Páginas

1.27.2016

Falta ética política no Brasil moderno

  • Não há altruísmo nas eleições

  • Para jurista, as novas regras do pleito, que acabam com o financiamento empresarial, libertam os candidatos do poder econômico
Por Rodrigo Martins para revista Carta Capital - Sociedade e Política Popular com Justiça

Foto: Pedro Ladeira/FolhaPress
Marcello-Lavenere
O jurista festeja o fim das doações empresariais e aponta as falácias do impeachment contra a presidenta
Um dos principais articuladores da Coalizão pela Reforma Política Democrática, a reunir mais de cem entidades da sociedade civil, OAB e CNBB na dianteira, Marcello Lavenère considera a proibição do financiamento empresarial indispensável para moralizar a política brasileira. “Essas doações raramente representam um gesto altruísta. Trata-se de um investimento, feito por quem tem expectativa de disputar licitações, fechar contratos com o governo ou influenciar a atuação de parlamentares.”
Autor do pedido de impeachment de Fernando Collor, em 1992, o jurista avalia que a situação de Dilma Rousseff é radicalmente distinta, além de defender a moderação do Supremo Tribunal Federal no processo. Confira, a seguir, a entrevista concedida a CartaCapital.
CartaCapital: O fim do financiamento empresarial é um remédio eficaz contra a corrupção?
Marcello Lavenère: Sem dúvida. É uma antiga reivindicação da sociedade civil. Desde o vereador de um pequeno município até o presidente da República, todos dependiam da ajuda financeira de grandes ou médias empresas, mas essas doações raramente representam um gesto altruísta. Trata-se de um investimento, feito por quem tem expectativa de disputar licitações, fechar contratos com o governo ou influenciar a atuação de parlamentares. São inúmeras as formas de retribuição aos mecenas.
CC: No Senado tramita uma Proposta de Emenda à Constituição que legaliza essas doações.
ML: Não acredito que vai prosperar. O senador Raimundo Lira apresentou um relatório pela rejeição dessa PEC. Caso ela viesse a ser aprovada, ainda haveria a possibilidade de questionar o STF se a medida não agride as cláusulas pétreas da Constituição. De toda forma, vamos manter a mobilização no Congresso para sepultar o financiamento empresarial. O fim dessas contribuições pode trazer maior legitimidade e moralidade para as eleições. Não temos a ilusão de que tal medida, isoladamente, salvará a política de todos os males. Estamos, porém, apertando o cerco.
CC: Os críticos sustentam que a proibição é inócua, só tende a estimular a prática de caixa 2.
ML: Boa parte das críticas emana de quem recebia doações de campanha ou de quem as ofertava. Agora, eles apelam para uma argumentação sofista. O caixa 2 sempre foi proibido e deve ser combatido com maior rigor na fiscalização. Da mesma forma, se houver uma avalanche de
doações de pessoas muito ricas, de forma a desequilibrar as disputas, podemos limitá-las no futuro. A Coalizão da Reforma Política havia proposto um teto para as doações individuais, no valor de um salário mínimo. Sugerimos ainda que as contribuições privadas não excedessem o limite de 40% dos gastos da campanha. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, recusou-se, porém, a colocar em votação nosso projeto.
CC: Em dezembro, o Supremo Tribunal Federal manifestou-se sobre o rito do impeachment contra Dilma Rousseff. Era preciso intervir na questão?
ML: Isso também ocorreu em 1992, após o então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, acolher o pedido de impeachment contra Fernando Collor. À época, o presidente do STF, Sydney Sanches, convidou o ministro Celso de Mello para redigir uma proposta de regulamento. Era uma peça bastante meticulosa. Num primeiro momento, ficamos entristecidos, imaginávamos que aquele roteiro poderia atrasar demais o julgamento no Congresso. Após o desfecho, fizemos questão de agradecer aos ministros pelo trabalho, sem o qual o processo talvez não teria transcorrido de maneira tão tranquila, com o devido processo legal. A decisão do STF no fim de 2015 caminha na mesma direção, de colocar ordem na casa. Deixou claro para a Câmara dos Deputados, para a comunidade jurídica e para a sociedade em geral, que um processo de impeachment não pode ser manipulado por apenas uma pessoa, como pretendia Eduardo Cunha.
CC: A decisão colocou um freio às maquinações do presidente da Câmara?
ML: Espero que sim, mas ele tem uma mente bastante fértil para tramar as malignidades que pratica. Quando tudo parece certo, surge mais uma manobra ardilosa, seja para influir no impeachment, seja para se proteger das acusações que pesam contra ele. Como foi ostensivamente noticiado, Cunha barganhou com a oposição, depois tentou negociar com os partidos da base do governo. No mesmo dia no qual a bancada do PT anunciou que não iria salvá-lo no Conselho de Ética da Câmara, acolheu a peça contra Dilma. Esse processo de impeachment nasce, portanto, de uma manobra espúria, revanchista. A decisão do STF veio em momento oportuno.
CC: Podemos comparar a situação de Dilma com a de Fernando Collor?
ML: É o mesmo instrumento previsto na Constituição, mas as circunstâncias são radicalmente distintas. Collor foi acusado de receber propina, de ter contas pessoais abastecidas com recursos ilícitos coletados por PC Farias, tesoureiro de sua campanha. Uma CPI mista, integrada por deputados e senadores, investigou o caso por meses. O relatório do senador Amir Lando foi aprovado por aclamação. À época, houve reação espontânea da sociedade brasileira, representada pelo movimento Ética na Política, que não tinha cor partidária, ideológica ou religiosa. Não era uma manifestação só de partidos de oposição, de um único segmento da sociedade. A CNBB, a comunidade judaica, representada pelo rabino Henry Sobel, o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, a UNE, a CUT, a OAB, todos estavam unidos pelo impeachment de Collor. Boa parte dessas entidades manifestou-se contra o processo movido contra Dilma.
CC: E por quê?
ML: Não há base legal. “Pedalada fiscal” é uma irregularidade contábil, praticada por vários governantes que precederam Dilma, inclusive pelo vice, Michel Temer, no exercício da Presidência, nas ocasiões em que ela viajou. Agora passa a ser tratada como crime de lesa-majestade. É um mero pretexto usado pela oposição para sacá-la do poder. O impeachment é muito importante para ser usado de maneira irresponsável e ilegítima.
http://www.cartacapital.com.br/revista/884/201cnao-ha-altruismo-nas-eleicoes201d

A Funai e a farsa da política dos "índios isolados"

  • Antropóloga Barbara Arisi relata o conflito no Vale do Javari (AM) e critica a falta de diálogo entre o governo e os povos indígenas da região
Por Felipe Milanez para revista Carta Capital - Sociedade e Política Indiginista Injusta
Foto: Associação Indígena Matís
Índios MatisApós conflito com "isolados", índios Matis ocupam sede da Funai em Atalaia do Norte (AM) e cobram diálogo com o órgão federal
Barbara Arisi é antropóloga, professora de etnologia indígena da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e trabalha há uma década junto aos Matis, povo que vive no Vale do Javari, no Amazonas.
Sua dissertação sobre a relação dos Matis com os indígenas em isolamento voluntário Korubo é referência para se pensar a política pública sobre os “índios isolados” e o respeito aos povos indígenas (pode ser acessada no site repositório da UFSC).
No ano passado, os Matis contataram um grupo Korubo classificado como “isolado” pela Funai — uma classificação que, como mostra o trabalho de Arisi, tem um sentido diferente para os Matis.
Essa aproximação diplomática entre os povos que possuem diferentes relações com o Estado brasileiro foi envolta de conflitos e tensões, intensificadas nos últimos anos e resultando em mortes de ambos os lados.
Os Matis, que nesse momento ocupam a sede da Funai no município amazonense de Atalaia do Norte, cobram diálogo com o órgão, exigem participar do processo de contato com seus vizinhos e se dizem ignorados pela atual política governamental.
Abaixo, artigo escrito por Arisi para a coluna, um texto fundamental para se avançar no debate sobre a política indigenista do órgão e o respeito aos direitos dos povos indígenas.
Índios KoruboÍndios Matis reivindicam participação nas decisões a respeito dos Korubos, povo em isolamento voluntário que entrou em contato com a etnia e a Funai em 2014
Funai e sua política de índios ignorados
Por Bárbara Arisi
A Funai costuma se congratular por realizar uma política indigenista inovadora, propagandeada como sendo única no mundo, destinada a proteger os povos indígenas que vivem em isolamento (ou isolamento voluntário como o movimento indígena prefere referi-los).
A verdade é, porém, que essa política não tem sido efetiva para proteger os "isolados". Mas tem sido eficaz em ignorá-los e jogar o problema de sua sobrevivência e autonomia para debaixo do tapete.
Os povos indígenas que vivem em isolamento estão em situação de extrema vulnerabilidade e risco, numa floresta que vem sendo devastada por grandes projetos financiados com dinheiro público.
No caso do Vale do Javari, no Amazonas, isso ocorre tanto no lado brasileiro, quanto no peruano da fronteira, além da exposição de ambos a incursões do narcotráfico. Os governos dos dois países não têm políticas de defesa dos interesses indígenas, embora sejam considerados “de esquerda”.
O governo brasileiro tem apenas promovido, de forma assistencialista, mais dependência por parte dos povos indígenas em relação ao Estado. Além disso, os governos de Dilma Rousseff e de Evo Morales, na Bolívia, investem no que vendem como "desenvolvimento" da região às custas da extração de madeira e petróleo, o que vem causando desmatamento, especialmente acelerado no Peru de Ollanta Humala.
No Vale do Javari, rio que divide Peru e Brasil, está localizada a segunda maior terra indígena brasileira, com 8,5 milhões de hectares, próxima à tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.
Trata-se de uma vasta área de floresta bastante preservada onde vivem cerca de 5.750 índios que têm contato com os demais brasileiros e também onde se encontra a maior população de índios considerados "isolados" do mundo.
Nesse cenário de extrema beleza natural – onde foram gravados diversos documentários para canais internacionais como National Geographic e BBC – vem sendo travada uma guerra entre dois povos que possuem uma longa história em comum: os Matis e os Korubo.
Ambos os povos são conhecidos internacionalmente e popularizados, graças aos diversos filmes e reportagens feitos a seu respeito.
Os Matis mantém contato com o governo brasileiro desde 1976, quando a Funai auxiliou a Petrobrás a realizar perfurações para avaliar a existência (ou não) de petróleo na região. A frente de atração na época foi de tal forma improvisada que sequer o motor do peque-peque funcionava. Nessa ocasião, estima-se que dois terços da população matis tenha morrido como decorrência do contato.
Em 1996, os Matis aceitaram participar de outra frente de atração, dessa vez destinada a contatar os índios Korubo que viviam próximos ao local onde a Funai planejava instalar um frente de vigilância da terra indígena na confluência dos rios Ituí e Itacoaí, para evitar invasão de caçadores e madeireiros.
Hoje, os Matis e outros povos indígenas trabalham em situação de penúria administrativa de recursos e precariedade, junto a outros servidores do governo brasileiro, nessa frente de proteção, onde também é realizado o atendimento de saúde para o pequeno grupo de índios Korubo contatado em 1996.
O ano de 2016 começou intenso no Vale do Javari. Nessa última semana, o movimento indígena ocupou a sede da Funai no município de Atalaia do Norte e exigiu a renúncia do responsável local, a fim de conseguir o diálogo entre o órgão federal e os índios.
Como é costume, os servidores que estão na ponta do atendimento sofrem as consequências de uma política pública mal planejada e gerida a partir de Brasília, distante das bases.
Os índios Matis querem ser ouvidos pela Funai, sobretudo porque dois homens de seu povo foram mortos pelos isolados em dezembro de 2014, possivelmente ocasionando a morte de outros tantos Korubo que ainda viviam em isolamento.
É hora da política de ignorar os índios voltar a ser aquilo que foi conquistado pelos sertanistas e servidores da Funai em 1987. Uma política que não ignora os índios, mas protege os povos em isolamento. Os Matis querem participar das decisões sobre os vizinhos Korubo, de quem são também parentes.
O movimento indígena pede agora que exista um diálogo efetivo dos servidores de Brasília e das coordenações locais com o movimento indígena. O diálogo parece ser o primeiro passo para o fim de uma política de “índios ignorados”.
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-funai-e-a-farsa-da-politica-dos-indios-isolados

