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4.30.2023

Brasil está com a economia estagnada a vários anos e a Índia avança

A Índia emergente e o Brasil sub-mergente

O Brasil está com uma economia estagnada há diversos anos, enquanto a Índia tem apresentado crescimento significativo nas últimas 4 décadas

por José Eustáquio Diniz Alves* no Eco Debate e IHU Unissinos

    Foto da Ïndia na Internet                                                            Foto do Brasil na internet

A Índia já foi palco de uma das civilizações mais criativas e prósperas do mundo. Mas, nos últimos séculos, este país bastante importante do Sul da Ásia, ficou para trás em relação ao mundo Ocidental e em relação ao seu ainda mais gigantesco vizinho chinês. A despeito do tamanho, a Índia é considerada uma nação de renda baixa, tendo a renda média por habitante inferior a US$ 10 mil.

Contudo, a Índia está a caminho de se tornar uma nação de renda média no mundo e já é a terceira maior economia, atrás apenas da China e dos EUA, quando se considera a renda em poder de paridade de compra. Embora a Índia tenha enormes desafios para vencer a pobreza, a fome e a degradação ambiental, o país tem se destacado nos indicadores econômicos. A Índia se tornou o país mais populoso do mundo em abril de 2023, tendo passado a China e possui a maior população em idade produtiva da comunidade internacional.

O contraste com o Brasil é gritante. O gráfico abaixo mostra a participação da economia brasileira e indiana no PIB global entre 1980 e 2028. Nota-se que, em 1980, o PIB brasileiro representava mais de 4% do PIB mundial e o PIB indiano menos de 3% do PIB global. Mas a partir do início dos anos de 1990, a Índia ultrapassou o Brasil e foi deixando para trás o maior país em território da América do Sul.

Atualmente, o PIB do Brasil representa menos de 3% do PIB global e o PIB da Índia representa mais de 7%. Em algum momento da década de 2030, o PIB da Índia deve alcançar 10% do PIB global, enquanto a economia brasileira deve encolher para menos de 2%. Portanto, não é incorreto dizer que a Índia é um país emergente, pois cresce mais do que a média mundial e o Brasil é um país sub-mergente, pois cresce menos do que a média global.

Os dados do FMI mostram que a Índia tem um desempenho econômico muito acima do brasileiro. O gráfico abaixo mostra as taxas anuais de crescimento do PIB em 4 décadas. O Brasil só apresentou taxas ligeiramente superiores às indianas nos anos de 2000 e 2008. Em 2020, durante a pandemia da covid-19 a recessão foi maior na Índia, mas nos anos seguintes o país asiático se recuperou, enquanto o Brasil patina.

Em 1980, o Brasil tinha uma renda per capita de US$ 11,4 mil e a Índia uma renda de US$ 1,2 mil, perfazendo uma diferença de 9,4 vezes, conforme mostra o gráfico abaixo com dados do FMI de 1980 a 2028, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp). Em 1990, a diferença tinha caído para 6 vezes. Em 2023, a renda brasileira ficou estimada em US$ 15,2 mil e da Índia em US$ 7,4 mil.

Fazendo uma projeção até 2045, considerando um crescimento médio do PIB per capita de 0,7% ao ano para o Brasil e de 4,2% ao ano na Índia, os dois países teriam renda, respectivamente, de US$ 18 mil e US$ 19 mil. Ou seja, a renda per capita da índia ultrapassaria a renda brasileira em 2043.

É claro que toda projeção está sujeita à alteração, dependendo da dinâmica econômica nacional e internacional, mas os dados parecem indicar que a Índia está superando a “armadilha da pobreza”, enquanto o Brasil está preso à “armadilha da renda média”.

A figura abaixo mostra que a China deve contribuir com 22,6% do crescimento global no quinquênio 2023-28 e a Índia vem logo em seguida com 12,9%. Os EUA aparecem em 3º lugar, com 11,3% e o Brasil com uma contribuição de apenas 1,7% para o crescimento global. É cada vez menor o peso do Brasil na economia internacional e a política externa brasileira precisa levar estes dados em consideração.

