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2.25.2014

O País do Futebol Será o País das Escolas

por EDINA MARIA BURDZINSKI*
O sociólogo polonês Sygmunt Bauman diz que “o projeto moderno prometia libertar o indivíduo da identidade herdada”. Povo brasileiro: que identidade herdamos mesmo? Quais identidades? Uma delas é inequívoca: somos o país do futebol. A bola rola, o coração na ponta da chuteira, suor, raça, amor à camisa. Não há nada igual. Também pudera. Bola de meia, bola de gude… já cantou Milton Nascimento. Identidade criada sem esforço, sem exigência. O que é preciso para uma pelada no final da rua no fim de tarde? Moleques e uma bola de meia. Está aí o que é preciso para se criar um país do futebol. Só isso mesmo? Claro!
O que o menino ou a menina querem ser quando crescer? Jogador(a) de futebol! Também pudera, vejam os exemplos: moleque de favela chegou à Seleção, negro de Santos ganhou o mundo, é rei.
Talento e sorte, sorte e talento. Mas se o moleque ou a garota desejam ser outra coisa? Bom, aí já fica mais difícil.
Para ser médico(a), advogado(a), engenheiro(a), administrador(a), professor(a), ele(a) precisa um pouco mais do que bola de meia e campo de várzea. Já é assunto complicado no país do futebol.
Até mesmo se ficarmos no mundo dos esportes: para ser ginasta, patinador(a), jogador(a) de vôlei, handebol e corredor(a), por exemplo, exigem-se professores(as) treinados(as) e habilidosos(as) para reconhecer talentos; criança na escola estudando em um período e em outro tendo suas habilidades treinadas. Paremos por aqui, porque já estaremos falando em país olímpico e nós somos o país do futebol.
Além disso tudo, o futebol é, de quebra, um baita negócio. As cifras são citadas como se jogadores fossem diamantes; milhões, é isto que valem seus passes. E eles passam a bola, lotam estádios e os sofás na frente das TVs; vendem camisas, desodorantes, imagem… Bom, é altamente necessário que haja compradores(as) para tudo isso, que haja torcedores(as), seguidores(as) fiéis. O que restará ao povo sofrido se lhe tirarem a alegria do futebol? De ver seus moleques e garotas virarem heróis(inas) nacionais?
E quanto à Copa, Deus é brasileiro, meu amigo. A Copa do Mundo é nossa, sou brasileiro(a), não há quem possa… E convenhamos: já veio tarde essa Copa para o país do futebol. A democracia é a vontade da maioria e duvido que haja neste país qualquer político que arriscaria perder o apoio da maioria. E quanto a investir em educação no lugar de estádios? Está maluco? Agora, se já tivessem feito isso historicamente no Brasil, quem sabe nem fôssemos hoje apenas o país do futebol...

* Professora de sociologia
edina.mariacs@hotmail.com