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2.24.2017

Comportamento: quando a convivência se transforma em contrôle e dominação

Quase invisível, de forma imperceptível, o abuso afetivo se configura no momento em que o excesso de amor se transforma em dominação e contrôle



por Pascale Senk para Le Figaro no Brasil 24/7 - Sociedade e Relações Sociais
Trata-se de um pequeno “excesso” de quase nada. A chantagem de um amigo a outro – “Se você não for ao bar conosco, nós não iremos”- ou o humor fora do lugar de uma avó a suas netas – “Se vocês quiserem uma parte da herança que vou deixar, comecem por me dizer bom dia!”- À cada vez, sob o disfarce de uma banal reflexão, o que se exprime nessas frases é na verdade uma mensagem cheia de coisas não-ditas que, durante muito tempo, ficaram reprimidas.
As festas familiares, aniversários, casamentos, Natal, são geralmente ocasiões ideias para esses lançamentos de farpas e de cobranças muitas vezes disfarçadas de gentilezas e agrados.
O psiquiatra Christophe André estuda essas maneiras bem humanas de “se morder psicologicamente”, comparando-as ao comportamento de alguns gatos que, quando são acariciados de modo demasiado insistente, se voltam súbita e brutalmente para arranhar a mão que os acaricia... Quando as relações afetivas de uma pessoa em relação a outra tornam-se excessivas, quando vão além da conta, existe sempre o risco de vê-las se transformarem em grosserias abusivas, e até mesmo em lamentáveis estratégias de manipulação e dominação.
Maus tratos sutis
A psicoterapeuta francesa Aliette de Panafieu se especializou há anos nessa questão das violências psicológicas “comuns”. Ela dirige reuniões e work-shops nos quais cada um dos participantes aprende a identificá-las e sobretudo a compartilhar a experiência, sem ser jugado nem contestado.
Trabalhando na questão, Panafieu afinou sua percepção desses desconfortos quase invisíveis: “Apesar dela ser sutil ou negada pela nossa cultura, existe violência em algumas situações banais e familiares”. Aliette de Panafieu faz um inventário dos abusos mais frequentes dessa natureza: “Falar de alguém na terceira pessoa como se ele não estivesse presente, como se ele apenas fizesse parte da decoração do lugar”; “fazer uma piada, passar um trote, ou criar uma brincadeira de gosto duvidoso cujo sentido escapa à pessoa concernente”; “os jantares onde os cônjuges acertam as contas”; etc. Tanto nas famílias quanto nos ambientes de trabalho e outros, é comum que uma grosseria sutil e mal educada se instale de modo insidioso.
No entanto, proclamar regras comportamentais não é, segundo Panafieu, a solução, pois ninguém saberia julgar e avaliar o real grau de sofrimento de uma outra pessoa. Nessa matéria, é a emoção – não importa se somos a vítima ou uma simples testemunha – que nos permite identificar se um abuso afetivo está se manifestando. “A primeira etapa de todo um trabalho destinado a tornar consciente tais processos e aprender a controla-los, é treinar a si mesmo para prestar atenção e reconhecer quando a irrupção de algum comportamento abusivo está acontecendo”, explica a psicoterapeuta. “É o momento no qual a ‘bolha’, o tempo-espaço físico, emocional ou psíquico de uma pessoa não está mais sendo respeitado”.
O indicador é, em primeiro lugar, a emoção que aflora. Assim, em face daquela colega, por exemplo, que lhe diz sem pestanejar: “Então você vai começar um curso intensivo de ioga? Vou me inscrever junto com você, nas mesmas datas!”, sem sequer perguntar a sua opinião a respeito, um sentimento de tristeza e de impotência lhe invade. Ou em face daquele pai que “cutuca” e provoca sem parar a sua filha adolescente, Panafieu observa que no rosto da garota se instala uma expressão sombria.
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Identificar a emoção que se instala
Como reagir a essas pequenas punhaladas que surgem no dia-a-dia da relação afetiva? “Encontrando a energia para sair do triângulo vítima-carrasco-salvador”, explica Panafieu. Críticas, discussões, reações à queima-roupa, bem como os julgamentos, não servem para nada. O agressor geralmente age por impulso e não tem consciência clara de como está se comportando. Em revanche, manifestar de modo simples e claro ao agressor o que você está sentindo, ou testemunhando, com frequência permite o restauro da relação.
Estar presente na situação e ser simplesmente capaz de perguntar à vítima “O que você está sentindo?”, ou, quando você for a própria vítima, identificar a emoção que está aflorando e vê-la como um alerta benfazejo, permite uma mudança essencial de paradigma. Para Aliette de Panafieu, trata-se de uma nova ecologia relacional que é possível de ser criada. “Durante muito tempo não víamos os males causados pelo açúcar, ela explica a título de exemplo. Muito bem, no contexto das relações, acontece a mesma coisa”.
http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/275499/Abuso-afetivo-Quando-o-amor-se-transforma-em-domina%C3%A7%C3%A3o-e-viol%C3%AAncia.htm

Pobreza, trabalho pouco qualificado e baixa renda diminui expectativa de vida

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Photo/Silvia Izquierdo)

Ter um trabalho pouco qualificado e uma renda demasiado baixa pode diminuir a esperança de vida tanto quanto não ter suficiente atividade física.

