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2.24.2017

Comportamento: quando a convivência se transforma em contrôle e dominação

Quase invisível, de forma imperceptível, o abuso afetivo se configura no momento em que o excesso de amor se transforma em dominação e contrôle



por Pascale Senk para Le Figaro no Brasil 24/7 - Sociedade e Relações Sociais
Trata-se de um pequeno “excesso” de quase nada. A chantagem de um amigo a outro – “Se você não for ao bar conosco, nós não iremos”- ou o humor fora do lugar de uma avó a suas netas – “Se vocês quiserem uma parte da herança que vou deixar, comecem por me dizer bom dia!”- À cada vez, sob o disfarce de uma banal reflexão, o que se exprime nessas frases é na verdade uma mensagem cheia de coisas não-ditas que, durante muito tempo, ficaram reprimidas.
As festas familiares, aniversários, casamentos, Natal, são geralmente ocasiões ideias para esses lançamentos de farpas e de cobranças muitas vezes disfarçadas de gentilezas e agrados.
O psiquiatra Christophe André estuda essas maneiras bem humanas de “se morder psicologicamente”, comparando-as ao comportamento de alguns gatos que, quando são acariciados de modo demasiado insistente, se voltam súbita e brutalmente para arranhar a mão que os acaricia... Quando as relações afetivas de uma pessoa em relação a outra tornam-se excessivas, quando vão além da conta, existe sempre o risco de vê-las se transformarem em grosserias abusivas, e até mesmo em lamentáveis estratégias de manipulação e dominação.
Maus tratos sutis
A psicoterapeuta francesa Aliette de Panafieu se especializou há anos nessa questão das violências psicológicas “comuns”. Ela dirige reuniões e work-shops nos quais cada um dos participantes aprende a identificá-las e sobretudo a compartilhar a experiência, sem ser jugado nem contestado.
Trabalhando na questão, Panafieu afinou sua percepção desses desconfortos quase invisíveis: “Apesar dela ser sutil ou negada pela nossa cultura, existe violência em algumas situações banais e familiares”. Aliette de Panafieu faz um inventário dos abusos mais frequentes dessa natureza: “Falar de alguém na terceira pessoa como se ele não estivesse presente, como se ele apenas fizesse parte da decoração do lugar”; “fazer uma piada, passar um trote, ou criar uma brincadeira de gosto duvidoso cujo sentido escapa à pessoa concernente”; “os jantares onde os cônjuges acertam as contas”; etc. Tanto nas famílias quanto nos ambientes de trabalho e outros, é comum que uma grosseria sutil e mal educada se instale de modo insidioso.
No entanto, proclamar regras comportamentais não é, segundo Panafieu, a solução, pois ninguém saberia julgar e avaliar o real grau de sofrimento de uma outra pessoa. Nessa matéria, é a emoção – não importa se somos a vítima ou uma simples testemunha – que nos permite identificar se um abuso afetivo está se manifestando. “A primeira etapa de todo um trabalho destinado a tornar consciente tais processos e aprender a controla-los, é treinar a si mesmo para prestar atenção e reconhecer quando a irrupção de algum comportamento abusivo está acontecendo”, explica a psicoterapeuta. “É o momento no qual a ‘bolha’, o tempo-espaço físico, emocional ou psíquico de uma pessoa não está mais sendo respeitado”.
O indicador é, em primeiro lugar, a emoção que aflora. Assim, em face daquela colega, por exemplo, que lhe diz sem pestanejar: “Então você vai começar um curso intensivo de ioga? Vou me inscrever junto com você, nas mesmas datas!”, sem sequer perguntar a sua opinião a respeito, um sentimento de tristeza e de impotência lhe invade. Ou em face daquele pai que “cutuca” e provoca sem parar a sua filha adolescente, Panafieu observa que no rosto da garota se instala uma expressão sombria.
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Identificar a emoção que se instala
Como reagir a essas pequenas punhaladas que surgem no dia-a-dia da relação afetiva? “Encontrando a energia para sair do triângulo vítima-carrasco-salvador”, explica Panafieu. Críticas, discussões, reações à queima-roupa, bem como os julgamentos, não servem para nada. O agressor geralmente age por impulso e não tem consciência clara de como está se comportando. Em revanche, manifestar de modo simples e claro ao agressor o que você está sentindo, ou testemunhando, com frequência permite o restauro da relação.
Estar presente na situação e ser simplesmente capaz de perguntar à vítima “O que você está sentindo?”, ou, quando você for a própria vítima, identificar a emoção que está aflorando e vê-la como um alerta benfazejo, permite uma mudança essencial de paradigma. Para Aliette de Panafieu, trata-se de uma nova ecologia relacional que é possível de ser criada. “Durante muito tempo não víamos os males causados pelo açúcar, ela explica a título de exemplo. Muito bem, no contexto das relações, acontece a mesma coisa”.
http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/275499/Abuso-afetivo-Quando-o-amor-se-transforma-em-domina%C3%A7%C3%A3o-e-viol%C3%AAncia.htm