Mas como foi mostrado no artigo “A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios eco-ssociais”, publicado no portal Ecodebate (Alves, 10/08/2022): “A Índia já é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa e ocupa o 2º lugar quando se considera as emissões por área. Como se projeta grande crescimento demo-econômico nas próximas décadas, a perspectiva é que os problemas ambientais do país se agravem bastante no médio e longo prazo.

A Índia já sofre com os eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e ondas letais de calor. Não será fácil resolver de forma simultânea os problemas sociais e ambientais. Mas, com certeza, o aprofundamento da transição demográfica deve ajudar a mitigar as crises e a facilitar a adaptação para o novo cenário da crise climática e ambiental global.

Artigo publicado na revista Plos Climate (29/04/2023) diz: “Devido aos encargos sem precedentes na saúde pública, agricultura e outros sistemas sócio-econômicos e culturais, as ondas de calor induzidas pelas mudanças climáticas na Índia podem impedir ou reverter o progresso do país no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS)”

Em síntese, o Brasil está com uma economia estagnada há diversos anos, enquanto a Índia tem apresentado crescimento significativo nas últimas 4 décadas.

Porém, em um futuro não muito distante, a crise climática e ambiental pode retroceder o desenvolvimento ou colocar uma significativa limitação para o bem-estar humano em praticamente todos os países do mundo.

Referencial Bibliográfico

ALVES, JED. A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios ecossociais, Ecodebate, 10/08/2022.

Ramit Debnath, Ronita Bardhan, Michelle L. Bell. Lethal heatwaves are challenging India’s sustainable development, Plos Climate, April 19, 2023.

*José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente

Publicado no IHU Unissinos: 27 Abril 2023

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/628184-a-india-emergente-e-o-brasil-submergente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves

 

4.10.2023

Busca do eterno equilíbrio natural entre o espírito e a matéria

Em busca do melhor que existe no interior do ser humano

por Francisco do Espírito Santo Neto* na Assoc. Espírita Hammed  – Sociedade e o equilíbrio no interior do ser humano holístico

 Imagem na internet

Nenhum ser humano deseja ser infeliz intencionalmente, pois nenhuma criatura ousa fazer alguma coisa de propósito contra si, a fim de que venha a sofrer ou a se tornar derrotada.

Quando agimos erroneamente, é porque optamos pelo que nos parecia o melhor, conforme nossa visão, visto que todos os nossos comportamentos estão alicerçados em nossa própria maneira de perceber a vida.

O pensador grego Sócrates afirmava que "ninguém que saiba ou acredite que haja coisas melhores do que as que faz, ou que estão a seu alcance, continua a fazê-las quando conhece a possibilidade de outras melhores".

A compreensão do melhor depende do desenvolvimento de um raciocínio lógico para cada situação, e se dá na criatura através de uma sequência progressiva, onde se leva em conta a maturidade espiritual adquirida em experiências evolutivas no decorrer do tempo vivido dessa criatura.

Todos nós acumulamos informações, instruções, noções em nossas multifárias vivências passadas ao longo da vida. A princípio, passamos a vivenciá-las superficialmente. Aos poucos, vamos analisando-as e assimilando-as, entre processos de re-elaboração, para só depois passar a integrá-las em definitivo em nós mesmos, isto é, incorporá-las por inteiro.

Em fazer nosso melhor está contido o quanto de amadurecimento conseguimos recolher nas experiências da vida e também como usamos e inter-relacionamos essas mesmas experiências, quando deparamos com fatos e situações no decorrer dos caminhos vividos.

Fundamentalmente, somos agora o que de melhor poderíamos ser, já que estamos fazendo conforme nossas possibilidades de interpretação, junto aos outros e perante a vida, porque sempre optamos de acordo com nossa gradação evolutiva como ser humano.