Candidato Bernie Sanders democrata nos EUA e o caminho para uma esquerda popular

  • Arrancada de candidato democrata revela: é possível vencer preconceitos da mídia com propostas concretas, em vez de discurso doutrinário, exemplo a ser seguido pela esquerda brasileira
Por Cauê Seignemartin Ameni para revista Carta Capital - Sociedade e Política para a População

Foto: Gage Skidmore
Bernie SandersBernie Sanders disputa com Hillary Clinton a candidatura Democrata à presidência dos EUA. Na foto, o atual senador discursa em Phoenix, no Arizona.
Diminui a cada dia, nos EUA, a distância que separava a candidata oligárquica do Partido Democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, do outsider à sua esquerda, o senador Bernie Sanders.
O próprio New York Times reconhece: em um mês, Hillary viu sua vantagem de 20 pontos percentuais, entre os membros do partido aptos a votar nas eleições primárias, derreter para 7 pontos. 
Outras sondagens já mostram uma virada na primárias de dois estados importantes. Em Iowa, onde começa a disputa (em 1º/2) e New Hampshire (9/2), Sanders está à frente com 5 pontos de vantagem. Sua liderança concentra-se entre os candidatos mais jovens, onde tem o dobro de preferência. Quais as razões? A esquerda brasileira teria algo a aprender com elas?
A primeira grande barreira que Sanders parece saber enfrentar é a do preconceito. Para frear a ascensão do candidato, seus adversários apostam no desgaste da palavra que o senador emprega para definir a si mesmo: “socialista”.
Contudo, Sanders não se presta ao papel de espantalho, analisa Robert Reich, professor de Políticas Públicas da Universidade de Berkeley e ex-ministro do Trabalho (no governo de Bill Clinton).

Segundo ele, as pessoas começaram a entender que o senador não é o socialista retratado nas caricaturas da Fox News, mas alguém capaz de tratar a aristocracia financeira com a dureza necessária.
“Há um século, Theodore Roosevelt quebrou a Standard Oil porque ela representava um perigo à economia dos EUA. Hoje, os bancos de Wall Street representam um perigo ainda maior”, diz Reich.
 Refere-se a uma proposta de Sanders, que pretende restabelecer a lei Glass-Steagall, revogada em 1999 por pressão do lobby de Wall Street. A lei tem dois objetivos: 1) combater a cartelização bancária; e 2) impedir a especulação desenfreada com ativos financeiros.
Joseph Stiglitz, Nobel de Econômica, e Nouriel Roubini, o economista que previu a crise de  2008, concordam com a reforma em Wall Street proposta pelo senador. “O plano mais modesto de Hillay Clinton é inadequado” conclui Reich.
O colapso financeiro de 2008, causado por Wall Street, parece não ter promovido apenas instabilidade econômica. Também abriu as portas para o que o sociólogo Immanuel Wallerstein chama de “o colapso do centro”, em muitas “democracias” ocidentais.
As pesquisas norte-americanas revelam um cenário eleitoral semelhante ao registrado nas urnas espanholas, portuguesas e gregas, onde parte da esquerda conseguiu se reinventar e transformar a revolta dos 99% em novas esperanças.
Como na Europa, há dois grandes desafios. O primeiro é formular propostas mais ousadas e atraentes que os pré-candidatos da nova direita. Nos EUA, são hoje mais carismáticos e nacionalistas, gente como o bilionário Donald Trump e o religioso Ted Cruz. O segundo é superar velha esquerda, insossa porém poderosa, representada por Hillary Clinton.
Aparentemente, Sanders progride. Não decola somente nas pesquisas eleitorais, mas também nos sinais de um engajamento social massivo. O senador atingiu, há dias, nova marca histórica de doações individuais: 2 milhões de apoiadores. Bateu o recorde ao dobrar o inédito desempenho de Obama em 2008.
Bernie SandersNos últimos três meses, Sanders angariou US$ 33 milhões para sua campanha, 
apenas US$ 4 milhões a menos que Hillary
Nos últimos três meses, angariou US$ 33 milhões para sua campanha, apenas US$ 4 milhões a menos que Hillary — que aceitou doações de Wall Street e de lobistas das grandes redes de prisões privadas. Na soma total Sanders continua em desvantagem: obteve U$ 73 milhões, enquanto Clinton angariou US$ 112 milhões.
Do lado do Partido Republicano, a maior dificuldade dos pré-candidatos tem sido propor saídas para estancar o aumento da pobreza, segundo aponta Eduardo Porter no New York Times. Entre os países da OCDE, os EUA figuram entre as piores colocações quando o assunto é desigualdade de renda e pobreza.
Estão atrás até mesmo dos estigmatizados “PIGS” da Europa (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), e à frente apenas do México. Porter mostra como o plano de mais austeridade do histriônico bilionário Donald Trump e Ted Cruz, ligado ao movimento ultradireitista Tea Party e ex-assessor de George W. Bush, só aprofundariam ainda mais a crise no país.
E, para azar dos dois, aliados do 1% da elite financeira, 63% dos norte-americanos acham a questão da desigualdade muito importante, mostra pesquisa recente do Gallup.
 Por isso, mesmo tendo uma cobertura midiática 23 vezes menor que Trump, o socialista Bernie Sanders tem um potencial de vitória crescente, com uma vantagem de 13% nas eleições gerais sobre a principal liderança republicana; e uma rejeição nacional menor que Clinton (59% dos americanos a consideram “desonesta e nada confiável”).
Isso explica porque Sanders foi capaz de reunir multidões – mais de 100 mil pessoas, na soma de seus últimos comícios — além de uma onda de seguidores nas redes sociais. Tornou-se, de longe, a maior atração na campanha eleitoral.
Enquanto os ventos sopram à direita nos países afetados recentemente pela crise, como na América Latina, parecem empurrar à esquerda nos países que hoje lutam contra a recessão imposta após a crise.
http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/bernie-sanders-e-o-caminho-para-uma-esquerda-autentica

