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8.03.2014

A religião obriga os EUA a ficarem reféns de Israel

As fatais afinidades religiosas entre EUA e Israel

Para o professor Mokhtar Ben Barka, professor de Ciências Políticas especializado em Estados Unidos e Oriente Médio, Barack Obama não teria coragem de deixar de proteger Israel
por Gianni Carta — Oriente Médio
Mokhtar Ben Barka O professor de Ciências Políticas, especializado em EUA e Oriente Médio, Mokhtar Ben Barka explica que o elo entre os EUA e Israel é antes de tudo religioso
Para Mokhtar Ben Barka, professor de Ciências Políticas especializado em Estados Unidos e Oriente Médio na Universidade de Valenciennes, na França, o elo entre os EUA e Israel é antes de tudo religioso. “Escolhidos de Deus”, os americanos acreditam que “amar Israel é obedecer à vontade de Deus”. Como seus predecessores, Barack Obama não teria coragem de deixar de proteger Israel.
CartaCapital: O senhor costuma dizer que o “fator religioso” é mais forte nos Estados Unidos do que em outros países democráticos. De que forma a religiosidade americana faz de Israel um aliado?
Mokhtar Ben Barka: O “fator religioso” tem enorme impacto nos EUA. Essa religiosidade é histórica, remonta ao século XVII, quando judeus começam a ir aos Estados Unidos. É conectada à certeza de que eles, os americanos, foram os escolhidos de Deus, como dita a Bíblia. Nasce então nos americanos a certeza de que eles vivem na Nova Jerusalém. Amar Israel, especialmente para os evangélicos, os protestantes conservadores, faz parte da fé cristã. De fato, você não pode ser cristão se não amar Israel. Amar a Grande Israel, aquela de Abraão, como na Bíblia, é obedecer à vontade de Deus. Por isso, em 1948, sob a presidência de Harry Truman, os Estados Unidos foram o primeiro país a ratificar Israel, como novo Estado. A criação de Israel passa a ser uma profecia cumprida. Israel torna-se o principal aliado dos EUA. Os evangélicos, inclusive aqueles fundamentalisas, passam ainda a ter maior influência na política exterior dos EUA sob George W. Bush.
CC: E o lobby judeu?
MBB: É fortíssimo, principalmente nos EUA. Lobistas judeus têm muita influência sobre os congressistas americanos.
CC: A mídia israelense critica John Kerry, o qual busca mediadores para o cessar-fogo na Turquia e no Catar, não no Egito. Pela primeira vez, faria sentido o comportamento do secretário de Estado?
MBB: Os EUA encontram-se em uma posição bastante desconfortável. De fato, a Turquia é uma potência emergente, um país respeitado no mundo árabe. Os cataris, embora dominados pelos EUA, podem negociar com o Hamas, considerado um movimento terrorista por americanos e europeus. Esses países poderiam formular um tratado de paz favorável também para Gaza. Por sua vez, o Egito, que tirou do poder a Irmandade Muçulmana, um braço do Hamas, está mais preocupado em favorecer Israel.
CC: Pelo fato de Obama ter raízes na África muçulmana, ele não poderia, como se pensava quando foi eleito pela primeira vez, posicionar-se de forma mais equilibrada no Oriente Médio do que seus predecessores?
MBB: Seria a primeira vez na história. Nenhum presidente americano tem coragem para agir de tal modo. Uma posição equilibrada no Oriente Médio marcaria o fim da carreira de Obama, e com repercussões graves para o Partido Democrata.
CC: Os EUA foram o único país a votar na semana passada contra uma resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU para fomar uma comissão internacional chamada a investigar os ataques israelenses contra a Palestina. Aquele voto, dado por um país que busca o cessar-fogo, não lhe parece contraditório?
MBB: Voltamos à herança religiosa dos EUA, ao elo com Israel. É impensável para Washington se opor a Israel. Obama tenta satisfazer ambos os lados. Fala em cessar-fogo para ajudar Gaza, vítima de um massacre, mas vota contra uma comissão de observadores da ONU para averiguar se os ataques de Israel
fogem às normas do direito internacional.

