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9.01.2016

Brasileiros reagem a perda de direitos constitucionais

  • Manifestantes protestaram contra o golpe de Temer em diversas capitais
  • Pelo menos em São Paulo e Porto Alegre, as manifestações foram reprimidas pela polícia com violência, bombas e prisões

por Redação site Rede Brasil Atual - Sociedade e Injustiça Social no Brasil

Gustavo Munhoz/Ninja
Fora TemerPrimeira noite do governo Temer é marcado por diversos protestos e repressão policial
São Paulo – Após o afastamento de Dilma Rousseff e a posse de Michel Temer no cargo de Presidente da República, milhares de pessoas foram às ruas na noite de 31/08//2016, em pelo menos 15 estados para protestar contra o golpe. Foram registrados atos em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina. As mobilizações, espontâneas ou convocadas por movimentos sociais e estudantis, ocorreram nas capitais e também em cidades do interior. Em algumas cidades foram registrados choques violentos com a Polícia.
Em São Paulo, os manifestantes se reuniram em dois pontos da Avenida Paulista. Quando a passeata estava na Rua da Consolação no cruzamento com a Rua Maria Antonia, bombas da PM foram lançadas contra os manifestantes.
A ação da PM fez com que a passeata se dividisse em manifestações menores. Parte dos ativistas desviou da Rua da Consolação para a Rua Augusta e deu prosseguimento ao protesto. Outros, correram para a Praça Roosevelt, onde bombas e gás também foram lançados pela polícia. A intenção dos ativistas era encerrar a manifestação em frente ao jornal Folha de S.Paulo, na Rua Barão de Limeira.
No Rio de Janeiro, a concentração foi na Cinelândia, onde os ativistas fizeram discursos contrários ao processo que levou à saída definitiva de Dilma. manifestantes deixaram a Cinelândia e partiram pela Rua Santa Luzia, onde fica a sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Em frente ao prédio da entidade, os ativistas fizeram uma pausa e discursaram contra a posição da Firjan pelo impeachment de Dilma. Participaram centrais sindicais, entidades estudantis e grupos da sociedade civil, além de pessoas sem ligação com esses grupos.
Em Brasília, Polícia Militar reprimiu com violência manifestação para protestar contra a confirmação do golpe. Bombas de efeito moral, gás de pimenta, prisões arbitrárias e espancamentos deram a tônica da atuação policial.
Em Belo Horizonte, a manifestantes se concentraram começou na Praça Rômulo Paes, se dirigiram à Praça Raul Soares e depois seguiram para a Praça Sete. Ao logo do percurso, os presentes usavam palavras de ordem para pedir a saída do presidente Michel Temer e para classificar de golpe o processo que levou ao afastamento da petista. Também foram feitas projeções em edifícios com a frase "Fora Temer".
Em Salvador, a manifestação ocorreu, inicialmente, em frente a um shopping da cidade, local onde decidiram seguir em passeata pelas ruas da capital baiana. Com faixas e cartazes, os manifestantes disseram "Não" ao que chamaram de "golpe" e negaram se sentir representados por Michel Temer. Eles prestaram apoio a Dilma Rousseff em palavras de ordem, músicas e, também, em cartazes e faixas.
"Eu luto desde a ditadura militar. Lutei contra a tortura, lutei por um governo democrático. Continuo lutando contra um golpe, um golpe civil", disse, emocionada, a professora aposentada, Raimunda Viana, de 63 anos.
Em Porto Alegre, milhares de pessoas tomaram as ruas. A concentração começou por volta das 18h na Esquina Democrática, no Centro Histórico da capital gaúcha. Os manifestantes portavam cartazes denunciando o que chamam "golpe contra a democracia" e exigindo a saída do presidente da república, Michel Temer, empossado hoje à tarde após a confirmação do impeachmentno Senado. Bandeiras de partidos, como PT e PSOL, e de movimentos sociais também foram levadas para o ato.
Por volta das 19h, o grupo deixou a Esquina Democrática e iniciou uma caminhada em direção ao Parque Farroupilha. Na Avenida João Pessoa, diante da sede do PMDB em Porto Alegre, um grupo que carregava um caixão escrito "democracia" incendiou o objeto. Alguns manifestantes mais exaltados depredaram o portão que dava acesso à sede do partido.
Foi quando aconteceu a primeira intervenção da Brigada Militar (BM). Os policiais dispararam uma bomba de gás em frente à sede do PMDB, no meio da multidão. Foi o princípio de uma correria generalizada, mas que durou poucos minutos. Instantes depois, os manifestantes estavam novamente reunidos e seguiram em caminhada.
A tensão chegou ao clímax por volta das 20h15, na Avenida Ipiranga, quando o grupo se aproximou do prédio da RBS, empresa de comunicação afiliada da Rede Globo. Os homens da BM formaram um cordão de isolamento ao redor do edifício e dispararam mais bombas de gás na multidão. Alguns manifestantes queimaram pneus no meio da avenida e tentaram revidar com pedras arremessadas contra os policiais.
No Recife, manifestantes e representantes de diversas entidades civis ocuparam por cerca de duas horas uma das principais vias do Recife, a Avenida Agamenon Magalhães, percorrendo, em seguida, outro importante corredor viário da cidade, a Avenida Conde da Boa Vista, até a Praça do Diário.
"Esse golpe tem um recorte muito específico, machista, misógino, pelo fato da presidenta ser mulher. Mas vem também como um ataque aos direitos do povo. Esse tempo em que o governo interino tem governado só demonstrou a intenção de retirar direitos conquistados. E a partir de agora a gente vai ter um grande retrocesso nos direitos básicos, trabalhistas, por exemplo. Não é um golpe só na presidenta Dilma, mas nos direitos do povo brasileiro", disse Ingrid Farias, integrante da Frente Brasil Popular, que reúne movimentos sociais.
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/09/manifestantes-protestam-contra-temer-em-diversas-capitais-7553.html

