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2.18.2016

A justiça provoca gargalhadas, mas no governo falta bom senso

  • O patético complô entre a justiça e a mídia

  • Suspeitas levantadas para incriminar Lula deveriam provocar gargalhadas, não indicassem desastre intelectual e moral de que não escapam governo e PT
por Mino Carta da revista carta capital - Sociedade e Brasil Sem Lei

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula
É pateticamente golpista a busca frenética de motivos para incriminar Lula
Dona Marisa Letícia exorbita, não se limita a carregar para o celebérrimo (famigerado?) sítio de Atibaia um barquinho de lata no valor de 4 mil reais, mas lá criou uma horta e ergueu uma pequena estátua de Cristo, quem sabe miniatura do Redentor do Corcovado. Espantoso.
E como se não bastasse, a ex-primeira-dama teve o acinte de organizar no sítio festas familiares. Comes e bebes caseiros, ponche, vale apostar. Parece incrível, está provado, contudo, pelas fotos aéreas tiradas por desassombrados perdigueiros da informação, paladinos da verdade.
Diante desse apavorante conjunto de desmandos, não poderia faltar a intervenção providencial do juiz Sergio Moro, que há dois anos, graças ao Altíssimo, rege o destino do País. E ele convoca a Polícia Federal a se aprofundar na investigação das razões de ser da propriedade rural suspeita, a implicar a possibilidade (probabilidade? certeza?) de incriminar Lula em crime de ocultação do patrimônio. Ou coisa pior.
Raymundo Faoro recomendava: “Mino, não pratique a ironia, eles vão entender que você fala sério”. Apresso-me a sublinhar: exponho uma situação risível até a gargalhada não fosse indicativa também da miséria intelectual e moral em que precipitamos. Se é golpista a tentativa de impeachment de Dilma Rousseff, é por igual pateticamente golpista a manobra urdida em várias frentes na busca frenética de motivos para incriminar Lula.
Por ora, trombeteiam-se motivações inconsistentes. Tal é, porém, a arte da calúnia, haveria de funcionar com a paciência da água mole do ditado. Pergunto aos meus entediados botões: como terminaria o mandato de Getúlio se ele não apanhasse o revólver pousado sobre o criado-mudo?
No caso houve um complicador gravíssimo, o atentado contra o inquisidor Lacerda que resultou no assassínio do major Vaz. Arrisco-me a imaginar que o golpe de 1964 se daria dez anos antes, em um Brasil de 60 milhões de habitantes, e muito diferente do atual não somente por causa do crescimento populacional. 
Há regiões que progrediram em todos os sentidos. O Nordeste, por exemplo, outrora dos coronéis e do voto de cabresto, hoje politizado em boa medida. Surgiram também movimentos sociais importantes e uma porção conspícua da Igreja, embora tenha perdido espaço para os evangélicos, já não se prontifica a abençoar a casa-grande.
E quantos brasileiros, efetivamente, são alcançados pela campanha anti-Lula? Não chega aos que vivem no limbo, e são dezenas de milhões, e aos que enxergam em Lula o melhor presidente da República pós-ditadura, e não se enganam.
Sergio-Moro
Não poderia faltar a intervenção providencial do juiz Sergio Moro (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
A conspiração fermenta debaixo dos nossos olhos, capaz até de desprezar a contribuição dos profissionais da política para conluiar a mídia, verdadeiro partido de oposição, alas da PF e do MP, um ou outro ministro do Supremo (não é preciso declinar nomes) e líderes empresariais de um país que até hoje basicamente exporta commodities.
E quem comove e exalta? Leitores de jornalões e revistões, ouvintes e assistentes dos penosos torquemadas da tevê e do rádio. Não se trata da maioria do povo brasileiro.
O que espanta de verdade, e tolhe a gargalhada que de outra forma mereceria saudar o esforço de quem até o momento furou a água, é a inércia governista e o pífio comportamento do PT, o partido que no poder portou-se como os demais.
ministro da Justiça imerge-se no vácuo de Torricelli, enquanto Rui Falcão constata algo que define como o “linchamento” do seu líder, quando apenas lhe cabe demolir um castelo de areia. Faltam picardia e senso do ridículo, chiste e graça.
Sobrou o lugar-comum, quase a confissão da impotência, sem falar da apatia de um governo que se deixa acuar. Não são bons sinais, revelam a falta de rumo em um Brasil à deriva. A conspirata se dá antes de mais nada contra o próprio País e são poucos os que escapam à derrocada geral.
A conclusão é inescapável, estamos muito longe da maturidade de uma nação habilitada à democracia. De fato, inexistem na prática os poderes ensinados por Montesquieu, enquanto a crise grassa e fatias da população, beneficiadas pela política social de Lula, descem os degraus galgados nos últimos anos.
Outra conclusão se impõe: se as acusações contra o ex-presidente não passarem das aduzidas até agora, Lula sairá desta refrega extremamente fortalecido. Se quiser, candidato imbatível em 2018.
http://www.cartacapital.com.br/revista/888/o-patetico-complo