Perguntamo-nos, porém, quanto aos indivíduos que matam, mentem, caluniam e fingem: porventura, um ladrão que assalta alguém não saberá o certo, ou o justo? Desconhece o que está fazendo? As resposta quanto a essas situações serão entendidas ao longo do texto.

Instrução é conhecer com o intelecto e, portanto, não é a mesma coisa que saber com todo o nosso ser; isto é, só integraremos o saber de alguma coisa quando ela se encontrar completamente contida em nós próprios. Aí, de fato poderemos dizer que aprendemos e assimilamos totalmente o saber de alguma coisa.

Assim analisando, apenas o que sentimos em profundidade, ou experimentamos vi-venciando, é que é considerado o nosso melhor. Não o que lemos, não o que escutamos, não o que os outros ensinam, ou mesmo o que tentam nos mostrar. Estar na cabeça, não é o mesmo que estar na alma inteira.

Aparentemente, podemos julgar um ato como negativo, mas, quando atingirmos o âmago da criatura e observarmos como ela foi educada, quais valores recebeu na infância, o meio social em que cresceu, aí entenderemos o que a motivou a agir daquela forma e o porquê daquele seu padrão comportamental. Este conceito explica o questionamento quanto as maldades feitas por algumas pessoas, durante suas vidas.

Obviamente que o nosso melhor de hoje sofrerá amanhã profundas alterações. Aliás, a própria evolução é um processo que nos incita sempre ao melhor, pois é propósito do universo (natureza) fazer-nos progredir cada vez mais, para nos aproximar da sabedoria possível de ser alcançada por cada pessoa.

A natureza humana tende sempre a compensar suas faltas e insuficiências. Consta cientificamente, que todo organismo está sempre buscando se atualizar, ou se suprir, pois quando gasta energia tem sempre a necessidade de recompor essa carência energética, expressando-se em algumas ocasiões com a sensação da fome ou da sede. Notamos que essa força que busca melhorar-nos, ou mesmo equilibrar-nos, é como se fosse uma alavanca poderosa. Tende sempre a atualizar-nos, mantendo-nos sempre no melhor equilíbrio possível. Quando um pulmão adoece e deixa de funcionar, o outro pulmão faz a função de ambos; assim também pode ocorrer com nosso rim. Em outros casos, essa força interna tenta reparar os deficientes visuais e auditivos, compensando-os com maior percepção, sensibilidade e tato. Estruturas ósseas fraturadas se recompõem e se solidificam mais fortalecidas no local exato onde houve a lesão.

Além disso, verifica-se que nosso sistema imunológico, que é essa mesma força em ação, exerce grande influência sobre o organismo, para mantê-lo no seu melhor desempenho, conservando a própria subsistência orgânica através de mecanismos de autodefesa, com que elimina todos e quaisquer elementos estranhos que possam vir a comprometê-lo.

Por definição, processo de atualização é a capacidade de adaptação às novas necessidades, ou mesmo a modificação de comportamento íntimo para melhores posturas, a fim de que se conserve a individualidade equilibrada e holítisca.

Ao analisarmos as estruturas físicas, sistemas e órgãos da constituição corpórea, veremos que funcionam por meio de uma atividade perfeita de compensação, e que sempre impulsionam a criatura a manter-se fisicamente melhor. Também sob o aspecto psicológico, esse fenômeno ocorre para que todos nós possamos ajustar-nos diante da vida, de acordo com o nosso melhor. Todo nosso propósito íntimo é fundamentalmente bom, porque ninguém consegue agir de modo diferente do que assimilou como certo ou favorável.

A intenção dos seres humanos se baseia no cabedal de capacidades e habilidades próprias, porém os meios de execução pelos quais eles atuam poderão ser diversas ou diferentes, pois outros indivíduos, nas mesmas situações, tomariam medidas diferentes, baseados em seu estágio evolutivo ou desenvolvimento pessoal.

