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5.09.2016

Ao legalizar o aborto, vai ser diminuído o número de mortes

  • "O aborto só é proibido para quem não tem dinheiro"

  • Além de ser a quinta maior causa de mortes maternas no Brasil, o despreparo de equipes médicas aumenta a violência contra as mulheres
  • A maternidade é um processo social e afetivo, para além de biológico, que envolve questões como o desejo de ser mãe
 por Ingrid Matuoka para revista Carta Capital - Sociedade e Direitos da Mulher (fonte no final)
Fernando Frazão/Agência Brasil
ProtestoMulheres protestam no Rio de Janeiro pela legalização do aborto
Uma mulher chegou ao Hospital Geral do Grajaú, em São Paulo, com sangramento vaginal. Ela teria relatado a uma médica que o sangramento decorria do uso, uma semana antes, de uma medicação abortiva. A médica internou a mulher e, em seguida, denunciou-a à polícia.
Enquanto estava no hospital, a paciente teve sua casa revistada por policiais militares e peritos, sem mandado judicial. Eles apreenderam um balde, papéis e pedaços de tecidos com sinais de sangue.
Não houve apreensão de feto ou de medicação abortiva, nem mesmo uma biópsia do que a médica teria identificado como uma placenta por meio de um exame de toque.
Ainda assim, a paciente foi denunciada com base no artigo 124 do Código Penal, que prevê pena de reclusão de um a três anos a quem provocar aborto ilegalmente.
Este é o relato presente no recurso apresentado pela Defensoria Pública ao Supremo Tribunal Federal em 2015, em que também consta que, devido a um incêndio no hospital, não foi possível obter o prontuário da paciente. No recurso, a Defensoria argumenta que houve violação ao direito à intimidade e do domicílio, bem como a inadmissibilidade das provas ilícitas.
Esta é apenas uma das histórias de milhares de mulheres que, se não foram denunciadas à polícia, sofreram também violências físicas, emocionais e psicológicas por parte de membros da equipe médica.
Em 2013, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, realizou um levantamento sobre o aborto no Brasil. A pesquisa revelou que mais de 8,7 milhões de brasileiras com idade entre 18 e 49 anos já fizeram ao menos um aborto na vida, sendo que, destes, ao mínimo 1,1 milhão de abortos foram provocados. Devido à criminalização da prática, o IBGE estima que os dados estão ainda aquém da realidade.
A advogada Gabriela Ferraz, do CLADEM, uma organização que articula pessoas e organizações feministas na América Latina, fez um levantamento em conjunto com os distritos policiais de São Paulo. Buscando por mulheres presas pelo crime 124, encontraram boletins de ocorrência narrando a situação em que a mulher foi encontrada no hospital.
Nestes relatórios, duas situações eram comuns: o socorro era prestado, mas alguém do corpo médico acionava a polícia ou, assim que diagnosticado o motivo que levou a mulher ao hospital, o atendimento se tornava lento e hostil.
“Vimos horas de espera em corredores, atendimento não adequado e violência psicológica de médicos e enfermeiras dizendo ‘você que provocou isso, agora vai pagar, vai ter que sofrer, vai ter que sangrar’”, relata.
Gabriela compilou, entre janeiro e outubro de 2014, 111 inquéritos abertos pelo crime 124. “Esse número é muito volátil porque elas vão presas, mas costumam responder em liberdade. Além da violência, isso traz muitas consequências práticas, como não poder sair do país, fazer empréstimos ou prestar concurso”.
Para ela, o problema estrutural é uma das causas dessa violência e, ao mesmo tempo, um dos motivos que levam mais mulheres a realizar o aborto clandestino. “Em 2013, de todos os hospitais do Brasil, apenas 66 tinham serviço de aborto seguro. Isso mostra o nível de despreparo do país”.
Além dessas questões práticas, segundo Gabriela, há ainda um motivo de ordem moral: “as pessoas confundem algumas questões de esfera pública com privada, e morais com as profissionais, sendo que a mulher foi ao serviço de saúde para receber um direito constitucionalmente garantido e livre”.
Em um país majoritariamente católico, a noção de pecado em relação ao aborto ainda é muito forte e, aliada à proibição pela Constituição, reforça a carga negativa em torno do aborto. Essa é a avaliação de Rosângela Talib, coordenadora do Católicas Pelo Direito de Decidir, que percebe uma contradição na sociedade.
“Em todas as palestras que dou, pergunto quem conhece alguém que já fez um aborto. Cerca de 70% da plateia sempre erguem a mão. Ainda assim, os valores religiosos estão muito disseminados e embasam as ações preconceituosas, mesmo em casos previstos em lei”, diz.
Ato pela legalização do abortoAborto clandestino é a 5ª maior causa de mortalidade materna no país (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Talib explica que, para o Magistério da Igreja Católica, em questões morais difíceis de decidir, deve-se recorrer à consciência, porque há o livre-arbítrio para isso: “Falando do modo cristão, devemos dar apoio e ter compaixão por essas pessoas, elas não podem ser julgadas por nós”.
Ela também lembra que a maternidade é um processo social e afetivo, para além de biológico, que envolve questões como o desejo de ser mãe, estar no momento adequado para isso, avaliar se tem condições de manter essa criança e cuidar de seu desenvolvimento.
“As mulheres não fazem aborto como quem vai ao cabeleireiro, é sempre uma decisão muito pensada e difícil porque tem um peso emocional, porque sabem que estão colocando em risco sua vida, que elas podem ter sequelas gravíssimas. Do jeito que falam, parece que se legalizarem elas vão fazer fila na porta do hospital, mas nenhuma mulher gostaria de passar por isso, não é agradável”, diz Talib.
A defensora pública Ana Rita Souza Prata afirmou que a Defensoria procura informar às mulheres seu direito a um atendimento humanizado, sigiloso e sem julgamentos, independentemente da natureza do aborto. Além disso, prestam auxílio jurídico a essas mulheres.
“Nesse caso que levamos ao STF também questionamos a legalidade da denúncia por parte de um médico, já que o desrespeito ao sigilo é quebra de dever ético. Esse também é o entendimento do Conselho de Medicina”.
Para sua proteção, um profissional da saúde tem direito de acusar objeção de consciência quando sente que não tem confiança adequada para prestar assistência. “O médico tem esse direito de resguardo, mas ele deve passar o atendimento a outro colega que vá atender o paciente, não pode negar atendimento simplesmente”, lembra Gabriela.

