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5.27.2017

A Influência dos EUA no Brasil e América Latina: Economica, Politica e Social


Ex-embaixador e ex-ministro brasileiro para assuntos estratégicos do governo federal, Samuel Pinheiro Guimarães diz: “Quanto mais cedo Temer cair, pior para a oposição”. E o jogo escuso contra a população desarticulada, pelos EUA e grupos capitalistas globais

por Samuel Pinheiro Guimarães* do blog Socialista Morena, para blog do Alok – Sociedade e Geopolítica Brasileira e Latino Americana

 
 
 A vitória econômica, tecnológica e ideológica dos Estados Unidos sobre a União Soviética, onde a queda do muro de Berlim foi um marco simbólico, assim como a adesão russa ao capitalismo, ao sair do socialismo e a desintegração soviética induziu a adesão deste grupo sociopolítico ao sistema de instituições econômicas lideradas pelos Estados Unidos.
Nesse momento histórico, ocorre também a abertura chinesa controlada e dentro do comercio global, conduzindo à consolidação da hegemonia política, assim como de dominação sociopolítica global dos EUA.

A partir desse entendimento, e possível conhecer as diretrizes da política hegemônica estadunidense global, que são:

– induzir a adoção, por acordos bilaterais e pela imposição, por organismos “multilaterais”, dos princípios da economia neoliberal;

– manter a liderança tecnológica e controlar a difusão de tecnologia;

– induzir o desarmamento e a adesão “forçada” dos países periféricos e frágeis ao sistema militar norte-americano;

– induzir a adoção de regimes democráticos liberais, porém de forma seletiva, não para todos Estados;

– garantir a abertura ao controle externo da mídia.

Neste raciocínio quanto à geopolítica global, têm-se as dimensões e as características da população e do mercado interno; de território e de recursos naturais (ampliada de forma extraordinária pela descoberta do pré-sal no Brasil); a localização geográfica na área de influência dos Estados Unidos; a capacidade empresarial do estado brasileiro e da iniciativa privada, com incremento de politicas publicas através do BNDES, Petrobrás, Vale do Rio Doce, Embraer entre outros grupos, bem como a capacidade tecnológica em áreas de ponta, como por exemplo nuclear (tecnologia), Embrapa (agricultura), tornariam o Brasil uma área de atuação prioritária para a política exterior estadunidense, que articulou-se em nosso pais:

– apoio à redemocratização política controlada pelas classes hegemônicas (elite entre outras dominantes) no Brasil;

– a luta entre movimentos sociais, alguns políticos, pequenos empresários e midiática, que envolve a imprensa alternativa contra a política de desenvolvimento econômico e industrial, que é identificada com o autoritarismo cível e militar;

– apoio aos movimentos sociais (ONGs) entre outras, mas com regulação constitucional;

– retaliação contra as políticas nacionais de desenvolvimento nas áreas nuclear, informática, espacial (tecnologia) entre outras;

– mobilização ideológica para a implantação das regras do Consenso de Washington, que envolve: disciplina fiscal; redução dos gastos públicos; reforma tributária; juros e câmbio de mercado; abertura comercial; investimento estrangeiro sem restrição; privatização; desregulamentação econômica e trabalhista; direito à propriedade intelectual.

– desarmamento da população civil.

A implantação, entusiasta e excessiva, das medidas econômicas, políticas e militares, propagadas pela academia brasileira, mídia, entidades estratégicas e autoridades estadunidense, nos governos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, todavia com o controle e regulação constitucional e normas afetas a algumas areas. Diante das características do subdesenvolvimento, ocorrem: enormes disparidades sociais, a fragilidade relativa das empresas de capital nacional e a vulnerabilidade externa da sociedade, contribuíram para o fracasso dessas políticas, que levaram ao agravamento da concentração de renda, ao agravamento das deficiências de infraestrutura brasileira, ao aumento da violência social no campo e na cidade, acarretando a impopularidade desses políticos, permitindo à vitória dos movimentos políticos progressistas, com apoio dos movimentos sociais atuantes, diante dos governos de Menem; Battle; Andres Perez; Fernando Henrique Cardoso, Sanchez de Lozada; Mesa em toda a América Latina.