Ainda examinando essa questão, é imperativo dizer que, quando estamos fazendo o nosso melhor, agimos de acordo com o que sabemos nesse exato momento e, dessa forma, a natureza estará nos protegendo. Porém, quando propositadamente não correspondemos com atos e atitudes ao nosso grau de justiça e conhecimento ou desenvolvimento pessoal, passamos a não mais receber condescendência espiritual, visto que transgredimos os limites das leis naturais que nos amparam e sustentam ou equilibram.

Escreveu o apóstolo de Cristo, Pedro: "Deus julga a cada um de acordo com suas obras". Tais palavras poderão ser interpretadas como a certeza de sermos avaliados pelo Poder da Natureza segundo nossa capacidade de escolha, ou seja, levando-se em conta nosso conjunto de funções mentais e espirituais, bem como nossa aptidão racional de fazer, decidir, analisar e tomar direções, dentro da capacidade de cada um.

As nossas obras, as quais são referenciadas no texto evangélico, não são edifícios de alvenaria, perecíveis e passageiros, são nossas construções íntimas - o maior potencial que já conquistamos ou conseguimos atingir, em todos os sentidos. Isso equivale a dizer que o nosso melhor será sempre o ponto-chave na apreciação e no cálculo da Contabilidade Natural de Cada Um, ao registrar se os céus nos ajudarão, se acharemos o que buscamos, se as portas se abrirão ou se permanecerão fechadas na busca que cada ser humano fará ao longo de sua vida.

 *Francisco dos Santos Neto, é um médium espírita, nascido em Catanduva, no estado de São Paulo. Refere-se ao seu instrutor espiritual pelo nome de Hammed**. É formado em Administração de Empresas, com formação completa em Programação Neurolingüística.

**Hammed é o nome do espírito ao qual o médium paulista Francisco do Espírito Santo Neto atribui a maior parte de suas obras psicografadas, tendo criado a entidade Espaço Espírita Hammed.

4.08.2023

Brasil: levantar a auto-estima do povo, estimulando a defender seus mínimos direitos de existir com dignidade

Alguém sabe o que você fez nos últimos 100 dias?

O governo federal fez muito em 100 dias, por exemplo, sob condições de ameaça constante como o 18 de janeiro pelos militares e alguns grandes empresários brasileiros e estrangeiros (inclusive banqueiros)

O Brasil voltou ao mundo como um parceiro a ser tratado com seriedade, mesmo que os banqueiros, grandes empresários, alguns funcionários públicos federais, estaduais e municipais no executivo, judiciário e legislativo sobotem ou traiam o povo brasileiro para o seu benefício pessoal...

 por Céli Pinto * no Sul 21 e Brasil de Fato – Sociedade e Administração Federal Sobrevivendo e na Busca de um País Justo

 

  Figura na internet

 O governo Lula fará 100 dias na próxima semana e a grande mídia (Globo, Band, Record, SBT, Google, Apple, entre outros) cada vez mais acomodada no seu velho papel, cobra sem parar novas medidas, criatividade e – o que é mais estarrecedor – crescimento a jato do PIB, baixa nas taxas de desemprego, redução do dólar, menos inflação, garantia de superavit primário entre outros quisitos impossíveis com este juros que retira dos pobres para enriquecer a elite.

Ora, considerando que os jornalistas da grande mídia não são um bando de primários incultos (jornalistas, editores entre outras/os) sobra a opção de que seguem diretrizes emanadas dos seus/uas empregadores/as. Isto posto, vamos ao que interessa.

Pensemos bem. Se cada ministro e ministra do governo federal tivesse pegado uma vassoura e simplesmente se dedicado a varrer toda a imundície deixada a seis anos, depois do golpe-2016, já teria feito muito. Dificilmente, em 100 dias, eles conseguiriam cumprir esta missão, deixando a casa arrumada para começarem a trabalhar. Esperava-se encontrar muita coisa ruim e fora do comum para ser refeita, mas tanto quanto está aparecendo a cada semana, levará bem mais tempo pela administração federal corrigir/consertar.

