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3.31.2017

10 grandes multinacionais controlam infinidade de produtos no Brasil

Dez empresas são donas de quase tudo o que você consome; saiba quais são no infográfico


Divulgação dos dados veio no âmbito da campanha “Behind the Brands”, que monitora a atuação das marcas em relação à atuação nas áreas de transparência, respeito a mulheres, produtores e trabalhadores, terreno de plantio, controle do uso da água e clima
As empresas são Nestlé, PepsiCo, Coca-Cola, Unilever, Danone, General Mills, Kellogg's, Mars, Associated British Foods e Mondelez; todas elas têm operações no Brasil, com diferentes produtos.
A divulgação dos dados veio no âmbito da campanha “Behind the Brands”, que monitora a atuação das marcas em relação à atuação nas áreas de transparência, respeito a mulheres, produtores e trabalhadores, terreno de plantio, controle do uso da água e clima. A ideia, com o infográfico, é conscientizar consumidores sobre as ações das marcas que consomem.
Reprodução/Oxfam

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/geral/46814/dez+empresas+sao+donas+de+quase+tudo+o+que+voce+consome+saiba+quais+sao.shtml

3.30.2017

O país sobre uma escandalosa manipulação da mídia

A mídia manobra a indignação contra a corrupção conforme seu interesse, diz o cientista político João Feres Jr., novo colunista do site

por Sergio Lirio para Carta Capital - Sociedade e Mídia Controlada e Manipulada


Antônio Cruz/Agência Brasil
Manifestantes em Brasília a favor da Lava JatoIndignados movidos pelo controle remoto


CartaCapital: Quais mudanças o senhor você percebe no comportamento da mídia quando se comparam os governos Dilma Rousseff e Michel Temer?
João Feres Jr.: A diferença é brutal e também imoral e antiética da perspectiva das práticas jornalísticas. No Manchetômetro, analisamos as coberturas da Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal Nacional. Só para citarmos um exemplo recente: Quando se toma a cobertura agregada do governo federal desses quatro meios do governo federal, ela despencou de 400 matérias negativas em março e abril de 2016 para 200 em maio, isto é, exatamente no mês em que Dilma Rousseff foi afastada. Ou seja, caiu pela metade. E esse número continuou a diminuir no governo de Michel Temer até atingir 55 em outubro daquele ano, isso com o País em plena crise econômica e com alto grau de conflito político. Esses dados mostram que a chamada grande mídia brasileira tem lado e toma partido de maneira sistemática e reiterada. Basta computar o que publicam. É isso que fazemos no Manchetômetro.
CC: Só?
JFJ: Não. Ao se considerar os textos neutros e favoráveis, sob Dilma o padrão era esses meios publicarem de duas a três vezes mais matérias contrárias ao governo do que neutras, e quase nenhuma favorável. Bastou Temer ser alçado à presidência interina para o número de neutras empatar com aquele de contrárias já em maio e o ultrapassar com larga margem em julho. Não bastasse, o número de favoráveis empatou e até ultrapassou o de contrárias, algo inédito na série histórica da cobertura desde que o Manchetômetro passou a analisa-la, no início de 2014. O número de favoráveis, seja para políticos, partidos ou instituições, é geralmente pequeno e muito inferior ao de contrárias e neutras. Em suma, sofremos, no passado e no presente, uma escandalosa manipulação midiática.
CC: É possível identificar o uso da "pós-verdade", para citar o termo consagrado pela Universidade de Oxford, no Brasil?
JFJ: No Manchetômetro não fazemos checagem de fatos noticiados, assim não dá para estabelecer a veracidade do que é publicado pela mídia. É possível, contudo, captar outras estratégias jornalísticas com efeitos manipulativos similares à “pós-verdade”, como o agendamento e o enquadramento das matérias. O agendamento é a prática de escolha dos temas a serem noticiados. Muitas notícias favoráveis no âmbito da economia e da política durante os governos de Dilma foram, por exemplo, excluídas ou subnoticiadas, enquanto que as negativas eram superexpostas e exploradas nos detalhes. A prática de agendamento altamente enviesado contribuiu enormemente para a intensificação da crise política e para a percepção de crise econômica, a meu ver. O enquadramento é a interpretação que a notícia dá ao fato. O exemplo mais claro é o da cobertura da corrupção, sempre a jogar a responsabilidade no colo do PT. É também impossível compreender o surgimento do antipetismo hidrófobo de massas sem a contribuição do enquadramento que a grande mídia tem feito da corrupção política no País.

feres.jpgFeres Jr., novo colunista
CC: Tenta-se criar um clima de otimismo em relação à economia. A mídia, que alimentou a desconfiança durante o governo Dilma, seria capaz por si só de injetar euforia na população?
JFJ: Estou escrevendo um artigo acadêmico examinando o possível efeito da cobertura de mídia da economia na percepção do estado da economia pela população. Os economistas neoliberais pregam que as expectativas dos agentes, particularmente aquelas dos empresários, guiam a dinâmica da economia. Acho bobagem. Muitos trabalhos mostram que a cobertura da imprensa é capaz de alterar as expectativas dos agentes, mas isso não quer dizer que ela também altera significativamente as decisões que os empresários tomam. Em outras palavras, um empresário não decide investir simplesmente por ler a coluna da Míriam Leitão ou do Carlos Alberto Sardenberg, mas quando detecta crescimento efetivo da demanda. A percepção do estado da economia da população em geral é altamente porosa à cobertura midiática e isso pode ter efeitos políticos concretos na hora do voto, ou mesmo na falta de reação a um golpe parlamentar, como o que acabamos de sofrer.
CC: Por que as denúncias de corrupção não causam mais a indignação de quem saiu às ruas a favor do impeachment de Dilma Rousseff?
JFJ: Aí está a evidência sólida de que a mídia é em boa medida responsável por instilar e ao mesmo tempo construir narrativamente a indignação popular contra a corrupção. Quando ela não está a soprar as brasas dos movimentos anticorrupção, seus simpatizantes não vão às ruas. A mídia brasileira tem feito uma campanha incansável de reduzir a política à questão da corrupção desde pelo menos o mensalão. A cobertura ataca as instituições que trazem a marca do voto, Executivo e Legislativo, com forte viés contra o PT. A não ser os corruptos, todo mundo é contra a corrupção. Mas essa campanha fez com que muita gente passasse a ver o PT como a encarnação da corrupção. Conseguiram seu primeiro objetivo, o impeachment de Dilma, mas o custo foi muito alto: a desmoralização e desvalorização da democracia representativa brasileira.
CC: O que esperar dos próximos meses? O governo Temer conseguirá chegar até as eleições de 2018? Teremos eleições em 2018?
JFJ: Perguntas difíceis. Acho que o segundo objetivo da mídia é cassar os direitos políticos de Lula e contra ele e sua família movem uma campanha solerte e incansável, que novamente viola todas as práticas do bom jornalismo. Por outro lado, Temer tem se mostrado extremamente muito incapaz na comunicação com o público, mas hábil na condução de sua base de apoio parlamentar. Como sua agenda de reformas é extremamente impopular, quanto mais nos aproximamos das eleições de 2018, mais os deputados e senadores que o apoiam vão ter dificuldade de justificar esse apoio para suas bases. O mesmo para os partidos governistas. Exatamente por isso, há pressa em aprovar as reformas, pois o calendário eleitoral é implacável. A não ser que deem um golpe institucional e alterem o sistema político ou o sistema eleitoral de maneira a diminuir a influência do voto popular, e é isso o que está em curso exatamente nesse momento com toda essa conversa de reforma política.
"A receita fiscalista de Temer para debelar a crise nunca funcionou em nenhum país do mundo"
CC: A penúria dos estados e municípios provoca greves, tumultos e violência. Há riscos de uma convulsão social com o agravamento da crise econômica?
JFJ: Não gosto de fazer previsões. Sempre há esse risco, mas também acho que a mídia é totalmente “vendida” à causa do neoliberalismo e tradicionalmente avessa a movimentos sociais e manifestações populares, com exceção de junho de 2013, quando de repente sacou a sua utilidade contra Dilma e o PT. A receita fiscalista de Temer para debelar a crise econômica nunca funcionou em nenhum país do mundo e não é agora, aqui, que vai funcionar. Mas isso não quer dizer necessariamente que o povo vá se insurgir contra seu governo nas ruas.
CC: Por que Temer, um dos líderes do PMDB, faz um governo tucano? Ou melhor, por que o PMDB, partido capilar, decentralizado, que tradicionalmente depende muito da máquina administrativa dos governos, e, portanto, do vigor do gasto público, agora apoia uma política de redução brutal desse gasto?
JFJ: Isso vai contra os interesses de sua imensa base de vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores e mesmo de deputados federais. Hoje as propagandas do partido se dedicam a atacar o PT e a defender políticas neoliberais. Não tenho resposta para essas questões, mas desconfio que o aspecto vampiresco do presidente não seja somente uma galhofa, mas tenha um sentido metafórico mais profundo. Os pemedebistas estão se transformando em mortos vivos, e servindo a um senhor que é em tudo, menos na aparência mais externa, um tucano.
https://www.cartacapital.com.br/politica/sofremos-uma-escandalosa-manipulacao-midiatica