Vitória indígena na Amazônia é como uma ilha na imensidão oceânica

  • É como se os indígenas e MPF suspendessem o céu no Pará

  • Pequenas grandes vitórias da luta indígena na Amazônia animam um ano que inicia difícil
por Felipe Milanez - Sociedade e Justiça Indiginista

Carta capital
Terra Indígena MaróPoró Borari, liderança da TI Maró e estudante da UFOPA, durante protesto na sede da Justiça Federal
Os povos indígenas alcançaram duas grandes vitórias no início deste ano que passaram quase despercebidas. Na região baixo Tapajós, entorno de Santarém (PA), uma nova “fronteira” de exploração econômica tem se revelado, a partir das mobilizações populares, um verdadeiro centro de resistência política e ecológica da Amazônia.
A primeira vitória foi a anulação de uma sentença de primeira instância contra os indígenas, pelo Tribunal Regional Federal (TRF1); e, concomitantemente, uma outra sentença de primeira instância pôs fim à prática do Estado de se recusar a prestar atendimento de saúde aos indígenas. Duas vitórias jurídicas contra racismos praticados tanto pelo governo, no atendimento à saúde, quanto pelo Judiciário, no que toca a regularização fundiária.
A situação havia começado a se reverter, no final de 2015, quando a Funai publicou os estudos da Terra Indígena Cobra Grande, também na região, o primeiro passo no processo de reconhecimento e demarcação,também devido a intensa mobilização dos indígenas.
Primeira vitória: a sentença racista
No final de 2014, o juiz federal Airton Portella lavrou sentença na qual declarava inexistente a Terra Indígena (TI) Maró e, consequentemente, as comunidades indígenas que ali vivem, no rio Arapiuns. Como diria Frantz Fanon, a sentença era um ato racista perfeito numa sociedade racista, com a perfeita harmonia entre as relações econômicas (os interesses dos madeireiros) e a ideologia (a supremacia branca e do progresso). 
O processo de onde saiu essa sentença era uma ação civil pública (ACP) do Ministério Público Federal (MPF) contra a morosidade da Funai na demarcação da TI Maró, na qual foi dada uma liminar favorável ao MPF.
O caso ganhou ares muito mais amplos com a inversão do objeto a partir da entrada na lide de associações contrárias aos indígenas. Com os mesmos advogados das madeireiras, essa outra ação pedia para extinguir o processo administrativo em trâmite na Funai para a demarcação da TI Maró, e que o juiz declarasse os indígenas como “eminentemente caboclos da região”. Portella julgou as duas ações na mesma sentença.
O TRF1 extinguiu o processo das associações/madeireiros contra os indígenas (ou seja, não há mais discussão sobre esse tema) e mandou voltar à primeira instância a ACP que determina que a Funai demarque a terra. Portanto, foi dado provimento ao recurso do MPF e agora a Funai deve, sob pena de multa, demarcar a TI Maró dentro do prazo do decreto 1775/96.
A sentença de Portella foi publicada menos de duas semanas depois de uma grande operação de fiscalização que embargou a exploração madeireira na área da TI Maró, uma pressa que levantou suspeitas.
Além disso, os argumentos contra os direitos dos indígenas saíram de um “antropólogo” desfiliado da Associação Brasileira de Antropologia, Edward Mantonelli Luz. Tendo Luz como “eminência parda”, sem citá-lo nominalmente, Portella inverteu o sentido de ideias para favorecer madeireiros. Até deturpou uma reportagem que publiquei em 2010, na RollingStone, na qual denunciava ameaças dos madeireiros a Odair Borari.
Luz vangloriou-se nas redes sociais de que seus argumentos foram utilizados pelo juiz. Imaginava que teria alcançado os objetivos de sua “missão”: atacar o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.
Viveiros de Castro foi alçado a “inimigo” dos anti-indígenas desde que falsas declarações suas foram inventadas pela revista Veja no famigerado texto “A farra da antropologia oportunista”. Uma das estratégias, tanto de Luz quanto do juiz Portella, era contorcer a ideia de Viveiros de Castro segundo a qual “no Brasil todo mundo é índio; exceto quem não é”, para algo como “não existe índio”, ou “aqui todo mundo é caboclo”.
Além de ganhar audiência ao atacar o reconhecido professor do Museu Nacional com resmungos racistas, a falácia serviu, por um breve momento, para os madeireiros.
Se tudo parecia perdido, com o céu encoberto esmagando a cabeça, os indígenas iniciaram a reação. Ocuparam o edifício da Justiça Federal em um amplo protesto, dançaram, cantaram e fizeram um poderoso ritual para trazer luz ao fim do túnel da justiça.
Por meio do procurador Luis de Camões Lima Boaventura, o MPF recorreu e, liminarmente foram suspensos os efeitos jurídicos da sentença — decisão tomada por um juiz que logo substituiu Portella (Portella era então juiz substituto).