Pobreza, trabalho pouco qualificado e baixa renda diminui expectativa de vida

<p>Photo/Silvia Izquierdo)</p> (photo: Silvia Izquierdo)
Photo/Silvia Izquierdo)

Ter um trabalho pouco qualificado e uma renda demasiado baixa pode diminuir a esperança de vida tanto quanto não ter suficiente atividade física.

 por Aurélie Franc para Le Figaro Santé no Brasil 24/7 - Sociedade e Pobreza 
Socioeconomica
O cigarro faz perder em média 4,8 anos de vida. O diabetes e a inatividade física, respectivamente 3,9 e 2,4 anos. As pessoas que vivem sob condições socioeconômicas desfavoráveis perdem 2,1 anos de vida em relação às pessoas que desfrutam de condições de vida favoráveis.
Esta é a conclusão de um estudo recém publicado na revista Lancet e que foi conduzido por um consórcio de pesquisadores no contexto do Projeto Lifepath. Financiado pela Comissão Europeia, esse projeto investiga os mecanismos biológicos através dos quais as desigualdades sociais engendram desigualdades em matéria de saúde.
A análise abrange uma amostragem de pouco mais de 1,7 milhão de indivíduos que participaram de 48 estudos levados a cabo no Reino Unido, Itália, Estados Unidos, Austrália, Portugal, Suíça e França. A categoria socioeconômica foi definida em função do trabalho dos participantes: trabalho qualificado, trabalho intermediário, trabalho não qualificado.
Esse fator social provoca uma perda de anos de vida superior à perda provocada pelos problemas de hipertensão.
Fatores de risco de mortalidade
Para medir a importância da renda e do trabalho sobre a saúde, os pesquisadores compararam esse fator socioeconômico com os seis maiores fatores de risco apontados nas estratégias mundiais para a redução da mortalidade prematura: o consumo excessivo de álcool, o sedentarismo, o consumo do tabaco, a hipertensão, o diabetes e a obesidade. Concluiu-se que esse fator social faz perder mais anos de vida que a hipertensão, e quase tantos anos quanto o sedentarismo.
“O status socioeconômico é importante pois ele é o resumo de uma exposição, ao longo de uma vida inteira, a condições e comportamentos perigosos”, ressalta Paolo Vineis,  chefe do Projeto Lifepath. “O objetivo principal do nosso consórcio é compreender as vias através das quais as desigualdades sociais levam a desigualdades de saúde a fim de fornecer provas disso para as instituições públicas e as lideranças políticas”.
O limite da interconexão dos riscos
Os autores do estudo reconhecem no entanto um limite: apesar de sua tentativa de separar os riscos de mortalidade apontados nas estratégias mundiais (tabaco, obesidade, etc), continua existindo uma interdependência entre esses fatores de risco e as diferentes  condições socioeconômicas.
Resta o fato de que, para eles, lutar contra esse fator social de insalubridade e mortalidade é um objetivo capital. Os pesquisadores do projeto trabalham para que, efetivamente, políticas locais, nacionais e internacionais sejam implementadas daqui em diante. Pois, segundo eles, as políticas nacionais de luta contra os demais fatores de risco, como o tabaco por exemplo, beneficiam apenas aquela fatia mais abastada da população para a qual mudar de hábitos é muito mais fácil.
http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/278856/Os-males-da-pobreza-Trabalho-n%C3%A3o-qualificado-e-renda-baixa-diminuem-a-expectativa-de-vida.htm

Meditação ajuda para envelhecer em paz

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Um treinamento mental voltado à regulação do estresse e das emoções permite melhorar a saúde mental dos idosos, afirma Gaël Chételat, diretora de pesquisa do Inserm – Instituto Nacional para a saúde e a pesquisa médica, na França.

 por Gaël Chételat para Le Figaro Santé no Brasil 24/7 - Sociedade e Saúde na Terceira Idade