1.24.2016

Democracia no futebol: protestos na CBF e o ProFut da presidenta

  • Ex-jogadores vão à sede da CBF protestar e pedir a renúncia definitiva do atual presidente, que está licenciado. O antecessor continua preso. Bom Senso pede democracia na gestão do futebol
Por redação da agência Rede Brasil Atual publicado - Sociedade e Futebol Sem Corrupção
Foto: Fabio Motta/Estadão 
Ato na CBFManifestação na porta da CBF: vergonha nacional e mundial
Revista do Brasil – Na terça-feira (19), a presidenta Dilma Rousseff assinou decreto que regulamenta a Autoridade Pública de Governança do Futebol (Apfut), que será a instância fiscalizadora da Lei do Futebol (Profut) que, segundo o governo, garantirá a efetiva modernização da gestão dos clubes. Cerca de um mês antes, na sede da CBF,n o Rio de Janeiro, ex-atletas profissionais organizam um manifesto público para pedir a renúncia do presidente da entidade, bem com a revogação de seu atual estatuto, por trás do qual se esconde a perpetuação do mesmo grupo de amigo no comando da entidade que comanda o esporte mais popular do país. Indícios de que o mundo do futebol brasileiro passa por mudanças.
Dilma anuncia medidas para modernização do futebol brasileiroCom um ex-presidente preso, outro "escondido" nos Estados Unidos e o atual licenciado, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem sido objeto de questionamentos crescentes, a exemplo do que acontece em outros países, com cartolas no alvo de investigações por corrupção. No final de 2015, o Bom Senso, coletivo organizado por atletas e ex-atletas profissionais, fez uma manifestação diante da sede da entidade, no Rio de Janeiro, para pedir mudanças – basicamente, democracia na gestão do esporte.
"Exigimos a renúncia definitiva de Marco Polo Del Nero e sua diretoria, seguida da convocação de eleições livres e democráticas para o comando da CBF, sem a atual cláusula de barreira, mecanismo que impede a aparição de posições independentes ao sistema vigente, pois exige oito assinaturas de federações e mais cinco de clubes para candidaturas", afirmaram os manifestantes em documento. "O mais importante é quebrar esse sistema e partir do zero", afirmou o ex-jogador Raí. "O manifesto é público, não necessita de entrega. Esperamos que a resposta também seja pública."
Para o Bom Senso, a sucessão na CBF (depois de Ricardo Teixeira, vieram José Maria Marin e Marco Polo Del Nero) se baseou em um estatuto "viciado", feito para o mesmo grupo se perpetuar no poder. Os atletas acreditam que só com profundas mudanças na estrutura da entidade poderão ser criadas as condições “para a reconstrução da credibilidade, confiança e retomada do protagonismo esportivo do futebol brasileiro, de seus jogadores, da alegria do jogo e, principalmente, dos torcedores”.
RBA dilmafut.jpg
Dilma assina leis de modernização do futebol brasileiro
Em uma CPI no Congresso, em dezembro, Del Nero disse ser inocente e que só se licenciou para poder se defender das acusações.
Signatário do manifesto, o ex-jogador e colunista Tostão chamou a CBF de “vergonha nacional e mundial” e pediu união dos clubes em torno de uma liga nacional, para abandonar “as promíscuas amarras” e mudar a “estrutura da entidade e do futebol”.
Fonte - http://www.redebrasilatual.com.br/esportes/2016/01/chega-de-bola-fora-democracia-no-futebol-7051.html

Em Minas Gerais, terras invadidas por fazendeiros são retomadas por povos tradicionais

  • Retomadas de terras griladas (invadidas) por fazendeiros e reconquistadas por povos tradicionais mineiros
  • Acampamento Mãe Romana, lutas de um passado que não passa, vidas de um futuro 
    que sempre está por vir

Por redação da agência Rede Brasil Atual - Sociedade e Justiça Social no Campo
 sertaoSertanejo no São Francisco; Comissão da Verdade do Grande Sertão abrange um centro e norte de Minas e Jequitinhonha

Essa história já foi fartamente contada – Saluzinho viveu até 2007. Ele mesmo pôde narrar os fatos. Ainda assim, Daniel seu filho é um verdadeiro achado da Comissão da Verdade do Grande Sertão, porque ele quer virar o holofote para a história da mulher de Saluzinho, sua mãe. Enquanto o marido estava preso, Dulce Gonçalves de Araújo definhava. Morreu alguns meses depois, em decorrência de torturas. A mesma polícia que lutava na gruta contra Salu pendurou-a de cabeça pra baixo, nua, queimou o bico dos seus seios e introduziu galhos de árvore em seu ânus.
Depois de tudo isso, a alma da mulher adoeceu. O corpo logo se entregou também. Daniel era muito pequeno, mas lembra. “Eu lembro de minha mãe como um sonho. Ela era muito calada, não era de muitas palavras.” Daniel não é mais o menino de 4 anos que perdera a mãe, mas os olhos marejam como se fosse. Revirar as poucas lembranças que tem é uma missão, desde que seu irmão morrera, há cerca de quatro meses. “Se eu não for atrás disso, nunca vou saber o que aconteceu. Eu sou o último. Se eu não falar, a história vai morrer comigo.” Quando é questionado sobre o local do túmulo de Dulce, Daniel tem os olhos verdes inundados outra vez. “Não sei.”

Os acampamentos Mãe Romana, em Matias Cardoso, e Santa Fé, em São João da Ponte, são dois exemplos do que está acontecendo aos montes hoje no sertão mineiro. São as chamadas retomadas das terras invadidas por grandes fazendeiros. Grupo de populações tradicionais estão retomando para si o local de onde foram expulsos os seus parentes durante os anos 1960 e 1970. Quilombolas, vazanteiros, geraizeiros e outros povos tradicionais estão ocupando fazendas em busca de permanecer no território ancestral. O momento é de ebulição.
“Quando fazemos os relatórios antropológicos entramos nessas fazendas e eles vão apontando ‘aqui tá enterrado fulano’, ‘aqui acontecia tal coisa’, então, fazemos o levantamento do que chamamos de marcos de territorialidade. A historicidade está marcada no espaço que eles ocupavam e que foi expropriado nos anos 60 e 70. Em decorrência de estarem próximos aos seus territórios, ao se reconhecerem no artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias, nos artigos 215/216 da Constituição, esse pessoal partiu pra luta”, relata o antropólogo e professor da Universidade Estadual de Montes Claros, João Batista Almeida Costa, também pesquisador da Comissão da Verdade.
Território para eles não é sinônimo de terra. Território é aquele pedaço de chão em que viveram avós e bisavós, aquele cantinho onde Mãe Piana fez o parto de mais de 2 mil crianças. A terra é consequência. Na terra se planta e colhe, no território brotam histórias. E lá se quer ficar. Porque a memória é algo que nem a mais torpe das ditaduras poderá usurpar.
O caso de Saluzinho é um exemplo, que passou cerca de quatro anos encarcerado como preso político no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de Belo Horizonte. Durante esse período aprendeu a ler um pouco mais e ampliou sua noção sobre direitos humanos. Antes, ele era um posseiro valente e indignado. “Era difícil naquele tempo falar em direito, pobre não tinha direito. Hoje, graças a Deus, nós estamos aqui falando com vocês. Isso é uma honra. Naquele tempo não tinha isso, era bala, cadeia e porrete”, diz Daniel. A história de seu pai tornou-se livro, Saluzinho, Luta e Martírio de um Bravo, escrito (2014, Editora D’Placido) pelo jornalista mineiro Leonardo Alvares da Silva Campos, que traz um apanhado de recortes de jornais com diversas versões sobre o ocorrido.
Essa história já foi fartamente contada – Saluzinho viveu até 2007. Ele mesmo pôde narrar os fatos. Ainda assim, Daniel seu filho é um verdadeiro achado da Comissão da Verdade do Grande Sertão, porque ele quer virar o holofote para a história da mulher de Saluzinho, sua mãe. Enquanto o marido estava preso, Dulce Gonçalves de Araújo definhava. Morreu alguns meses depois, em decorrência de torturas. A mesma polícia que lutava na gruta contra Salu pendurou-a de cabeça pra baixo, nua, queimou o bico dos seus seios e introduziu galhos de árvore em seu ânus.
Depois de tudo isso, a alma da mulher adoeceu. O corpo logo se entregou também. Daniel era muito pequeno, mas lembra. “Eu lembro de minha mãe como um sonho. Ela era muito calada, não era de muitas palavras.” Daniel não é mais o menino de 4 anos que perdera a mãe, mas os olhos marejam como se fosse. Revirar as poucas lembranças que tem é uma missão, desde que seu irmão morrera, há cerca de quatro meses. “Se eu não for atrás disso, nunca vou saber o que aconteceu. Eu sou o último. Se eu não falar, a história vai morrer comigo.” Quando é questionado sobre o local do túmulo de Dulce, Daniel tem os olhos verdes inundados outra vez. “Não sei.”

Afirmação e pertencimento
O antropólogo João Batista Almeida Costa, professor da Universidade Estadual de Montes Claros e pesquisador da Comissão da Verdade do Grande Sertão, fala em entrevista a Rede Brasil Atual sobre a “construção política da identidade”.
Foto: Ana Mendes/Rede Brasil Atual joao batista
Antropólogo João Batista: historicamente populações vêm lutando por seus espaços territoriais
A Comissão da Verdade do Grande Sertão pretende dar conta desse lugar, o grande sertão. Que território é esse?A dimensão administrativa do estado não recobre toda a área que temos contato, isto é, a área de pessoas que estão vinculadas à comissão, pessoas dos movimentos sociais locais. Então, a comissão entrará, além do norte de Minas, no noroeste e também no Vale do Jequitinhonha. Decorrente dessa “quebra” administrativa, como então nomear a comissão? Todos nós somos leitores de João Guimarães Rosa, e exatamente quando ele fala de grande sertão, se refere a essa região. Se a gente for cartografar o Grande Sertão de Guimarães, no trecho de Minas Gerais, é exatamente essa área de atuação: um pedaço do centro, o norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha. Riobaldo, no seu périplo, nasce no centro, vai pro norte, pro Jequitinhonha e ao final pro noroeste.