3.29.2017

O pragmatismo capitalista masoquista, a esquerda e a carne

Deve existir um plano genial por trás disso tudo, uma lógica. Ah, rá, aqui está: encontramos uma brecha na tramoia golpista! Esses pit bulls do aparato judicial-policial não imaginam a besteira que fizeram. Agora o agronegócio, ferido gravemente pelo denuncismo irresponsável, vem pro nosso lado e… crau! Fora Temer, acabou o golpe, diretas-já, quem sabe até uma Constituinte…Nem na República da Bananeiras isso poderia ocorrer...

por Igor Fuser para o site Outras Palavras - Sociedade e Contrariedades do Pensamento Popular


Como muitos sabem, os gigantes do oligopólio da carne, como a Friboi e a Brasil Foods, dona das marcas Sadia e Perdigão, entre outros foram denunciados por subornar fiscais da vigilância sanitária a fim de ocultar práticas ilegais que põem em risco a saúde dos consumidores. (Segundo o site Sensacionalista, a carne da Friboi tinha até pelos do ator Tony Ramos…)
Diante do escândalo, qual é a reação de boa parte da esquerda?


Um militante mostra-se, numa rede social, preocupado com “a dissolução das forças produtivas”. Outros autores de posts e artigos, de variadas tendências políticas, denunciam, sem provas (e em alguns casos, nem mesmo a convicção), uma suposta conspiração imperialista para quebrar o capitalismo brasileiro.
Outros, mais cautelosos, se inquietam com a perda de mercados da pecuária brasileira na Europa e em outras regiões, com o avanço da concorrência e com as decisões de autoridades estrangeiras limitando as exportações brasileiras de carnes.
Não falta também quem reproduza, nos nossos espaços virtuais alternativos, o eterno argumento da direita de que o agronegócio é quem sustenta a economia brasileira, gerando divisas para o país com os seus negócios no exterior.
Nenhuma dessas ponderações é absurda, e a maioria dos que se manifestam nessa linha se situam no campo da defesa da soberania nacional e do desenvolvimento do nosso país.
Mas… peraí, não somos nós os que sempre afirmamos, desde os nossos tempos de movimento estudantil secundarista, que o latifúndio (atual agronegócio) é um inimigo do povo brasileiro? Não somos nós que nos revoltamos e indignamos sempre que trabalhadores do campo são perseguidos, agredidos, caluniados, presos e (como acontece frequentemente, ainda hoje) até assassinados, por lutarem pela reforma agrária?
Quem, senão nós, intelectuais de esquerda, temos denunciado, até perder a voz ou nos tornarmos chatos, o aberrante cenário da concentração das terras no país? E não é a pata do boi que está destruindo a Amazônia para fazer pastagens? Não são os grandes fazendeiros os culpados pelo genocídio dos guaranis no Centro-Oeste?
Mas, peraí de novo… Deve existir um plano genial por trás disso tudo, uma lógica. Ah, rá, aqui está: encontramos uma brecha na tramoia golpista! Esses pit bulls do aparato judicial-policial não imaginam a besteira que fizeram. Agora o agronegócio, ferido gravemente pelo denuncismo irresponsável, vem pro nosso lado e… crau! Fora Temer, acabou o golpe, diretas-já, quem sabe até uma Constituinte…
O “rei da soja” Blairo Maggi continua lá, firmão, no Ministério da Agricultura. A Globo dedicou boa parte da sua programação de domingo, dia 19 de março  em 2017, horário nobre, para convencer os consumidores de que podem comprar a sua picanha sem medo. Enquanto isso, o Michel oferecia um jantar com carnes, nobres também, para os igualmente nobres membros do corpo diplomático em Brasília e o Serraglio, ministro da justiça se divertia nas plagas brasilianas...
No Paraná, militantes do MST continuam na cadeia, como detentos comuns, pelo “crime” de lutar pela terra, enquanto a truculenta repressão policial a comunidades indígenas no mesmo Estado continua causando mortes.
Cada um desses episódios tem na sua raiz a intransigência dos fazendeiros, ainda apegados ao costume colonial de tratar a questão agrária como caso de polícia. E a propriedade (muitas vezes, obtida ilegalmente) continua a ser encarada como um bem sagrado, em desafio à Constituição que enfatiza a sua função social.
Trabalho escravo, eu ouvi trabalho escravo? Centenas de trabalhadores dos frigoríficos mutilados, todos os anos, pela rotina massacrante no corte e preparo dos frangos?
O que é isso, compadre? Deixe de lado o que diz o Sakamoto. Vamos olhar o panorama mais amplo.
Como? Repita, não ouvi bem. O quê? Você está me dizendo que as grandes empresas rurais do Brasil estão totalmente integradas nas cadeias globais de produção agrícola e pecuária? Que todo o esquema de sementes, fertilizantes, agrotóxicos, máquinas, tratores que impulsionam os recordes de produção do campo brasileiro, é tudo transnacional? Que a Friboi anunciou no ano passado que ia mudar a sua sede para Dublin, a capital da Irlanda, como um meio de evitar o pagamento de impostos no Brasil?
Mas que hora para lembrar disso! Você não está entendendo que as grandes companhias de capital brasileiro estão sendo perseguidas por forças (ocultas) externas? Sim, as grandes empresas em geral, não é só a Odebrecht, as empreiteiras. Querem acabar com tudo. Sim, até com os amigos deles, os sócios, os capitalistas brasileiros que sempre apoiam tudo o que vem de fora, que adoram Miami.
Alguns estão a favor do apoio – tático, momentâneo, limitado – aos grandes frigoríficos, pecuaristas e oligopólios das carnes de ave e suíno, diante dessa ofensiva contra as nossas sagradas forças produtivas nacionais.
Vamos obter algum saldo político, conquistar aliados preciosos, furar o cerco neoliberal e autoritário, avançar na nossa luta contra o retrocesso.
Não? Tudo vai continuar igual, o Lula ainda poderá ser impedido de se candidatar em 2018? E não ganhamos o apoio de nenhuma dessas empresas? Nada? E a previdência?