Terra Indígena Maró
Terra Indígena Maró: as etnias Borari e Arapium existem, sim (Foto: Tatiana Castro / Ufopa)
 A apelação assinada por Camões mostra os limites jurídicos da antropologia em dizer quem é ou não é o que quer que seja — como pleiteava Edward Luz. E a argumentação central é desenvolvida a partir da auto-declaração e do autorreconhecimento como princípio basilar o direito internacional no reconhecimento étnico.
Camões convidou Viveiros de Castro para fazer um parecer sobre o caso e acompanhar o recurso. No documento, Viveiros de Castro desenvolve um brilhante pensamento sobre a luta política dos povos indígenas no Brasil, atuando como um intelectual da “retaguarda”, isto é, pensando a partir das mobilizações e das lutas, e fortalecendo a legitimidade das suas demandas.
E, de maneira sucinta, explica a dimensão deste embate específico no atual contexto da Amazônia, conforme abaixo:
Enfim, o real conflito, o geral conflito, o drama histórico maior que lateja no fundo (que digo? na superfície) desta causa “menor” em torno da TI Maró é aquele que assola a Amazônia hoje, e que confronta os povos e gentes da terra, a gente do rio e da floresta, do peixe e da mandioca, que luta para manter seu modo de vida tradicional, – sem prejuízo de serem atendidos pelos serviços públicos a que têm direito como cidadãos brasileiros, os quais sempre lhes foram, não obstante, negados –, a uma legião de sereias políticas, empresariais e midiáticas que lhes acenam com a miragem da “possibilidade do desenvolvimento socioeconômico” (tomamos o eufemismo usado na sentença [p.25]) como constituindo a única forma pela qual estas comunidades ribeirinhas-caboclas-indígenas poderão se libertar do que as ditas sereias lhes apontam como sendo a miséria, ignorância, pobreza e sordidez em que estariam mergulhadas.
O que a história recente nos ensina, muito pelo contrário, é que a “possibilidade do desenvolvimento econômico” produz, quando ela passa ao ato – aceitando-se, por antífrase, que tudo o que enumeramos no parágrafo anterior possa ser chamado de “desenvolvimento econômico” –, a dissolução progressiva dessas comunidades tradicionais, sua extinção, o acaparamento de seus territórios por grandes empresas agroexportadoras e por grileiros e especuladores profissionais, com o consequente engrossamento da população pobre das periferias das cada vez maiores, mais caóticas e mais inviáveis cidades da Amazônia.
Segunda vitória: o racismo do governo
Outra vitória significativa na comarca de Santarém foi tornar obrigatório o atendimento de saúde das comunidades indígenas de 13 etnias da região. Desde 2001, quase seis mil indígenas reivindicavam o atendimento. O governo federal negava com base em fundamentos preconceituosos, que colocavam em xeque a identidade dos indígenas, e no fato de a terra não ter sido ainda homologada.
Dessa vez, a Justiça Federal deu um grande passo na interpretação justa da Constituição Federal. Ao contrário de Portella, Victor de Carvalho Saboya Albuquerque diz que a CF de 1988 colocou fim à postura que visava "aculturar" os indígenas, e escreve que “pelo critério do autorreconhecimento, indígena é aquele que se afirma como tal”.
Para Albuquerque, a conduta do poder publico configura “omissão na prestação de serviço”, sendo ilegal a recusa no atendimento à saúde indígena. A liminar estabeleceu o prazo de 48 horas para o início do atendimento.
Para Camões, do MPF, o interesse econômico dos madeireiros compromete o direito e a identidade de uma coletividade. Esse é sem dúvida um ponto crucial no aumento dos conflitos no País: “a mensagem daquela sentença era de que o interesse econômico teria que prevalecer sobre os direitos”, disse.
São grandes vitórias, precedentes de resistências, e não casos isolados. Surgem em um momento onde os três poderes parecem estar unidos contra os povos indígenas.
Como me disse uma vez Ailton Krenak ao interpretar o mito da “queda do céu” dos Yanomami: “Eu não aceito o xeque-mate, fim do mundo ou fim da historia. Esse momento difícil para mim é quando eu mais evoco esse pensamento: cantar, dançar e suspender o céu.”
Ao anular a sentença racista e obrigar o governo federal a atender sem preconceito, os indígenas do baixo Tapajós e do rio Arapiuns, junto do Ministério Público Federal, dançaram, cantaram e conseguiram suspender o céu!
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/indigenas-e-mpf-suspendem-o-ceu-no-para