Mas eles fizeram muito mais do que isto. O governo está estruturando uma nova e interessante forma de Estado, com muitos ministérios focados em problemas que merecem órgãos deste status, e isto não é pouca coisa. Em meio à muita arrumação, é ainda necessário enfrentar vários altos oficiais das Forças Armadas, que por exemplo, davam guarida a acampamentos neo-fascistas nos portões de seus quartéis por todo o Brasil, e um golpe de estado que estava sendo arquitetado desde antes da posse. 

A vitória de Lula no dia 31 de outubro de 2022 não garantiu nada, estava armado um golpe que ultrapassava em muito os desvarios da turba das mídias sociais, principalmente os enrustidos da mídia conservadora. Envolve ex-ministros de Bolsonaro, servidores de alta patente dos das forças policiais militares, um tipo de empresariado milicianizado (sim, agem igual as milícias ou máfias) e uma turba de fanáticos que serviria como bucha de ganhão, caso a tentativa de golpe em 18 de janeiro de 2023 desse certo. 

  Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O governo Lula conseguiu sair ileso desta esbórnia, inclusive levando adiante as medidas legais necessárias para desvendar toda a trama e começar a punir quem deve ser punido, conforme notícias pela mídia digital e imprensa conservadora. E o governo está fazendo muito mais, como o apoio do STF e parte do Congresso.

Em 100 dias, o Brasil também voltou ao mundo como um parceiro a ser considerado com seriedade. O presidente foi à Argentina, ao Uruguai, aos Estados Unidos e, na semana que vem, irá à China. Enquanto isto, seu assessor especial, Celso Amorim, administra relações mais complexas, na Venezuela e na Rússia, deixadas em suas mãos com grande astúcia, pois seu conhecimento em relações internacionais foi comprovado anteriormente. 

Internamente, o governo enfrentou com vontade política invejável a crise em Roraima, que envolve a sobrevivência de um de nossos povos indígenas (indígenas yanomani), e o desmantelamento do criminoso garimpo de ouro.  O problema está longe de ser resolvido, mas os encaminhamentos são corretos, e o tempo mostrará que o governo segue o caminho correto.  Não menos importante e urgente foi a reorganização do programa Bolsa Família, que havia se tornado um ninho de mal uso do dinheiro público a serviço da re-eleição da extrema-direita (Bolsonaro e militares) nas últimas eleições. Foi relançado também a Minha Casa Minha Vida e o Ministério da Saúde reapareceu, saindo do fundo do poço em que havia submergido, sob o comando de um general falastrão, que foi colocado como ministro da saúde e se viu a catástrofe na pandemia da covid-19. Agora ressurge campanhas de vacinação, programa de aceleração de cirurgias eletivas entre outros programas prioritários para a população. O Ministério da Cultura reorganiza-se, assim como o da Mulher e da Igualdade Racial e dos direitos Humanos. Tudo isso ainda em franca reorganização, no qual se verão os resultados ao longo de 2023 e, principalmente em 2024.

Temos agora um governo e ministros que respondem à sociedade, através da mídia conservadora e mídias digitais, com a responsabilidade de seus cargos, estão sempre à disposição das TVs, dos jornais e mesmo da mídia alternativa para esclarecer e prestar contas. Mas a mídia tradicional quer coisas novas. Talvez esteja com saudade de algum ministro conversando com Cristo nos galhos de uma goiabeira (sic)… Seria uma novidade e tanto...