O artigo integral ver em: http://outraspalavras.net/brasil/a-esquerda-a-carne-e-o-pragmatismo-masoquista/ 

Quem tem medo do projeto contra abuso de autoridades no Brasil?

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o procurador geral da República Janot quer retirar da proposta a punição a juízes e promotores, o que poderia descaracterizar o texto, já que eles não poderiam ser criminalizados ou podem ser considerados acima da constituição federal

Para senador Humberto Costa, relatório do senador Roberto Requião é equilibrado e resistência ao projeto “parte de setores que querem a brecha para cometer ilegalidades em nome de combater a corrupção"

por Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual - Sociedade e Espetáculo das Autoridades Brasileiras 


Foto de Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Polícia FederalDefensores do relatório de Requião miram, por exemplo, ações midiáticas e espetaculosas da Polícia Federal
São Paulo – O Projeto de Lei do Senado (PLS 280/2016), que define crimes de abuso de autoridade, de autoria do ex-presidente da casa Renan Calheiros (PMDB-AL) e relatado por Roberto Requião (PMDB-PR), está na pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania desta quarta-feira (29). O texto define os crimes de abuso de autoridade cometidos por “membros de Poder”, como juízes e promotores.
Alguns senadores veem o projeto como inoportuno num momento em que pode parecer uma tentativa de frear a Operação Lava Jato. Para outros, a proposta é necessária justamente pela ameaça às liberdades individuais por operações como Lava Jato e Carne Fraca. Humberto Costa (PT-PE) está entre esses e apoia o relatório de Requião.
“O projeto está bem equilibrado, não comete nenhuma agressão à Constituição ou às prerrogativas do Judiciário ou do Ministério Público. É necessário”, diz o petista. Para ele, a resistência contra o projeto “parte de alguns setores que querem ter a brecha para exatamente cometer ilegalidades em nome de combater a corrupção e fazer justiça.”
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) é um dos ferozes opositores da proposta. Ele tem afirmado que o PLS 280 ameaça a Lava Jato e significa “afastar engravatados das algemas”. O parlamentar defende que, no momento, a prioridade do Senado deve ser o projeto que prevê o fim da prerrogativa de foro privilegiado, relatado por ele mesmo.
Para Humberto Costa, o argumento de que o projeto vai favorecer políticos que “querem fugir da Lava Jato” é o de “gente que fica verbalizando o que o Ministério Público quer”. “Não posso concordar com isso. O projeto vale principalmente para as pessoas mais pobres e humildes que têm que encarar a polícia invadindo sua casa sem autorização judicial, cometendo violência”, afirma.
No entanto, afirma o petista, o projeto é necessário para coibir abusos de operações que misturam o jurídico com a política. “Vale também para esses casos. O que foi feito com Lula foi uma ação política. O presidente nunca se recusou a depor. Contra ele e outros foram feitos atos de condução coercitiva totalmente desnecessários, contra a lei. Ninguém pode ser mais do que a lei. Quem executa o  cumprimento da lei também tem que cumprir a lei.”
O PLS 280 prevê, por exemplo, detenção de um a quatro anos à autoridade que "decretar condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo".
Para o senador João Capiberibe (PSB-AP), “do jeito que o projeto está é impossível”. “A proposta pune por qualquer erro ou equívoco cometido por autoridade pública. Falha, equívoco ou erro é inerente à condição humana”, afirma.
“O projeto não deveria nem ser discutido nesse momento, porque estamos no auge das investigações e pode parecer, e é, uma tentativa de inibir a ação das autoridades investigadoras. O que deveria ser votado é o fim do foro privilegiado”, defende o senador do Amapá.” Na opinião de Costa, as duas matéria podem ser votadas. “Elas não se excluem”, diz o petista.
Na defesa do projeto, Requião disse à Rádio Senado, na sexta-feira (24), que “não tem nada a ver com a operação Lava Jato”. “É um projeto em defesa da população, desprotegida, mais pobre, sem influência política, de abusos que podem vir do guarda da esquina, do fiscal da receita municipal, estadual ou federal, de parlamentares, juízes, promotores, ministros ou autoridades policiais.”
A garantia legal da proposta, disse Requião, é que, pelo relatório, a questão será sempre julgada por um juiz. “Quem está se opondo tem medo de juiz.”
Sobre a afirmação do senador da Rede de que a proposta vai possibilitar “afastar engravatados das algemas”, Requião declarou que “é um absurdo”. “O que o Randolfe está tentando dizer é que ele defende o abuso, que o juiz se sobreponha ao direito.”
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, obviamente também está demonstrando grande interesse no debate do projeto. Tanto que, nesta terça-feira (28), se reuniu com Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente, para discutir o assunto. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Janot quer retirar da proposta a punição a juízes e promotores, o que poderia descaracterizar o texto, já que eles não poderiam ser criminalizados.
O presidente da CCJ, Edison Lobão (PMDB-MA), defende que o PLS 280 seja votado já em abril. O mais recente “gancho” para a retomada da urgência da proposta foi a deflagração da Operação Carne Fraca, em 17/março/2017.
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2017/03/ccj-do-senado-debate-projeto-que-coibe-abuso-de-autoridade-nesta-quarta



3.27.2017

Redes Sociais: síndrome da solidão, por excesso de permanência

Passar mais de duas horas por dia ligado nas redes sociais está associado a um risco bem mais importante de se sentir só, segundo resultados de um estudo que acaba de ser publicado.

por Cécile Thibert do Le Figaro Santé para Brasil 24/7 - Sociedade e Uso da Redes Sociais

 (photo: )

Bem ao contrário do que seu nome indica, as redes sociais são para muitos... dessocializantes! Segundo um estudo conduzido por pesquisadores da faculdade de medicina de Pittsburg, nos Estados Unidos, mais os jovens adultos consagram tempo às redes sociais, mais eles desenvolvem um sentimento de solidão. Pior ainda: a frequência das conexões é proporcionalmente ligada a esse sentimento negativo.
Tais resultados, publicados há poucos dias na revista American Journal of Preventive Medicine, sugerem que as redes sociais não constituem em absoluto uma panaceia para reduzir o sentimento de solidão. “É importante estudar esse fenômeno pois os problemas de saúde mental e de isolamento chegam a um nível epidêmico entre os jovens adultos”, afirma o professor Brian Primack, mestre em medicina e principal autor do estudo. “Somos seres sociais, mas a vida moderna tende a nos compartimentar em vez de nos reunir. Embora as redes sociais pareçam, à primeira vista, oferecer oportunidades para preencher o vazio social, acredito que nosso estudo mostra claramente que elas não constituem a solução que as pessoas esperam”, completa Primack.

No máximo meia hora ao dia
Em 2014, Brian Primack e seus colegas pediram a 1787 norte-americanos com idade entre 19 a 32 anos, para que preenchessem um questionário. O objetivo era determinar a duração do tempo passado e a frequência as conexões com os 11 canais sociais mais populares( (Facebook, YouTube, Twitter, Google Plus, Instagram, Snapchat, Reddit, Tumblr, Pinterest, Vinet et Linkedin). Os cientistas, a seguir, avaliaram a sensação de isolamento dessas pessoas, com a ajuda de um outro teste.
“As pessoas utilizando as redes sociais mais de duas horas por dia tinham duas vezes mais riscos de se sentir isoladas em relação àquelas que não dedicavam mais de meia hora diária a seus contatos nas redes sociais”, relatam os autores. Os participantes que gravavam mais de 58 conexões semanais chegavam a ver esse sentimento triplicar em comparação com aqueles que se limitavam a um máximo de 9 visitas por semana.