Seu trabalho é uma referência para quem quer falar de populações tradicionais do norte de Minas Gerais. Qual vai ser a importância da Comissão para a questão das violações no campo, junto a esses povos?A Comissão Nacional e a Estadual, quando olham para a realidade, não conseguem recobrir todas as situações. Aqui, o exemplo de Cachoeirinha veio à tona (nos relatórios dessas comissões), mas não a utilização da estrutura repressiva do Estado como aliada no processo de expropriação territorial. Isso ocorreu em todo o país, aqui não seria exceção. Até a entrada do norte de Minas na área de atuação da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), a grande maioria das terras era devoluta, o tipo de sistema produtivo era a criação extensiva de gado solto. Gado solto na chapada, nos vales e que só era campeado anualmente no período próximo à parição das vacas. Nesse momento se aproveitava para fazer vacinação. O gado criado solto era reconhecido porque era marcado com o ferro de cada proprietário. E não havia cercas impedindo a terra, tanto que tem uma marcha que diz “êta, mundão sem cancela”. O gado transitava por esse mundão e os vaqueiros em busca dele passavam léguas e léguas, grandes distâncias, campeando. A partir da entrada na Sudene, a terra passa a ter valor econômico. Ao mesmo tempo, há o financiamento da transformação da fazenda em empresa agropecuária. Isso se dissemina. Com o apoio explícito do estado, por meio da Ruralminas (Fundação Rural de Minas) e com o apoio velado, por meio das polícias Militar e Civil e do Dops, as elites (médicos, dentistas, advogados, fazendeiros, comerciantes, professores, pessoal da emergência local) com bandos de jagunços foram terra adentro – terras de quilombos, terras dessas populações.

E sobre os casos de Saluzinho e do massacre dos posseiros de Cachoerinha?Saluzinho morava no território que hoje pertence a Brejo dos Crioulos (quilombo). Em 1920, um agrimensor que é chamado por um fazendeiro de São João da Ponte para processar a divisão de duas fazendas, a Arapuá e a Ouro Preto. Eles adotaram, então, a seguinte estratégia: criam faixas de terras pras pessoas que viviam ali e entre essas faixas de terras põem glebas, deram o nome de Glebas de Ausentes. Nos anos 1960, quando começa o processo de afazendamento da elite regional, esses agrimensores vão vender essas glebas. O caso de Cachoeirinha é clássico nesse sentido. Vendem ao coronel Giorgino umas glebas de terra e a Constantino outras. O bando de jagunço, então, começava a pressionar as pessoas a vender as terras. Como eles não conseguem, começam a pôr fogo nas plantações, a matar e roubar o gado. O caso de Cachoeirinha é esse, e o de Saluzinho também. Houve então a revolta de Cachoeirinha em perder a terra, e Saluzinho age isoladamente. Desse jeito, eles conseguiam tomar as terras das pessoas, com violência extrema.

Brejo dos Crioulos hoje é um quilombo.Cachoeirinha também é historicamente um quilombo.
Só que naquele momento a figura de quilombo ainda não tinha sido “inventada” pela Constituição.

Como foi a incorporação dessas leis entre os povos tradicionais e o que isso tem a ver com os atuais processos de retomada? Historicamente, essas populações vêm lutando pela permanência em seus espaços territoriais desde o processo de expropriação dos anos 60 e 70. Quando trabalhei na Secretaria de Trabalho do Estado como técnico de desenvolvimento rural, viajava a diversas regiões, e a grande reivindicação dessas populações sempre foi a permanência no espaço territorial deles. Para conseguir isso, já “foram” trabalhador rural sem-terra, agricultor, pequeno proprietário, posseiro. Mas quando se dissemina na região a informação de que havia, no caso dos quilombos, um artigo na Constituição dizendo que o Estado deveria regularizar as suas terras imediatamente, mais de 80 comunidades no norte de Minas, em um espaço de três anos, vão se autoafirmar como quilombo e reivindicar a regularização fundiária. E as outras populações que estão em conflito, na luta contra eucalipto, fazendeiro e mineração, ao tomar conhecimento de que no artigo 215/216 diz que o Estado deve garantir a manutenção do modo de fazer, de viver, de pensar e de criar dos grupos formadores da nacionalidade brasileira demandam então uma assessoria (antropológica) para conseguir a permanência em seus territórios. Aí entra o caso dos vazanteiros, dos geraizeiros, caatingueiros, veredeiros e outros.

É impressionante ver a quantidade de retomadas que há no norte de Minas. Parece similar com o que fizeram os povos indígenas nos anos 80, quando começaram a voltar para os seus territórios sob essa mesma justificativa, a ancestralidade. É isso que está acontecendo com os quilombolas? Na verdade, eles não saíram. Tem uma categoria que a gente utiliza que é a do “encurralamento”. Eles foram expulsos de suas terras, mas havia sempre uma Terra de Santo nas proximidades. Eles se deslocam pra essas Terras de Santo e permanecem trabalhando. Isso é inclusive uma estratégia dos fazendeiros, porque, então, você tem mão de obra barata pra o trabalho na fazenda. Você tem no entorno da fazenda uma comunidade rural negra. No caso do Vale do Verde Grande, que a gente chama de Território Negro da Jaíba, tem 82 comunidades que se reconhecem como quilombola. E ficam situadas entre fazendas, em pequenas áreas de terra, um hectare, dois, três. Sendo que toda a terra em volta foi pertencente às famílias deles. Quando fazemos os relatórios antropológicos entramos nessas fazendas e eles vão apontando “aqui tá enterrado fulano”, “aqui acontecia tal coisa”, então, fazemos o levantamento do que chamamos de marcos de territorialidade. A historicidade está marcada no espaço que eles ocupavam e que foi expropriada nos anos 60 e 70. Em decorrência de estar próximos aos seus territórios, ao se reconhecer no artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias, artigos 215/216 da Constituição, esse pessoal partiu pra luta. O que emerge? A construção política de uma identidade. Se afirmam como vazanteiro, veredeiro, quilombola, apanhador de flor, revisitando o passado pela memória do grupo pra afirmar o seu pertencimento a esse espaço. Isso tem acontecido muito.
Fonte - http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/113/a-verdade-vai-sendo-desenterrada-no-grande-sertao-3276.html

1.22.2016

  • Mino e Belluzzo: Como as multinacionais engordam graças aos juros brasileiros

    • Pouco importa quanto o FMI propala a nosso respeito. O próprio Banco Central mostra-se agora mais atento às pressões do Planalto do que às do Fundo


Captura de Tela 2016-01-22 às 13.41.09
A vez da coragem
Há de se esperar que a presidenta encontre a força necessária para agir
Por Mino Carta e Luiz Gonzaga Belluzzo, na revista CartaCapital, via site Conversa Afiada, sugerido pelo Elder Pacheco - Sociedade e Estratégias na Política
 