Deixando a sátira de lado, não se falou de economia. Não se sabe se o arcabouço fiscal apresentado por Haddad é a melhor solução para a economia, nem mesmo se deveria haver um arcabouço fiscal.  Não tem-se aqui qualificações para falar no tema, mas sendo mais simpática às posições da economista indiana Jayati Ghosh, que esteve no Brasil em um seminário promovido pelo BNDES, e de André Lara Resende, que deu um show de bom senso em uma entrevista na Globonews para Miriam Leitão. A certa altura, num lance de genialidade, ao ouvir da jornalista que todos os economistas eram contrários às ideias dele, responde: “Todos os que você lê!” (né Miriam Leitão, a repórter economista testa-de-ferro das eleites).

Mesmo não entendendo do assunto, não se é simpática às soluções fiscalistas, mas compreende-se a posição de Haddad. Ele enfrenta uma situação muito particular: o mercado tornou-se, na atual quadra da história do Brasil, uma instituição de Estado, que responde sob a alcunha de Banco Central independente (sic).  BC independentes existem espalhados pelo mundo, mas imagino que poucos sejam dependentes de forma tão caricata do mercado e dos setores que viviam sob a proteção do governo derrotado como o brasileiro na administração Bolsonaro, o que torna a posição do Ministro da Fazenda complicadíssima. Isso me faz lembrar a posição de uma família que tem um membro sequestrado: quanto mais paga aos meliantes (sequestradores), mais dinheiro é exigido e o sequestrado não voltará. 

Para completar o quadro, também é preciso considerar o atual Congresso Nacional e, mais especificamente, a Câmara de Deputados, cuja maioria, sob o comando de Arthur Lira, não tem pudor, nenhum pudor de escancarar (tirar sarro) ao mundo que não tem qualquer preocupação com o país, apenas com seus mais inconfessáveis e corporativos interesses pessoais e dos que estão próximos a ele na Câmara.  A massa dos deputados federais foi o que restou do desmonte da estrutura político-partidária levada a efeito a partir de 2013, pelo apetite do centro (ou centrão) e da direita de acabar com o PT, uma conjunção de PSDB aético (Aécio Neves) com um lava-jatismo (ex-juiz Sergio Moro) muito próxima de um conluio de feição mafiosa.  O país está pagando um preço muito alto por essa bizarrice irresponsável.

Portanto, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva fez muito em 100 dias, sob condições de ameaça constante. Tem-se críticas? Certamente. Mas é hora de respirar fundo e afirmar sem medo que, apesar de todas as tempestades, a política voltou, o político voltou. E isto dá esperança de podermos colocar o país no rumo da normalidade democrática. Se, em 4 anos, o governo conseguir salvar o país da calamidade, que esteve no poder até 2022 e sempre está a rondar agora mesmo em 2023, estruturando um Brasil politicamente democrático e voltado para a resolução dos reais problemas das desigualdades de todas as ordens que nos afligem, então terá-se um governo que o povo brasileiro merece. 

* Céli Pinto, professora Emérita da UFRGS, cientista política; professora convidada do PPG de História da UFRGS.

Publicado no BdF: 5 de abril de 2023

Fonte: https://sul21.com.br/opiniao/2023/04/o-que-voce-fez-nos-ultimos-100-dias-por-celi-pinto/

 

4.04.2023

Governo Federal entre o povo e os ricos

"A avaliação não é boa, mas também não é desesperadora", diz Fornazieri sobre pesquisa Datafolha que mede a popularidade do governo federal

por Aldo Fornazieri no Brasil 24/7 – Sociedade e Governo Federal Fraco na Comunicação Social

 

 Figura _ desigualdade social, na internet

A avaliação do governo divulgada pelo Datafolha no final de semana – 38% de bom e ótimo, 30% de regular, 29% de ruim ou péssimo – não difere significativamente da pesquisa do IPEC, divulgada anteriormente. A conclusão é a mesma: a avaliação não é boa, mas também não é desesperadora. As duas pesquisas mostram ainda que os parâmetros da divisão da sociedade apresentados na disputa eleitoral se alteraram pouco. Bolsonaro permanece com significativo capital político e eleitoral. Tudo isto não significa que não haja espaço para o governo crescer em termos de avaliação positiva e de que Lula não possa desequilibrar o jogo político a seu favor.

