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12.28.2022

Brasil: quais armadilhas os EUA colocaram em nosso país ?

Por Carolina Vásquez Araya no Diálogos do Sul - Cidade da Guatemala – Sociedade e América Latina Dominada

Bob K – Flick, a livre determinação dos povos não é mais que um desejo possível de realizar

Após Peru, Chile e Bolívia, Brasil será o próximo a cair, novamente, nas armadilhas dos EUA?

O maior cinismo dos Estados Unidos é seu hipócrita discurso pelos direitos humanos, valor que viola reiteradamente cada vez que lhes convém poder militar e domínio econômico

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Nos últimos dias, voltamos a experimentar as falhas de um sistema imposto por governos poderosos, aliados de corporações multinacionais, cujas cabeças se ocultam nos meandros de um marco aparentemente legal de aplicação forçosa.

Já vimos antes, durante a dura história de golpes de Estado patrocinados pela Casa Branca e seus serviços de inteligência, mas seguimos sonhando com que esses ataques arteiros do passado são, vale a redundância, coisas do passado.

As imagens de Pedro Castillo e de sua família saindo do palácio trazem à memória as de Jacobo Arbenz, presidente anterior ao golpe na Guatemala. Nelas, fica estampado o ódio às castas mestiças, cujo desprezo ancestral para qualquer tentativa de organização política, com assento na busca do desenvolvimento social e econômico, se traduz de imediato em um plano de emergência, para deter com um golpe violento as possibilidades de uma transformação social, econômica e política capaz de aproximar aos anseios do povo oprimido pelas elites do atraso. 

Pedro Castillo tinha os dias contados, era evidente. Sua formação de professor não lhe deu acesso ao aprendizado das nuances utilizados durante décadas pelos políticos da oligarquia e isso lhe pôs data de validade. Se a isso for agregado a influência decisiva do Departamento de Estado para reverter – país por país – o giro continental para a esquerda, o pacote estava pronto, amarrado e com plano definido.

Também no Chile, começou-se a pressionar o governo legitimamente eleito, centrando seus tiros no texto constitucional e, sem dúvida, maquinando estratégias para incidir em todo o marco político deste novo governo. A Bolívia já passou pela experiência e também a Venezuela, com suas contas embargadas e a economia destruida. Agora falta que direcionem seus tiros ao Brasil, através de suas armadilhas ardilosas e violentas.

Cinismo dos Estados Unidos

O mais ilustrativo do cinismo com o qual se movem os Estados Unidos em nosso continente, com a OEA como seu fiel representante, é seu hipócrita discurso pelos direitos humanos e a democracia, valores que viola reiteradamente cada vez que convém à sua política e a seus aliados corporativos como alguns países da Europa (Inglaterra, Alemanha, França, Espanha, Itália, Suíça e Suécia) Austrália, Canadá e Japão.

O caso mais ilustrativo dessa política perversa se manifesta em suas relações com a Guatemala: um narco- estado cujos dirigentes destruíram, peça por peça, todo o marco institucional arrasando de passagens com seu sistema de justiça, mas ao estar o controle em mãos de uma oligarquia ignorante, obsoleta e de atuação colonialista – o que ao sistema liberal lhe vem bem – olha para o outro lado, ignorando governos anti-democratas. 

Através da falsa propaganda na mídia tradicional, venderam a preeminência dos direitos humanos, da democracia e da auto-determinação como uma aspiração legítima, mas enquanto os países latino-americanos agem na suas lutas econômicas e sociais para conquistá-los, vem o golpe judicial-parlamentar-militar-empresarial para recordar qual é a verdadeira realidade desses países.

Quer dizer, o engano descarado e a anti-política que ocorre em longos períodos da história latina. Os que não toleraram Castillo no Peru por exemplo, aplaudiram Zelenski na Ucrânia, demonstrando que tudo depende de que cor ou interesses dos protagonistas. 

Não podemos seguir ignorando a sombra funesta dos EUA, com seus aliados conforme acima citado, capazes de utilizar a grande mídia conservadora para divulgar suas mentiras e convencer a sociedade ocidental do falso conto da liberdade democrática dos povos.

A realidade ensina, a golpes de Estados e bloqueios econômicos como ocorre atualmente na Venezuela, Cuba, Irã, Rússia e China, os verdadeiros interesses de algumas nações que se auto-denominam desenvolvidas. Dependem do subdesenvolvimento dos países que irão cair nas armadilhas dos países industrializados. 

A livre determinação dos povos é uma luta utópica, que se distancia a passos largos da verdadeira democracia.

Tradução: Beatriz Cannabrava

Publicado no Diálogos do Sul: 16 de dez de 2022

Fonte: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/permalink/78201