cozinha dele. Porque seus amigos não estão lá para dizer em frente as câmeras: “Nossa! Como isso está maravilhoso!”
Emeril Green é o programa do chef Emeril Lagasse. Um chef conhecido nos Estados Unidos, que fez um acordo com o Whole Foods Market e faz o programa acontecer nas instalações do supermercado. O programa é charme zero, mas vale notar a quantidade de pimenta-do-reino moída que o chef coloca em tudo. É assustador. Nada além do gosto de pimenta deve sobreviver. Mas, até hoje, nenhum convidado reclamou. Em frente as câmeras, tudo vira maravilhoso, óóóhh mundo cruel.
E que tal aquele programa do chef Curtis Stone, que tem o carisma de uma barbatana de colarinho? O sujeito aborda uma moça no supermercado e promete fazer um jantar encantador para ela e o marido. A pior parte: ela aceita.Em um filme, na sequência, veríamos o pessoal do CSI entrando na casa da mulher e vendo suas partes assadas, cozidas, marinadas. E alguém diria: “É ele. O serial killer gourmet”.
Outro ponto interessante da conversa: o vocabulário do especialista, do gourmet, já está na boca de qualquer apresentador em qualquer situação. O sujeito dá uma bocada em um sanduba que leva 500 gramas de bacon frito, sem pagar nada.
Frito em fritadeira. Uma folha de alface, duas rodelas de tomate e 500 gramas de bacon. Outra fatia de bacon sobre tudo, claro. Ele morde, revira os olhos, só não solta um palavrão, porque as malditas câmeras estão lá, solta exclamações e diz: “Isso tem textura, tem a crocância do bacon com a suavidade do pão. Os açúcares do bacon com a acidez do tomate... hummm! Você sente a suculência, a força com delicadeza...”
Chega, né? 
Com meio quilo de bacon na boca você fica sem sentir gosto de outra coisa que não seja bacon durante 12 anos. Vai contaminar sua boca e seus sentidos. Vai odiar bacon para o resto da vida. Não estranharia se você ficasse surdo.
Mas tudo faz parte do realiy show. 
Quem sabe um programa de humor gourmet esteja tomando forma aí pelos 4 cantos do mundo.
http://www.cartacapital.com.br/revista/811/culinaria-na-teve-uma-bela-falacia-2166.html

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