Envelhecer bem é uma questão que ocupa um lugar cada vez maior na nossa sociedade. O número de pessoas idosas com mais de 65 anos na Europa deve passar de 86 milhões (18% da população em 2005) para cerca de 120 milhões (24%) em 2040. Como a incidência de problemas de saúde aumenta com a idade, esse crescimento do número de seniors representa um desafio social e econômico maior para as sociedades europeias. Por exemplo, mais de 50% das pessoas idosas têm problemas do sono, entre 10 a 15% sofrem de depressão, e entre 7 a 10% desenvolvem alguma forma de demência.
Esses problemas de saúde são acentuados pelo estresse e as emoções negativas. Além disso, esses fatores tendem a se amplificar e estão todos associados a um risco mais importante de desenvolver um declínio cognitivo e/ou o mal de Alzheimer. Por exemplo, foi demonstrado que os sintomas depressivos aumentam o risco de demência de cerca 20% dessas pessoas, que os distúrbios do sono podem favorecer os depósitos amiloides que encontramos nos cérebros das pessoas atingidas pelo mal de Alzheimer e que o estresse tem um efeito negativo sobre o hipocampo, uma estrutura cerebral importante para a memória e vulnerável no envelhecimento e no caso do mal de Alzheimer.
Os benefícios da meditação
Acreditamos que um treinamento mental para a regulação do estresse e das emoções permitiria melhorar o bem-estar e a saúde mental dos seniors e diminuir os riscos do mal de Alzheimer. As pesquisas nesse sentido ainda são recentes mas os primeiros resultados são muito encorajadores. A meditação estaria associada a uma redução do estresse, da ansiedade, da depressão, da insônia, do sentimento de solidão e de exclusão social, bem como dos riscos cardiovasculares. Vários estudos igualmente deixaram evidente que a meditação está associada a uma melhora das capacidades cognitivas, principalmente a atenção e as funções executivas, e também a memória, que são as funções mais sensíveis à idade e mais frequentemente atingidas nos casos de mal de Alzheimer.
Além disso, a imagineria cerebral demonstrou que a meditação está associada a modificações no cérebro que acontecem não apenas durante a sua prática, mas também a longo prazo -  e particularmente nas regiões que são sensíveis ao envelhecimento. Enfim, estudos recentes relatam que a meditação pode aumentar a atividade das telomerases que protegem as extremidades dos nossos cromossomas dos efeitos deletérios do envelhecimento.
 http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/278015/Medita%C3%A7%C3%A3o-%C3%93tima-ajuda-para-se-envelhecer-feliz.htm

2.23.2017

Ministério Público sem controle social gera violência policial no Brasil

  • Falta de controle externo pelo MP está na raiz da violência policial no Brasil

Ministério Público, que vive momento de protagonismo no combate à corrupção, poderia fazer a diferença, mas relega o controle das polícias a um segundo plano, afirmam pesquisadoras










por Maurício Thuswohl, para Rede Brasil Atual - Sociedade e Ministério Público Injusto no Brasil

marcelo camargo / Memória EBCpolicia.JPGCom altos índices de letalidade em suas operações, polícia brasileira faz de cidadãos vítimas

Rio de Janeiro – Uma das mais letais do planeta, a polícia brasileira tirou a vida de 3.345 pessoas em 2015, em uma média de nove assassinatos por dia, segundo levantamento realizado peloFórum Brasileiro de Segurança Pública. Este alto índice de letalidade, dirigido basicamente às populações marginalizadas e de baixa renda, poderia ser minimizado se houvesse um eficiente sistema de controle externo das atividades policiais, mas na prática isso não existe no país. Incumbido desta função pela Constituição de 1988, o Ministério Público, que vive momento de protagonismo no combate à corrupção, poderia fazer a diferença, mas relega o controle das polícias a um segundo plano, como revelou a pesquisa “Ministério Público: guardião da democracia brasileira?”, realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Cândido Mendes.
“Há falta de interesse do Ministério Público nessa área, e isso é algo muito grave para a democracia brasileira. Em relação ao controle da polícia, o Ministério Público não está cumprindo o seu papel de guardião da democracia. Não basta protagonismo nestes casos de corrupção. A democracia quer muito mais do Ministério Público”, diz a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do CESeC e coordenadora-geral da pesquisa.
O levantamento, feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ouviu 899 promotores e procuradores em todo o Brasil e revela que somente 7% dos membros do MP se dedicam com exclusividade às atividades de controle externo da polícia. Vinte e quatro por cento dos entrevistados afirmaram atuar nesta área de forma esporádica, enquanto 69% dos promotores nem sequer tratam disso em seu dia-a-dia profissional. A pesquisa revela ainda que, embora determinado pela Constituição Federal, o controle externo da polícia não é considerado como uma tarefa prioritária para 88% dos promotores e procuradores, ao mesmo tempo em que 42% deles reconhecem como “péssimo” o desempenho do MP nesta área.
Também coordenadora da pesquisa, a professora e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG Ludmila Ribeiro afirma que o controle externo das atividades policiais nem sequer é mencionado em 15 dos 27 websites nacionais ou regionais do MP: “Essa é a área que ainda se apresenta como o maior desafio para o Ministério Público. É uma promessa não cumprida pela Constituição de 88. Poucos promotores a consideram prioritária”, diz.
Um dos motivos desse não cumprimento de uma determinação constitucional, diz Ludmila, pode ser explicado pela excessiva proximidade existente entre Ministério Público e as polícias no Brasil: “Os comentários feitos pelos próprios promotores no questionário online e também nos grupos de discussão mostraram que há uma grande cumplicidade entre o Ministério Público e a polícia. O Ministério Público depende do trabalho da polícia para fazer o seu próprio trabalho na área criminal. Muitas vezes, a denúncia do promotor tão-somente repete o relatório final do delegado. Por isso, é muito difícil o Ministério Público ter uma proatividade no sentido de verificar a ocorrência de violência policial”.
Para Julita Lemgruber, por ser uma instituição altamente elitizada, o MP em boa parte abandonou a missão de cuidar dos elos mais frágeis da sociedade brasileira e acabou se adaptando aos anseios da classe dominante: “A sociedade não está preocupada com quem a polícia está matando. A polícia mata o pobre, o negro e o favelado. Os 60 mil homicídios que acontecem no Brasil anualmente não são homicídios de pessoas que moram nos Jardins ou na zona sul do Rio de Janeiro. Quem morre vítima de violência policial é quem não tem voz na sociedade. A elite, a classe dominante, não está interessada na vida dessas pessoas”, diz.
A socióloga afirma que o Ministério Público reflete o interesse dominante na sociedade: “Se houvesse pressão da sociedade para que a polícia fosse responsabilizada por seus atos de violência, certamente o Ministério Público teria uma posição mais proativa. O Ministério Público não pode apenas refletir o que a classe dominante espera da polícia”.