Mas existem problemas. O primeiro é o de comunicação, tanto de Lula e do governo, quanto do PT. Em termos de divulgação social das múltiplas ações do governo federal , a administração pública está levando uma surra da direita e ultra-direita, tanto na mídia conservadora, como nas redes digitais. O governo federal tem ao seu lado a mídia progressista, mas não sabe ou não consegue aliar-se a mesma, para explorar de forma a aproveitar essa importante comunicação de massas. Falta criatividade à esquerda brasileira diversificar a atuação pró-ativa na publicidade de governo, como ente importante e primordial para o povo na sociedade brasileira. Por exemplo, há um consenso, inclusive entre analistas e comentaristas de esquerda, de que Lula errou ao se referir a Moro em duas ocasiões, principalmente naquela em que lançou suspeita de armação do ex-juiz envolvendo o suposto plano do PCC contra ele. É certo que tudo o que vem de Moro é suspeito pelo seu histórico de arbitrariedades e de violações. Mas se alguma suspeita existia/existe, não cabia a Lula revela-la, abrindo espaço para o contra-ataque de Moro. Outro erro de Lula, e nisso ele foi acompanhado pela presidente do PT, consistiu em pessoalizar os ataques ao presidente do Banco Central. A crítica aos juros altos podia ser feita sem levar o embate para o lado pessoal. Quer dizer: a posição de Lula como chefe da principal magistratura política do país não permite que ele meça disputas verbais com pessoas como Moro e o presidente do BC. Lula ocupa uma posição política e hierárquica superior, o que não lhe permite medir-se com pessoas que ocupam posições políticas e hierárquicas inferiores em termos de embates pessoais. Isto significa que Lula não pode colocar-se, em qualquer circunstância, numa posição de status inferior à sua função e àquela que ele ocupa na espacialidade do poder político. 

 Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foto: REUTERS/Adriano Machado 
Lula deveria preservar-se mais também nas agendas físicas presenciais. É certo que é importante que o governante esteja com o povo, para ouvi-lo e ver de perto suas aflições. Mas Lula já é um líder reputado junto ao povo. Assim, deveria ser mais seletivo nas suas agendas populares e públicas, privilegiando as mais significativas, aquelas que se revestem de grande importância simbólicas e as que emprestam sentido de grandeza à sua presença. 

Nas regras discursivas do mundo antigo já havia a preocupação acerca do que dizer, como dizer, quando dizer e em que ambiente dizer. Esta preocupação prudencial é ainda mais importante na era da comunicação digital, quando o discurso tem repercussão imediata e amplificada de forma incontrolável. O sujeito do discurso deve pressupor as possíveis consequências do que diz. Quando não há o devido cálculo do risco, é comum que um discurso produza efeitos contrários daqueles que o sujeito pretende. 

O governo também se comunica mal, principalmente em função de iniciativas e decisões equivocadas de ministros e demonstração de falta de unidade interna. Neste ponto se destacam decisões precipitadas de Carlos Lupi e de Marcio França e os posicionamentos de Rui Costa e de Gleisi Hoffmann em relação às definições da política fiscal. Não que não possam existir divergências internas. Mas o governo precisa mostrar unidade, evitar expor em público as divergências internas, principalmente neste momento de instabilidade política e de tendência de crescimento de conflitos. A presidente do PT não pode ser imputada como a líder da oposição, então falta esta visão institucional de governo como um bloco de partidos. 

Mas há um problema mais de fundo: os relatórios de análise de redes mostram que há algumas semanas o bolsonarismo vem derrotando os campos democráticos e de esquerda no Facebook, no Instagram e no Youtube. O ponto fora da curva foi o anúncio das diretrizes do arcabouço fiscal pelo ministro Haddad, que conseguiu reverter a sequência de derrotas. 