Denúncia fere Constituição e código de ética médica

Ao acionar a polícia, um profissional fere o princípio de igualdade da Constituição Federal, além do código de ética médica em duas instâncias: o sigilo médico e ao fornecer informações do prontuário médico à Justiça.
“Mesmo em caso de processo judicial aberto, o médico não pode fornecer informações à Justiça. Um profissional que atua em desrespeito com seu código de ética está sujeito a processo disciplinar e a ser cassado e não poder mais atuar”, diz a advogada do CLADEM.
Ana Prata afirma que descriminalizar o aborto vai inicialmente permitir que as mulheres que desejam abortar o façam de forma segura, em locais especializados, evitando, assim, atendimentos de emergência após o aborto inseguro. “Esse tipo de aborto gera um dos maiores gastos do SUS em procedimentos e internações feitos para tratar suas complicações e é quinta maior causa de morte materna em nosso país”.
O Uruguai, onde o aborto foi legalizado em 2012, é exemplo de redução de mortes. Em 2015, o Ministério da Saúde divulgou em seu relatório informações sobre a prática do aborto em 2014: 6.676 interrupções e nenhuma morte. A única morte registrada em decorrência de aborto foi praticada clandestinamente. Em 50 casos, 0,007% do total, houve complicações leves.
Outra informação presente no relatório mostra que cresceu em 30% o número de mulheres que desistiram de interromper a gravidez após o início do processo de aborto legal, dentre os motivos, pelo trabalho da equipe multidisciplinar que atende as pacientes. Antes de decidir sobre a interrupção, as mulheres conversam com um ginecologista, psicólogo e assistente social.
“A proibição só acontece para uma parte das mulheres: negras e pobres. Legalizar o aborto vai reduzir o número de mortes, principalmente dessas mulheres, porque o aborto só é proibido para quem não tem dinheiro”, afirma Gabriela.
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-aborto-so-e-proibido-para-quem-nao-tem-dinheiro

Uma das primerias derrotas dos gigantes UBER e LYFT

  • EUA: Uber e Lyft perdem votação sobre verificação de digitais

    • A votação em Austin marcou a primeira vez que uma grande cidade dos EUA colocou regulações municipais sob votação dos cidadãos


Por Redação, com Reuters – de Austin, EUA:
As empresas de aplicativos de transporte urbano Uber e Lyft sofreram uma embaraçosa derrota no último sábado na capital do Estado norte-americano do Texas, Austin, depois que eleitores apoiaram medida que exige verificação de antecedentes das impressões digitais dos motoristas.
As duas companhias gastaram mais de US$ 8 milhões para evitar a aprovação de uma legislação que obriga a verificação de antecedentes criminais via impressão digital. Os recursos foram aplicados em uma campanha contra a medida, mas os eleitores deciditam contra as empresas por uma margem de 56%  a 44 %.
As duas companhias gastaram mais de US$ 8 milhões para evitar a aprovação de uma legislação que obriga a verificação de antecedentes criminais via impressão digitalAs duas companhias gastaram mais de US$ 8 milhões para evitar a aprovação de uma legislação que obriga a verificação de antecedentes criminais via impressão digital
– Decepção não é suficiente nem para começar a descrever como nos sentimos sobre o encerramento de operações em Austin – disse o diretor-geral do Uber na capital texana, Chris Nakutis, em comunicado.
– Infelizmente, as regras aprovadas pela Câmara da cidade não permitem a operação de aplicativos de transporte – disse a Lyft, acrescentando que suspendeu operações em Austin a partir desta segunda-feira.
A perda pode se espalhar para outras cidades dos EUA que estão interessadas na verificação dos antecedentes dos motoristas via impressão digital, afirmam analistas.
A votação em Austin marcou a primeira vez que uma grande cidade dos EUA colocou regulações municipais sob votação dos cidadãos.