Preocupação seletiva  

Na opinião de Ludmila Ribeiro, a preocupação do Ministério Público com os direitos humanos é seletiva: “O que o Ministério Público acaba fazendo, de uma maneira muito residual, é acompanhar essas violações de direitos humanos mais dramáticas ou mais midiáticas. Isso nos ajuda a entender por que a polícia brasileira é uma das mais violentas do mundo. Se o Ministério Público – que é a instituição que tem a atribuição constitucional do controle da atividade policial – tem dificuldades ou reservas para a realização desta função, isso acaba motivando novos atos de violência policial. Quem os comete sabe que não vai ter punição”, diz.
Mesmo em casos que chamam a atenção da mídia, ressalta Julita Lemgruber, a atuação do MP tem sido tíbia. Ela cita o exemplo do caso do menino Eduardo de Jesus Ferreira, que foi morto na porta de casa por um tiro de fuzil disparado por um policial militar no Complexo do Alemão em abril de 2015. Por decisão da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio anunciada em 29 de novembro, a ação penal foi arquivada: “Temos esse caso recente no Rio de Janeiro do menino Eduardo, que foi arquivado com a chancela do Ministério Público. Um menino de dez anos que foi fuzilado pela Polícia Militar teve o seu caso arquivado, e a gente não houve falar em reação do Ministério Público. Este seria um caso para o Ministério Público se pronunciar no dia seguinte”, diz.
“Essa atuação nos casos de corrupção da Lava Jato e outras transformaram os membros do Ministério Público em salvadores da pátria, em heróis nacionais, quando esses direitos mais básicos, como o direito à sobrevivência e o direito à vida, são absolutamente relegados a uma importância muito menor pelos promotores e procuradores”, lamenta a socióloga.

Ouvidorias

Julita afirma que nem mesmo iniciativas “que criaram a expectativa de que a coisa iria avançar” e que visavam a ajudar o MP na tarefa de controlar a atividade policial tiveram o apoio dos promotores: “Em meados dos anos noventa surgiram as Ouvidorias de Polícia. Naquele momento, a gente acreditava que esse mecanismo de controle externo da polícia seria complementar ao trabalho do Ministério Público. Mas, o que a gente viu ao longo dos anos foi que essas ouvidorias não emplacaram”, diz.
Segundo a socióloga, a maioria das pessoas nem sabe que existe Ouvidoria de Polícia: “O que a gente tem ao longo desses últimos 20 anos é uma estratégia de controle externo da polícia que jamais realmente se constituiu em um organismo forte ao passo em que o Ministério Público também jamais se mostrou verdadeiramente interessado nesta área. As Ouvidorias não decolaram e o Ministério Público ficou fazendo figuração”, diz Julita, que foi a primeira ouvidora de Polícia do Rio.
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2016/12/falta-de-controle-externo-pelo-mp-esta-na-raiz-da-violencia-policial-no-brasil-8458.html 

