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5.12.2016

Como as ruas vão entender a democria?

Blog da Marcia Tiburi Por Marcia Tiburi, da revista Cult - Sociedade e Luta Social Brasileira (fonte no final)

Temer de DilmaTemer ou a vergonha alheia nacional

Michel Temer vai ocupar o posto de presidente da república com unhas e dentes por 180 dias. A ilegitimidade da situação atual ficará cada vez mais escancarada para aqueles que já o veem como um figura morna e sem expressão.
Muitas pessoas sabem há pouco tempo, pelo noticiário em torno do golpe, que ele é o vice-presidente e, agora, o interino golpista. Se por um lado, isso pode envergonhar pela ignorância institucional, pelo menos quem não o conhecia até o momento foi poupado de outra vergonha, a vergonha alheia. O golpe causa vergonha. Mas causa ainda mais vergonha porque será Temer, o príncipe das trevas da vergonha alheia, a ocupar esse lugar antes especial de presidente eleito pelo povo e agora manchado pela abjeção do golpe.
Temer nu
Se a cadeira da presidência fosse um trono, e o Brasil fosse uma monarquia, Temer seria um rei nu sentado em um vaso sanitário. Essa é uma das tantas imagens que podem animar a nossa fantasia diante da abjeta figura que se coloca no cenário político da cada vez mais ridícula política brasileira.
Estava aqui a pensar no que dizer sobre esse personagem que atravessou a história política do Brasil. Um sujeito bastante oculto, sem expressão e que, caroneiro na chapa de Dilma Rousseff, tornou-se a parte mais essencial do golpe que a afasta de seu posto e a impede de governar.
Falar algo sobre o personagem político que é Michel Temer sem cair em adjetivismos baratos também pode ser pouco expressivo. A expressão barata talvez seja a que melhor expressa o golpista no poder. Afinal o que dizer de alguém que se torna presidente por uns tempos sem legitimidade alguma? Podemos nós que lutamos pela democracia falar com a força devida dessa abjeção? O golpe é emudecedor. O que dizer de um golpista que chega ao cargo máximo na representação nacional movido e ajudando a mover artimanhas de políticos que ninguém consegue respeitar? O que dizer de alguém que age como sócio-político de Eduardo Cunha? Que agora seremos governados por golpistas, gângsters, por uma verdadeira máfia?
Temer é o rei da vergonha nacional nesse momento. Mas sua história como imagem da vergonha é velha como ele. Ficou famoso entre os escritores brasileiros por ser o grande mico da feira de Frankfurt de 2013. Quem já ouviu algum de seus poemas, lastimará a falta de noção do político que tem todo o direito de escrever e de mostrar o que escreve, mas não tem noção do ridículo que ele mesmo provoca. Talvez agora ele peça – a exemplo FHC que atacava com estilo onde faltava conteúdo – que esqueçam seus escritos se é que alguém lembrou deles.
A famosa “carta a Dilma” também faz parte do seu histórico relativo ao ridículo. Sua jovem mulher exposta sob o anacronismo do slogan “bela, recatada e do lar” que o jornalismo golpista tentou transformar em elogio, paga o mico de ser adereço, a prótese que poderia melhorar sua figura.
O ridículo toma a cena do político quando Michel Temer entra em cena.
Dizem que foi o falecido coronel ACM que primeiro o chamou de “mordomo de velório”. Desde então, o povo brinca com sua pose de vampiro. Mais recentemente, desde que sua postura covarde e invejosa da presidenta Dilma ficou clara, seu rosto aparece em memes da internet colado ao corpo da presidenta, como se ele pudesse, por um artifício, tornar-se ela. A sabedoria iconológica das redes não o poupa. Comparado à criança mimada ou à personagem má da novela, Temer é uma espécie de piada pronta, mas infelizmente, nesse momento, uma piada de muito mau gosto da qual é difícil rir porque o riso exige um prazer ao qual sua figura impotente não leva.
No seu caso, de fato é preciso rir para não chorar. Quando concorreu a deputado federal em 2006, Temer fez 99.046 votos, menos de 0,5 % do total. Se elegeu graças à distribuição das vagas que sobram para os menos votados. Ficou entre os últimos colocados da bancada do PMDB naquela época. Hoje não seria muito diferente se fosse candidato a presidente. Mas quem precisa de votos, quem precisa de legitimidade, quem precisa de Constituição quando se pode pegar carona de vice e depois dar um golpe?
Temer vai entrar para a história como um golpista e como um personagem ruim de uma comédia de baixo nível.
Os brasileiros também entram para a história. Como o povo mais otário do planeta. Mas quem não tem senso histórico não se importará com isso.
Os que tem senso histórico lutam pela democracia e a levam a sério apesar da palhaçada em que personagens perversos a transformam nesse momento.
Coma da democracia
Talvez Temer venha a ser objeto de um impeachment, pois também ele, como metade dos governadores dos estados da nação, praticou as chamadas “pedaladas fiscais”. A se manter a interpretação de que elas sejam crime e se a justiça voltar a valer depois do coma democrático em que estamos, desse estado de exceção em que a Constituição não vale mais, teremos um país todo reconfigurado politicamente ou o governo Dilma de volta. Isso ninguém espera do sujíssimo STF igualmente vendido e afeito ao clima fascista e autoritário que caracteriza o poder judiciário.
Quando o governo não é legítimo, não há democracia.
O patriarcal ministério de Temer sem mulheres é sinal de anacronismo, de coronelismo, da tacanheza da proposta que vem ocupar esse deserto político que e o espaço e o tempo do golpe.
Dilma Rousseff é a metáfora da democracia brasileira neste momento, estuprada por coronéis machistas e endógenos em sua política de século 19.
O povo poderá resgatar a si mesmo ao resgatar o governo eleito afirmando a democracia nas ruas.
http://revistacult.uol.com.br/home/2016/05/temer-ou-a-vergonha-alheia-nacional/