“Ainda não sabemos se o sentimento de solidão seja preexistente ao uso intensivo das redes sociais, explica Elizabeth Miller, professora de pediatria e coautora do estudo. Ou então, é o uso repetitiva dessas plataformas virtuais que podem ter levado a uma espécie de ruptura com o mundo real, contribuindo dessa forma para aumentar o sentimento de isolamento. Pode ser também uma combinação desses dois fenômenos”. Em todo caso, os pesquisadores apontam uma realidade clara: mesmo quando o sentimento de isolamento apareceu antes, ele não foi atenuado pelo fato de a pessoa passar muito tempo navegando nessas redes.
Templo da aparência
Como explicar então que as redes sociais alimentem o sentimento de isolamento? Segundo os pesquisadores, o tempo que consagramos às redes é na verdade um tempo roubado às experiências sociais mais autênticas. Além disso, as redes sociais facilitam a aparição desse sentimentos negativos. “É o caso quando uma pessoa vê uma foto de seus amigos se divertindo numa festa ou em uma noitada para a qual a própria pessoa não foi convidada”, escrevem os autores. Nesses casos – muito mais frequentes nas redes sociais do que se pode pensar – ao sentimento de solidão soma-se o de rejeição, e sabemos que um potencializa o outro.

Enfim, as redes sociais são, por excelência, o templo da aparência e da idealização. Cada um quer mostrar o melhor da sua existência, o que pode suscitar sentimentos de inveja e a convicção falsa e deformada de que os outros têm uma vida mais feliz e mais bem sucedida.
“Não duvido, claro, que algumas pessoas podem efetivamente encontrar algum conforto e preencher as suas necessidades de sociabilidade ao  se relacionar através dessas canais”, diz o professor Primack. No entanto, os resultados desses estudos lembram claramente que, no conjunto, essa prática tende a ser associada a um incremento do sentimento de solidão, e não o contrário. E nos faz ter a certeza de que, muito melhor do que passar horas e horas surfando nas redes sociais é ir ao bar com amigos e papear ao redor de um café ou de uma cerveja.
http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/283818/S%C3%ADndrome-da-solid%C3%A3o-Por-excesso-de-perman%C3%AAncia-nas-redes-sociais.htm

3.26.2017

A terceirização da Câmara Federal de Temer aumenta a probreza no Brasil

  • A decisão da Câmara, seguindo o desejo do governo Michel Temer, vai contribuir para a estagnação do IDH e aumento vertiginoso da pobreza

  • A terceirização irrestrita consagra o desenvolvimento desumano do Brasil

por Renan Truffi para Carta Capital - Sociedade e Desigualdade na Destribuição de Renda


Paraisópolis
Do alto dos edifícios, algumas famílias abastadas contemplam o panorama de uma favela de mais de 100 mil habitantes. Em São Paulo, Paraisópolis. Paraisópolis?!
A pedido do Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi buscar um Projeto de Lei de 1998, o PL 4302, elaborado ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso e que estava parado há mais de uma década no Congresso, para colocar em votação.
Isso porque a outra proposta sobre terceirização, que havia sido aprovada em 2015 na Câmara, estava travada no Senado. Como o PL 4302 já tinha passado pelas duas Casas, bastou uma nova votação para que a proposta pudesse ser encaminhada para sanção presidencial.
A maioria dos líderes partidários não queria enfrentar o tema novamente, por causa do ônus político. No entanto, graças ao denodado empenho de Maia, o governo conseguiu acordo para o tema entrar na pauta. O placar relativamente apertado revela as dificuldades criadas pelo tema controverso: 231 votos a favor e 188 contra.
A terceirização vem para complicar ainda mais a vida de um país que pela primeira vez, desde 2004, vê seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) estagnar. O resultado do indicador precede uma nova virada na história brasileira, consolidada com a agenda Temer: a volta da visão tradicional que identifica apenas o PIB como parâmetro de crescimento e não o desenvolvimento humano. Mas esta não é preocupação para a quadrilha golpista. O retorno à escravidão é o objetivo.
Apesar de os resultados do IDH se referirem ao ano de 2015, quando a ex-presidenta Dilma Rousseff ainda estava à frente do governo, o que explica o mau desempenho do Brasil é exatamente a mesma lógica que se perpetua desde o impeachment: o arrocho fiscal.
Foi naquele ano que o ex-ministro Joaquim Levy introduziu um forte contingenciamento de recursos e reduziu a figura do Estado como indutor da economia. O número de desempregados passou de 7,2 milhões para 10 milhões, crescimento de quase 40%.
Rodrigo MaiaRodrigo Maia, o herói da última vileza (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

E é na renda, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que está a explicação para a deterioração do IDH e da qualidade de vida. O Pnud avalia dados de três áreas para calcular o desenvolvimento humano de uma nação: saúde, conhecimento e padrão de vida.
Os dois primeiros seguem registrando melhoras em seus indicadores no Brasil, mas o último tem como principal fator a Renda Nacional Bruta (RNB), que registrou queda abrupta em 2015, voltando a um patamar similar ao de 2010.
Com isso, o Brasil está paralisado na posição de 79º no ranking, com IDH de 0,745, mesmo patamar do ano anterior, 2014. Dos 188 países avaliados, ficamos ao lado de um pequeno grupo de 16 nações que também não conseguiram elevar o IDH – Equador, Iraque, Irã, Afeganistão e Líbano são alguns dos exemplos mais expressivos.
“É uma luz amarela, um alerta, algo para se olhar com atenção para saber o que precisa ser feito”, explica a coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional do Pnud, Andréa Bolzon. Enquanto 159 países conseguiam aumentar seu Índice de Desenvolvimento Humano, apenas 13 registraram queda. Muitos vivem, porém, situações de luta intestina, como Ucrânia e Líbia, o que ajuda a explicar o resultado.
Henrique Meirelles
O ministro Meirelles, homem para todas as estações, cumpre pontualmente sua missão sinistra (Foto: Lula Marques/Agência PT)

O desempenho brasileiro só não foi pior, esclarece a equipe do Pnud, por causa da rede de proteção social construída nos últimos anos. Foram programas de governo que ajudaram a segurar os índices de escolaridade e expectativa de vida, que também compõem o valor do IDH. “Não podemos nos gabar de ter um excelente piso de proteção social, mas temos um piso. Isso explica o fato de não estarmos em situação pior. A questão agora é não retroceder mais”, enfatiza Andréa.
O certo é que a recessão econômica e o desemprego já começaram a aprofundar a desigualdade. Segundo cálculos da FGV Social, Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, o Índice de Gini registrou em 2016, pela primeira vez depois de 22 anos, aumento de desigualdade no País. Esse índice varia de zero a 1, considerando que, quanto mais perto de zero, menor é a desigualdade numa sociedade avaliada. No Brasil, esse valor alcançou 0,5229 em 2016, aumento de 1,6% em relação a 2015.
Umas das explicações para esse resultado é o congelamento do valor do Bolsa Família, que ficou dois anos sem correção, enquanto a inflação atingia dois dígitos, ainda durante o governo Dilma. “Até o fim de 2016, o dado de aumento da desigualdade não dá qualquer sinal de arrefecimento”, afirma Marcelo Neri, diretor da FGV Social e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“Na recessão de 1999, foi discutido o Bolsa Escola. Na recessão de 2003, gerou-se o Bolsa Família. São recessões em que se mostrava preocupação com os mais pobres. O Brasil manteve o Bolsa Família congelado por quase dois anos, 3,6 milhões de pessoas entraram na pobreza em 2015. Isso reflete esse desajuste nesta crise, esse desaprendizado de cuidar dos pobres. Não é só uma questão de justiça social, a recessão tende a ser mais dura também quando não há preocupação com os mais pobres.”
É por isso que esse quadro tende a piorar ainda mais com as reformas do governo Temer, segundo especialistas ouvidos por CartaCapital. O peemedebista reajustou o valor do programa de transferência de renda em 12,5% assim que assumiu o Palácio do Planalto.
Depois aprovou, contudo, o congelamento dos gastos primários por 20 anos, a chamada PEC 55, que deve afetar justamente a transferência de renda e áreas cruciais para o desenvolvimento humano, como saúde e educação. 
No caso de programas como o Bolsa Família, que oferece auxílio às gestantes e controla a presença de crianças na escola, o Brasil corre o risco de ter dados sociais importantes afetados. “Estagnou o crescimento das famílias do Bolsa Família, deu até uma caída.
AndréaAndréa fala em injustiça (Foto: Saulo Cruz)