Petrobras: o sucateamento a toque de caixa

por André Araújo, no Jornal GGN para O Cafezinho - Sociedade e Desmonte da Petrobras
O grande risco é que antes a Petrobras era atacada de fora, agora o inimigo está dentro e a grande empresa corre o risco real de desaparecer levando junto 64 anos de História econômica do País da qual nesse longo período foi parte fundamental
Petrobras, a privatização branca, por André Araújo
A Petrobras foi criada em 1953 como um projeto de País, após grande batalha política que mobilizou a população e o Congresso.
O objetivo era conseguir autonomia em petróleo, setor que até então era dominado pelas importadoras e distribuidoras estrangeiras Esso, Shell, Texaco, Gulf e Atlantic, antes havia também a Anglo Mexican, que foi grande fornecedora de gasolina ao Brasil nos anos 30.
O projeto foi portanto desde seu início estratégico e não financeiro, não havia ainda ideia da existência de grandes reservas de petróleo no País, a visão geral é a de que não havia jazidas importantes mas uma empresa estatal poderia ao menos fazer importação, a tancagem e o refino no País, que até então importava o combustível refinado, era o maior gasto em divisas de nossa balança de importação, sob controle exclusivo das “majors”.
Ess DNA da Petrobras é histórico e parte da sua inspiração vinha da nacionalização do petróleo mexicano em 1938 pelo Presidente Lazaro Cardenas com a constituição da PEMEX, primeira estatal petrolífera do mundo.
A Petrobras manteve esse papel estratégico durante toda sua história, reforçado no governo militar de 1964 quando se deu grande expansão através da construção de grandes refinarias, vasta rede de oleodutos, formação de uma frota de petroleiros, as primeiras incursões internacionais na América Latina e Oriente Médio, entrada na área petroquímica e especialmente pela pesquisa de petróleo no mar, todas realizações na época do regime militar, quando a Petrobras quadruplicou de tamanho, entrando em novos setores.
Os militares, especialmente no Governo Geisel, atribuíram enorme importância à Petrobras, a ponto do próprio General Geisel ter sido presidente da empresa. Nesse período a Petrobras tornou-se também a maior cliente da indústria nacional de equipamentos, sendo indutora da criação de novas fábricas e produtos pela primeira vez produzidos no Brasil.
A completa descaracterização do papel estratégico da Petrobras se deu no Governo FHC.
A política econômica desse governo aderiu de corpo e alma ao chamado “Consenso de Washington” e aos canones neoliberais levados ao seu paroxismo, pensando-se em vender todas as estatais, ideia que o Presidente FHC mais tarimbado e experiente não aderiu em relação a três empresas simbolos, Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, excluídas expressamente dos dois Planos de Desestatização, o primeiro do Governo Itamar e o segundo do próprio Governo FHC (Leis 8031/90 e 9491/97). O Governo FHC fez essas exclusões por evidentes razões políticas, haveria muita resistência e desgaste, além do que no caso da Petrobras a privatização seria politicamente impossível, teria que ser derrubada a Lei que criou a empresa e isso não passaria no Congresso da época. A Petrobras tem uma simbologia muito forte para o povo brasileiro, FHC resistiu sempre a essa ideia embora pressionado por forças dentro de seu governo. Creio que havia também o respeito à memória de seu tio, o General Felicissimo Cardoso, líder nacionalista do Exército e um dos chefes da campanha “O Petroleo é Nosso” . A familia militar dos Cardoso, descendente de um Marechal do Império e com dois Ministros da Guerra na República tem, portanto, vinculação histórica com a criação da Petrobras, que foi resultado de uma ampla campanha patriótica.
A Petrobras não entrou nos planos de privatização mas chegou-se perto por via indireta, ao se abrir o capital para investidores estrangeiros e adotar padrões de companhia internacional de capital aberto, o que significava uma mudança de lado, de objetivos e de governança, abandono de seu papel estratégico dentro do qual foi fundada em 1953.
O objetivo a partir de então não era mais de atender esse papel de Estado e sim o de apresentar resultados aos acionistas nacionais e internacionais, especialmente a estes, que passaram a ser vistos como o futuro da empresa, agia-se pensando neles. A Petrobras seria mais uma multinacional de petróleo nos moldes da Shell do que uma empresa estatal.
Há todavia uma incompatibilidade visceral entre uma companhia petrolífera que executa uma política de Estado, como todas as petroleiras estatais e uma empresa que visa atender ao mercado financeiro internacional, são dois papeis que não combinam e costumam ser antagônicos. Por essa razão a Petrobras é a unica grande petroleira estatal do mundo que tem ações na Bolsa de Nova York, até a comportada e organizada Noruega não abriu capital de sua petroleira , a STATOIL, que tem objetivos exclusivamente nacionais estratégicos.
Ao listar a empresa na Bolsa de Nova York todo o compromisso com o Brasil foi deslocado para o compromisso com o mercado financeiro, razão pela qual o Governo FHC colocou à frente da empresa personagens vinculados a esse mercado, como Francisco Gross, diretor do banco de investimentos Morgan Stanley no Brasil, que não entendia nada de petróleo mas muito de mercado financeiro, já denotava o viés pró-mercado do Governo.