A eleição de Lula e sua equipe de governo, apoiados pelos partidos políticos progressistas, colocaram em risco o objetivo permanente dos EUA de implantar políticas neoliberais em toda a América Latina e de incorporar as economias latino-americanas à sua economia, de forma subordinada e controlada.

A articulação política e econômica de Lula, Kirchner, Lugo, Correa, Evo, Chavez reforçou a necessidade, para os EUA, de uma reação estratégica.

Os Estados Unidos, em cooperação com grupos internos em cada um desses países, iniciou campanhas de desestabilização política, econômica e sócia, que começou em Honduras, posteriormente no Paraguai e assim por diante.
No Brasil, esta campanha se inicia com o processo do “mensalão” e com a aceitação pelo judiciário da doutrina do domínio do fato, aplicada contra José Dirceu, em caráter exemplar e como um dos possíveis sucessores de Lula. Apesar da campanha anti-Lula e anti-PT por meio da imprensa tradicional e partidos de oposiçao, os índices de popularidade do presidente e dos partidos que apoiavam esta ação politica atingiram níveis recordes, mas ainda foi possível a eleição de Dilma Rousseff.

O governo Dilma Rousseff, sem capacidade de articulação política, tendo se estruturado somente pelo viés econômico, aderiu gradualmente ao programa neoliberal de ajuste fiscal, e sutilmente de faxina ética quanto aos movimentos sociais mais organizados e contração do estado social.
Desta forma, essa incapacidade de articulação politica da equipe governamental e também social, facilitou a articulação e o sucesso do processo de impeachment pela oposição midiática, judicial e parlamentar.

Por outro lado, a Operação Lava-Jato, em articulação com o Departamento de Justiça norte-americano, e com as agências de inteligência (espionagem) norte-americanas como a NSA, a CIA, o FBI, através de procedimentos ilegais, tais como prisões arbitrárias através da justiça federal, vazamento seletivo de delações de criminosos confessos tanto políticos como empresários, a desobediência ao princípio fundamental de presunção de inocência, a mobilização da opinião pública contra as pessoas delatadas por meio da mídia tradicional, colocando em risco a ordem jurídica e criando ódio na sociedade, com a conivência do supremo tribunal federal, foi um instrumento de ataque ao partido dos trabalhadores e a candidatura do ex-presidente Lula.

Este fato estimulou a gradual autonomia e fanatização moralista da força-tarefa de Curitiba entre policia federal, ministério publico e justiça federal, conduziu a denúncias contra outros políticos, em especial do PMDB, PSDB, PT, PP, DEM, PPS, PSB entre outros.

A característica que e possível comparar na medicina com “radicais livres” no conflito com a procuradoria-geral ou ministério publico, levou à investigação do grupo de Temer pela PF (também radical) e, como a PGR, tem aliados, principalmente o PSDB em disputa acirrado com o PMDB.

Os objetivos básicos das classes hegemônicas brasileiras, em estreita articulação com as classes hegemônicas estadunidenses, são:

– consolidar na legislação, de preferência na Constituição, as políticas neoliberais do Consenso de Washington;

– reduzir a possibilidade de vitória do presidente Lula em 2018, assim como a vitória dos candidatos progressistas nas eleições para o congresso brasileiro;

– impedir a revisão por um eventual novo governo progressista das reformas conservadoras, em especial a emenda constitucional nr. 95;

– destruir a política sul-americana e possivelmente latino americana de formação de um bloco regional e de inclusão de um pais representante no Conselho de Segurança da ONU;

– integrar o Brasil à economia estadunidense e criar a obrigatoriedade através da constituição federal e de normas reguladoras, a execução no Brasil de políticas econômicas neoliberais;

– impedir a industrialização, ainda que apenas parcialmente “autônoma”, do Brasil por empresas de capital genuinamente brasileiro ou somente voltadas ao pais ou América Latina;

– consolidar um programa econômico ultra neoliberal através de compromissos internacionais, a começar pela adesão do Brasil à OCDE e outros órgãos reguladores internacionais e de controle da economia global.