Com o golpe, o país pode se tornar um buraco negro (sem fundo)

  • Ou Temer renuncia ou Forças Armadas intervirão
  • Prof. Wanderley: o impedimento venceu! O Golpe foi derrotado!
  • Este diálogo se escuta nas esquinas e nos bares
Do blog Conversa Afiada - Sociedade e Luta Sócio Política Tupiguarani na Republica das Bananas(fonte no final)

bessinha pombo correioO Conversa Afiada reproduz artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos:

O IMPEDIMENTO VENCEU; O GOLPE FOI DERROTADO    

Não há reversibilidade possível no processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff. O atual Supremo Tribunal Federal não tem coesão para tanto ousar, declarando inconstitucional a decisão iniciada pela Câmara dos Deputados e completada pelo Senado Federal. Os fundamentos da acusação à presidente são precários, a sentença é notoriamente desproporcional, mas a convergência de conspirações entre agentes econômicos, maiorias parlamentares conservadoras, ressentimentos de ricos e remediados, com a liga propiciada pelo oligopólio dos meios de comunicação, historicamente antidemocráticos, alcançou eficácia inédita na contra-história golpista brasileira. Em vão a tonelada de argumentos e evidências da insustentabilidade de processos em que maioria decide que 2 e 2 são 5 porque ela assim quer. O impedimento se deu porque a maioria assim o quis. Qualquer objeção jurídica ou lógica à decisão é pura perda de tempo.

Por isso o golpe fracassou. As sucessivas ilegalidades da força-tarefa da Lava-Jato, com prisões injustificadas, humilhações de investigados, difamações, tortura psicológica de presos, vazamentos operados com oportunismo, incansável repetição de incriminação e degradação de investigados ou mesmo réus em curso de julgamento, linguagem virulenta de procuradores, policiais federais e Procurador-Geral da República, cultivando hostilidade e ódio na opinião pública e, finalmente, o apelo dos homiziados de Curitiba aos movimentos sociais conservadores e mídia golpista para continuado apoio, esquecendo as instâncias judiciárias e de outros poderes a que estão subordinados, substituiu a indumentária de cavaleiros pelo restabelecimento da moralidade pelo descarado uso da força bruta, e só ela, contida nas leis. Não há salvação: Michel Temer é um usurpador e seu governo não deve ser obedecido.

Não deve e não o será. O golpe fracassou socialmente e o usurpador só governará mediante violência física, repressão sem disfarce. Ou a sublevação social pela democracia é submetida pela força (e aí o golpe, finalmente, será vitorioso), ou a coerção servirá de combustível à sublevação. Então, de duas uma: ou Michel Temer renuncia e o STF convoca novas eleições ou as forças armadas intervirão.
http://www.conversaafiada.com.br/politica/ou-temer-renuncia-ou-forcas-armadas-intervirao

O Pensador Mino sobre o político Temer, um bandeirantes: vai ser uma tragédia na Republica das Bananas

  •  ."Loteamento dos bens brasileiros, o distanciamento dos BRICS, Alca em lugar de Mercosul"
  • É a velha geopolítica tupi-guarani

 Do Conversa Afiada para site ContrapontoPig  - Sociedade e Modernidade Insana(fonte no final)
 jornalistas livres_phixr.jpgNo twitter dos Jornalistas Livres

O Conversa Afiada reproduz editorial de Mino Carta, da revista CartaCapital:

Brasil? Lilliput - e a história tem o sabor da repetição...é só ler a literatura universal.

