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9.23.2015

Sociólogo operário mostra como tanto o socialismo como o capitalismo controlam a fábrica



Autor de 'Marxismo Sociológico', Burawoy relata experiência em Zâmbia, Rússia, Hungria e EUA e diz que, pouco antes do colapso da URSS, proletariado perdera esperança em ideologia socialista
O britânico Michael Burawoy é considerado um dos principais sociólogos marxistas da atualidade. Como pesquisador acadêmico, procurou entender a reprodução de relações sociais e econômicas no contexto da produção capitalista. Para isso, buscou uma alternativa nada convencional: trabalhar como operário em fábricas de quatro países entre as décadas de 70, 80 e 90.
"Eu era pesquisador acadêmico, mas, ao mesmo tempo, trabalhava como operador de máquinas dentro da linha de produção. O meu objetivo era observar como as pessoas se relacionam entre em si, tentando entender como é ser um trabalhador em fábricas de diferentes lugares, participando de fato da vida desses trabalhadores", afirma o sociólogo, atualmente professor titular da Universidade da Califórnia.

Considerada ímpar na história da sociologia, a pesquisa investigou o cotidiano de operários dentro da linha de produção em: Zâmbia, Rússia, Hungria e Estados Unidos. Como resultado, Burawoy lançou o livro Marxismo Sociológico (Alameda, 348 pgs. R$49), que reúne os esforços do britânico em oferecer instrumentos conceituais para questões das relações de trabalho na sociedade contemporânea.
Entre as análises,  ele compara as experiências como operário dentro de uma linha de produção capitalista em Chicago, EUA, e dentro da "Siderúrgicos de Lênin", uma das principais fábricas na Hungria no fim do período soviético, nos anos 1980.
Em entrevista a Opera Mundi, Burawoy explica que, a partir de suas experiências nos diversos países, pôde traçar linhas de comparação — "diferenças significativas" — entre os modos capitalista e socialista de produção. "Enquanto em Chicago a exploração era obscura, sendo que havia uma coordenação de interesses entre a gerência e os trabalhadores, na Hungria tudo era transparante. Dominação, exploração: todo mundo reconhecia o que estava acontecendo", conta.

Opera Mundi TV

Michael Burawoy é autor do livro 'Marxismo Sociológico', fruto de pesquisa em fábricas de 4 países do mundo

Sobre sua experiencia na Hungria, ele diz ainda que, como o próprio Estado tinha representação dentro das fábricas, os operários soviéticos passaram a questionar as contradições do socialismo — algo que já era, segundo Burawoy, notado pelos operários na postura do Estado socialista, já em evidente fim rumo ao colapso da URSS. "Os trabalhadores também perderam interesse na ideologia do socialismo", diz o pensador.
Entre outras funções, Burawoy trabalhou em fábricas de champanhe e gomas de mascar. Ele destaca, no entanto, a experiência como operador de forno na maior fábrica de aço da Hungria na época (anos 80) como fundamental para vivenciar a perspectiva dos trabalhadores em meio a deterioração das instalações soviéticas.
”A experiência como operador de forno foi interessante, pois essa posição era icônica dentro da União Soviética e representava o poder do socialismo em transformar o mundo e a sociedade. E eu estava lá em um momento que o Estado não era mais capaz de se reformar continuamente de uma forma que pudesse conviver com a própria ideologia", conclui Burawoy, sobre sua experiência como siderúrgico.
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/entrevistas/41440/burawoy+sociologo-operario+explica+como+capitalismo+e+socialismo+controlavam+o+chao+da+fabrica.shtml

Noruega mostra o lado otimista, ao saber usar o petróleo e impostos para a população

  • Noruega: petróleo e altos impostos sustentam país com maior qualidade de vida do planeta

Noruega

Lições norueguesas

O país tem belezas, serviços públicos e índices de desenvolvimento humano invejáveis. Graças ao uso exemplar de suas riquezas naturais, como o petróleo, e à gestão do Estado