Se esse movimento for se mantendo, é possível que os indicadores de saúde e educação se alterem. Se você começa um processo pelo qual não ingressam mais pessoas no programa e você não mexe no valor do benefício, ele vai se extinguindo naturalmente”, alerta o coordenador de relações sindicais do Dieese, Fausto Augusto Júnior.
O congelamento de gastos públicos é um dos principais eixos da política econômica do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que bateu duro para que o texto fosse aprovado no Congresso. 
O Dieese apresentou um estudo no ano passado mostrando que, se a PEC 55 estivesse valendo, entre 2006 e 2015, o montante aplicado na educação, seria 55% menor do que foi de fato. Já em relação às despesas com saúde, a redução seria de 33% no mesmo período. Do ponto de vista do total de recursos, a perda na educação teria sido de 384 bilhões de reais e, na saúde, de 290 bilhões.
A própria ONU chegou a se manifestar sobre esses pontos. Em entrevista a CartaCapital em dezembro, o relator especial da Organização das Nações Unidas para a Pobreza Extrema e os Direitos Humanos, Philip Alston, foi enfático. “Nos próximos 20 anos, o governo vai gastar com políticas sociais muito menos do que gasta hoje. Isso significa que a futura geração estará condenada.”
Marcelo NeriMarcelo Neri: a desigualdade não arrefece (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Há ainda outro importante projeto do governo que pode jogar para baixo os dados sociais brasileiros: a reforma da Previdência. Mesmo evitando críticas diretas ao governo, já que a proposta ainda está em tramitação, a equipe do Pnud no Brasil apontou os trechos presentes no texto que podem criar vulnerabilidade social. Andréa Bolzon destacou, principalmente, o endurecimento das regras de acesso à aposentadoria para os trabalhadores rurais, o que classificou como “injustiça”.
Na quarta-feira 22, poucos deputados fizeram uma defesa enfática da terceirização. Coube à oposição criticar o texto. Os parlamentares sabem que a terceirização é uma demanda do empresariado e não dos trabalhadores. A proposta é vista pela equipe econômica como forma de diminuir as taxas de desemprego.
Não se sabe ainda se, de fato, isso vai fazer diferença na oferta de postos de trabalho, mas os estudos indicam que a terceirização precariza, sim, as condições de trabalho. Com dados de 2013, técnicos do Dieese mostraram que os terceirizados recebem salários 24,7% menores do que aqueles dos efetivos e permanecem no emprego pela metade do tempo, além de ter jornadas maiores. Menos renda e menos direitos para os mais vulneráveis. 
https://www.cartacapital.com.br/revista/945/a-terceirizacao-irrestrita-consagra-o-desenvolvimento-desumano-do-brasil

3.24.2017

O perigo de hoje são as autoridades brasileiras fora de controle

por Eric Nepomuceno para Brasil 24/7 - Sociedade e Poderes Sem Controle no Brasil

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Esse país está enfrentando uma crise, entre tantas crises, grave.

Estou me referindo à impunidade. Não a impunidade dos corruptos e dos corruptores, não. A impunidade talvez até mais grave, a impunidade dos que abusam, dos escândalos de abuso. A impunidade daqueles que agem sem limite, sem teto.

Por exemplo, essa operação Carne Fraca. O que que é isso? Que irresponsabilidade é essa? Como é que você joga, de repente, baseado em nada? Baseado em duas investigações locais, o resto é escuta telefônica. Escuta telefônica que é mal interpretada.

Será que na Polícia Federal só tem beócios? Trogloditas eu sei que tem. Mas será que além de trogloditas também tem só beócios? Esse delegado Grillo, ninguém para esse sujeito? Aquele que disse que o Lula ia ser preso, mas perderam o timing.

Se a gente for ver direito, esse negócio é de uma irresponsabilidade sem limites.

Agora, também nada acontece por acaso nessa vida. O golpe destruiu a Petrobrás, o golpe destruiu com o apoio da Lava Jato, da Polícia Federal e do Ministério Público a indústria da construção civil, destruiu as pesquisas nucleares do Brasil, e agora, claro, tenta destruir a indústria da carne.

A construção civil, por exemplo: agora há pouco houve uma privatização de aeroportos. Uma das empresas que ganhou – nenhuma brasileira pôde participar – uma das empresas que ganhou um aeroporto é uma alemã que está sendo processada na Alemanha. Só que lá eles fazem assim: eles processam a pessoa física, o responsável. Eles não matam a empresa.

Com esse negócio da Carne Fraca eles podem liquidar o que o Brasil levou décadas para construir, que foi se tornar o maior exportador mundial de carne. Imagina a alegria dos produtores australianos, dos produtores norte-americanos, que agora vão tomar o nosso lugar. O risco é enorme.

E aí vem o Michel Temer e fala qualquer coisa, como um tropeço. E aí vem o chanceler do Michel Temer, o Aloysio Nunes Ferreira, e fala em incidente.

Ninguém fala que na corrupção – que sim, havia – de fiscais da saúde pública, do Ministério da Agricultura no Paraná, eles continuavam agindo porque tinham DOIS padrinhos fortíssimos. Um, um tal Ricardo não sei do que, ministro da Saúde do Temer. E o outro, Osmar Serraglio, aquela figurinha que ocupa o Ministério da Justiça.

Ninguém toma providencia nenhuma, ninguém tem o controle de nada. Ninguém tem o controle, e eu não estou dizendo o controle no sentido de limitar as ações, mas limitar os abusos. Ninguém tem o controle da Polícia Federal, ninguém tem o controle se Dalagnol fala a besteira que quiser.

E quer ver outro sem controle? O ídolo da direita. Aquele provinciano juiz de primeira instância chamado Sérgio Moro.

Como se não bastasse esse camarada ter divulgado para a Rede Globo um diálogo entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, como se não bastasse esse sujeito ter ordenado uma condução coercitiva – que de fato é uma prisão, você está sendo preso por algumas horas – do Lula, ele resolveu pegar alguém menor, no sentido da dimensão política. Ele pegou um blogueiro, que eu não conheço, chamado Eduardo Guimarães.

Por que? Por que uma condução coercitiva se o cara não tinha sido intimado? Aliás, tinha sido para daqui a não sei lá quantos dias. Isso é uma vingança pessoal do Sérgio Moro, que age sem limite. Ele não é juiz julgador, ele é juiz condenador.

Ele é um abusado, é um arbitrário.

Ele diz que o Eduardo Guimarães não pode ser jornalista. Ele determina até isso agora, quem pode e quem não pode ser jornalista? Eu, por exemplo, não tenho diploma de jornalista, e tenho 52 anos de ofício.

Ele pode ser juiz? Um camarada nessas condições pode ser juiz?

Este é o perigo que pode sufocar o Brasil. A impunidade dos que agem com o poder e sem limites.