Anterior a Gross, o Governo FHC tinha nomeado para presidente da Petrobras o frances Henri Phelippe Reichstul, cuja única familiaridade com petróleo era encher o tanque no posto.
Certo ramos exigem tal volume de conhecimentos acumulados que a regra é preencher seus cargos de topo com experientes executivos após décadas de vivencia no setor. O petróleo é um desses ramos, os executivos principais da Exxon Mobil, da Shell, da BP, da Conoco, da Total, costumam ser pessoas formadas na empresa com trinta ou mais anos de carreira.
Foi muito estranho o Governo FHC colocar executivos inteiramente alheios a petróleo no comando da Petrobras, o que denotava um sinal de desprezo pelo futuro da empresa.
O Governo Lula trouxe novamente a Petrobras ao seu papel estratégico, embora cometesse muitos erros de gestão e o maior erro de todos foi não preservar a empresa do aparelhamento partidário que gerou o caso “petrolão”. Uma empresa do porte e das características da Petrobras jamais poderia ter diretores indicados por “bancadas estaduais” de tal partido, que designavam tipos inteiramente despreparados e mal intencionados para gerir uma enorme e complexa companhia. Mas, ao lado dos erros, a companhia manteve por todos esses anos uma visão estratégica de empresa integrada de petróleo em expansão.
Agora, após o impeachment, os antigos privatistas e seu tradicional apoio na mídia conservadora, que foi contra a Petrobras desde sua criação, a Petrobras significava um projeto de Brasil desenvolvido a que esse círculo conservador tinha horror, eles sempre tiveram a ideia de um Brasil como coadjuvante do sistema internacional. Esses privatistas encontraram uma fórmula nova e sutil para privatizar a Petrobras, que não depende de derrubada da Lei de 1953, impossível politicamente e, ao contrário, é um método que pode ser executado silenciosamente, é a PRIVATIZAÇÃO BRANCA.
Significa vender os ATIVOS da Petrobras invés de vender o controle acionário como se fez com as teles, a Vale, as elétricas. Retalhar as empresas e vender a grande distribuidora BR, uma das maiores do mundo pelo volume vendido, os oleodutos e gasodutos, as empresas de gás, como a Liquigás, já vendida, poços já em produção e áreas para exploração, a participação na Braskem, maior petroquímica da América Latina, as subsidiárias internacionais como a Petrobras Argentina, tudo está à venda e rapidamente, ao fim restará um saco vazio como a outrora poderosa Telebras, hoje um fantasma corporativo..
Uma das “narrativas” usadas como razão da liquidação de ativos é a necessidade de pagar dividas da gestão anterior. Parece à distância boa razão, mas precisa ser analisada com lupa.
A Petrobras tradicionalmente cresceu por endividamento e não por emissão de ações, seu fluxo de caixa é tão gigantesco que suporta alavancagem em alta escala. Ah, dirão, mas a dívida era tanta que havia risco de quebra. Esse risco foi remoto antes e agora porque o caixa da Petrobras sempre foi elevado, mesmo nas épocas de maior crise. Nunca houve ameaça de não pagamento ou não renovação de dívida a vencer que justificasse a liquidação apressada de ativos e venda de uma forma altamente discutível, negociação direta e fechada sem nenhuma transparência quanto ao valor. modelagem de venda e quanto ao impacto estratégico da alienação do ativo.
Uma prova? Em dezembro do ano passado a Petrobras lançou uma emissão nova de bonds no valor de US$4 bilhões, houve “oversubscription” excesso de demanda do papel para US$20 bilhões, quer dizer havia compradores para 20 bilhões de dólares desses bônus, a Petrobras só vendeu US$4 bilhões. O que isso significa? Se a Petrobras estivesse em crise financeira real o mercado jamais teria apetite para cinco vezes o valor primário da emissão, não venderia nem esses US$4 bilhões, como não está em crise teve fila para comprar 5 vezes mais do que ela precisava. O risco Petrobras tem a garantia não formal mas implícita da República, sua acionista controladora. Assim como com os bonds do BNDES, o mercado percebe que jamais o governo brasileiro deixaria a Petrobras ir a quebra. As dívidas externas da Petrobras tem vencimentos bem distribuídos, as domésticas tem cobertura folgada da geração interna de caixa do grupo, a Petrobras sempre teve ofertas de linhas de créditos para suas necessidades porque tem faturamento garantido, seu poder de controlar o mercado é enorme e esse grande País dela depende para ser abastecido de combustível, produz 2 milhões de barris/dia, o que a coloca na primeira liga de produtores mundiais, além de importantes reservas no pré-sal que são lastro garantidor futuro.
Ah, dirão, mas o mercado tem confiança na gestão atual e não tinha na gestão passada, pode ser em parte verdade mas uma gigantesca empresa à beira da quebra não muda em seis meses, leva anos para recuperar, se a Petrobras melhorou tão rapidamente é porque a situação não era tão grande como a mídia conservadora alardeava, empresa desse tamanho em dificuldades não saiu do burado em poucos meses;
A PDVSA, petroleira da Venezuela, em péssima situação financeira, obteve nos últimos 3 anos linhas de crédito em dinheiro de bancos chineses no valor de US$ 53 bilhões, que já sacou, isso para uma empresa quebrada em um país quebrado, o que demonstra o potencial de crédito de uma petroleira mesmo em super crise, que nunca foi o caso da Petrobras, notando-se que a PDVSA produz hoje menos que a Petrobras e refina muito menos, tampouco tem uma grande base petroquímica.