Estado norueguês também se destaca por busca pela igualdade de gênero e por incentivar aumento na taxa de natalidade
A cidade de Oslo é tudo o que se pode esperar da capital do país com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo. O frio nórdico é acompanhado por um transporte com eficiência cronometrada, escolas que abrigam alunos de diferentes classes sociais e hospitais de qualidade gratuitos. Tudo público, gerido pelo Estado norueguês.
A prosperidade da Noruega, porém, não é fruto da exploração de colônias ou de desenvolvimento industrial pioneiro. Independente da Suécia apenas em 1905, a Noruega era o “primo pobre” entre os países nórdicos, tendo a situação agravada ainda mais com a Segunda Guerra Mundial, quando o território foi ocupado por forças da Alemanha nazista. A recuperação do país foi iniciada com o Plano Marshall, mas o atual estágio de desenvolvimento passou a ser uma realidade alcançável a partir da década de 1970.

Andre Lion/Opera Mundi

Vista de Oslo: Noruega é país com melhor IDH do mundo, graças ao petróleo e a altos impostos

O momento da virada norueguesa é 1969, quando foi encontrado petróleo pela primeira vez no mar do Norte. “O óleo é claramente fundamental para o desenvolvimento da sociedade norueguesa. Não dá para entender a situação da Noruega sem pensar na questão do óleo. Podemos pensar que a descoberta desse recurso natural foi uma sorte, mas, por outro lado, ele foi muito bem manejado pelo Estado”, afirma Axel West Pedersen, pesquisador do Instituto de Pesquisa Social, que já desenvolveu trabalhos para a União Europeia.
Como uma das características principais desse sucesso norueguês ao administrar o dinheiro oriundo do petróleo, pode-se citar a criação de um fundo, considerado o maior do mundo. Anualmente, o governo tem o direito de gastar em seu orçamento apenas 4% desse montante, de pouco menos de US$ 1 trilhão, com o objetivo de garantir que as novas gerações também se beneficiem do recurso mineral.
Para se ter uma ideia do valor recebido pela Noruega, dez anos depois do início da exploração de petróleo e gás, a atividade já representava um terço do lucro do país com exportações. Além disso, até o final de 2012, a exploração de petróleo já tinha rendido à Noruega cerca de R$ 1,14 trilhão, pouco mais que o dobro do PIB (Produto Interno Bruto) local.
Resistência à privatização
Nas últimas cinco décadas, durante o processo de melhoria da infraestrutura nacional, a Noruega teve que resistir a forte pressão pela privatização do setor. “Quando havia empresas estrangeiras explorando a nossa reserva, asseguramos que elas fossem obrigadas a treinar noruegueses, de forma que pudéssemos um dia consolidar uma indústria própria de extração de petróleo. Também obrigamos as companhias estrangeiras a pagar até 78% de impostos”, conta Heikki Holmås, parlamentar do Partido Socialista.
O alto valor dos impostos, por sinal, não é uma exclusividade desse setor da economia. Para financiar a qualidade de vida mais elevada do mundo, o Estado norueguês cobra 42% de Imposto de Renda.