Gente como Sérgio Moro.
Eric Nepomuceno* Eric Nepomuceno é jornalista e escritor
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/ericnepomuceno/286489/O-perigo-de-hoje-s%C3%A3o-as-autoridades-fora-de-controle.htm

Leis Trabalhistas: Câmara Federal Aprova Terceirização e Ataca a CLT


  • Terceirização: confira o que muda com o projeto de lei aprovado pela Câmara


O Projeto de Lei (PL) 4.302, aprovado na última quarta-feira (22/03/2017) pela Câmara dos Deputados, que libera a terceirização para todas as atividades e regulamenta o trabalho temporário tem causado polêmicas. Comemorada, de um lado, pelo governo e por setores empresariais, que apostam na medida para aumentar a criação de emprego, a proposta é criticada pelas centrais sindicais e magistrados e especialistas em Direito do Trabalho, que afirma que as mudanças fragilizam as relações de trabalho e, portanto, impõem riscos. O texto aguarda agora sanção do presidente Michel Temer (PMDB-SP) para entrar em vigor.
Confira o que muda:
Como era
Até então, sem legislação específica sobre a terceirização, essa atividade era regulada pela Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que permitia a terceirização apenas para as chamadas atividades-meio, ou seja, funções secundárias que não estão diretamente ligadas ao objetivo principal da empresa, como serviços de limpeza e manutenção.

Como fica
As empresas poderão contratar trabalhadores terceirizados para exercer cargos na atividade-fim, que são as atividades para as quais ela foi criada. A contratação de terceirizados poderá ocorrer sem restrições, seja no setor privado, seja na administração pública. Uma escola, por exemplo, vai poder operar contratando professores de uma outra empresa, e não mais diretamente.

Trabalho temporário
Pelas regras atuais, o trabalhador só pode ser contratado temporariamente por até três meses (90 dias). Com a proposta aprovada, o prazo para contratação passou para 6 meses, prorrogáveis por mais 90 dias. Esse limite pode ser estendido, ainda, por meio de acordo ou convenção coletiva de trabalho.
O trabalhador temporário poderá ser demitido a qualquer momento, e não tem direito à multa de 40% sobre o FGTS em caso de demissão sem justa causa. Quem tiver cumprido todo o período do contrato temporário (incluindo a prorrogação) só poderá ser admitido novamente pela mesma empresa contratante após 90 dias do fim do contrato.

Direitos
Ao trabalhador terceirizado é garantido os mesmos direitos dos empregados previstos na CLT e na Constituição Federal. Muda, contudo, a responsabilização das empresas sobre esses direitos.

Responsabilização das empresas
O texto aprovado prevê a responsabilização subsidiária, que define que o trabalhador terceirizado só poderá cobrar na Justiça por direitos trabalhistas da empresa contratante quando a terceirizada não tiver dinheiro ou bens para arcar com o pagamento da rescisão.
Essa decisão é um retrocesso em relação ao PL 4.330 (já aprovado na Câmara e em tramitação no Senado, como PLC 30) que prevê a responsabilização solidária, quando o trabalhador poderia demandar na Justiça ambas as empresas, a contratada e a contratante.

Terceirizados substituindo trabalhadores em greve
O projeto aprovado prevê que trabalhadores temporários poderão substituir empregados de serviços essenciais que estejam em greve ou quando a paralisação for julgada abusiva.

Convenções
Direitos não previstos em lei, como vale-refeição, assistência-médica e odontológica, que são definidos em convenção coletiva de cada categoria profissional, não valerão para os terceirizados.

Quarteirização
A empresa de terceirização terá autorização para subcontratar outras empresas para realizar serviços de contratação, remuneração e direção do trabalho, prática que é chamada de “quarteirização”.
http://www.sul21.com.br/jornal/terceirizacao-confira-o-que-muda-com-o-projeto-de-lei-aprovado-pela-camara/

Previdência: Governo terá que explicar a juiz o enexplicável

  •     Há anos, vários especialistas vêm afirmando que o déficit da Previdência Social é uma farsa. As receitas superam as despesas, mesmo com em momentos de crise, como...
  • Déficit da Previdência: Temer tem 15 dias para explicar o inexplicável

por Cesar Locatelli no site Jornalistas Livres - Sociedade e Destruição dos Direitos Sociais no Brasil


O governo, apoiado por empresários e muitos economistas neoliberais, têm insistido no contrário: “há déficit e é insustentável”. Eis que chega a hora da verdade: o juiz federal Rolando Valcir Spanholo determinou que o Governo, em 15 dias, explique esse pretenso “déficit”.
Em Ação Civil Pública, a Federação Nacional dos Servidores da Justiça Federal e do Ministério Público da União (Fenajufe) postulou que a União Federal comprove os dados que vem divulgando e que embasam a “PEC da Reforma da Previdência”.  Requereu, ainda, que fosse proibida a propaganda do Governo favorável à reforma. E foi atendida.
O juiz Spanholo captou o exato ponto discrepante: o governo não considera no seu cálculo as receitas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e da Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Duas contribuições criadas, pelos que os constituintes de 1988, para financiar a Previdência Social, a Saúde e a Assistência Social.
Afirma o juiz: “Para o Executivo, na coluna “receitas” somente poderiam figurar os ingressos oriundos de fatos geradores intimamente ligados à seara previdenciária (ou seja, basicamente, as contribuições sociais correspondentes às quotas patronais e das quotas inerentes aos respectivos segurados)”.
Extraído do documento “Previdência: 
reformar para excluir?”
Ora, considerar como receitas somente as contribuições dos patrões e dos segurados, certamente resulta em déficit. Se, no entanto, são adicionadas as receitas dos impostos criados para financiar a Previdência, chega-se a um superávit.
A Constituição determinou que o financiamento da Seguridade Social fosse feito de forma pelas três partes: empregados, empresas e governo. Além disso, a Constituição criou a arrecadação para o governo colocar a sua parte da Previdência. Mas o Governo chama essa parte de “déficit”.
“Em outras palavras: o governo chama de “déficit” a parte cujo aporte é dever do Estado no esquema de financiamento tripartite instituído pela Constituição – mas que o governo não aporta.” Como assinala o relatório “Previdência: reformar para excluir?”
Spanholo determinou a interrupção da veiculação de propaganda da seguinte forma: “Noutras palavras, impõe-se, também, reconhecer como plausível a necessidade de se fazer cessar a exploração daquela informação aparentemente distorcida (existência de déficit ou desequilíbrio financeiro), no mínimo, até que a ré carreie nos autos a prova cabal de que seu dado estatístico não é estapafúrdio, conforme tantos críticos têm defendido.
Temer e seus aliados estão com a palavra.

Notas
1 O documento Previdência: reformar para excluir? Contribuição técnica ao debate sobre a reforma da previdência social brasileira, produzido por ANFIP/DIEESE, está disponível em: http://plataformapoliticasocial.com.br/previdencia-reformar-para-excluir-completo/
2 A Ação Civil Pública, da Federação Nacional dos Servidores da Justiça Federal e do Ministério Público da União (Fenajufe), está em: http://www.fenajufe.org.br/images/ACP%20-%20FENAJUFE%20-%20Reforma%20da%20Previc%C3%AAncia.pdf
3 A sentença do juiz federal Rolando Valcir Spanholo pode ser encontrada em: http://www.fenajufe.org.br/images/senten%C3%A7a.pdf

https://jornalistaslivres.org/2017/03/30383/

3.22.2017

Moro impõem restrição à liberdade de imprensa ilegal ao blogueiro Eduardo Guimarães



Blogueiro Eduardo Guimarães é levado em condução coercitiva ilgegal em São Paulo, por meio de intimidação do juiz Moro

da redação de Rede Brasil Atual - Sociedade e Justiça Federal Injusta no Brasil (vídeo no final do texto) 