 por Aurélie Franc para Le Figaro Santé no Brasil 24/7 - Sociedade e Pobreza 
Socioeconomica
O cigarro faz perder em média 4,8 anos de vida. O diabetes e a inatividade física, respectivamente 3,9 e 2,4 anos. As pessoas que vivem sob condições socioeconômicas desfavoráveis perdem 2,1 anos de vida em relação às pessoas que desfrutam de condições de vida favoráveis.
Esta é a conclusão de um estudo recém publicado na revista Lancet e que foi conduzido por um consórcio de pesquisadores no contexto do Projeto Lifepath. Financiado pela Comissão Europeia, esse projeto investiga os mecanismos biológicos através dos quais as desigualdades sociais engendram desigualdades em matéria de saúde.
A análise abrange uma amostragem de pouco mais de 1,7 milhão de indivíduos que participaram de 48 estudos levados a cabo no Reino Unido, Itália, Estados Unidos, Austrália, Portugal, Suíça e França. A categoria socioeconômica foi definida em função do trabalho dos participantes: trabalho qualificado, trabalho intermediário, trabalho não qualificado.
Esse fator social provoca uma perda de anos de vida superior à perda provocada pelos problemas de hipertensão.
Fatores de risco de mortalidade
Para medir a importância da renda e do trabalho sobre a saúde, os pesquisadores compararam esse fator socioeconômico com os seis maiores fatores de risco apontados nas estratégias mundiais para a redução da mortalidade prematura: o consumo excessivo de álcool, o sedentarismo, o consumo do tabaco, a hipertensão, o diabetes e a obesidade. Concluiu-se que esse fator social faz perder mais anos de vida que a hipertensão, e quase tantos anos quanto o sedentarismo.
“O status socioeconômico é importante pois ele é o resumo de uma exposição, ao longo de uma vida inteira, a condições e comportamentos perigosos”, ressalta Paolo Vineis,  chefe do Projeto Lifepath. “O objetivo principal do nosso consórcio é compreender as vias através das quais as desigualdades sociais levam a desigualdades de saúde a fim de fornecer provas disso para as instituições públicas e as lideranças políticas”.
O limite da interconexão dos riscos
Os autores do estudo reconhecem no entanto um limite: apesar de sua tentativa de separar os riscos de mortalidade apontados nas estratégias mundiais (tabaco, obesidade, etc), continua existindo uma interdependência entre esses fatores de risco e as diferentes  condições socioeconômicas.
Resta o fato de que, para eles, lutar contra esse fator social de insalubridade e mortalidade é um objetivo capital. Os pesquisadores do projeto trabalham para que, efetivamente, políticas locais, nacionais e internacionais sejam implementadas daqui em diante. Pois, segundo eles, as políticas nacionais de luta contra os demais fatores de risco, como o tabaco por exemplo, beneficiam apenas aquela fatia mais abastada da população para a qual mudar de hábitos é muito mais fácil.
http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/278856/Os-males-da-pobreza-Trabalho-n%C3%A3o-qualificado-e-renda-baixa-diminuem-a-expectativa-de-vida.htm

Meditação ajuda para envelhecer em paz

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Um treinamento mental voltado à regulação do estresse e das emoções permite melhorar a saúde mental dos idosos, afirma Gaël Chételat, diretora de pesquisa do Inserm – Instituto Nacional para a saúde e a pesquisa médica, na França.

 por Gaël Chételat para Le Figaro Santé no Brasil 24/7 - Sociedade e Saúde na Terceira Idade

Envelhecer bem é uma questão que ocupa um lugar cada vez maior na nossa sociedade. O número de pessoas idosas com mais de 65 anos na Europa deve passar de 86 milhões (18% da população em 2005) para cerca de 120 milhões (24%) em 2040. Como a incidência de problemas de saúde aumenta com a idade, esse crescimento do número de seniors representa um desafio social e econômico maior para as sociedades europeias. Por exemplo, mais de 50% das pessoas idosas têm problemas do sono, entre 10 a 15% sofrem de depressão, e entre 7 a 10% desenvolvem alguma forma de demência.
Esses problemas de saúde são acentuados pelo estresse e as emoções negativas. Além disso, esses fatores tendem a se amplificar e estão todos associados a um risco mais importante de desenvolver um declínio cognitivo e/ou o mal de Alzheimer. Por exemplo, foi demonstrado que os sintomas depressivos aumentam o risco de demência de cerca 20% dessas pessoas, que os distúrbios do sono podem favorecer os depósitos amiloides que encontramos nos cérebros das pessoas atingidas pelo mal de Alzheimer e que o estresse tem um efeito negativo sobre o hipocampo, uma estrutura cerebral importante para a memória e vulnerável no envelhecimento e no caso do mal de Alzheimer.
Os benefícios da meditação
Acreditamos que um treinamento mental para a regulação do estresse e das emoções permitiria melhorar o bem-estar e a saúde mental dos seniors e diminuir os riscos do mal de Alzheimer. As pesquisas nesse sentido ainda são recentes mas os primeiros resultados são muito encorajadores. A meditação estaria associada a uma redução do estresse, da ansiedade, da depressão, da insônia, do sentimento de solidão e de exclusão social, bem como dos riscos cardiovasculares. Vários estudos igualmente deixaram evidente que a meditação está associada a uma melhora das capacidades cognitivas, principalmente a atenção e as funções executivas, e também a memória, que são as funções mais sensíveis à idade e mais frequentemente atingidas nos casos de mal de Alzheimer.
Além disso, a imagineria cerebral demonstrou que a meditação está associada a modificações no cérebro que acontecem não apenas durante a sua prática, mas também a longo prazo -  e particularmente nas regiões que são sensíveis ao envelhecimento. Enfim, estudos recentes relatam que a meditação pode aumentar a atividade das telomerases que protegem as extremidades dos nossos cromossomas dos efeitos deletérios do envelhecimento.
 http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/278015/Medita%C3%A7%C3%A3o-%C3%93tima-ajuda-para-se-envelhecer-feliz.htm