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4.21.2015

Domínio da Elite é pela Imprensa

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Quem é o totalitarista?

Em recente final de semana, foi sacudido um novo escândalo político, o blogolão. Ou setentão, se preferir.
O blog Implicante, dedicado exclusivamente a divulgar baboseiras contra o partido de posição e a presidenta, e que sempre perseguiu blogs não-alinhados à grande mídia, foi desmascarado por uma matéria da Folha em que se revela que ele recebia R$ 70 mil por mês do governo de São Paulo pelo serviço.
O escândalo é particularmente picante porque o blog em questão, editado pelo advogado Fernando Gouveia, vulgo Gravataí Merengue, sempre posou de “liberal”, acusando blogs de esquerda de serem financiados por verba pública. No editorial do blog, avisa: “se você é do governo ou militante, não vai gostar do conteúdo”. Ora, se for do governo de São Paulo e militante do PSDB, vai adorar!
Nada como um dia após o outro.
A mesma Folha teve acesso, pouco tempo atrás, aos números completos da publicidade do governo federal, e descobriu que os blogueiros de esquerda não ganham praticamente nada. Só uns três ou quatro sites, de grande acesso, recebem publicidade institucional, de maneira transparente, oferecendo retorno de imagem
O Implicante ganha dinheiro sem precisar mostrar nenhum banner, o que lhe permitia acusar os outros de fazer o que ele mesmo fazia: ganhar dinheiro público para atacar agentes políticos, e defender o governo Alckmin.
Agora sabemos que a coisa é ainda mais podre.
Nassif publicou um post hoje em que especula que o mais provável é que o Implicante seja parte de um esquema maior de comunicação montado por José Serra, através de seu pitbull Marcio Aith, dentro do governo de São Paulo.
No Diario do Centro do Mundo (DCM), outra peça do quebra-cabeça foi montada, confirmando a análise de Nassif: a nova sócia do blog Implicante é Cristina Ikonomidis, uma antiga assessora de José Serra.
O blog do Esmael, do Paraná, levanta outra face do escândalo: uma estatal do Paraná também financiava o blog Implicante.
O autor do blog, Fernando Gouveia, tentou se explicar no Facebook, mas não colou. Ele apenas botou a culpa no PT…
Os tucanos repetem, portanto, em São Paulo, a estratégia que montaram em Minas Gerais.
Enquanto foi governador, Aécio Neves deixou que sua própria irmã assumisse o controle sobre a distribuição de recursos públicitários oficiais para a mídia mineira, e exercia uma vigilância severa e agressiva contra jornais e rádios que faziam crítica à administração de seu irmão.
Esses movimentos revelam o dúbio apreço pela liberdade de imprensa por parte dos tucanos. Eles amam sim a liberdade, desde que seja exercida por gente que ataque o partido da posição e os defenda.
Mas revelam também uma coisa que serve de lição ao partido e ao governo. Seus adversários estão muito atentos do que os petistas à questão da batalha da comunicação.
Em São Paulo, os tucanos dão milhões para a grande mídia, através de assinaturas sem licitação e publicidade oficial.
No Congresso, os parlamentares tucanos são os mais agressivos opositores de qualquer debate sobre a democracia na mídia, agindo, na prática, como lobistas da grande mídia corporativa.
***
Há algumas semanas, estive em Belo Horizonte, para II Encontro de Direito a Comunicação (10 a 12 de abril), organizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.
O evento reuniu mais de 600 pessoas e trouxe alguns palestrantes estrangeiros. No sábado à noite, ao jantar, bati um longo papo com Gustavo Gómez, que escreveu a Ley dos Medios do Uruguai.
Ele me contou que o governo sabia que encontraria, por parte de setores da mídia, uma intensa mobilização para pintar uma lei que aspirava a democratizar a comunicação no país, como uma lei autoritária, ou pior, como tentativa de censura.