O blogueiro Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, foi levado, em condução coercitiva, para depor na sede da Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, na manhã desta terça-feira (21/03/2017), em mais uma ação da Operação Lava Jato. Ele foi liberado no final da manhã, quando afirmou não ter entendido a condução coercitiva, porque não se recusou a ir à PF, e criticou a apreensão de seus equipamentos, o que segundo Guimarães “viola a minha atividade jornalística”.
Liberado por volta das 11h30, ele falou aos Jornalistas Livres sobre o caso, referente à divulgação de uma nota, em seu blog, sobre a iminente condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que efetivamente ocorreu em 4 de março de 2016. “Recebi de uma fonte as informações antes, e eles queriam saber se tenho alguma ligação com a pessoa que vazou. Não conheço essa pessoa. Divulguei porque é o meu trabalho jornalístico. Sou blogueiro e o meu trabalho é divulgar”, afirmou Guimarães, que também questionou a motivação da condução, já que não teria se recusado a prestar depoimento.
Ele também reclamou da apreensão de seus equipamentos. “Sou agora um blogueiro sem equipamento nenhum.”
Segundo Guimarães, os agentes chegaram à sua casa por volta das 6h, com um mandado de busca e apreensão, levando celulares, inclusive de sua mulher, notebook e pen drive. Ele foi conduzido no carro da PF para a Superintendência da Lapa, na zona oeste.
Pelas redes sociais, blogueiros e apoiadores informavam que, até as 11h, Eduardo Guimarães ainda não havia prestado depoimento e, por isso, não se sabia com precisão o motivo de sua detenção. O blogueiro avisava ainda que estava bem e tranquilo, que nada deve à Justiça e que estava pronto para o depoimento, que era sobre a “fonte” responsável pela informação publicada. “Evidentemente, eles já tinham chegando à fonte”, comentou ao sair do prédio da PF.
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) classificou a ação da PF contra o blogueiro como um fato de “extrema gravidade”. “É uma restrição à liberdade de imprensa e informação. É censura. É uma tentativa de constranger àqueles que questionam a postura do Judiciário e do próprio juiz (Sérgio) Moro”, afirmou.
Em audiência por videoconferência em que o deputado participou como testemunha de defesa em um dos processos da Lava Jato também nesta terça, Teixeira conta que arguiu diretamente o juiz Moro, que confirmou ter determinado a condução coercitiva do blogueiro. Moro alegou que Eduardo Guimarães não é jornalista. Já o deputado retrucou afirmando que, pela legislação, nada o impede de exercer o jornalismo.
Segundo o deputado, ao tentar descobrir a fonte de Eduardo Guimarães, que o teria informado sobre os vazamentos seletivos e antecipado a condução coercitiva de Lula, Moro age contra a Constituição, que garante o sigilo da fonte jornalística.
A bancada dos deputados estaduais do PT suspendeu as atividades programadas para esta terça-feira (22/03/2017) em solidariedade ao blogueiro. Os deputados José Zico Prado, líder da bancada na Assembleia de São Paulo, e Alencar Santana Braga foram à sede da Superintendência da PF.
O blogueiro terá de voltar ao local em 3 de abril, por causa de outra publicação, de 2015, em sua conta no Twitter, em que criticou o juiz Sérgio Moro por estar prejudicando a economia brasileira. Por causa disso, foi acionado pela Associação Paranaense dos Juízes Federais, por suposta ameaça a Moro. “Isso é uma arbitrariedade, é uma vergonha.”
Em solidariedade a Eduardo Guimarães, e pela liberdade de expressão, foi realizado um ato (22/03/2017), no Sindicato dos Engenheiros, que fica na Rua Genebra, 25, no Centro de São Paulo.
Assista o momento em que Eduardo Guimarães é liberado pela Polícia Federal de São Paulo:


A história de 18 grandes mulheres brasileiras

Reunidas num livro on-line Caio do Valle e lançada pela Fundação Joaquim Nabuco, a obra traça o perfil de personagens que se destacaram em diferentes áreas da cultura brasileira

da redação do jornal Nexo - Sociedade e Cultura Feminina Brasileira

FOTO: AUDÁLIO DANTAS/AGÊNCIA BRASIL 
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CAROLINA MARIA DE JESUS, UM DOS PRINCIPAIS NOMES DA LITERATURA NO BRASIL
 
Salvaguardadas as exceções, ainda é tímido, na tradicional narrativa histórica, o espaço conferido às mulheres na construção social, política, cultural e econômica do Brasil.
O protagonismo masculino perdura nesse terreno, bem como no da memória social. Assim, o passado segue se organizando em torno do vulto de grandes homens, refletidos em monumentos, nomes de ruas e episódios consagrados no imaginário popular. Um livro gratuito publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, tenta corrigir um pouco dessa distorção, apresentando 18 mulheres brasileiras que se destacaram ao longo dos últimos séculos.
Em comum entre si, as homenageadas na obra “Memória Feminina: mulheres na história, história de mulheres” têm contribuições que se encontram, “em sua maioria, representadas em museus e espaços de memórias”, como arquivos e centros culturais.
Apesar desse foco, segundo escrevem na apresentação os pesquisadores Maria Elisabete Arruda de Assis e Maurício Antunes, além de patrimônios materiais (representados por objetos pessoais, obras de arte, manuscritos, livros), buscou-se acessar os imateriais. Quer dizer, os que “não estavam apenas nos museus brasileiros, mas também nas comunidades locais”: tradições legadas de uma geração para a outra.
É por isso que o leitor encontra artigos sobre as cirandas de Lia de Itamaracá, a preservação da tradição religiosa de matriz africana Xambá por Mãe Biu em Pernambuco, bem como a contribuição de Dona Santa, na preservação dos maracatus.
Também há um texto sobre a líder sindicalista Margarida Alves, defensora dos direitos dos trabalhadores sem terra assassinada em 1983 e inspiradora da Marcha das Margaridas.
A importância feminina na literatura no campo das letras, aparecem Carolina Maria de Jesus, Pagu e Clarice Lispector. A primeira, moradora de uma favela paulistana, ganhou notoriedade mundial ao publicar o livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, em 1960.
Nessa obra, vêm à tona as condições precárias de vida de parcela significativa da população, em especial das mulheres pobres. “Essas mulheres, como Carolina, responsáveis por seu próprio sustento, apesar de desqualificadas pela imprensa e por fontes oficiais, compunham um grupo que teve presença constante e intensa pelas ruas da cidade de São Paulo desde o período colonial.

Suas falas, entretanto, sempre apareciam de forma indireta, transcritas nos documentos pela pena dos escrivães, o que as impedia de assumir um protagonismo narrativo” Elena Pajaro Peres historiadora, responsável pelo artigo sobre Carolina Maria de Jesus Figuras de destaque nas lutas feministas e nas artes O livro ainda traz o perfil de pessoas de “inestimável contribuição para a mudança do papel da mulher na sociedade quanto aos seus direitos”, como a zoóloga Bertha Lutz, sufragista nos anos 1920, e a escritora Francisca Senhorinha da Motta Diniz, que fundou, no século 19, o primeiro periódico do país pela emancipação feminina.
As artistas plásticas Tarsila do Amaral, Maria de Lourdes Martins Pereira de Souza, Lygia Pape, Djanira da Motta e Silva, Georgina de Albuquerque e Nair de Teffé aparecem retratadas em seus contextos históricos e por meio de suas trajetórias de vida e profissional.
Há ainda relatos sobre a atriz Leila Diniz, identificada como um símbolo da liberdade sexual dos anos 1960, e Nise da Silveira, proeminente figura da psiquiatria brasileira no século passado. Um capítulo do livro é dedicado à figura da “Miss Sambaqui”, um crânio de mulher pré-histórico encontrado no litoral paulista na década de 1950.
Anonimato e invisibilidade Segundo Maria Elisabete Arruda de Assis, diretora do Museu da Abolição, e Maurício Antunes, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, as histórias são cristalizações de muitas outras, anônimas e invisibilizadas.
A intenção é que se tornem espelhos para brasileiras, jovens e adultas, se olharem, se reconhecerem e se projetarem no futuro, “como cidadãs a serem respeitadas nas diferenças e na luta pela conquista da igualdade de gênero em nossa sociedade”.
Ainda de acordo com eles, o objetivo do livro é desmontar preconceitos que esconderam ou apagaram a presença das mulheres na história do Brasil. “Nossa história coletiva ganha com acercar-se desse conjunto de mulheres que foram sujeito da história de nosso país: sim, temos pintoras, escultoras, escritoras, atrizes, cientistas que foram rebeldes e afirmaram-se como protagonistas” Tatau Godinho doutora em ciências sociais, no prefácio do livro.

