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11.18.2021

Pós-pandemia: e se no planeta a próxima Revolução for a do Impacto Social e Ambiental ?

...cada vez mais a pauta social e a pauta ambiental se tornam mais e mais relevantesPara nosso futuro. Para o futuro da humanidade. Para transformar o mundo em um lugar melhor para se viver, menos desigual, reduzindo a pobreza e ampliando as possibilidades de desenvolvimento pessoal por meio de uma consciência e educação de qualidade, transformadora, inclusiva. Não somente para todos, mas pelo bem de todos...  (Jorge Audy)

por Jorge Audy* no blog da PUC – Sociedade e o Planeta Pós-Covid-19

Jorge Audy, Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS / Foto: Camila Cunha

A evolução da sociedade passou por diversas ondas ou etapas, desde que o ser humano desceu das árvores como fator de sobrevivência na natureza. Uma das fases que o ser viveu foi a Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX, deslocando do eixo artesanal para as máquinas e as primeiras pequenas indústrias. Na segunda metade do século XX, a revolução da tecno-ciência muda novamente os principais fatores de gerações de renda e consequentemente acumulo de riqueza, com a emergência da sociedade da prática e do conhecimento, com o foco na criatividade, tecnologia e inovação. Neste século XXI, diversos eventos e sinais vêm sendo enviados do futuro com relação à um possível novo ciclo de transformação na sociedade, onde a crise sanitária que vivemos (covid) é somente um destes sinais. As questões sociais, em especial o desafio da desigualdade em suas diferentes dimensões e as questões ambientais, em especial as mudanças climáticas e os impactos no meio ambiente, são temas centrais com relação a continuidade desafiadora ao futuro do planeta e por consequência, a sobrevivência da humanidade.

Uma das mais importantes discussões hoje no mundo vem da Inglaterra, em torno dos negócios de impacto socio-ambiental. Neste sentido, Sir Ronald Cohen aborda o tema da Revolução do Impacto, cuja questão básica é: que tipo de mundo nós iremos viver no futuro?

Estamos hoje imersos ainda na primeira fase da pandemia, o que poderíamos chamar de sobrevivência, tentando nos manter vivos, a renda e os negócios viáveis. Logo, ingressaremos em uma segunda fase, ainda crítica, que envolverá a recuperação: é a hora de retomarmos nossas atividades relacionais, sociais e profissionais. Somente depois chegaremos na fase da renovação, o que muitos chamam de novo normal, que numa reflexão de futurologia, é muito difícil de prever ou antecipar. Mas parece que um bom numero de pessoas concordam que não seremos mais os mesmos(as). Não nos comportaremos da mesma forma. Novos paradigmas irão emergir através de um processo continuo a médio e longo prazo.

Quase impossível saber ou antecipar o que virá. No máximo podemos ler alguns sinais do futuro e imaginar algumas possibilidades. Talvez as transformações virão em duas frentes: pessoal e social, profissional e dos negócios. Na frente pessoal e social é possível emergir um novo humanismo, como atitude frente aos desafios, como uma nova forma de ser ou estar no mundo. Humanismo como uma nova forma de cuidarmos uns dos outros, inclusive do planeta. A possibilidade é que o coletivo ressurja antes do individual.

Na frente profissional e dos negócios, talvez emerja um novo conjunto de valores a nortear a ação dos grupos, comunidades e organizações, não somente da percepção social, mas também novos padrões de criatividade e formas de obtenção de renda, onde o impacto social e ambiental dos empreendimentos se tornem tão importantes quanto seus resultados financeiros melhor distribuídos em comum. Podemos imaginar um mundo onde as pessoas tenham mais responsabilidade e ciência de seu papel na sociedade, onde o consumo seja mais consciente, onde possamos (e devamos) escolher onde trabalhar, o que comprar e em quem investir, de acordo com valores e escolhas que nos sejam relevantes. Valores globais, com senso de bem comum e responsabilidade pelo futuro e sobrevivência do planeta.

Assim como a grande crise social, econômica e financeira de 1929 mudou para sempre a forma como as formas de ganho de renda e empresas atuam, tanto na avaliação, como na auditoria. Esta crise de 2020 pode ser um marco para uma nova forma de avaliar os grupos, comunidades e organizações, assim como seu papel social. Existem muitos desafios que devemos superar como sociedade, os 17 ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU indicam com clareza estes desafios. O que devemos fazer é direcionar o melhor dos nossos esforços e capacidades no desenvolvimento de ações de Impacto. Impacto social, Impacto Ambiental. Devemos, juntos, mudar as regras do jogo. O modelo mundial vigente não atende mais nossas expectativas para um mundo melhor e sustentável. A Revolução da tecno-ciência deve ser seguida por uma Revolução de Impacto Social e Ambiental. Podemos pensar em gerar resultados econômicos e impacto social e ambiental simultaneamente. Um não deve mais excluir o outro e sim uma complementação e interação mutuas.

Desde a encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, até pensadores como o inglês Sir Ronald Cohen, cada vez mais a pauta social e a pauta ambiental se tornam mais e mais relevantes. Para nosso futuro. Para o futuro da humanidade. Para transformar o mundo em um lugar melhor para se viver, menos desigual, reduzindo a pobreza e ampliando as possibilidades de desenvolvimento pessoal por meio de uma consciência e educação de qualidade, transformadora, inclusiva. Não somente para todos, mas pelo bem de todos.

Jorge Luis Nicolas Audy*, é Professor Titular da Faculdade de Informática e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação e Assessor da Reitoria na área de Ciência, Tecnologia e Inovação da PUCRS. Pesquisador na área de Ciência da Computação, atualmente é Presidente da ANPROTEC (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores).

Publicação: 27/07/2020

Fonte:  https://www.pucrs.br/blog/a-proxima-revolucao-e-a-do-impacto-social-e-ambiental/