"O afastamento de Eduardo Cunha já estava escrito no script do golpe, que não se esgota com o impeachment"

O afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara estava escrito no script da conspirata. Ele paga o pato (obviamente, não o da Fiesp) para que Michel Temer e outros não paguem por coisa alguma. Aos leitores de CartaCapital recomendo que não se regozijem, e não se iludam quanto às próximas etapas deste trágico enredo.

Concluída a operação-impeachment com a decisão do Senado marcada para a próxima semana, caberia ainda recurso ao Supremo Tribunal Federal, o qual já deu demonstrações inequívocas de sua conivência com o andante geral da orquestração.

De sorte que fica previsível imaginar o passo seguinte: a devolução das investigações a respeito de Luiz Inácio Lula da Silva à sanha de Sergio Moro. Ousada demais a previsão da condenação final do ex-presidente da República, último e principal objetivo de caudalosa manobra?

Como disse Massimo D’Alema na entrevista publicada por CartaCapital na edição da semana passada, a prisão de Lula acentuaria o sabor do golpe e abriria a perspectiva de “um confronto lacerante”. Mas não seria a detenção de Lula a última passagem do script? O impeachment de Dilma Rousseff não passa de uma etapa do golpe, outras hão de vir.

Há quem exclame, a começar pelo arguto professor Michel Temer: não é golpe. Como há de ser chamado então todo esse entrecho que agora sacramenta o impeachment tirado da cartola, ao longo de um complô, a unir juízes, promotores, polícia, empresariado e mídia para rasgar a Constituição ao derrubar a presidenta legitimamente eleita sem prova do crime de responsabilidade. Do alto da sua hipocrisia, a casa-grande recorre a tecnicalidades para justificar suas mentiras.

Nunca aos meus olhos foi tão evidente a prepotência dos eternos donos do poder, prontos a aproveitar o momento de fragilidade de um país, por eles mesmos condenado a não passar de exportador de commodities, para desferir um golpe de feitio inédito.

Os conspiradores vitoriosos não hesitam em se apresentar como patriotas quando nada fizeram por sua terra ao satisfazer apenas e tão somente a sua ganância.

Elite da pior qualidade, incapaz até de entender as vantagens que o capitalismo tem condições de oferecer à nação em peso pelos caminhos que em outros tempos Antonio Gramsci definiu como fordismo.

Referia-se a Henry Ford, promotor da revolução do Modelo T, o carro que os seus operários, dignamente pagos, poderiam comprar. À época, uma anedota contava da visita ao papa de emissários do magnata norte-americano, que pediam que, ao fim da missa, o oficiante, em vez de dizer fiat voluntas tuas, dissesse ford voluntas tua.

Devemos à dita elite nativa a permanência da senzala, a educação precária do povo, a saúde mais ainda. Mas os próprios autores da desgraça não primam pela sabedoria, pela cultura, pela visão profunda das coisas da vida e do mundo. Em geral, toscos até a medula, embora arrogantes.

De certa forma criaram o país que lhes convém, e tragaram na esteira dos seus comportamentos quem haveria de resistir e apontar a direção certa. Aludo inclusive ao PT. Imaginou ter atingido o estágio senhorial e se portou no poder como os demais pretensos partidos.

Figura exemplar do entrecho nefasto, Henrique Meirelles. Dispenso outras, muito além de dúbias, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e companhia, heróis da reação. Fico com Meirelles. Trata-se do inesgotável avalista das intenções neoliberais, melhor, neoliberistas, das satisfações devidas ao maldito mercado, em qualquer governo. Figura para todas as estações, imprescindível.

Na tentativa de imaginar o que virá, é fácil antever o futuro. O loteamento dos bens brasileiros, o distanciamento dos BRICS para a alegria de Tio Sam, Alca em lugar de Mercosul. Etc. etc. Antes ainda, a punição do trabalho, e aqui a alegria será da Fiesp e quejandos. Antes de tudo, a punição do Brasil e da maioria abandonada ao seu destino, em boa parte incapaz de perceber e avaliar a imponência da tragédia.

O que espanta é a profusão de bandeiras desfraldadas, a enfeitarem fachadas e carros, ou envolverem cidadãos ignaros. Celebra-se, igual à conquista de uma Taça do Mundo, o enterro do Estado de Direito. O espetáculo é assustador sem deixar de ser patético, reação parva, para não dizer demente, à fatal prepotência cometida contra qualquer propósito democrático. Se quiserem, contra quem se embandeira.

Suponho que, se Gulliver decidisse hoje partir na rota de Lilliput, não teria maiores dificuldades ao aportar no Brasil.
http://contrapontopig.blogspot.com.br/2016/05/n-19345-mino-sobre-temer-vai-ser-uma.html