Na última semana de março, Sérgio Moro pontificou nas interações bolsonaristas. Em regra, o governo e o campo democrático e progressista estão fornecendo as munições para que a extrema-direita ataque. Mas há que se notar que o campo governo/esquerda não tem uma estratégia mais centralizada de produção de conteúdos na rede digital e nem dispõe de centros fortes de mediação e de disseminação desses conteúdos. Nesse quesito, os resultados de uma união mais intensa do campo da esquerda brasileira faria a grande diferença n atuação política. Por exemplo, Janones fez a diferença na campanha para as eleições presidenciais em 2022.  A extrema-direita, ao contrário, tem potentes centros de mediação e disseminação, a exemplo dos perfis de Carla Zambelli, Jovem Pan News, Jair Bolsonaro, entre outros. 

Um dos principais problemas de comunicação do governo consiste em que ele não consegue gerar confiança para além dos setores mais fidelizados, ou especificamente no campo de centro esquerda. Isto se deve a duas questões: a campanha de Lula e esse início de governo construíram sua fantasia no passado. Toda fantasia concreta (estratégia) deve orientar-se para o futuro. Os governos do passado de Lula deveriam ter servido apenas como exemplos e referências de valores para fundamentar um novo governo de caráter inovador. Usando a analogia do novo príncipe: todo novo governo deve comportar-se pelas regras do novo príncipe, da inovação política, mesmo que o governante já tenha governado no passado. Ao não seguir as regras do novo príncipe, em certo sentido, o governo mostra uma imagem de abatido, perante a direita e extrema-direita mais atuante na comunicação de massa.

Outro exemplo na falta de coesão governamental, é a falta de geração de confiança popular se deve ao fato de que o governo demorou muito em dizer o que vai fazer com a economia. Somente no dia 30 de março, depois de três meses, o governo apresentou o primeiro esboço do que pretende fazer, com a apresentação de Haddad. 

Essa demora decorre de um erro de cálculo: Lula deveria ter indicado os ministros da Fazenda e da Casa Civil logo após de ter confirmado sua vitória. Deveria ter autorizado o ministro da Fazenda a constituir sua equipe para definir os eixos centrais da política econômica, visando apresentá-la no início do governo. Já o ministro da Casa Civil deveria ter montado toda a estrutura e funcionalidade do governo. 

Para que a economia volte a se expandir e crescer, para que retornem os investimentos e a geração de empregos, os agentes econômicos precisam ter um horizonte de estabilidade e previsibilidade e o governo precisa gerar confiança junto a sociedade. As incertezas e a falta de confiança adiam a tomada de decisões. E, até por isso, os ruídos e as críticas internas, as palavras duvidosas, as sinalizações ambivalentes e os apoios tíbios aumentam as incertezas e postergam as decisões de governo. O governo, no seu corpo interno e a sua base política mais fiel, precisa de uma condução política unida, forte e unificante.

Sem essa condução, além de gerar incertezas na economia, provoca uma dispersão e uma frouxidão de apoios daqueles setores políticos menos comprometidos, ou de centro. Por isso, a capacidade de condução política interna e de sua base fiel é condição para que o governo consiga imprimir uma direção política de sua base mais ampla no Congresso e de gerar confiança na sociedade e nos agentes econômicos. É preciso acelerar e explicitar o programa de condução da economia. O programa de condução econômica será o centro de gravidade do governo, o fator que decidirá o seu sucesso ou seu fracasso. Os erros de comunicação decorrem também da falta de clareza no que fazer, pois o governo tem o planejamento concluído, mas tem vacilado em divulgar claramente os objetivos principais da administração federal.

*Aldo Fornazieri , professor na Fundação Escola de Sociologia e Política e autor do livro Liderança e Poder.

Publicado no 24/7: 3 de abril de 2023

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/a-exposicao-de-lula-e-a-tipologia-da-presidencia