O zika se expande no planeta e a desinformação globalizada avança

  • O aumento dos casos alimenta uma indústria de boatos e fofocas globais
por Rodrigo Martins - Sociedade e Desinformação Mundial

Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Combate-ao-AedesPor enquanto, a única medida possível é intensificar a caça ao mosquito transmissor
O Ministério da Saúde confirmou a terceira morte provocada pelo zika em adultos no Brasil. A vítima, uma jovem de 20 anos do município potiguar de Serrinha, morreu em abril do ano passado. À época, os médicos do Hospital Giselda Trigueiro, em Natal, acreditavam que a paciente não resistiu a uma dengue severa, mas os exames apresentaram resultados inconclusivos.
Com um novo vírus em circulação no País, o Instituto Evandro Chagas, do Pará, decidiu fazer uma nova análise do material e, desta vez, confirmou a infecção por zika. O laudo foi encaminhado à Organização Mundial da Saúde, que havia decretado situação de emergência internacional em decorrência da dispersão do vírus e suas consequências, com transmissão autóctone em 24 países das Américas.
Os óbitos de adultos ampliam as preocupações em relação ao vírus, descoberto há quase 70 anos, mas pouco estudado até chegar ao Brasil, onde encontrou ambiente propício para se proliferar com a carona do Aedes aegypti.
Por décadas restrito a comunidades rurais da África e do Sudeste Asiático, o zika era considerado pouco nocivo. Assintomático em até 80% dos casos, ele leva parte dos infectados a manifestar febre, manchas avermelhadas pelo corpo e dores nas articulações.
Os sintomas desaparecem em poucos dias. Após os surtos na Micronésia, em 2007, e na Polinésia Francesa, em 2013, descobriu-se sua relação com a Síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que provoca paralisia muscular.
Somente após aportar no Brasil, o zika revelou maior potencial de danos, quando surgiram robustas evidências de ser capaz de provocar abortos e comprometer o desenvolvimento do cérebro dos fetos. 
“Percebemos aos poucos um espectro mais amplo da doença, com maior gravidade”, lamenta o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch.
Na quarta-feira 17, a pasta confirmou o diagnóstico de 508 bebês com microcefalia ou malformação do cérebro, sendo que ao menos 41 deles tiveram exposição comprovada ao zika. Outros 837 casos suspeitos foram descartados e 3.935 permanecem sob investigação.
Um novo estudo, publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine, reforça a relação do vírus com a microcefalia. O trabalho relata o caso de uma gestante eslovena, infectada pelo zika em Natal.
A mulher retornou à Europa e recorreu a um aborto, após exames revelarem que o feto tinha circunferência cefálica reduzida e calcificações em diferentes áreas do cérebro. Após a autópsia, pesquisadores fizeram o sequenciamento completo do vírus, encontrado nas estruturas cerebrais.
Pouco antes do Carnaval, pesquisadores da Fiocruz detectaram a presença do vírus zika ativo, com potencial de infecção, em amostras de saliva e urina. Liderado por Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus, o estudo não é conclusivo sobre a possibilidade de contágio pelo contato com os fluidos corporais.
