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12.08.2020

Em meio a crises e sobre cadáveres, os generais governam após o golpe-2016

... No curto prazo, é apostar na mobilização popular em defesa de seus direitos pisoteados e desprezados, fazendo com que a reação seja a sua força. As próprias massas devem aprender a sentir sua força que possuem e não sabem...

por redação de A Nova Democracia – Sociedade e Governo, Militares e Crises Políticas/Sociais   

Os fatos trazidos à tona reforçam a análise feita quanto ao governo federal sobre a forma como administra o país. A instabilidade política, incessantes crises institucionais, iminência de rupturas e ameaças de intervenção militar para suprimir o “Estado Democrático de Direito”, têm sido expressão da continuada disputa pela direção governamental, há pelo menos 2 anos em curso no país.

A extrema-direita de Bolsonaro e a direita do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) demonstraram ações e atitudes que levam a refletir sobre essa questão. Nem mesmo durante a pandemia, cujo abandono do governo em ações quanto a saúde pública, que tirou a vida de mais de 177 mil brasileiras(os), sem qualquer comoção nos militares ou membros civis do governo, que seguem indiferentes, administrando o silencioso genocídio de brasileiros(as). Bem ao contrário dos senões e rompantes do capetão, com seu bordão “quem manda sou eu” (como disse na última declaração pública sobre a vacina chinesa), o que tem prevalecido é o comando dos generais de sempre e a obediência forçada do capetão, esperneando à espera de um novo contexto quanto aos militares, que começam a sentir o desgaste do presidente.

Quem o confirma é a imprensa conservadora. Por exemplo, a revista Veja, através de fontes sigilosas dentro do governo, relatou que em maio de 2020, o atual governo passara por mais um de seus abalos sísmicos.

Naquele fato, Bolsonaro teve ciência de que seus filhos estavam em ameaça de prisão, por mandado que seria expedido por Alexandre de Moraes e que ele próprio poderia ser cassado, caso tentasse qualquer movimento brusco no sentido de mobilizar os militares de sua base – cada vez menor – os suboficiais das Forças Armadas. Tal informação foi passada ao presidente por seus “auxiliares do Planalto”.

Marcha camponesa celebra os 16 anos da heroica resistência camponesa de Corumbiara/RO, em 9 de agosto de 2011 - Foto: Banco de dados/AND

A prisão seria resultado do inquérito que apura financiamento ilegal aos “ataques à democracia”, que incluem as manifestações de simpatizantes nas ruas e robôs online ligados ao “gabinete do ódio”, para pressionar o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e os demais poderes como alguns governadores, pregando como solução uma intervenção militar com Bolsonaro a frente do poder.

Confirmação do fato: o STF cuja composição tem tendência a direita parlamentar conservadora e tende em geral a se opor a planos de intervenção militar, pois lhe retiraria funções e atuação, consequentemente debilitaria totalmente os grupos em torno do poder, aos quais estão vinculados seus integrantes. Está diretamente vinculado aos militares no governo. É impressionante a inércia das “vossas excelências” de toga no Supremo Tribunal Federal e Ministério Público Federal.

A direita tradicional que se apresenta como “democrata” e “em prol da democracia”, reitera seu oportunismo neste momento. Diante da manifestação dos simpatizantes e bolsonaristas contra pressão das massas populares, a direita tradicional vai refugiando-se amedrontada, embaixo da falsa proteção dos “civilizados” militares, consolidando o golpe por vias camufladas de constitucionais. A apatia dos petistas e outros partidos de oposição, na sombra do PT, demonstram desprezo pelo popular de forma ímpar.

Que de Estado conduzido camufladamente por vias constitucionais é este? É o implementado em 2015, através da Operação Lava-Jato, como acordo firmado pelo núcleo do establishment, ou os círculos mais poderosos dos grandes banqueiros e industriais, os poderosos latifundiários, do monopólio da imprensa tradicional, além de altos burocratas do judiciário e seleto grupo de procuradores no ministério público, sob a centralização das forças armadas e de quebra a embaixada ianque (estadunidense) como “conselheira” e Departamento Jurídico Federal, para tentar salvar seu sistema de empresas multinacionais do petróleo e alta tecnologia, levando a opressão ao povo, causando a decomposição avançada da nação, como por exemplo a reforma da previdência social e retirada dos direitos trabalhistas duramente conquistados. Foram oportunistas como resposta as manifestações de massas de 2013-14 (véspera da copa do mundo no Brasil), que expuseram a nú a falta de legitimidade do falido e desgastado sistema político brasileiro.