Michel Temer e outros politicos, através de coerção de empresários de empreiteiras e grandes grupos financeiros, por imprudência, colocaram em risco a credibilidade do processo de aprovação legislativa deste programa estadunidense, ao se deixar gravar pela policia federal em diálogos de natureza ilícita ou ilegais.

Trata-se agora, para as classes hegemônicas, de substituir políticos ou agentes públicos federais, nos três poderes da republica, a começar por Temer, e substituir o comando do processo das reformas por “funcionários” menos envolvidos no sistema tradicional de aquisição e controle de poder político pelas classes hegemônicas, minoritárias ao extremo, como por exemplo, caixa 2, compra de votos, propinas a partidos e a pessoas, nomeações na administração, liberação de verbas entre outras ações politicas, econômicas e sociais.

A decisão de afastar Michel Temer diante de gravações difíceis de refutar já foi tomada pelas classes hegemônicas, como revela o editorial de primeira página do Jornal O Globo e, portanto, do sistema Globo de Comunicação, que e seguido pelo restante da imprensa tradicional.

A posição do jornal de circulação nacional Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo, refletem ainda certa ausência de consenso, porém nada significam em termos de impacto diante do poder da Rede Globo.

Não foi ainda decidido pelas classes hegemônicas o método de afastamento e substituição de Michel Temer, se por:

– renúncia;

– decisão do TSE sobre a chapa Dilma/Temer;

– processo que circula no STF.

Para as classes hegemônicas ou dominantes, a questão política essencial é evitar as eleições diretas antecipadas. Assim:

– o processo no STF seria muito longo, e permitiria a mobilização popular não aceita pelas classes brasileiras dominantes;

– a decisão do TSE levaria a eleições diretas, sobre o que há dúvidas quanto aos resultados;

– a solução mais viável e em tempo mais útil seria negociar com Temer sua renúncia, a “recompensa” pelos serviços prestados a classe dominante e sua imunidade politica e jurídica.

Também não foi ainda resolvida a questão do sucessor de Temer, mas o PSDB se prepara para assumir o poder e o PMDB resiste.

Nas eleições indiretas os mais prováveis candidatos seriam Tasso Jereissati, pelo PSDB, e Nelson Jobim, pelo PMDB ou Cesar Maia pelo DEM.

Os objetivos estratégicos das classes hegemônicas, que orientam e controlam seus “funcionários” no sistema político, continuam a ser os mesmos do Consenso de Washington:

– acelerar a aprovação das “reformas” ultra neoliberais;

– desmoralizar Lula, o PT e partidos progressistas ou populares;

– “construir”  um candidato “gestor”, apolítico, como João Doria, para a eleição de 2018.

 A operação da PGR/PF serviu para afastar mais um candidato “político” como Aécio Neves, pois Serra já está na prática afastado e Alckmin será “afastado” por Doria.

Estas classes hegemônicas contam que mesmo com a vitória de Lula em eleições diretas, este se encontrará manietado pela EC95 e alterações constitucionais.

Quanto mais cedo Michel Temer deixar o poder, pior será para a oposição, pois sua saída acelerará a aprovação das “reformas” na constituição federal.

O que interessa agora é retardar a saída de Temer, enfraquecendo-o, e dificultar e adiar o quanto for possível a aprovação das “reformas”.

A luta pelas Diretas Já é fundamental para mobilizar a militância e conscientizar a população dos efeitos dessas “reformas” nas questões sociais, trabalhistas e financeiras.

REALISMO: a queda imediata de Temer atende aos interesses das classes hegemônicas, assim como ocorreu com o afastamento de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara no inicio de 2017.

* Samuel Pinheiro Guimarães, embaixador aposentado. Secretário-Geral do Itamaraty de 2003 a 2009. Ministro para Assuntos Estratégicos de 2009 a 2010.
quarta-feira, 24 de maio de 2017
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