Desde a vitória eleitoral da atual presidenta em 2014, a revista CartaCapital, aponta a única saída possível para a crise econômica que humilha o Brasil: crescer e crescer.
O grande exemplo é o New Deal rooseveltiano, inspirado por lord Keynes, mas vale reconhecer que o presidente dos EUA no passado contava com instituições sólidas e com uma base popular politizada. Mais ou menos o contrário da situação atual no Brasil.
Temos Executivo, Legislativo, Judiciário? Cabem ponderáveis, desoladoras dúvidas.
Um juiz da província, um punhado de delegados de polícia e de promotores brasileiros(as) assumem tranquilamente o poder diante da indiferença governista e do comando da PF, enquanto um presidente da Câmara inequivocamente corrupto (Eduardo Cunha) até hoje comanda a manobra golpista do impeachment da legítima presidenta.
Está claro, porém, que ela somente, na qualidade de primeira mandatária no país, tem autoridade para reverter a rota, já a trafegar em pleno desastre.
O tempo que lhe sobra para agir é escasso, é bom sublinhar. O começo da ação tem de se dar antes do início do ano brasileiro, ou seja, depois do Carnaval de 2016, conforme nossa grotesca tradição. Caberia a ela partir de imediato para o mesmo gênero de investimento público que em 1933 colocou Roosevelt no caminho certo para estancar os efeitos do craque (crise monetária) de 1929.
Ao se mover com esse norte, a presidenta teria de enfrentar as iras do chamado mercado, o onipresente Moloch (grande empresário inglês da imprensa), espantalho do tempo e do mundo, onde, debaixo da sua hegemonia, pouco mais de 270 famílias detêm o equivalente a 50% da riqueza do resto da humanidade.
Para decisões de tal porte, de tamanha ousadia, exigem-se coragem, bravura, desassombro além dos limites. A questão é saber se o governo tem estatura para chegar a tanto.
Por ora, é doloroso constatar que o executivo se deixa acuar, em primeiro lugar pela mídia e por quem esta apoia e protege. Está provado que toda tentativa de mediar, compor, conciliar, fracassou.
Há tempo o governo exibe uma assustadora incapacidade de reação, a beirar a resignação. A quem mais, senão a presidenta, compete salvar o país? Creio não exagerar no emprego do verbo.
Pouco importa quanto o FMI propala a nosso respeito. O próprio Banco Central mostra-se agora mais atento às pressões do planalto do que às do fundo (leia, logo abaixo, as observações do professor economista Luiz Gonzaga Belluzzo).
O Brasil dispõe de recursos, a despeito do abandono a que foi relegada a indústria, maiores de quanto supõe a feroz filosofia oposicionista. Por exemplo, a chance de produzir petróleo a 8 dólares por barril, como se lê na reportagem de capa da última edição da revista carta capital.
A tarefa que o destino atribui à presidenta é grandiosa e empolgante e lhe garantiria um lugar decisivo na nossa história. Os cidadãos de boa vontade, abertos a um diálogo centrado nos interesses nacionais, hão de esperar que ela encontre a força interior para agir.
Em luta contra o Monstro
Nos últimos meses, alguns membros do Copom assopraram um aumento de 5 pontos na já alentada taxa Selic.
Às vésperas da reunião do dito Conselho, escudado nas previsões do FMI sobre o PIB brasileiro, o presidente do banco Central Tombini deu sinais de moderação. Na quarta-feira 20, o Copom manteve a Selic em 14,25%.
A franquia local dos Mestres do Universo manifestou seu aborrecimento. Os Senhores da Finança responderam às trapalhadas de comunicação do dr. Tombini & cia. com antecipações que preconizam elevações brutais da taxa de juros para 2016. A curva de juro longa empinou de forma nunca dantes observada.
Os próximos capítulos da novela “Manda Quem Pode, Obedece que tem Prejuízo” serão certamente dramáticos. Os mandões não arrefecem seu apetites travestidos de sabedoria científica.
As taxas de juros de agiota desempenham a honrosa função de tesouraria das empresas transnacionais sediadas no País, travestindo o investimento em renda fixa com a fantasia do investimento direto.
Trata-se, na verdade, de arbitragem com taxas de juros: as subsidiárias agraciadas com os juros do dr. Tombini contraem dívidas junto às matrizes, aborrecidas com os juros da senhora Janet Yellen ou do senhor Draghi.
Essa arbitragem altamente rentável e relativamente segura conta com a participação dos nativos “desanimados”.
Juntos, engordam o extraordinário volume de “operações compromissadas” – o giro de curtíssimo prazo dos recursos líquidos de empresas e famílias abastadas.
Aprisionada no rentismo herdado da indexação inflacionária, a grana nervosa “aplaca suas inquietações”, diria lord Keynes, no aluguel diário dos títulos públicos remunerados à taxa Selic.
A eutanásia do empreendedor é perpetrada pelos esculápios do rentismo. A indústria e a industriosidade vergam ao peso dos juros elevados, outrora em contubérnio com câmbio sobrevalorizado.
A inflação dos preços administrados e a desvalorização cambial sustentam a indexação. O espectro do passado assombra o futuro.
A irreversibilidade do tempo histórico aflige os que acreditam num futuro sem passado.
A economia global governada pela finança é um monstrum vel prodigium, fruto do cruzamento da mula sem cabeça com o bicho-preguiça.
http://contrapontopig.blogspot.com.br/2016/01/contraponto-18642-mino-e-belluzzo-como.html

Como reduzir a injustiça econômica no Brasil?

  • Em Davos, Barbosa diz que 'desafio é manter as políticas de redução da desigualdade'

  • Em um painel no encontro da Suíça, ministro da Fazenda reconhece que país passa por "transição" após queda dos preços das commodities, mas que está se adaptando à nova realidade
Por redação Rede Brasil Atual - Sociedade e Exploração do Ser Humano
Foto divulgação/Ministério da Fazenda
Nelson BarbosaSegundo o ministro, o país está em “uma fase de transição” após o boom das commodities
São Paulo – O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa,  reconheceu hoje (21), em um painel do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), que o fim da alta cotação mundial das commodities prejudicou a manutenção dos níveis de crescimento da economia do país e que o Brasil vive hoje outra realidade devido a esse fator. Segundo ele, o país está em “uma fase de transição”, se adaptando ao novo momento da economia internacional.
Barbosa participou de painel sobre caminhos para retomar o crescimento da economia internacional. Apesar de reconhecer as dificuldades, ele ressaltou que o Brasil utilizou o momento positivo do boom, que beneficiou principalmente os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para investir na área social, o que continua sendo uma das metas do governo Dilma Rousseff.
“Reduzir a desigualdade é tão importante quanto aumentar o PIB per capita em economias emergentes e isso requer ação governamental. Mesmo em um cenário econômico mais adverso, o governo tem que atuar para reduzir a desigualdade, e o desafio é manter as políticas de redução da desigualdade”, afirmou Barbosa.
Para o ministro, é possível unir a expansão da produtividade com políticas sociais. “A chave para conseguir isso é ter as instituições certas para distribuir os ganhos de produtividade de uma forma que gere mais oportunidades de emprego e melhor qualificação da força de trabalho.”
Ele também admitiu que “o Brasil tem uma baixa taxa de investimento”, na comparação com outras economias emergentes. “Nossa principal tarefa é aumentar nosso investimento, o que requer não apenas mais estabilidade macroeconômica, mas, especialmente, um papel mais ativo do governo para coordenar os projetos de investimento e incrementar a integração regional”, disse, em referência à América do Sul.
Ontem, o coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Luis Fernando Ayerbe, disse à RBA que, com as dificuldade da economia brasileira, “cria-se uma ideia de que o Brasil está numa situação que coloca em risco até a região (sul-americana)”. Nessa conjuntura, Barbosa tem a missão de mostrar sua versão aos investidores de que há oportunidades de investimento no Brasil.
Lula participou do evento de Davos já em seu primeiro mês de governo, em janeiro de 2003, e voltou em 2005 e 2007. A presidenta Dilma Rousseff, em seus dois mandatos, representou o Brasil apenas em 2014.  Por isso, ela tem sido criticada pela mídia brasileira por "esnobar" o encontro. Mas, para Ayerbe, “não tem de dar tanta importância" para o encontro de Davos. "Ele é bom para fazer contatos, reuniões informais, mas não é definitivo para nada."
Com informações da Agência Brasil
Fonte - http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2016/01/em-davos-barbosa-diz-que-desafio-e-manter-as-politicas-de-reducao-da-desigualdade-6697.html

Fórum Social Mundial (FSM) tenta renascer e se auto-reconhecer

  • Fórum Social Temático faz balanço de 15 anos de debates e atividades

    • Os presentes manifestaram preocupação perante o avanço do conservadorismo no mundo

Painel do FSM com o tema "Globalização, desigualdade e crise civilizatória" aponta avanços alcançados pelo evento e mudanças necessárias para mais conquistas
 
Por redação agência de notícias Rede Brasil Atual - Sociedade e Luta por Justiça Social 
 
Foto cut-rs/reprodução
fsmbalanço.jpgClaudir: "Não podemos desconsiderar que não estamos em um melhor momento da democracia"
São Paulo – Durante a mesa “Globalização, desigualdade e crise civilizatória”, organizada ontem (20/jan/2016) no Fórum Social Temático de Porto Alegre, os presentes realizaram um balanço dos resultados obtidos nestes 15 anos de Fórum Social Mundial (FSM). O presidente da CUT gaúcha, Claudir Nespolo, apontou conquistas do evento, como o fim da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a expansão de governos progressistas em diversos locais do mundo, como a América Latina.
Em busca de novos resultados, além da exposição de um panorama de conquistas, os presentes debateram a revisão de alguns pontos do FSM. “O Fórum deixou um legado inegável, mas não podemos desconsiderar que não estamos em um melhor momento da democracia”, disse o sindicalista. Também participou do debate o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que reafirmou a “necessidade de fazer a autocrítica”.
“Estamos aqui debatendo para quê? Precisamos ter posições claras e assumir a responsabilidade social que devemos ter perante aqueles que sofrem, são oprimidos, excluídos e, portanto, não têm oportunidade de estar aqui conosco”, criticou o sociólogo da Universidade de Coimbra, que propôs posicionamentos mais claros do FSM perante questões de consenso.
Citando a defesa da homologação de terras indígenas no país como exemplo de pauta comum, Boaventura pediu por união entre os movimentos progressistas. “Capitalismo, sexismo, colonialismo e racismo atuam em conjunto (…) A agenda sempre foi contra o neoliberalismo e não contra o capitalismo, mas durante esses anos vimos que o neoliberalismo se tornou a única forma de capitalismo que existe”, concluiu.
A mesa ainda contou com a participação de Socorro Gomes, do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta Pela Paz (Cebrapaz/Brasil); Caroline Borges, do Reaja Brasil; Maren Mantovani, do Stop The Wall/Palestina; Nair Goulart, da Força Sindical; Cristina Reynold, da AIH/Argentina; e o jornalista austríaco Leo Gabriel.
Todos os presentes manifestaram preocupação perante o avanço do conservadorismo no mundo. “Temos que dar uma resposta às alternativas lançadas pelo Fórum de Davos”, disse Cristina Reynold, em referência ao Fórum Econômico Mundial, que é realizado concomitantemente na Suíça e reúne líderes de governos com executivos de multinacionais, investidores e representantes do mercado financeiro.
Boaventura reafirmou a importância da “resposta” citada por Reynold. “Os neoliberais que discutem lá no Fórum Econômico de Davos nem consideram a possibilidade de discutir com nossos setores (…) A Europa, que vivia as políticas do FMI (Fundo Monetário Internacional) aplicadas nos países de terceiro mundo, agora vive a violência, o pesadelo de ver a pilhagem do seu salário, sua vida”, afirmou.
Fonte - http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2016/01/mesa-do-forum-social-tematico-realiza-balanco-dos-15-anos-de-evento-8585.html