Os generais, que se autoproclamam anti-comunistas, têm por objetivo concentrar o poder em suas mãos, mas de modo dissimulado, preferencialmente com aparência de governo civil, objetivo a ser alcançado através da desobediência a constituição com coações, ameaças às outras instituições e às forças políticas vigentes. Moveram-se assim, como estratégia para impedir a inevitável amplitude da resistência popular, que uma brutal intervenção militar poderia causar. Essa camuflagem do velho Estado de concentração do poder no executivo, urge como necessidade, para cumprir outras duas tarefas também cruciais à salvação da velha ordem ameaçada de ruína: aumentar a super-exploração do povo e a entrega do país, para tentar tirar a economia de uma situação complicada, impulsionando o enfermo capitalismo e conjurar o perigo da ditadura puramente militar ou de esmagá-la caso haja revolta popular.

Não é que o golpe-2016 garantido e conduzido pelos comandantes militares seja constitucional: ele deforma, através de ameaças com sua pressão militar, a constituição ou a interpretação que se faz dela. Impõe reformas que a reduz ainda mais a participação popular ou civil, tudo para justificar legalmente os caminhos traçados e chegar aos seus objetivos ditatoriais. Nesse sentido, ocorreram quase todas as falas públicas de chefes militares sobre política nos últimos quatro anos.

Já Bolsonaro, que arquitetou e apregoou um golpe com ele à frente, sentiu-se debilitado nos últimos meses, segue jogando com a opinião pública simpatizante, de modo a desmoralizar ainda mais as instituições. Diante do caos social e econômico, forçar os generais a fechar o regime político agora, contexto em que a extrema-direita tende se impor. Sabe que necessita de popularidade e fará de tudo entre ceder e fechar acordos para reeleger-se, pois para seus planos golpistas, estar no Planalto é mais de meio caminho andado. Contudo, ambos os lados – Bolsonaro e generais – querem o reino da pressão por terror, para esmagar as massas organizadas. Cercear e amedrontar os democratas e progressistas e “limpar” o terreno para explorar como nunca antes todo o povo e entregar de vez o país a vontade das corporações estrangeiras, principalmente ianques (USA). Só que as vias para lá chegar é que são diversas ou improváveis.

O que precisa estar bastante claro a todos é que a situação por qual passa o nosso país, de desmoralização do sistema político, de ofensiva da reação, de miséria e frustrações das massas populares, principalmente diante de uma pandemia que está levando a óbito milhares de pessoas, é inevitável enquanto as coisas permanecerem intactas na base. A base da sociedade é esse capitalismo burocrático, atado ao latifúndio e cujas riquezas produzidas são drenadas para o capital financeiro. O domínio em cima do qual se ergue esse Estado genocida e em essência burocrático e oligárquico, que nunca foi democrático, mesmo no sentido popular do termo. Somente a contra atuação social democrática, contra o imperialismo estadunidense, iniciada por uma contra revolução no campo, pode transformar toda a falta do espaço democrático.

Em tempo: as eleições deste ano (2020) só farão demonstrar ou dar toque de legitimidade a essa situação pós-golpe parlamentar-jurídico-militar, mesmo os resultados mais substanciais dessas eleições. Se sabe de antemão, que a interferência deliberada dos militares, favorece às forças políticas ultra-conservadoras e conservadoras, alinhadas ao plano de domínio econômico e social. A única saída e de imediato foi a consciência ao boicote espontâneo das massas populares nas eleições, desacreditadas deste sistema de administração federal, na mioria dos estados e municípios. No curto prazo, é apostar na mobilização popular em defesa de seus direitos pisoteados e desprezados, fazendo com que a reação seja a sua força. As próprias massas devem aprender a sentir sua força que possuem e não sabem, assim como estimar a energia sem limites que sua mobilização política poderá liberar. É tarefa dos ativistas sociais mostrar-lhes o caminho das pedras a ser seguido.

Publicação A Nova Democria: Ano XIX, nº 236 - Outubro e Novembro de 2020

 

Fonte:  https://anovademocracia.com.br/no-236/14622-em-meio-de-crises-e-sobre-pilhas-de-cadaveres-os-generais-governam