“Nosso modelo de desenvolvimento é semelhante aos dos outros países nórdicos. Por meio do Estado do bem-estar social, garantimos uma série de direitos iguais para toda a população e esse modelo é acompanhado de altos impostos. A população aceita altas taxas tributárias porque recebe de volta do Estado um serviço de saúde gratuito, boas escolas, licença maternidade de até um ano, entre outros benefícios sociais”, explica a parlamentar do Partido Trabalhista Marit Nybakk.
De acordo com Marit, esse modelo é bem-sucedido quando, antes do Estado do bem-estar social, são criados valores comuns na sociedade local. No caso da Noruega, entre esses valores está a busca pela igualdade de gênero, um dos motivos que garante o país no topo do IDH há cinco anos, quando comparamos os dados dos países que lideram a lista.
A igualdade de gênero é parte de uma consciência ideológica própria dos noruegueses, é um ideal muito estimado aqui. Mesmo assim ainda temos algumas diferenças importantes entre os gêneros, temos que reconhecer isso. Se por um lado vemos alta participação de mulheres nas universidades, chegando a representar 70% dos formados na Universidade de Oslo em 2013, elas costumam optar por trabalhos de meio período e no setor público, enquanto os homens predominam na iniciativa privada”, analisa Pedersen.
Taxa de natalidade e educação
Além de salários e oportunidades semelhantes para homens e mulheres, o Estado ainda incentiva o aumento da taxa de natalidade, pagando os salários das mães por um ano, dando bolsas para os jovens até a maioridade e oferecendo educação gratuita de qualidade.
“Nunca me senti discriminada e acredito que sempre tive as mesmas oportunidades dadas aos homens. Agora tive o meu primeiro filho e pretendo ter outros. É muito bom poder ficar cuidando dele por um ano, com a certeza de que voltarei ao meu emprego depois”, diz a fisioterapeuta Christina Tanem, 33 anos.
Andre Lion/Opera Mundi

Ópera Nacional Norueguesa, em Oslo: país tem alta qualidade de vida
A busca por aumentar o número de nascimentos no país se deve ao envelhecimento da população, fenômeno que afeta com gravidade diversos países da Europa. Especificamente na Noruega, a porcentagem de pessoas com mais de 67 anos era de 8% em 1950. Em 2014, esse índice chegou a 13%.
Nas últimas décadas, como parte desse processo, o país alterou o perfil das mulheres que têm filhos. Na Noruega, as mulheres têm seus primeiros filhos, em média, com 28,6 anos, e mais da metade delas (54,9%) o faz sem estarem casadas.
Outro dado interessante é que, em 1970, 11% dos nascimentos vinham de mães adolescentes. Hoje, esse número caiu para menos de 2%. A mudança foi possível com a legalização do aborto, que faz parte das políticas de igualdade de gênero do país e, anualmente, é a escolha de 2% das mulheres entre 20 e 24 anos.

Além das licenças maternidade e paternidade, a educação pública e gratuita de qualidade é outro elemento central para incentivar os noruegueses a terem filhos. “Os alunos vão para uma ou outra escola devido à proximidade de suas casas e o Estado faz testes anuais para acompanhar a qualidade de cada instituição. Os diretores têm bastante autonomia, pois há apenas um currículo básico e os métodos podem ser alterados, não existe uma regra sobre número de alunos por sala, por exemplo. Aqui também temos projetos em comum entre alunos de séries diferentes, pois fazemos com que os mais velhos desenvolvam habilidades como ensinar os mais novos”, conta Elin Brandsæter, diretora de uma escola que reúne 538 jovens de 38 nacionalidades diferentes, que cursam ensino primário e secundário.
O cientista social Pedersen concorda com a centralidade da educação no modelo nórdico de sociedade. “Um aspecto realmente importante da sociedade na Noruega é o modelo de educação pública, muito inclusivo. Ele propõe a interação entre crianças de diferentes classes sociais, o que gera inúmeras consequências positivas. Um dos nossos desafios é manter essa característica, mesmo quando os imigrantes passam a viver em locais mais segregados, por exemplo. De qualquer maneira, se o ensino fosse privado aqui esse desafio seria ainda maior. O modelo deu mais certo aqui porque os guetos são maiores na Suécia e na Dinamarca. Na Suécia, houve inclusive um movimento de privatização das escolas, mas acabou sendo muito malsucedido.”
Monarquia
A aparência de modernização na Noruega é acompanhada de um traço curioso: o país ainda é uma monarquia. O rei Harald V tem poderes limitados, mas realiza reuniões semanais com o gabinete do primeiro-ministro.