“Temos de ter muito cuidado porque o fato de você detectar partículas viáveis não necessariamente indica que elas vão ter um papel importante na transmissão.” Por precaução, a Fiocruz orientou as gestantes a evitar aglomerações, bem como o uso de talheres e copos compartilhados. 
Olimpíadas-e-Zika
O mais novo factoide na praça é o suposto boicote às Olimpíadas (Foto: J.P.Engelbrecht/PMERJ)
As dúvidas sobre a dimensão dos danos causados pelo zika alimentam as especulações de boicote às Olimpíadas do Rio de Janeiro. O presidente do Comitê Olímpico do Quênia, Kipchoge Keino, ameaçou não levar atletas para a competição.
Toni Minichiello, treinador da atual campeã do heptatlo, a britânica Jessica Ennis-Hill, defendeu que a Grã-Bretanha retire seu campo de treinamento do Brasil. Coube a Bernd Wolfarth, chefe da Confederação Alemã de Esportes Olímpicos, defender maior cautela. Segundo ele, o surto precisa ser monitorado, mas não ameaça os Jogos.
Para o infectologista Rivaldo Venâncio, diretor da Fiocruz em Mato Grosso do Sul, é um equívoco responsabilizar a Copa de 2014 pela entrada do zika no Brasil, bem como difundir a tese de que as Olimpíadas irão alastrar a epidemia.
“Milhões deslocam-se todos os dias de um canto para o outro, em viagens a trabalho ou por lazer. Não há como parar o mundo. Temos de nos concentrar no vetor conhecido, o Aedes aegypti. Onde o mosquito estiver, pode haver surtos de dengue, chikungunya e zika. Da mesma forma, por onde o zika circular, poderá ocorrer um grande aumento dos casos de malformação do cérebro de bebês.”
Recentemente, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva publicou um manifesto com críticas às estratégias de combate ao vetor no País.
“Sem fazer os investimentos necessários para universalizar o saneamento básico, a oferta de água tratada e a coleta de lixo, as autoridades, demagogicamente, apelam para o uso de inseticidas e larvicidas. É temerário, pois os mosquitos estão ficando mais resistentes e a população, exposta ao risco de intoxicação”, explica Gastão Wagner de Souza Campos, presidente da entidade e professor do Departamento de Medicina Preventiva da Unicamp.
“Mobilizar a população para eliminar os criadouros é importante, mas não suficiente. O Aedes também se reproduz fora das residências. E não há integração entre municípios, estados e União, o que impede a implementação de ações sincronizadas.”
Com o vetor fora de controle, as autoridades buscam acelerar as pesquisas para uma vacina. O Instituto Butantan trabalha em parceria com o National Institutes of Health, dos Estados Unidos, para disponibilizar a imunização em três anos. Antes disso, os pesquisadores brasileiros esperam criar um soro para tratar os infectados.
A ideia é inocular em cavalos o vírus inativo, para depois separar os anticorpos produzidos pelo animal. “Esperamos que o soro seja capaz de neutralizar a ação do zika, sobretudo nas mulheres gestantes”, diz Jorge Kalil, diretor do Butantan. “O desenvolvimento deve demorar de um a dois anos, mas é apenas uma expectativa. Não tenho como prever os percalços que teremos.” 
*Uma versão desta reportagem foi publicada originalmente na edição 888 de CartaCapital, com o título "Medalha de ouro da desinformação"
http://www.cartacapital.com.br/revista/888/medalha-de-ouro-da-desinformacao