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/03/21/A-hist%C3%B3ria-de-18-grandes-mulheres-brasileiras-reunidas-num-livro-on-line

3.20.2017

Aceitação e Ódio: olhares de um estrangeiro sobre a sociedade brasileira

Alguns me dirão que há resistência e que as redes sociais fervilham de denúncias sobre a imoralidade dos ricos brasileiros. Mas temo que se trate de uma armadilha
por Michel Plon* do site Carta Maior - Sociedade e Consciência e Participação Social no Brasil
http://www.cartamaior.com.br/pages/jornadas2017/images/jornadas_2017-01.png
Para começar, uma lembrança anedótica. Ocorreu durante minha primeira estada no Brasil, no Rio, há mais de quinze anos. Caminhando com Leneide, minha então futura mulher, parei todo animado ao avistar um pequeno grupo, de vinte pessoas no máximo. Virei para minha companheira e disse, entusiasmado: "uma manifestação!". Ela riu da minha ingenuidade: uma manifestação no Rio? “Michel, você está sonhando, não estamos em Paris”. Decepcionado, me resignei, mas acredito que vem daquele dia minha irritação, incompreensão e até mesmo raiva diante da passividade, da resignação e do fatalismo do povo brasileiro, que tolera, suporta e aceita como inevitável o fato de ser tratado, pelas pretensas autoridades políticas e pela grande mídia – jornais e TV – como um rebanho obediente e submisso.
 
Permitam-me citar estas linhas, talvez um pouco longas, de Louis Ferdinand Céline, extraídas da joia da literatura francesa que é seu romance Viagem ao fim da noite: "...a repressão aos pequenos roubos se exerce, observem vocês, em todos os climas, com extremo rigor, como meio de defesa social, não apenas, mas ainda, e sobretudo, como uma recomendação severa para que todos os infelizes se mantenham em seu lugar e em sua casta, passivos, alegremente resignados a morrer, ao longo dos séculos e indefinidamente, de pobreza e de fome”. A resignação, "esta qualidade básica que torna os pobres do exército ou de fora dele tão fáceis de matar quanto de manter vivos. Nunca, ou quase nunca, os pequenos perguntam o porquê de tudo o que suportam”. Para "fazer o animal vertical empregar seus melhores esforços no trabalho", basta que os Mestres “chamem-no de Senhor Escravo, deixem-no votar de vez em quando, paguem-lhe o jornal e, sobretudo, que o levem à guerra para fazê-lo esquecer suas paixões".
 
É verdade que a sociedade brasileira, ainda fortemente marcada pela escravidão, é radicalmente dividida, talvez mais do que qualquer outra, em duas classes. A dos ricos, em que incluímos a pequena burguesia que acredita possuir e imita os poderosos ao mesmo tempo em que os serve, e a dos desvalidos, privados de toda ou quase toda proteção social, explorados e de quem os ricos tomam, sempre que possível – como é hoje o caso – os bens, mesmo que deles aproveitassem apenas indiretamente, ou seja, o setor nacionalizado da produção e os serviços sociais (saúde, educação) que são, hoje, objeto de nova onda de privatização.
 
Certamente, tal divisão, embora (muitas vezes) menos acentuada, existe também na Europa, mas aqui ainda há freios que impõem limites ao apetite dos ricos, do capital muitas vezes estrangeiro, que sempre querem mais e ficam aterrorizados, mesmo inconscientemente, diante da ideia de que os pobres possam possuir uma parcela dos bens e do poder. Certamente reconhecemos aqui os ingredientes básicos do que Marx chamou de luta de classes, mas a luta de classes no Brasil me parece caracterizada e sustentada por um ódio sem limites aos pobres e à miséria. É preciso não ver os pobres, não mostrar a miséria, calá-los e até fazê-los desaparecer, com a preciosa ajuda da polícia e dos criminosos.
 
Diante disso, resignação e passividade mantidas à base de desinformação e ignorância.
 
Louis Ferdinand Céline, de novo: "A miséria persegue implacavelmente o altruísmo e as mais gentis iniciativas %u20B%u20Bsão impiedosamente punidas". É claro – e estes merecem nossas homenagens – que houve, durante a ditadura, resistentes, combatentes, uma luta armada feita por democratas e revolucionários de diversas origens, marxistas ou religiosos, às vezes ambos, mas não há registro de terem sido apoiados pelo povo, em "manifestações" como as que eu queria ver quinze anos atrás.
 
Os pobres brasileiros – agricultores sem-terra, índios, operários, desempregados – não são apenas rejeitados que causam repulsa aos ricos quando estes não conseguem ignorá-los. Muitas vezes, eles próprios tendem a internalizar sua condição de vida, a considerá-la não apenas normal, mas inevitável, pela qual se sentem, inconscientemente, responsáveis, além de culpados por sua miséria e sua vida sem horizonte.
 
Há pobres, evidentemente, na Europa, seja na França, na Inglaterra e em outros países do velho continente, mas há também uma tradição que remonta ao Iluminismo, que abriu caminho para a Revolução de 1789, independentemente do que tenham sido seus desdobramentos e seus avatares. Foram intelectuais, filósofos e escritores como Diderot, Voltaire e muitos outros que lançaram as bases para o que foi um verdadeiro terremoto: o reconhecimento dos direitos humanos, a introdução dos conceitos, e não apenas das palavras, de liberdade, igualdade e fraternidade.
 
O slogan de Maio de 68, "continuemos o combate" (ou a luta continua) ainda está vivo. Por que não se torna, no Brasil, a palavra de ordem dos intelectuais mais experientes, que sabem que a grande mídia brasileira não faz senão repetir mentiras anestésicas? Esclarecido pelos que pensam, em vez de adormecidos por aqueles que mentem, o povo deveria ser permanentemente chamado a resistir e estimulado a acreditar em seu poder.
 
Alguns me dirão que há resistência e que as chamadas redes sociais fervilham de denúncias e informações sobre a imoralidade dos ricos. Mas temo que se trate de uma armadilha: a informação é repetida à exaustão, e se caracteriza por pregar para convertidos, num processo narcísico de autocongratulação, em que, munido de um smartphone – e os mais pobres estão longe de ter acesso a estes aparelhos – através do "Facebook" e outras redes, cada um no seu canto pode se revoltar em seu pequeno círculo, sem que isso se transforme em qualquer movimento de massa, manifestações, greves e outros atos de mobilização em grande escala.
 
Como o Marquês de Sade, que conclamava os Republicanos a não baixar os braços, eu diria, de bom grado, aos intelectuais brasileiros: "Amigos e companheiros, façam um pouco mais de esforço".
* Psicanalista em Paris
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/odio-e-resignacao-Consideracoes-de-um-estrangeiro-sobre-a-sociedade-brasileira/4/37838