Páginas

10.23.2017

Por que a China Avança e latino-americanos recuam ?



China move-se para mercados mundiais, enquanto EUA fazem mais guerras e latinos recuam

por James Petras para Global Research e blog do Alok* – Sociedade, Geopolítica e Economia Global
 
Depois de mais de uma década de crescimento e estabilidade, os regimes progressistas latino-americanos recuaram e entraram em declínio. Por que a China continua na mesma trilha de estabilidade e crescimento, enquanto seus parceiros latino-americanos estão em retirada ou já derrotados?
Brasil, Argentina, Venezuela, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Equador, por mais de uma década foram as histórias de sucesso que a centro-esquerda latino-americana tinha a contar. As economias nacionais cresceram, o gasto social aumentou, a pobreza e o desemprego foram reduzidos e a renda média do trabalhador aumentou.
Na sequência, as economias afundaram-se em crises, o descontentamento social aumentou e os regimes de centro-esquerda caíram.
Diferentes da China, os regimes de centro-esquerda latino-americanos não diversificaram as respectivas economias: continuaram a depender pesadamente do boom das matérias primas para o próprio crescimento e a estabilidade local.
As elites latino-americanas tomaram empréstimos e dependeram de investimentos estrangeiro e do capital financeiro, enquanto a China aprofundou o projeto de investimentos públicos, infraestrutura, tecnologia e educação.
Progressistas latino-americanos associaram-se a capitalistas estrangeiros e especuladores locais em especulação imobiliária não produtiva e consumo, enquanto a China investia em indústrias de inovação na China e no resto do mundo. Enquanto a China consolidou o próprio prestígio político, os progressistas latino-americanos "aliaram-se" a adversários multinacionais estratégicos em casa e no exterior para 'partilhar o poder' –, processo que na verdade havia sido já preparado para expulsar do poder os aliados "de esquerda".
Quando a economia dos países latino-americanos baseada em commodities colapsou, lá se foram também os laços políticos com os parceiros na elite. Diferente disso, as indústrias da China beneficiaram-se dos preços baixos globais dascommodities, enquanto a esquerda latino-americana padecia. Desafiada pela corrupção disseminada, a China fez uma campanha gigante, com expurgo de mais de 200 mil funcionários públicos. Na América Latina a esquerda ignorou os funcionários corruptos, deixando para a oposição o trunfo de explorar os escândalos para deslocar do poder funcionários e autoridades de esquerda.
Enquanto a América Latina importava máquinas e componentes do ocidente, a China comprava as empresas ocidentais que produzissem máquinas e respectivas tecnologias – e, na sequência, implementou os avanços tecnológicos chineses e a favor dos interesses da China.
A China conseguiu sobrepor-se à crise, derrotou seus adversários e pôde expandir o consumo local e estabilizar o próprio governo.
O centro-esquerda latino-americano sofreu derrotas no Brasil, Argentina e Paraguai (...) e recuou no Uruguai [e parece estar em recuperação, depois que] perdeu eleições na Venezuela e na Bolívia.
Conclusão
O modelo econômico-político chinês revelou-se capaz de melhor desempenho que o Ocidente imperialista e que a América Latina esquerdista. Enquanto os EUA gastaram bilhões no Oriente Médio para guerras que só interessam a Israel, a China investiu quantias similares na Alemanha, para tecnologia avançada, robótica e inovações digitais.
Enquanto o "pivô para a Ásia" do presidente Obama e da secretária de Estado Hillary Clinton não passou de cara estratégia militar para cercar e intimidar a China, o "pivô para os mercados" de Pequim realmente conseguiu aumentar a própria competitividade econômica. Resultado disso, ao longo da última década, a taxa de crescimento da China é três vezes maior que a dos EUA; e na próxima década, a China já terá avançado praticamente o dobro, em relação aos EUA, no processo de robotização de sua economia produtiva.
O "pivô para a Ásia" dos EUA, doentiamente dependente de ameaças de militares e tentativas de intimidar, custou bilhões de dólares em mercados e investimentos fracassados. O "pivô para tecnologia avançada" da China demonstra que o futuro está na Ásia, não no Ocidente. A experiência chinesa oferece lições importantes para futuros governos latino-americanos de esquerda.
Em primeiro lugar e acima de tudo, a China enfatiza a necessidade de equilíbrio econômico mais amplo e superior a ganhos de curto prazo resultantes de booms de uma ou outra matéria prima, ou de estratégias que promovam o consumismo sem noção.
Segundo, a China demonstra a importância da educação profissional em geral e da educação técnica que forme mão-de-obra para a indústria da inovação técnica, muito mais importante que as escolas de business e management e que a educação 'especulativa' não produtiva não pesadamente enfatizada nos EUA.
Terceiro, a China equilibra atentamente o gasto social combinado em investimentos na atividade produtiva núcleo; na competitividade e nos serviços sociais.