Rei Harald V: país ainda é uma monarquia; rei é bastante popular entre noruegueses
Além das formalidades, Harald V também desfruta de alta popularidade. Segundo pesquisa divulgada em 2014, ele tinha 90% de aprovação da população, o que lhe dava o título de monarquia mais popular do mundo. As famílias reais de Dinamarca e Holanda apareciam na sequência do estudo, com 80% de aceitação.
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/40450/noruega+petroleo+e+altos+impostos+sustentam+pais+com+maior+qualidade+de+vida+do+planeta+.shtml

http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/110/licoes-norueguesas-6724.html

Desvalorização cambial estimula criação de empregos e traz folego à indústria brasileira

Para economista, com a nova relação cambial no país, produtos importados devem ser substituídos por nacionais, atraindo investimentos para o parque industrial brasileiro
 
por Redação Rede Brasil Atual - Marcio Pochmann - Sociedade e o Comércio no Brasil
 
Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
dolarset.jpgMoeda norte-americana rompeu a barreira histórica dos R$ 4 ontem (22/set): expectativa para indústria

São Paulo – O dólar comercial rompeu em 22/set/2015 o teto de R$ 4 e chegou a R$ 4,06. O economista, professor e escritor Marcio Pochmann, em comentário hoje à Rádio Brasil Atual, analisou a situação da alta da moeda norte-americana, identificando os fatores internos e externos que influem no câmbio.

“Há uma orientação por parte do governo federal de estabelecer um novo patamar da nossa moeda com a moeda externa, especialmente o dólar. Isso acontece porque o Brasil vem há duas décadas tendo o real muito valorizado em relação ao dólar. E esta valorização tem efeitos positivos, porque permitiu combater a inflação, por exemplo, mas ao mesmo tempo foi deprimindo e tornando mais difícil a produção interna no Brasil”, afirmou.
O período de valorização do real fez com que parte do crescimento da economia fosse atendida por consumo com importações. E agora, segundo Pochmann, o governo da presidenta Dilma Rousseff  promove a desvalorização com o objetivo de melhorar as contas externas. No caso da balança comercial, os resultados já apareceram. “O Brasil vive atualmente uma situação de superávit nas contas comerciais – as nossas exportações estão maiores do que as importações, revertendo um quadro desfavorável que o país vinha registrando nos últimos anos”, disse.
Mas também há fatores que não são de controle do governo federal. Internacionalmente, há um movimento especulativo, especialmente em torno da possibilidade de o governo norte-americano aumentar a taxa de juros nos Estados Unidos. “E toda vez que há uma elevação da taxa, isso acaba provocando um deslocamento de recursos em dólar de outros países para serem aplicados nos Estados Unidos. Isso faz com que exista um movimento especulativo contra as moedas nacionais.”
Há ainda um terceiro fator, diz o economista, associado à situação da China, que vinha até há pouco tempo sendo o dínamo do crescimento mundial e registra de 2014 para cá sinais de fragilidade. “Há um certo desânimo na possibilidade de crescer em função da China, e isso também fomenta uma saída de recurso, de escassez de dólares, e portanto desvaloriza a nossa moeda.”
De maneira geral, os analistas dizem que há apenas efeitos negativos derivados da elevação do dólar em relação ao real, porque produtos importados tornam-se mais caros, e isso termina de alguma forma repassado para preços, e torna também as viagens internacionais de turismo mais difíceis. “Mas há um outro lado”, diz Pochmann, para quem “é adequado que o Brasil tenha essa desvalorização frente ao dólar”.
Pochmann acredita, inclusive, que o país já deveria estar com essa cotação há mais tempo, porque a valorização cambial tem sido muito desfavorável para o parque produtivo brasileiro. "Hoje nós temos uma indústria que responde por apenas 9% da produção, o país é cada vez mais dependente da importação e, nesse sentido, a desvalorização faz com que se estimule a produção interna.” Para o economista, a substituição de importados por produtos nacionais vai criar empregos e impacto no investimento das empresas. “É importante que a taxa de câmbio se mantenha nesse patamar, para estimular a produção que anteriormente vinha do exterior”, disse. Desta forma, temporáriamente é possível uma revalorização deste país.
http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2015/09/desvalorizacao-cambial-estimula-criacao-de-empregos-na-industria-326.html