Portanto a desculpa para fazer saldão de ativos, agora o mercado já fala que a Petrobras quer vender refinarias, seu “core business”, seu negócio-base, é desculpa para ir vendendo tudo com a justificativa que precisa pagar dívidas, tudo é não explicitado e fica-se na nuvem das insinuações, nuvem que também encobre qual é a verdadeira situação da empresa, quais são as avaliações reais dos ativos vendidos e qual o método de venda, os ativos estão sendo vendidos por negociação direta e não em leilão, o que é estranho em uma empresa pública, embora legal por uma exceção especial que a Petrobras tem de não obedecer à lei de licitações, exceção essa que foi estabelecida no Governo FHC.
Se vende a distribuição, refinarias, navios e campos sobra o quê? O prédio da Av. Chile que ao fim será posto à venda. Pronto. Õ controle acionário da Petrobras continua com a União como manda a lei mas será só uma casca vazia, que pode ir se arrastando por décadas como a Rede Ferroviária Federal S.A. ou a Siderbras S.A.
E porque o mercado valorizou as ações da Petrobras com esse projeto em curso? Por razões óbvias, quanto mais vende ativos mais aumenta o caixa, o que signfica que a companhia terá mais dinheiro para distribuir aos acionistas, como dividendo especial ou redução de capital. Só uma venda, de uma linha de gasodutos, vai fazer entrar no caixa US$ 5,2 bilhões mas já foram muitas vendas em apenas seis meses, parece que há pressa.
É a formula clássica de Wall Street e do capitalismo selvagem americano, tão bem demonstrado no filme do mesmo nome “Wall Street” com Michael Douglas. Compra-se uma empresa produtiva que vale mais retalhada do que operando como conjunto, manda-se os empregados embora e com a venda dos ativos se faz um caixa maior que o valor das ações, o financista tem enorme lucro com esse jogo, que foi aplicado a 7.000 empresas americanas, liquidando 4 milhões de empregos e boa parte da base industrial dos EUA.
A Petrobras já abriu programas de demissão voluntária, que é uma preparação da venda de ativos, visando liquidar potenciais passivos trabalhistas.
A liquidação silenciosa de ativos tem a equipe certa hoje no comando da Petrobras, privatistas históricos, com currículo conhecido, estão fazendo a feira com extrema rapidez na linha “está tudo à venda” antes que as forças contrárias percebam. No fundo da alma eles detestam uma Petrobras estatal ou talvez a própria Petrobras como ideia e história.
A Lava Jato serviu como uma luva a esse projeto de privatização, não poderia haver desculpa melhor. Além disso o projeto obviamente conta com o amplo apoio do Departamento de Justiça dos EUA que quer dinheiro grosso da Petrobras, com a venda de ativos aumenta o caixa e deixa folga financeira que garante o pagamento de “multas” ao Departamento de Justiça, de alguns bilhões de dólares. O Departamento de Justiça ao fazer acordo para finalizar o processo anti-corrupção vai estar de olho no caixa volumoso criado com a venda de ativos para tentar extrair o máximo, uma oportunidade única oferecida ao Governo dos EUA, nenhuma outra petroleira estatal do mundo se prestou a ser processada pelo Governo americano e ao fim pagadora de indenizações ao Tesouro dos EUA, que agradece o cheque.
Outra consequência dessa visão não estratégica é o completo desprezo da atual diretoria por compras de equipamentos no Brasil, na dúvida preferem o estrangeiro como produto ou como prestador de serviços, já deixaram isso claro. É uma insanidade. A Petrobras foi a desenvolvedora de uma larga faixa de produtos, equipamentos e tecnologias criadas no Brasil. O fator preço NÃO é central nessa visão porque um produto 20 ou 30% mais caro fabricado no Brasil gera aqui dentro efeitos que superam em muito esse diferencial. São salários e impostos pagos aqui, assim como contribuições previdenciárias, sub-fornecedores que geram muitos empregos, a Petrobras sempre foi parceira da indústria brasileira, toda uma gama de efeitos que compensam largamente diferenças de preços que não sejam absurdas e de fato raramente são, em sondas o diferencial está em tono de 20 a 30% no preço de contrato. Mas o estrangeiro tem outros custos extra preço que não se consideram,desde o transporte da Ásia até aqui, depois a assistência técnica vem também de fora e é mais cara, os manuais precisam ser traduzidos, há todo um plus que não se avalia apenas no preço de pedido.
O Presidente Trump tem exatamente essa visão quando pretende relançar uma politica de “buy american act” com um protecionismo dirigido e racional para certos setores de ponta de interesse estratégico. Aliás os EUA sempre tiveram essa visão de interesse nacional, não privatizam por exemplo usinas hidroeletricas, são seis conjuntos de represas e usinas, todos bens federais, como a Tennessee Valley Authority, imprivatizáveis, tampouco privatizam aeroportos, metrôs, rodovias, portos, linhas de ônibus municipais, tem especial cuidado com a construção naval através da Maritime Commission que trata de manter um mínimo de estaleiros em operação no País, até por questões de segurança da Marinha de Guerra e todo o navio construído nos EUA tem altos subsídios federais.