Em razão disso, o governo Mujica (Gomez foi assessor pessoal de Mujica durante seus quatro anos de mandato) passou a estudar argumentos para reagir a essas acusações. Foram atrás de documentos internacionais que tratam do tema democracia na mídia, e conseguiram vencer, na opinião pública, a batalha de narrativa. Conseguiram convencer a maioria da população que se tratava de uma lei para ampliar a liberdade de expressão. A lei foi aprovada em dezembro do ano passado.
Gomez observou, contudo, que a mídia uruguaia, apesar de conservadora, não demonstra a histeria oposicionista da nossa. Além disso, a mídia uruguai não é tão absolutamente concentrada como a brasileira e, sobretudo, os donos da mídia não estão entre as famílias mais ricas do país, como é o caso da família Marinho, a mais rica do Brasil.
Aqui, o governo ainda parece totalmente desorientado diante dos ataques da mídia. Não é preciso, porém, reinventar a roda para sair da crise: um porta-voz, uma comunicação mais centralizada e mais eficiente, maior exposição, mais assertividade, investimento na comunicação pública, em especial o sistema EBC, uma postura mais pró-ativa na defesa política do governo.
Diante desse novo escândalo tucano, evidencia-se a guerra desproporcional que experimentamos no Brasil.
De um lado, grandes meios de comunicação alinhando-se num bloco absolutamente homogêneo, buscando de todas as maneiras argumentos para anular o voto de 54 milhões de eleitores e derrubar a presidenta. Todo o dia agora eles vem com um pretexto diferente, após fazerem entrevistas com ministros do TCU que mais parecem cobranças políticas de um posicionamento.
Do mesmo lado, blogueiros regiamente pagos pelos governos tucanos para envenenar a opinião pública e detonar o partido da posiçào e os blogueiros de esquerda.
De outro, um governo que ainda não tem uma estratégia de comunicação definida. Não se tem sequer a pachorra de variar, de vez em quando, a foto da presidenta nas redes sociais. Tudo é sempre burocrático, frio, sem graça.
Por um acaso, Dilma trocou de secretário de comunicação, e agora tem um nome novo – o que é bom.
A presidenta, porém, persiste na estratégia de não ter uma estratégia de comunicação. Até mesmo seu aliado mais dúbio, o deputado federal Eduardo Cunha, em entrevista recente a um grande jornal, disse claramente que o governo não tem uma comunicação política eficiente, e não consegue informar o que faz, o que pensa, o que pretende.
Cientistas políticos reunidos pela revista Inteligência afirmaram a mesma coisa.
E agora, estamos nesta situação, bipolar. Um dia achamos que haverá golpe. No outro, que ele foi superado.
O que demonstra, obviamente, que a pele do governo afinou-se. Qualquer pequeno golpe o machuca severamente.
A presidenta nunca poderia resistir, por exemplo, a um escândalo tão pesado como o assassinato de um promotor público, como aconteceu na Argentina.
Não resistiria se enfrentasse uma conspiração parecida à liderada por Carlos Lacerda, contra Jango.
No Judiciário do Paraná, um magistrado abusa do apoio que recebe na mídia para prender quem ele quiser, e usa a prisão preventiva, que acontece antes da sentença e, portanto, antes da defesa, como condenação de fato. A produção de factoides políticos pelo juiz Sergio Moro parece seguir uma agenda previamente (ou mesmo tacitamente) combinada com a mídia. Os vazamentos são rigorosamente seletivos. Qualquer denúncia contra tucano, é abafada. Qualquer denúncia contra PT, é levada à capa dos jornalões.
Quando uma linha de investigação deixa de ser midiática, segue-se outra. Os promotores posam para capa dos jornais, e fazem lobby descarado para destruir o maior partido do congresso nacional, com mais de 1 milhão de filiados e uma história bonita de defesa dos direitos humanos, democracia, justiça social e liberdade de expressão.
Tempos difíceis!
Para consolar, pensar nas décadas mais turbulentas da Roma Antiga, com suas terríveis guerras sociais, suas conspirações políticas, seus golpistas frequentes, etc, dá um certo desconforto.
A frase “O homem é cobaia da história”, pessoal, não me sai da cabeça.
http://www.ocafezinho.com/2015/04/20/setentao-ou-blogolao-o-novo-escandalo-tucano/