Facebook

O Facebook perdeu a primeira rodada de uma batalha judicial contra alguns de seus usuários que processaram a companhia, acusando-a de coletar e armazenar “ilegalmente” dados biométricos de usuários obtidos a partir de seus rostos em fotografias.
O juiz responsável pelo caso em um tribunal federal na Califórnia, Estados Unidos, recusou na quinta-feira uma moção do Facebook pedindo a rejeição do caso.
O Facebook entrou com a moção argumentando que usuários não podem entrar com uma queixa com base na lei de Illinois sobre privacidade de informações biométricas (BIPA, na sigla em inglês), já que concordaram nos termos do usuário que a lei da Califórnia regularia suas disputas com a companhia, e que a legislação de Illinois sobre informações biométricas não se aplica às “sugestões de marcação”.
O Facebook entrou com a moção argumentando que usuários não podem entrar com uma queixa com base na lei de Illinois sobre privacidade de informações biométricas (BIPA, na sigla em inglês), já que concordaram nos termos do usuário que a lei da Califórnia regularia suas disputas com a companhia, e que a legislação de Illinois sobre informações biométricas não se aplica às “sugestões de marcação”.
O tribunal disse que a lei de Illinois é aplicável e que os querelantes entraram com a queixa sob a proteção da BIPA.
Os usuários alegaram que o recurso de reconhecimento facial do Facebook que sugere marcações em fotos coleta e armazena ilegalmente dados biométricos, violando o BIPA de Illinois.
O caso vem de alguns moradores de Illinois sob a lei de Illinois, mas as partes concordaram em transferir o caso para o tribunal da Califórnia, mostrou documento judicial.
O Facebook também foi alvo de um processo judicial sobre seu plano de emitir novas ações no mês passado.
http://www.correiodobrasil.com.br/eua-uber-e-lyft-perdem-votacao-sobre-verificacao-de-digitais/


Planeta dá sinais de mudanças climáticas

  • Cinco das Ilhas Salomão já desapareceram, diz estudo
  • As Ilhas Salomão, que têm uma população total de cerca de 600 mil, também foram palco de outro fenômeno natural

Portal Terra para jornal JB. Sociedade e Clima (fonte no final do texto)
Um estudo australiano registra que cinco ilhas do país insular Ilhas Salomão desapareceram e outras seis sofreram graves erosões devido à subida do nível do mar. Os cientistas responsáveis acreditam que as informações do relatório podem ajudar em futuras pesquisas sobre os efeitos do aumento do nível do mar.
"Pelo menos 11 ilhas do norte do arquipélago das Ilhas Salomão ou desapareceram completamente durante as últimas décadas ou estão atualmente sofrendo graves erosões", diz o texto, publicado na revista científica Environmental Research Letters.
Os pesquisadores analisaram imagens aéreas e de satélite de 33 ilhas, feitas entre 1947 e 2014, além de entrevistar residentes. As cinco formações que desapareceram eram todas ilhas de recifes de tamanho significativo e com vegetação. Embora não fossem povoadas, eram ocasionalmente usadas pelos pescadores.
O estudo também indica que dez casas foram arrastadas para o mar, entre 2011 e 2014, numa das outras seis ilhas de recifes que sofreram danos pela severa erosão resultante da subida do nível do mar. Além disso, as linhas costeiras recuaram em duas localidades, forçando comunidades, estabelecidas no mínimo desde 1935, a se mudarem.
Lições sobre a mudança climática
O principal autor do estudo, Simon Albert, comentou à agência de notícias AFP que o aumento do nível do mar nas Ilhas Salomão é quase três vezes superior à média global, tornando o arquipélago um lugar ideal para estudar o fenômeno.
Entre outros aspectos, o relatório estabeleceu uma conexão entre o aumento do nível do mar e a ocorrência de ondas maiores e, portanto, mais perigosas. A informação pode ser útil para futuros projetos científicos, afirma Albert.
Além dos desalojamentos mencionados, Taro, na província de Choiseul, deverá ser a primeira capital provincial do mundo forçada a realocar seus residentes e serviços para outras áreas, em consequência da subida das águas.
As Ilhas Salomão, que têm uma população total de cerca de 600 mil, também foram palco de outro fenômeno natural resultante da mudança climática em 2014: o Centro para Pesquisa de Epidemiologia de Desastres, sediado na Bélgica, classificou as inundações provocadas pelo ciclone tropical Ida como o desastre isolado mais mortal daquele ano.
Além das 21 vítimas imediatas das inundações, a maioria crianças com menos de 14 anos, outras dez crianças morreram nos dias seguintes, de diarreia e complicações relacionadas ao desastre natural. Nos meses seguintes, milhares de outros habitantes, sobretudo crianças menores de cinco anos, apresentaram gripe ou diarreia.
http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2016/05/08/cinco-das-ilhas-salomao-ja-desapareceram-diz-estudo/