Enquanto isso por causa da atual gestão da Petrobras o grande polo naval da cidade de Rio Grande, que chegou a ter 21.000 empregados em estaleiros, hoje tem apenas 600, graças ao cancelamento de encomendas de sondas que a Petrobras resolveu fazer, transferindo os pedidos para a China. Praticamente 20 mil desempregados porque resolvem comprar na China o que aqui pode ser feito, aliás os estaleiros de Rio Grande já entregaram 3 sondas da encomenda de 8 que a Petrobras tinha colocado, agora tem zero de encomendas.
Lembrando que toda a tecnologia de exploração marítima de petróleo foi desenvolvida no Brasil, poucos países tem essa tecnologia, basicamente Reino Unido, Noruega e Brasil, o desenvolvimento foi da própria Petrobras em parceria com o COPPE da UFRJ, nos áureos tempos em que se pensava a Petrobras como líder de todo um projeto nacional.
O desmonte da Petrobras e na velocidade em está ocorrendo é assustador, para alegria dos comentaristas da mídia econômica que sempre sonharam com um país globalizado e dependente, puxando pela memória de seus avós que nos longínquos anos 50 demonizavam nascimento da Petrobras, criada após verdadeiras batalhas contra o grupo conservador do Rio de Janeiro, com Eugenio Gudin à frente e os jornais O GLOBO e ESTADÃO vociferando diariamente contra esse projeto dito por eles como “nacionalista”, algo detestável.
Para mostrar a importância do controle nacional do petróleo, todos os grandes produtores mundiais tem empresa estatal no controle, SAUDI Aramco, a maior petrolífera do mundo na Arábia, Kuwait Oil, Iraq National Oil, National Iranian Oil Co.NIOC, SONANGOL, Angola, PEMEX, Mexico, SONATRACH, Argelia, RUSSNEFT, Russia, SINOPEC e China National Oil, China, ECOPETROL, Colombia, NIGERIAN National Petroleum, Nigeria, STATOIL da Noruega, todas empresas que são braços de Estados e executam sua política.
As empresas estatais de petróleo são uma CATEGORIA de empresas, das maiores do mundo em volume de receitas, reconhecidas como representantes de seus países, dispondo de crédito em abundância para suas necessidades porque tem como lastro reservas de petróleo embaixo da terra ou do mar. A Petrobras se colocou em uma situação híbrida ao aparecer no mercado como uma estatal de alma e tendo ao mesmo tempo acionistas estrangeiros, que agora a acossam com processos de natureza extorsionista, uma situação que não pode dar certo, grande erro estratégico do Governo FHC, um erro tão óbvio que dá a impressão ter sido uma preparação para a venda futura do controle da empresa em leilão internacional.
A Petrobras era uma S/A anteriormente mas com caráter nacional, acões somente em bolsas brasileiras e capital pulverizado no Brasil, não é nem de longe a mesma coisa que ter ações na Bolsa de Nova York, submetendo a empresa à jurisdição americana invasiva, controladora e destrutiva.
Hoje as petrolíferas estatais controlam 92% das reservas mundiais de petróleo, dados da Cambridge Energy Research, principal consultoria de petróleo do mundo. A OPEP por sua vez é constituída exclusivamente por empresas estatais de petróleo, que são consideradas na cena internacional como sendo vanguardas de seu Estados, uma categoria à parte.
Na importação de combustíveis, a Petrobras teve uma queda brutal de 2015 para 2016, de 83% do total importado em gasolina em 2015 passou para 59% em 2016, no diesel a queda foi ainda maior, a Petrobras importou em 2015, 84% do total e em 2016, apenas 16%.
E quem se beficiou da redução da fatia da Petrobras na importação e distribuição? Basicamente a Ipiranga, do grupo Ultrapar e a Raizen, do grupo Shell.
Mais uma privatização branca por outro caminho, a redução da fatia de mercado. O que disse a Petrobras sobre isso? “Considera positiva a presença de outros agentes paticipando do suprimento da demanda brasileira” e que seu foco é maximizar os resultados e a geração de caixa; (FOLHA , 17/02/2017-pag.A20). Ora, se outros ocuparam o lugar da Petrobras e são empresas lucrativas é porque a fatia que a Petrobras abriu mão dá lucro, como então perder mercado ajuda o resultado e a geração de caixa? Parece um contrasenso na falta de explicação melhor, porque abrir mão de graça de larga fatia do mercado?
Não havendo uma explicação lógica parece mais uma batida em retirada do que outra coisa.
A privatização por dentro da Petrobras uniu politicamente dois grupos, em uma aliança de conveniências, os moralistas e os privatistas, ambos por razões diversas são inimigos das estatais e especialmente da Petrobras. Ambos estimulam a desintegração da Petrobras que vêem como um antro de corrupção e ineficiência, desprezando sua história e sua importância como geradora de empregos na indústria e na tecnologia do País, na construção civil e na construção naval, fatores que para os dois grupos nada valem pois eles não tem consciencia do que é um Estado nacional como ente superior de agregação da história do passado, da sobrevivência da população atual e da garantia das gerações futuras.
O grande risco é que antes a Petrobras era atacada de fora, agora o inimigo está dentro e a grande empresa corre o risco real de desaparecer levando junto 64 anos de História econômica do País da qual nesse longo período foi parte fundamental.
http://www.ocafezinho.com/2017/02/21/o-sucateamento-toque-de-caixa-da-petrobras/