CC: No mundo árabe, com seus 19 países, há diferenças enormes entre eles. Mas, de forma geral, até que ponto os árabes apoiam a Palestina?
MBB: É um tema importante para a vasta maioria. No entanto, países em diferentes regiões reagem de maneiras diferentes. As monarquias conservadoras do Golfo Pérsico não querem se envolver no conflito, embora possam lamentá-lo. Já no Magrebe é intenso o apoio aos palestinos. A Tunísia, por exemplo, está a enviar medicamentos, mantimentos e roupas para Gaza. De todo modo, apesar de simpatizar com os palestinos, nem todos os governos árabes concordam com a ideologia do Hamas.
http://www.cartacapital.com.br/revista/811/as-fatais-afinidades-religiosas-entre-eua-e-israel-333.html

Culinária na TV, massa bruta ?

Ou alguém já ouviu um apresentador provar a comida e dizer que é ruim?
por Marcio Alemãomídia


Imeh Akpanudosen/Getty Images/AFP, Dylan Rives/Getty Images/AFP, Joerg Carstensen/AFP
Culinária na tevê
Os restaurantes de Jamie Oliver, um dos representantes da culinária na TV , são um fracasso, porque lá não há câmeras ligadas e amigos elogiando os dotes culinários.
Tenho um amigo que é bom para sugerir pautas. Ele prefere não ser identificado. Sua última sugestão, na verdade, daria um bom quadro de humor. Perguntou para mim se eu costumava assistir aos programas de culinária, que viraram modinha. Vejo alguns. Ver todos é tarefa impossível. Daí começou a conversa que divido nesta sopa de letrinhas com os leitores.
Em algum desses programas de culinária na TV, alguém chegou a ver um apresentador ou o convidado provar o que foi feito e dizer: “Uau! Isso ficou horrível!”? Nunca aconteceu. Mas, fora das câmeras, todos apostam que já aconteceu e deve acontecer direto.
Semana passada, falei do inglês cabotino que decidiu ensinar ao mundo como se cozinha e come. Por que seus restaurantes são um fracasso de público e crítica? Porque as câmeras não estão ligadas na cozinha dele. Porque seus amigos não estão lá para dizer em frente as câmeras: “Nossa! Como isso está maravilhoso!”
Emeril Green é o programa do chef Emeril Lagasse. Um chef conhecido nos Estados Unidos, que fez um acordo com o Whole Foods Market e faz o programa acontecer nas instalações do supermercado. O programa é charme zero, mas vale notar a quantidade de pimenta-do-reino moída que o chef coloca em tudo. É assustador. Nada além do gosto de pimenta deve sobreviver. Mas, até hoje, nenhum convidado reclamou. Em frente as câmeras, tudo vira maravilhoso, óóóhh mundo cruel.
E que tal aquele programa do chef Curtis Stone, que tem o carisma de uma barbatana de colarinho? O sujeito aborda uma moça no supermercado e promete fazer um jantar encantador para ela e o marido. A pior parte: ela aceita.Em um filme, na sequência, veríamos o pessoal do CSI entrando na casa da mulher e vendo suas partes assadas, cozidas, marinadas. E alguém diria: “É ele. O serial killer gourmet”.
Outro ponto interessante da conversa: o vocabulário do especialista, do gourmet, já está na boca de qualquer apresentador em qualquer situação. O sujeito dá uma bocada em um sanduba que leva 500 gramas de bacon frito, sem pagar nada.
Frito em fritadeira. Uma folha de alface, duas rodelas de tomate e 500 gramas de bacon. Outra fatia de bacon sobre tudo, claro. Ele morde, revira os olhos, só não solta um palavrão, porque as malditas câmeras estão lá, solta exclamações e diz: “Isso tem textura, tem a crocância do bacon com a suavidade do pão. Os açúcares do bacon com a acidez do tomate... hummm! Você sente a suculência, a força com delicadeza...”
Chega, né? 
Com meio quilo de bacon na boca você fica sem sentir gosto de outra coisa que não seja bacon durante 12 anos. Vai contaminar sua boca e seus sentidos. Vai odiar bacon para o resto da vida. Não estranharia se você ficasse surdo.
Mas tudo faz parte do realiy show. 
Quem sabe um programa de humor gourmet esteja tomando forma aí pelos 4 cantos do mundo.
http://www.cartacapital.com.br/revista/811/culinaria-na-teve-uma-bela-falacia-2166.html