1.21.2016

Zika vírus: riscos, como é transmitida, prevenção e microcefalia nas Américas

  • Jornal El País: dez perguntas sobre o zika vírus
  • No Brasil, o ministério da Saúde recomenda que as mulheres grávidas se protejam da picada de insetos, evitando horários e lugares com a presença de mosquitos

Por Jornal do Brasil - Sociedade e Saúde Pública
No Brasil, até o momento, o Ministério da Saúde confirma três mortes possivelmente relacionadas ao vírus zika
No Brasil, até o momento, o Ministério da Saúde confirma três mortes possivelmente relacionadas ao vírus zika
A doença tomou proporções internacionais. Foi preparado uma lista com dez respostas sobre o zika vírus e sua relação com a microcefalia.
1. O que é o zika vírus?
É um vírus semelhante filogeneticamente aos da dengue e da febre amarela. Foi descoberto pela primeira vez na floresta de Zika, em Uganda, em 1947, em macacos monitorados cientificamente para o controle da febre amarela. Até 2007, entretanto, ele era relativamente desconhecido, até que surgiu um grande surto na ilha de Yap e em outras ilhas próximas aos Estados Federados da Micronésia (acima da Austrália), com 8.187 afetados. Entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014, um novo surto atingiu a Polinésia Francesa, com 8.264 casos suspeitos.
2. Como ele é transmitido?
O principal modo de transmissão é por meio do mesmo vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti. Mas há relatos de transmissão sexual (ele se mantêm no esperma por mais tempo), perinatal (da mãe para o feto) e sanguínea. O vírus não é transmitido pela amamentação.
3. Quais são os principais sinais e sintomas da doença?
A grande maioria das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas, porém quando presentes são caracterizadas por manchas vermelhas pela pele, febre intermitente, manchas nos olhos, dores musculares, nas articulações e de cabeça. Com menos frequência, foram registrados edema, dor de garganta, tosse, vômitos e presença de sangue no esperma. Os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente entre três e sete dias. As dores nas articulações, porém, podem persistir por até um mês.
4. Há tratamento para o zika vírus?
Não existe tratamento para a doença. Os sintomas, esses sim, podem ser controlados com o uso de paracetamol ou dipirona para o controle da febre e manejo da dor. No caso de erupções pruriginosas, os anti-histamínicos podem ser considerados. É desaconselhável o uso ou indicação de ácido acetilsalicílico e outros drogas anti-inflamatórias em função do risco aumentado de complicações hemorrágicas.
5. Há vacina para prevenir a doença?
Ainda não há uma vacina contra o zika vírus. Em dezembro, porém, o Instituto Butantã começou a última fase de testes de uma vacina contra a dengue.
6. Como prevenir?
Como até o momento o grande suspeito de causar o problema é o zika vírus, o ideal é evitar a propagação do Aedes aegypti, mosquito que também transmite quatro tipos de dengue e o chikungunya, uma doença que ataca as articulações e provoca dores bastante intensas. O mosquito se prolifera em água limpa parada, por isso é importante evitar que ela se acumule em pneus, vasos de plantas e qualquer outro recipiente aberto. Para evitar picadas, use repelentes e telas nas janelas e portas.
7. Quais são os países afetados pela doença?
Segundo a Organização Mundial da Saúde, somente em 2015, foram confirmados casos de zika em nove países das Américas: Brasil, Chile - na ilha de Páscoa -, Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Suriname e Venezuela. Nesta semana, as autoridades norte-americanas confirmaram o primeiro caso de zika no país: um homem que vive no Texas. Ele visitou El Salvador recentemente.
8. Qual é a relação entre o zika vírus e a microcefalia?
No Brasil, foram registrados, no ano passado, 1,6 milhão de casos prováveis de dengue. Como a zika é considerada uma dengue leve, os infectados por essa doença acabam entrando nessa contabilidade.
A Colômbia é outro país com alto número de infectados: ao menos 11.000 casos confirmados, segundo as informações mais recentes.
No final de novembro, após uma alta incidência da doença em alguns Estados no Brasil onde também há alta do número de casos de zika vírus, foi confirmada, pelo ministério da Saúde a relação entre o zika e a microcefalia. A evidência ocorreu após um estudo que detectou a presença do vírus zika em mostras de sangues coletadas de um bebê que nasceu com microcefalia no Ceará e acabou morrendo.
9. Quais são as recomendações para mulheres grávidas?
Ainda não se sabe como o vírus atua no organismo humano ou quais mecanismos levam à microcefalia, mas os casos estão sendo investigados.
No Brasil, o mais recente boletim epidemiológico contabiliza 3.530 casos de microcefalia relacionados à infecção pelo zika vírus entre outubro de 2015 e o início deste ano no país. Estão em investigação 46 óbitos de bebês com microcefalia possivelmente relacionados ao vírus zica.
Na semana passada, os Estados Unidos registraram o primeiro caso de microcefalia ligado ao zika vírus, no Havaí. Segundo informou o jornal The New York Times, a mãe do bebê teria sido infectada pela doença quando viajou ao Brasil, em maio do ano passado.
Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças recomenda que mulheres grávidas não viajem a 14 países da América Latina, dentre eles, Brasil, Porto Rico e Colômbia.
No Brasil, o ministério da Saúde recomenda que as mulheres grávidas se protejam da picada de insetos, evitando horários e lugares com a presença de mosquitos, usem roupas que protejam a maior parte do corpo e usem repelentes.
10. O zika já provocou mortes?
No Brasil, até o momento, o Ministério da Saúde confirma três mortes possivelmente relacionadas ao vírus zika: um bebê, um homem que também tinha lúpus e uma menina de 16 anos.
Fonte - http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2016/01/21/el-pais-dez-perguntas-sobre-o-zika-virus/

Grupos estão aproveitando sobras de comida para alimentar 1,6 milhão de brasileiros(as)

  • Como alguns grupos estão livrando comida do lixo para alimentar 1,6 milhão de brasileiros

    • Cerca de 100 projetos funcionam no Brasil, somando os administrados pela sociedade civil e pelo Estado

    Por redação do site Conexão Jornalismo - Sociedade e Combate a Fome 

Foto Diário do Centro do Mundo/DW
O trabalho deste grupo começa quando o fim da feira se aproxima: Daniel Ferratoni e Lucila Matos espalham contêineres entre as barracas para recolher frutas, verduras e legumes que iriam para o lixo. Eles são idealizadores do Banco de Alimentos de Santos, no litoral norte paulista, uma organização focada em combater o desperdício e distribuir esses alimentos em comunidades em situação vulnerável.

Todas as quartas-feiras, Daniel, engenheiro, e Lucila, formada em relações internacionais, recolhem em torno de 200 quilos de comida. "Os feirantes separam para a gente principalmente talos e folhas de alimentos, como brócolis e cenoura, que o cliente não leva na hora da compra", diz Daniel. "Mas também recolhemos caixas fechadas de frutas e vegetais mais perecíveis que eles não conseguem vender", completa.

"Gosto de ajudar, sei que essa comida mata a fome de muita gente", diz Lívia, feirante há 22 anos e uma das colaboradoras mais fiéis. Nesta quarta-feira, a barraca dela doou vagem, jiló, chuchu, pepino, brócolis e tomate.

A iniciativa em Santos, fundada em janeiro, buscou inspiração dentro e fora do Brasil. Lucila acompanhou o trabalho em Bonn e Colônia, na Alemanha - um dos países pioneiros, onde mais de 900 bancos de alimentos estão em funcionamento. "De lá, trouxemos a ideia de distribuir os alimentos diretamente nas comunidades. Aqui no Brasil, a maioria recolhe a comida e entrega em instituições", conta.

Combate a fome

O primeiro banco de alimentos do Brasil surgiu em 1994, fundado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), em São Paulo. O movimento, com o objetivo de combater o desperdício e a fome, se expandiu num ritmo tímido entre as outras unidades do país, e algumas ONGs, como a Banco de Alimentos SP e a Banco de Alimentos de Porto Alegre, foram criadas com o mesmo objetivo.

O primeiro banco de alimentos criado com verba do governo federal surgiu somente em 2003. Atualmente, são 78, apoiados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). "Eles estão em funcionamento em todas as regiões do país, em 24 estados, 16 capitais, com uma cobertura de 60% dos municípios acima de 300 mil habitantes", informou o MDS à DW Brasil.

Essas regiões são estratégicas, porque concentram grandes redes varejistas, indústrias alimentícias e centrais de abastecimento - locais onde, segundo o ministério, as perdas e o desperdício de alimentos são alarmantes.

Atualmente, cerca de 100 projetos funcionam no Brasil, somando os administrados pela sociedade civil e pelo Estado. A comida recolhida é fonte de alimento para mais de 1,6 milhão de pessoas no país, calcula o governo federal.

Todos os anos, estima-se que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos bons para o consumo sejam descartados. No Brasil, um dos maiores produtores agrícolas mundiais, esse número é de quase 27 milhões. Ao mesmo tempo, cerca de 805 milhões de pessoas passam fome no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Fila na hora da partilha

Em Santos, o alimento recolhido na feira é transportado por uma Kombi "coletiva", usada em outro projeto social na região. A comida é distribuída entre 100 famílias da comunidade Alemoa, bairro de baixa renda, endereço de 970 famílias.