Começo da resistência social no Brasil

  • 'Forças econômicas que patrocinaram golpe querem ofensiva neoliberal', diz especialista
  • “A história com certeza não vai demorar muito, e mais rápido do que imaginaram, ficará claro que foi um golpe”, afirmou o coordenador da Consulta Popular, Ricardo Gebrim

por Sarah Fernandes, para site Rede Brasil Atual - Sociedade e Movimentos Sociais Brasileiros (fonte no final)

Foto Sindicato dos Químicos/SP

São Paulo – O coordenador do movimento Consulta Popular, o advogado Ricardo Gebrim, defendeu hoje (31) que o impeachment de Dilma Rousseff é uma estratégia de grupos econômicos e sociais para implementar uma agenda neoliberal, com privatizações e reduções de direitos sociais. Gebrim acredita que o resultado da votação, considerado por ele como a “a consumação de um golpe”, encontrará grande resistência social.
“As forças econômicas e sociais que patrocinaram o golpe querem uma nova ofensiva neoliberal para mudar o marco regulatório do petróleo, reduzir direitos trabalhistas e privatizar o setor elétrico”, defendeu Gebrim. “A farsa jurídica que tentaram construir foi desconstruída pelo depoimento firme e corajoso da presidenta Dilma. A história com certeza não vai demorar muito e mais rápido do que imaginaram ficará claro que foi um golpe. Isso vai possibilitar que essa página da história seja enfrentada com muito mais rigor.”
Para Gebrim, a articulação do impeachment da presidenta Dilma passa por grupos econômicos internacionais, principalmente ligados aos Estados Unidos, que estão incomodados com a articulação econômica dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Há o interesse também em mudar o marco regulatório da partilha do pré-sal. Já começaram a retirar a Petrobras como principal empresa e já acabaram com o fundo soberano do pré-sal”, diz.
O coordenador da Consulta Popular lembrou que 46% do setor elétrico brasileiro pode ser privatizado, incluindo as usinas hidrelétricas. “São valores monstruosos. Nada oferece um lucro tão rápido neste momento para as corporações de capital estrangeiro internacional”, disse. “Além disso, setores da burguesia brasileira foram atraídos pela retirada de direitos trabalhistas. A base foi a classe média alta, mas que já começa a gradativamente a perceber o que fez.”
Neste cenário, a resistência dos movimentos sociais deve ser intensa, acredita Gebrim. “Temos pontos a nosso favor: a sociedade brasileira já vivenciou uma ofensiva neoliberal, já sabe o engodo das privatizações”, disse. “Há também uma memória coletiva positiva desses anos de governo petista com as conquistas de direitos sociais. Esse quadro todo é outro elemento favorável, porque foram poucos governos da América Latina capazes de responder à maioria com políticas sociais. Toda vez que isso aconteceu ficaram marcas profundas.”
“Para aplicar uma agenda neoliberal, Temer vai precisar reduzir direitos democráticos porque não será possível aplicá-la com determinados espaços democráticos já funcionando. Será preciso esvaziá-los”, afirma. “Essa ofensiva não será fácil para eles. Existirão luta e mobilizações.”
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/08/forcas-economicas-que-patrocinaram-golpe-querem-ofensiva-neoliberal-diz-especialista-4353.html