História da Praça Tiradentes

Contada por Luiz Antonio Simas - Sociedade e a História

O Brasil é um oxímoro (contraditório) em forma de país: um português proclamou a independência; um monarquista proclamou a República; a revolução contra as oligarquias em 1930 foi feita pelas próprias oligarquias; o presidente da redemocratização em 1985, Zé Sarney, foi homem dos milicos; o Oeste Novo Paulista não fica no Oeste de São Paulo; a terra roxa nunca foi roxa; um beato asceta e reacionário, que esperava a volta de um rei morto mais de trezentos anos antes para anunciar o fim do mundo, virou ícone da esquerda revolucionária e uma espécie de Lênin do sertão. 
 Não bastasse isso,  na Praça Tiradentes - aqui no Rio - a estátua é a de D. Pedro I; fato mais inusitado ainda quando lembramos que foi a avó do primeiro Pedro, Dona Maria, a Louca, que mandou matar o alferes Joaquim José da Silva Xavier. É mole?
Para esse último fato, ao menos, cabe explicação. Acontece que a figura do alferes praticamente desaparece da memória histórica brasileira após sua execução, pertinho da atual praça Tiradentes. 
Tiradentes era republicano e conspirou contra os Bragança - família de Dona Maria, Dom João VI e dos dois Pedros que governaram o Brasil. Enquanto fomos monarquia e tivemos Bragança no poder, necas de pitibiribas de homenagear o enforcado. Quando muito, era mencionado como vil traidor ou como homem de caráter fraco, incapaz de liderar qualquer movimento mais articulado contra a ordem estabelecida.
Quando a República foi proclamada, cem anos depois da Inconfidência Mineira, os novos donos da cocada preta resolveram escolher um herói nacional representativo do novo regime. Houve polêmica entre dois candidatos - Tiradentes e Frei Caneca, o líder da Confederação do Equador de 1824. O barbudo levou a melhor. Quem quiser saber mais disso pode catar o Formação das Almas, livro do Zé Murilo de Carvalho sobre esses babados.
Disse barbudo, mas faço a emenda. Tiradentes nunca teve um visual daquele - barba à Antônio Conselheiro e cabelo à Bufalo Bill. O pintor Décio Villares, por exemplo, que recebeu a encomenda de retratar o herói nacional republicano, não tinha referência nenhuma sobre como seria o alferes quando foi executado. Ninguém tinha, aliás. Villares não teve dúvidas - pintou Jesus Cristo e substituiu a cruz pela forca; como a comparar o sacrifício do Filho do Homem pela humanidade ao sacrifício de Tiradentes pela República e pelo Brasil.
Assim como fez Villares, Pedro Américo, Eduardo Sá, João Turin e Virgílio Cestari pintaram ou esculpiram o alferes com ares cristãos. Sabemos, porém, que à época os condenados tinham cabelos e barbas raspados. Tiradentes foi enforcado carequinha da Silva.
Voltemos ao tema central, até porque não sou a pessoa mais indicada para falar de assuntos capilares. Quando os republicanos resolveram fazer de Tiradentes o herói nacional, a praça mais próxima do local da execução do alferes - o velho Largo do Rocio, perto do Campo da Lampadosa - recebeu a denominação do herói. Havia, porém, um probleminha. A estátua de D. Pedro I já estava ali desde 1862, num marco em louvor ao Grito do Ipiranga.
A coisa ganhou contornos de provocação entre republicanos e monarquistas. Nesse Fla X Flu pelo controle da memória nacional, os primeiros insistiam em derrubar a estátua equestre do Imperador; os outros ameaçavam fazer um furdunço memorável se a demolição ocorresse. Após muita polêmica, chegou-se a uma solução brasileiríssima: a estátua de D. Pedro I foi mantida e a praça passou mesmo a se chamar Tiradentes.
Agora, experimentem explicar a um turista por que a praça que homenageia o mártir da independência tem uma estátua do neto da velha que mandou executar o herói. Sou capaz mesmo de apostar que, numa pesquisa com cem cariocas que cruzem a praça em uma tarde, a maioria vai dizer que a estátua é a de Tiradentes.
Quanto a este que vos digita, confesso: a referência emocional (infantil, portanto, que é quando essas coisas se consolidam no cabra) que tenho de Tiradentes é a de Francisco Cuoco representando o mártir na novela Saramandaia. Da Inconfidência Mineira, levo uma lição que tento praticar com sagrada obediência - após um dia intenso de trabalho nos trópicos, há que se tomar civilizadamente umas cervejas geladas quando o sol se põe. É a manjada liberdade, ainda que à tardinha.
http://hisbrasileiras.blogspot.com.br/2015/04/uma-historia-da-praca-tiradentes.html