Na casa da líder comunitária, Maria Lúcia Cristina Jesus Silva, as caixas coletadas são pesadas e, na sequência, distribuídas. "Muita gente sobrevive com isso", conta Maria, moradora da comunidade desde 1974.

Uma hora antes da partilha, uma fila começa a se formar. Os moradores trazem uma sacola, recebem uma senha e podem escolher o que levar para casa. "Eu pego para mim e para minha vizinha, que está doente", conta Antônio, 63 anos, desempregado.

O projeto de Daniel e Lucila foi fundado a partir de um financiamento coletivo de internautas. Eles não têm salários e contam com oito voluntários. Maycon Henrique, de 14 anos, sempre participa às quartas-feiras, depois que sai da escola. "Eu gosto de ajudar minha comunidade. E sempre levo para casa alface, melancia e melão que iriam para o lixo. Minha mãe também gosta."
Fonte - http://www.conexaojornalismo.com.br/audiencia_na_tv/como-alguns-grupos-estao-livrando-comida-do-lixo-para-alimentar-,-milhao-de-brasileiros-86-36775

O envelhecimento é um processo pouco conhecido

  • O envelhecimento não é mais um destino: é um processo configurável

    • As mulheres são mais importantes, elas contribuem para a preservação e reprodução da espécie muito mais do que os homens

Por site Diario do Centro do Mundo/DW - Sociedade e Terceira Idade
velhice
Foto: Publicado na DW

A cada ano que passa, as pessoas estão vivendo mais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa média de vida hoje é de 71 anos, levando em conta a média global e ambos os sexos – em 1990, ela era de apenas 64 anos. No Brasil, esse índice melhora: os brasileiros vivem, em média, 75 anos.
Em entrevista à DW, o ginecologista Bernd Kleine-Gunk, presidente da Sociedade Alemã de Prevenção e Medicina Antienvelhecimento (GSAAM, na sigla em alemão), enumera os diversos fatores favoráveis a essa maior longevidade. Mas garante não haver uma fórmula secreta de rejuvenescimento: “Existem, porém, muito bons conselhos.”
DW: Por que as pessoas estão vivendo mais – pelo menos no Ocidente?
Bernd Kleine-Gunk: Existem diversos fatores favoráveis. Os cuidados médicos, por exemplo, estão em constante progresso. Mas sabemos que isso não é o mais importante. O fator decisivo é que hoje temos melhores condições de vida, como melhor alimentação e melhor higiene. Esses aspectos influenciam mais na expectativa de vida da população do que a medicina propriamente dita.
O que podemos aprender com as chamadas “zonas azuis”, onde as pessoas vivem mais do que a média mundial?
Não existe um denominador comum em todas elas. Em cada região, a população leva um estilo de vida diferente. Na Sardenha, por exemplo, eles afirmam que o vinho tinto é o segredo de sua longevidade. Já na ilha japonesa de Okinawa, o segredo seria a alimentação à base de algas. No entanto existem alguns fatores comuns: ninguém que chegou aos 100 anos, em qualquer dessas regiões, estava acima do peso. Pelo contrário, eles são adeptos da restrição calórica há décadas, como recomendam os especialistas em rejuvenescimento. Mas não como medida dietética consciente, e sim porque não tiveram alimento suficiente por muitos anos.
Além disso, a base de sua dieta são frutas e verduras. Muitos deles são agricultores e continuam trabalhando enquanto a idade – e o físico – permita. Por isso, passam muito tempo respirando ar fresco e adquirindo bons níveis de vitamina D. E, por último, o mais importante: eles estão bem arraigados em suas famílias e comunidades. Nenhum deles vive num lar de idosos. Esse sentimento de “Eu sou útil e tenho um papel a desempenhar na vida” é crucial e lhes dá forças para que continuem vivendo.
Qual é a importância da atitude pessoal para se viver mais?
Gente otimista e afetuosa tem mais amigos durante a velhice. Quem é amável também é digno de ser amado. É bom se sentar junto com essas pessoas – com os rabugentos, nem tanto assim. Descobrimos que essa é também uma fantástica profilaxia da demência. O cérebro é um órgão social: precisamos do intercâmbio com os outros, e ele é muito mais fácil com os que têm uma estrutura básica amigável do que com os que vivem como lobos solitários.
Existe alguma fórmula para permanecer jovem por mais tempo?
Uma fórmula única, seguramente não. Mas existem conselhos muito bons. Um deles é: não deixe de fazer as coisas de que gosta. Nenhum artista deixa de pintar aos 65 anos, ou de escrever, ou de tocar música. Outro conselho: evite tudo aquilo o que faz envelhecer e morrer prematuramente, sobretudo fumar. Mais uma dica: cuide de seu peso, siga uma dieta equilibrada. E nunca perca a curiosidade pela vida. Se estou sempre descobrindo coisas novas e belas, tenho uma boa motivação para seguir vivendo.
Por que envelhecemos?
Estamos na Terra porque temos um objetivo biológico básico, que consiste em transmitir nossos genes às gerações seguintes. Feito isso, nos tornamos prescindíveis. Então passamos a envelhecer de maneira significativa e mensurável. Até os 30 anos, quando a missão de reproduzir normalmente foi cumprida, permanecemos jovens. A partir daí, não somos mais interessantes para a Mãe Natureza. Quem, então, ainda quiser se manter jovem e saudável, precisa se cuidar muito.
As mulheres se tornam inférteis antes dos homens, mas a expectativa de vida delas ainda é maior. Como isso se explica?
Há duas teorias. A primeira é que as mulheres são mais importantes. Elas contribuem para a preservação e reprodução da espécie muito mais do que os homens, por meio da gravidez, da amamentação e da criação dos filhos. Dessa forma, estão mais protegidas biologicamente.
A outra versão é a assim chamada “hipótese da avó”. Ela postula que as mulheres de idade avançada, mesmo que inférteis, ainda mantêm um papel importante na educação e criação dos netos, o que também ajuda a preservar a espécie. Por isso as mulheres vivem mais. Homens idosos, por sua vez, são só uma boca inútil para alimentar.
O que ocorre com o corpo quando envelhecemos?
Várias coisas, muito diversas. Basicamente, podemos distinguir sete pilares do envelhecimento. Um deles é a oxidação, um processo pelo qual são gerados os chamados radicais livres, que passam a nos contaminar. Há também o processo de glicosilação, em que o açúcar se associa à proteína, impedindo que os tecidos do corpo funcionem corretamente.
Outro pilar do envelhecimento são as inflamações crônicas – aquelas que ocorrem em pequena escala. A morte das células-tronco, responsáveis por nos regenerar, é outro processo que nos leva a envelhecer. Danos genéticos e epigenéticos ao DNA aumentam com a idade e causam doenças relacionadas à velhice.
Outro pilar é a falta de hormônios e, por fim, o encurtamento dos telômeros, as extremidades dos cromossomos. A cada divisão celular, eles se encurtam um pouco, até alcançar um limite crítico, quando as células não são mais capazes de se dividir e morrem. Hoje já é possível medir o comprimento dos telômeros, o que é um possível parâmetro para avaliar a longevidade.
Medindo os telômeros é possível prever quando morreremos?
Não, isso seria um excesso de interpretação e só serviria para assustar as pessoas. Mas a medição dos telômeros nos permite descobrir se somos biologicamente mais velhos ou mais jovens do que indica nossa idade cronológica. E a boa notícia é: podemos influenciar o resultado desse exame através de nosso estilo de vida. O envelhecimento não é mais um destino: é um processo configurável.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-envelhecimento-nao-e-mais-um-destino-e-um-processo-configuravel/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=o-envelhecimento-nao-e-mais-um-destino-e-um-processo-configuravel

1.19.2016

Organizações em todo o mundo lançam carta contra Facebook que quer dominar informações

  • Uma internet limitada a uma plataforma, que terá o poder de controlar o que os brasileiros acessam e não acessam, pode significar um entrave insuperável para a recente democracia brasileira
 
Por Marina Cardoso, na revista CartaCapital - Sociedade e Contrôle de Informações

Organizações de todo o mundo estão divulgando uma carta aberta ao dono do Facebook, Mark Zuckerberg. O motivo: a preocupação com o futuro da World Wide Web, que pode ser catastrófico em termos de diversidade e liberdade de expressão.

A rede social, cada dia mais influente nos países em desenvolvimento, insiste em lançar o Free Basics, antes denominado Internet.org. O projeto pretende, por meio de acordo com prestadoras de serviço de internet móvel, oferecer alguns conteúdos sem cobrança dos dados trafegados – o que fere a neutralidade de rede.

Para isso, o Facebook tem usado sua rede para divulgar informações equivocadas e sem embasamento e colocar usuários contra os defensores de uma internet aberta e universal.

A construção da carta partiu da iniciativa da organização indiana Access Now. Naquele país, o Facebook criou e divulgou uma petição contra os defensores da neutralidade de rede e inflamou seus usuários contra eles.

No entanto, organizações de todo o mundo assinaram a carta aberta ao dono do Facebook, porque os problemas enfrentados naquele país são os mesmos que já enfrentamos na América Latina, no continente africano e em outras partes do planeta.

No sul global, o Facebook tem a oportunidade de travestir os interesses de seus acionistas – que precisam de mais dados de cada vez mais pessoas – em ações que são propagandeadas como coisas que beneficiam uma população, o que eleva a sua capacidade de influência política, social e econômica.

No Brasil, apesar da aprovação do Marco Civil da Internet – que garante a neutralidade de rede como princípio – a falta de uma regulação e o próprio Governo Federal abrem espaço para o Facebook avançar com seus planos em relação ao Free Basics.