A Globo e Grandes Grupos dos EUA mantém a Lava Jato funcionando

  • Relações da Globo com corporações americanas explicam alguma coisa da misteriosa Lava Jato com o Judiciário Brasileiro

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Em minhas pesquisas sobre a relação entre Jonas Barcellos, a sombria figura por trás da mesada remetida à amante de FHC, e os Marinho (eles tem negócios em conjunto), acabei topando com uma outra coisa.
Não tem nada a ver com Miriam Dutra ou Jonas Barcellos, mas tem tudo a ver com a hipocrisia da mídia brasileira, de um lado, e os interesses escusos por trás das conspiratas judiciais, de outro.
Trata-se da sociedade comercial entre Rupert Murdoch e os Marinho. Murdoch é o dono da Fox News, a qual imprimiu um tipo de jornalismo hoje considerado caricatural nos Estados Unidos, de tão radicalizado à direita e tão vinculado aos aspectos mais violentos do imperialismo norte-americano. Essa sociedade, aparentemente, se consolidou a partir de 2003, no mercado de tv fechada, o que pode explicar em parte a virada da Globo, que se tornou uma espécie de Fox brasileira.
O que eu acho incrível, porém, é a completa falta de cobertura jornalística sobre o tema.
Ora, o maior magnata de mídia do mundo firma sociedade com o maior magnata de mídia do Brasil e a imprensa brasileira não explora as consequências comerciais, jornalísticas e empresariais deste tema?
O Brasil vive um sinistro apagão jornalístico. A nossa imprensa só quer saber de puerilidades sobre Lula, tipo a padaria que dona Marisa compra pão em Atibaia, ou a marca do barquinho de lata adquirido pela mesma.
Hoje, o jornal Globo vem com "notícia" sobre o fato de um caseiro de Atibaia, naturalmente assustado com o assédio jornalístico, ter dado o telefone de um escritório de advogados, quando perguntado pelo telefone do dono do sítio. E daí?
Voltando à sociedade entre Murdoch e os Marinho, a história tem alguns aspectos bastante sinistros, conforme o leitor verá.
Os documentos da reunião do CADE, que trata da fusão entre a Sky e a Direct TV, e que reuniu Globo, dos Marinho, e News Corp, de Rupert Murdoch, podem ser vistos abaixo. Se referem a reunião no CADE para fusão da Globo e Rupert Murdoch from Miguel Rosario:
***
Abaixo, o gráfico que eu recortei do arquivo acima. Observe a posição subalterna da Globo em relação à News Corp.
Nos documentos do CADE, constata-se que a News Corp é associada à General Motors, e ao US Trust Corporation, pertencente ao Bank of America, o qual, por sua vez, é o centro nervoso dos interesses econômicos do império.
Globo, Rupert Murdoch, General Motors e Bank of America. Todos unidos em prol dos interesses... corporativos norte-americanos.
A informação confirma uma coisa que já sabíamos: a Globo, mais que nunca, é um braço do imperialismo no Brasil.
Não só isso, é o braço da direita corporativa americana.
Isso talvez explique muita coisa, inclusive a campanha da Globo para destruir grandes empresas nacionais.
A Globo é representante de grandes empresas americanas, incomodadas com a expansão de nossas principais companhias, estatais e privadas.
Isso explica porque a Globo não se importa em sabotar a economia brasileira, posicionando-se contra os acordos de leniência e estimulando o furor inconsequente da Lava Jato contra grandes empresas nacionais.
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O documento do CADE traz ainda uma relação da ANATEL para as empresas nas quais a Globo tinha, em 2004, participação maior que 5%. É uma lista enorme e bem interessante, porque traz algumas companhias sediadas no exterior:
GLOBOPAR (holding) - Power Company S.A. - Cabodinâmica TV Cabo São Paulo S.A. - Rádio Excelsior Ltda (rádio) - Canal Brazil S.A. - Rádio Globo S.A. (rádio) - Comercial Fonográfica RGE Ltda - Radioclick Serviços Interativos Ltda - Distel Holding S.A. - Roma Participações Ltda - DTH Comércio e Participações S.A. - Sanland Investment S.A. - DTH USA Inc. - São Marcos Empreendimentos Imobiliários Ltda - Editora Globo S.A (editora) - Seguradora Roma S.A. (seguros) - Empresa Jornalística Diário de São Paulo Ltda (mídia impressa) - Endemol Globo S.A. - GET Empreendimentos Temáticos Ltda - SIGEM Sistema Globo de Edições Musicais Ltda - SIGLA Sistema Globo de Gravações Audiovisuais Ltda (fonografia) - GLB Participações Ltda - SKY Brasil Serviços Ltda - GLB Serviços Interativos S.A. (Internet) - Globo Cochrane Gráfica Ltda (gráfica) - SKY Multi-Country Partners (televisão via satélite) - Globo Internacional Company Ltd. - Telecine Programação de Filmes Ltda - Globo Overseas Investiments B.V - Televisão a Cabo de Novo Hamburgo Ltda - Globo Rede S.A. (Internet) - TV a Cabo Chapecó Ltda - Globo Rio Participações e Serviços Ltda - TV Cabo Resistência Ltda - Globosat Programadora Ltda (proramadora) - TV Globo Ltda (TV aberta) - GME Marketing Esportivo Ltda - TV SKY Shop S.A. - Infoglobo Comunicações Ltda (mídia - TV Vídeo Cabo de Belo Horizonte Ltda - Interpro-International Promotions Ltda - UGB Participações S.A. - Multicanal Telecomunicações S.A. - União Participações Ltda - NET Brasil S.A. - Uruguaiana Empresa de TV a Cabo Ltda - NET Santos Ltda - USA Brasil Programadora Ltda - NET SAT Overseas Limited. - Valor Econômico S.A. (mídia impressa) - NET Serviços de Comunicações S.A. (SO - - Worldwide Financial Trading Limited. operadora de sistemas múltiplos) - Zende Serviços de Apoio e Logística Ltda - Porto Esperança Comércio e Serviços Ltda E ainda: - NET Anápolis Ltda - NET Paraná Comunicações Ltda - NET Arapongas Ltda - NET Piracicaba Ltda - NET Bauru Ltda - NET Recife Ltda - NET Belo Horizonte Ltda - NET Ribeirão Preto S.A. - NET Brasília Ltda - NET Rio S.A. - NET Campinas Ltda - NET São Carlos S.A. - NET Campo Grande Ltda - NET São José do Rio Preto Ltda - NET Curitiba Ltda - NET São Paulo Ltda - NET Florianópolis Ltda - NET Sorocaba Ltda - NET Franca Ltda - NET Sul Comunicações Ltda - NET Goiânia Ltda - SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA - NET Indaiatuba Ltda - DR Empresa de Distribuição e Recepção - NET Joinville Ltda - Horizonte Sul Comunicações Ltda - NET Londrina Ltda - Televisão a Cabo Criciúma Ltda - NET Maringá Ltda - TV Cabo e Comunicações de Jundiaí S.A
Em imagem:
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Observe que virtualmente todas essas empresas têm ligação com governos ou com o Estado. As mais lucrativas são concessões públicas. Ou seja, é um assunto ligado diretamente ao que se possa pensar de mais interessante à opinião pública: tem ligações com governos, política, mídia, formação da opinião pública, cultura, grandes empresas, empresas internacionais. E até mesmo geopolítica.
Em post anterior, eu mencionei o fato da segunda metade do século XX ter sido a era das conspirações. Bem, parece que o século XXI não será diferente, com a diferença, talvez, de que as conspirações se dão à luz do dia.
Os conspiradores não controlam a internet, ainda, mas para eles basta, por enquanto, manter a hegemonia do sistema midiático.
Para a maioria dos brasileiros, nenhuma notícia é verdadeira enquanto não sair na Globo.
Só que a Globo é o centro de todas as conspirações.
Fonte: http://www.ocafezinho.com/2016/02/18/relacoes-da-globo-com-corporacoes-americanas-explicam-apoio-a-lava-jato/