A China aprofundou o crescimento, a estabilidade social, o próprio compromisso com a educação/formação. Mas tudo isso teve limitantes consideráveis, especialmente na área da igualdade social e da ampliação do poder popular. E aqui a China tem o que aprender da experiência da esquerda latino-americana. Os ganhos sociais dos governos da Venezuela chavista merecem ser estudados e repercutidos; os movimentos populares na Bolívia, Equador e Argentina, que tiraram os neoliberais do poder, podem fazer fermentar os esforços chineses para superar o nexo business-Estado de pilhagem e fuga de capitais.

A China, apesar de suas limitações sociopolíticas e econômicas, tem resistido com sucesso às pressões militares dos EUA e tem mesmo 'virado a mesa', em seus avanços sobre o ocidente.

Em resumo, o modelo de crescimento e estabilidade da China sem dúvida garante uma abordagem várias vezes superior ao que se viu na América Latina, onde a esquerda sofreu duros reveses, e ao caos que resultou do frenesi com que Washington tenta conseguir a supremacia militar global.*****

Postado por * Dario Alok 
http://blogdoalok.blogspot.com.br/2017/10/china-move-se-para-mercados-mundiais.html


Agricultura familiar: sem ela o Brasil passaria fome



A agricultura familiar é quem produz a diversidade de alimentos que vêm para a nossa mesa

 por Giovanne Xenofonte* para Brasil de Fato – Sociedade e Alimentação Humana no Brasil
 

  Giovanne Xenofonte é agrônomo e integrante da coordenação colegiada da ONG Caatinga. / Arquivo pessoal
No dia 16 de outubro foi comemorado o Dia Mundial da Alimentação. Data importante para aprofundar-se o debate sobre o direito à alimentação saudável e adequada, e também para refletir sobre o papel da agricultura familiar na alimentação da população.
A agricultura familiar é quem produz a diversidade de alimentos que vêm para a nossa mesa. O último Censo Agropecuário do IBGE de 2006, revelou que 70% da alimentação consumida por brasileiros e brasileiras é produzida por agricultores e agricultoras familiares.
A agricultura familiar que tem construído a agroecologia como modo de produção e de vida que cuida das águas, dos solos, das pessoas, não usa venenos agro-químicos, reconhece a importância das mulheres e jovens na construção da sociedade e promove um comércio justo e solidário e uma educação contextualizada. A agroecologia foi reconhecida pela ONU como a agricultura do futuro.
Por outro lado, o agronegócio, que recebe vultosos investimentos do governo, desmata nossas florestas e as transforma em monoculturas, coloca em risco nossa segurança hídrica, explora mão-de-obra e concentra terras e riquezas nas mãos de poucos latifundiários. Em plena sintonia com empresas multinacionais, contamina o país com o uso intensivo de venenos, colocando o Brasil no topo mundial dos que mais consomem agrotóxicos - cerca de 5,2 litros ao ano por pessoa.
No ano de 2014, o Brasil deixou de integrar o Mapa da Fome divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). No entanto, as atuais medidas do governo federal, após o golpe, tem retirado direitos, diminuído os investimentos sociais e cortado recursos de áreas prioritárias como agricultura familiar. A exemplo do Projeto de Lei Orçamentária Anual 2018 que prevê cortes em áreas prioritárias como Programa de Cisternas e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Em julho deste ano, um relatório elaborado por entidades da sociedade civil sobre o desempenho do Brasil já trazia o alerta sobre os riscos do país voltar ao próximo Mapa da Fome. Os motivos seriam justamente a diminuição de investimentos nas áreas sociais e o aprofundamento das desigualdades sociais. É preciso estar alerta e é por isso que nesta semana movimentos sociais e organizações estão nas ruas promovendo mobilizações contra os ataques que têm sido feitos contra a agricultura familiar.

*Giovanne Xenofonte é agrônomo e integrante da coordenação colegiada da ONG Caatinga.
Edição: Monyse Ravenna
https://www.brasildefato.com.br//2017/10/23/artigo-or-a-importancia-da-agricultura-familiar-para-alimentar-o-brasil/