Do lado do poder público, essa abertura revela o descaso não só com o Marco Civil, como também com a construção de políticas públicas que garantam que todos os cidadãos e cidadãs tenham acesso à internet. É uma terceirização de um compromisso do Estado brasileiro.

No caso do Free Basics, vale destacar que o aplicativo ainda não tem acesso liberado pelas operadoras. No entanto, o mesmo não pode se dizer do aplicativo tradicional, que é liberado da cobrança de dados por ao menos duas operadoras no País.

As organizações que defendem uma internet plural e aberta não podem aceitar que apenas um aplicativo tenha seu acesso liberado. Isto significa dar poder extremo a uma única empresa, limitar a capacidade das pessoas de acessar o conhecimento e fere de morte a capacidade de inovação da web. A ação do Facebook de usar seu poder na web para incitar usuários contra as regras de neutralidade aprovadas na Índia é um exemplo prático.

Para alguns, a popularidade de um programa que libere redes sociais justificaria o acordo com o governo brasileiro. Infelizmente, há os que ainda não aprenderam que os fins não justificam os meios.

Uma internet limitada a uma plataforma, que terá o poder de controlar o que os brasileiros acessam e não acessam, pode significar um entrave insuperável para a recente democracia brasileira. Apenas a universalização do acesso à web responde à necessidade de ampliação de vozes do Brasil atual.

Confira a carta na íntegra em http://intervozes.org.br/carta-aberta-a-mark-zuckerberg-em-defesa-da-neutralidade-de-rede-na-india/ .

* Marina Cardoso é jornalista e integrante do Conselho Diretor do Intervozes.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/01/organizacoes-lancam-carta-contra.html

Parar de tagarelar nas redes é símbolo de status — e um sinal de sabedoria

Por :  - Sociedade e Qualidade de Vida
internet idiot
Autor Gaby Hinsliff. Publicado no jornal Guardian.
Simplesmente parar de falar: talvez essa tenha sido a única coisa realmente radical que restou para se fazer em uma era por demais saturada de informação. Fugir do centro das atenções parece ser o que todos estão compulsivamente buscando: desaparecer, desengajar. Não há maior símbolo de status hoje que não ter símbolo de status algum –pelo menos no sentido Facebook do “olhe pra mim”.
“Durante o Natal, em uma área sem conexão para celular e apenas um instável sinal de banda larga, finalmente consegui terminar a adiada leitura dos livros que vinham se acumulando ao longo do ano sobre meu bagunçado criado-mudo”, conta Jonathan Franzen, autor do livro Purity, cuja heroína é criada sem as facilidades da vida moderna, em uma cabana nas montanhas e com uma mãe estilo hippie que aparentemente busca uma existência simples e imaculada. Mas a vida ali acaba sendo tudo, menos leve e pura, já que praticamente todos os personagens tentam manter um catastrófico segredo.
Sem revelar nada, não é talvez por acaso que Franzen coloca sua cabana perto da cidade de São Francisco (EUA), um dos lugares mais conectados e tecnologicamente avançados do planeta, mas sujeito ao ocasional ardente desejo por uma vida mais pura e simples. Steve Hilton, tech guru e ex-diretor de estratégia do Primeiro Ministro da Grã Bretanha, David Cameron, explicou ao jornal The Guardian esta semana por que não usou celular por três anos. Apesar de dirigir uma startup do Vale do Silício e ser casado com Rachel Whetstone, vice-presidente de comunicações e políticas públicas da Uber, Hilton ainda fala por que não quer voltar a algo que associa com “estresse, tensão e ansiedade”.
No livro, Mais Humano (More Human), Hilton também admite que não deixa seus filhos possuírem celulares ou tablets – eles usam computadores só na escola. Aconselha, ainda, a proibição de dispositivos que habilitam filmes na internet para menores de 16 anos, para protegê-los da pornografia.
O autor Eddie Redmayne, também admitiu que durante boa parte do ano passado recorreu à velha escola do “telefone mudo”, que só recebe e faz chamadas ou textos e, assim, largar o vício de ficar obsessivamente checando emails.
Depois da onda do decluttering (se livrar de tudo que é desnecessário), do Janeiro Sem Álcool e do eating clean(uma forma de revigorar hábitos alimentares, dando mais peso à ingestão de grupos de alimentos mais saudáveis), o próximo movimento purgativo parece ser o detox Wi-Fi, que funcionará como uma lavagem intestinal para a mente, expulsando toda a sujeira desnecessária. E talvez seja por isso que o ato de carregar algo que tenha toda a funcionalidade de uma casa de tijolos dos anos 90 começou a ser visto muito positivamente em alguns círculos.
David Bowie, cremado na semana passada em Nova York, sem espalhafato ou fanfarra, após uma doença que conseguiu esconder do mundo, disse não ao circo de olhares sinistros e agourentos de paparazzi perseguindo o choro de rostos famosos sobre sepulturas. Bowie virou as costas para tudo isso anos atrás, optando por expor minimamente sua vida – com exceção de sua música, disponível para consumo.
Qual é a melhor prova de que você é simplesmente muito descolado e criativo para estar conectado todo o tempo; de que você precisa estar livre para “pensar grandes pensamentos”?
Assim como uma dieta sugere que, para começo de conversa, você está comendo demais, e se desapegar das coisas desnecessárias é para quem as adquiriu inutilmente e além da conta, entrar em abstinência da conectividade é realmente apenas para privilegiados e populares, que tenham se excedido além da conta.
Para não dizer que, talvez, seja muito mais fácil para alguém com secretárias e lacaios, dispostos a lidar com todos aqueles emails tóxicos no seu lugar. Como a Rainha que se recusa a carregar dinheiro, se desplugar pode ser, em certos círculos, um sinal que você, francamente, tem pessoas para lidar com tudo isso.
Aderir à desconectividade tem tudo a ver com a ideia de que a demanda por sua pessoa é tão ardente que você precisa se afastar da loucura. Mas também que você pode se dar ao luxo de fazê-lo. E mesmo que você tenha que jogar duro para conseguir, mesmo assim as pessoas virão correndo atrás de você. Caso Redmayne fosse ainda um desconhecido ator desempregado, desesperado por qualquer fungadela de contratação, e não um ganhador do Oscar, teria, sem dúvida, despendido o ano passado checando freneticamente seus emails.
Por que qualquer mortal não pode se desconectar? Claro que parte é por conta de um hábito viciante, por causa de empresas ansiosas por lucro e para aliviar o tédio. Mas milhões checam seus emails compulsivamente porque talvez haja ali uma proposta de trabalho – e é isso que a oportunidade espera que você faça.
Não são mais apenas os freelances nervosos e empreendedores individuais que se preocupam se um dia ousarão tirar férias ou perder uma chamada: do contrário, o trabalho irá para outra pessoa. Checar mensagens e atender ligações fora do horário do trabalho tornou-se rotina para muitas vidas de escritório ou qualquer outra atividade.
Dois terços das pessoas pesquisadas recentemente pelo Centro do Trabalho Futuro (Future Work Centre) mantinham ativas 24 horas as notificações em seus celulares – que te avisam quando há uma nova mensagem. Um toque de recolher da tecnologia seria muito mais saudável para o bem de todos nós. Mas cada vez mais são apenas os imprudentes e os extremamente confiantes que se sentem capazes de desligar-se.
Antes de mais nada, não ser fácil de contatar está, muitas vezes, intimamente relacionado com não ser dócil.  Nos tempos dos pagers (lembra dos pagers, aqueles aparelhos pequenos antes do celular?), que eram orgulhosamente carregados pelos membros do Parlamento em na Inglaterra, em Westminster, Ken Clarke era o único político proeminente que conheci e consistentemente se recusou a usar um celular. Mas tem muitas outras pessoas que optaram em não usar celular.
O político inglês tinha o raciocínio que parecia ser: se tivesse um telefone móvel, algum tipo indesejável iria ligar para ele. Clarke preferia assistir ao noticiário e decidir quando teria algo a dizer. Logo cedo Kate Moss percebeu, em sua carreira de modelo, o poder de não dar entrevistas. Silenciar era mais “classudo”.
Mas poder não é, necessariamente, o único pré-requisito para se desconectar, fechando-se e movendo-se no caminho de uma existência mais simples e limpa. O outro, penso, é qualidade de vida – ou, pelo menos, estar suficientemente confortável em sua própria pele para não precisar do constante contato de outras pessoas. O quão criativamente realizado e o quão pessoalmente feliz você tem que estar para se deixar perder de vista tão quietamente como fazem várias pessoas, negando a si mesmo uma última abertura de cortinas para dizer ao mundo que esta vivo?
Desconectar-se é estritamente para os bravos, não para os necessitados, os inseguros ou qualquer um cuja vida talvez seja preocupantemente vazia quando reduzida ao seu desnudado essencial. E é por isso que a maioria de nós considera uma dieta radical da tecnologia assustadoramente difícil de seguir – porque uma vida mais simples continua sendo uma fantasia ou um sonho. Esconder-se do mundo é muito mais prazeiroso quando você sabe que ele virá te procurar se for preciso.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/parar-de-tagarelar-nas-redes-e-o-novo-simbolo-de-status-e-um-velho-sinal-de-sabedoria/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=parar-de-tagarelar-nas-redes-e-o-novo-simbolo-de-status-e-um-velho-sinal-de-sabedoria