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4.29.2015

O Brasil deu o peixe sem ensinar a pescar

Frei Betto - Adital - O Brasil e os brasileiros

A crise brasileira traduz o esgotamento de um modelo neodesenvolvimentista que sacramentou, no macro, o capitalismo neoliberal e, no micro, o paternalismo populista de benefícios aos mais pobres.
O capitalismo neoliberal favorece o consumo, e não a produção, o que explica, nos últimos 12 anos, a facilidade de crédito, as desonerações tributárias, o aumento anual do salário mínimo corrigido pela inflação, o maior acesso dos brasileiros ao mercado. No entanto, não se criaram as bases de sustentabilidade para assegurar o acesso, a longo prazo, aos bens de consumo.

Imagem: Roberto Parizotti
O paternalismo populista teve início quando se trocou o Fome Zero, um programa emancipatório, pelo Bolsa Família, meramente compensatório. Passou-se a dar o peixe sem ensinar a pescar.
Embora 36 milhões de pessoas tenham saído da miséria, nada indica que, com o atual ajuste fiscal, número igual de brasileiros não resvalará para a carência extrema, sobretudo impelidos pelo desemprego.
O governo facilitou o acidental, não o essencial. O acesso aos bens pessoais, como produtos da linha branca (geladeira, máquina de lavar, fogão, micro-ondas etc.), não foi complementado com o acesso aos bens sociais: educação, saúde, transporte público, segurança e moradia.
Por paradoxal que possa parecer, o PT despolitizou a nação. E a oposição, que tanto ecoa protestos, carece de propostas.
O debate político desceu do racional para o emocional. Sabe-se o que repudiar, não o que almejar. Como se o sentimento de ódio e desprezo tivesse consistência política.
Os anos de prisão, sob a ditadura militar, me ensinaram que o ódio destrói, primeiro, quem odeia, e não quem é odiado. Shakespeare bem definiu: "Odiar é tomar veneno esperando que o outro morra.”
Ainda que Dilma sofresse impeachment, quem a substituiria? Michel Temer? Trocar o PT pelo PMDB na presidência da República seria um avanço? E se viesse o PSDB, o que só seria possível com nova eleição, evitaria essa política econômica recessiva e lesiva aos direitos dos mais pobres?
A luz no fim do túnel está na face mais democrática do Brasil: as ruas. Este o palco da soberania nacional, se estamos de acordo que democracia é governo do povo para o povo e com o povo.
Somos nós, cidadãos e cidadãs, que escolhemos os políticos que ocupam a estrutura do Estado. Em nosso nome eles governam. Somos nós que, via impostos, financiamos toda a administração estatal, das obras do PAC às passagens aéreas de deputados e senadores. Nós somos a autoridade. Eles, nossos servidores.
Portanto, cabe ao povo brasileiro se manifestar, mobilizar, organizar, criar uma ampla frente de propostas para as mudanças que o nosso país tanto necessita, como o fim do financiamento de campanhas eleitorais por empresas e bancos; a reforma política; a reforma tributária onerando mais quem ganha mais; a reforma agrária nesse território de dimensões continentais.
Governo é como feijão, só funciona na panela de pressão.
Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=84821

4.27.2015

Moradores da área rural não são considerados da cidade em todo o mundo

OIT: 56% dos habitantes de zonas rurais não têm acesso à saúde básica

Em estudo com 174 países, Organização Internacional do Trabalho mostra que disparidade entre campo e áreas urbanas ainda é grande, e que são necessários 10,3 milhões de profissionais de saúde no mundo
  RBA - pessoas da área rural
ABr
no campo.jpgTrabalhador do campo: OIT constata que zonas rurais são excluídas de atenção médica, mesmo com garantia na lei
São Paulo – Um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que 56% das pessoas que vivem em zonas rurais em todo o mundo não têm acesso a serviços essenciais de saúde – mais que o dobro do registro nas zonas urbanas, onde 22% dos habitantes não têm cobertura. O relatório, que abrange 174 países, revela as grandes disparidades de acesso, sobretudo nos países em desenvolvimento.
Segundo a OIT, é na África que se encontra o número mais elevado: 83%. Os países mais afetados são também os que têm maior índice de pobreza. As maiores disparidades entre as áreas rurais e urbanas, contudo, são observadas na Ásia. Por exemplo, na Indonésia, a porcentagem de pessoas não cobertas é duas vezes mais elevada no campo do que nas cidades.
"Décadas de falta de investimento na área interromperam os esforços para desenvolver sistemas nacionais de saúde, o que resultou no abandono da saúde nas zonas rurais. Isso tem um custo humano enorme. A saúde é um direito humano e deveria ser garantida a todos os habitantes de um país", declarou a diretora do Departamento de Proteção Social da OIT, Isabel Ortiz.
O estudo da OIT constata que sempre que o acesso à atenção médica está garantido pela lei, as pessoas nas zonas rurais são excluídas da atenção médica porque a legislação não se aplica onde eles vivem.
Mostra ainda que a situação se agrava pela falta de profissionais de saúde nas zonas rurais em todo o mundo e que, ainda que metade da população mundial viva nestas zonas, somente 23% da força de trabalho sanitária do mundo se destina a elas. A OIT estima que dos 10,3 milhões de trabalhadores de saúde que faltam em todo o mundo, 7 milhões deveriam ser designados para as zonas rurais.
África e América Latina são as duas regiões onde o problema é mais grave. Na Nigéria, por exemplo, mais de 82% da população rural está excluída dos serviços sanitários por conta do número insuficiente de trabalhadores da saúde, frente a 37% nas zonas urbanas.
A insuficiência de recursos está extremamente vinculada à falta de acesso aos serviços. O estudo da OIT mostra que a falta de recursos econômicos é quase duas vezes mais alta nas zonas rurais do que nas urbanas. Os déficits maiores se encontram na África. No entanto, enormes desigualdades existem também na Ásia e na América Latina.
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2015/04/oit-56-dos-habitantes-de-zonas-rurais-nao-tem-acesso-a-saude-basica-9484.html

As máquinas da Madeira, a ilha portuguesa e suas surpresas

Ilha tem vários locais a explorar. E esconde um curioso e bem organizado museu da imprensa
por Vitor Nuzzi
Jornal Brasil Atual - Número 105, História 
Magno Bettencort/Museu de Imprensa
Heidelberg
Primeiros modelos de impressoras Heidelberg. A impressora Minerva (abaixo) é a peça mais antiga do acervo
impressora minerva Museu da imprensa escondido na Ilha da Madeira, em Portugal
A mil quilômetros da Europa e a 800 da África, o arquipélago da portuguesa Ilha da Madeira é um local de origem vulcânica, montanhoso e de temperatura agradável, a 90 minutos de voo a partir de Lisboa. Talvez seja conhecido de alguns pelo vinho da região. Os esportistas mais enfáticos devem lembrar que foi no Funchal, a capital, que Cristiano Ronaldo deu os seus primeiros passos e chutes. Há muito o que se conhecer na Madeira, que tem lá suas curiosidades, como na pequena cidade de Câmara de Lobos, ao lado do Funchal. Ali, numa curva, com direito a vista para o mar, fica o Museu de Imprensa Madeira, com pequenas e grandes preciosidades.
São aproximadamente 40 máquinas como linotipos e impressoras, a mais antiga de 1886. O espaço, de 2 mil metros quadrados, abriga ainda exposições, conferências e outros tipos de eventos. Até janeiro, por exemplo, o MIM abrigou uma exposição sobre o cineasta Manoel de Oliveira. Estão previstas uma mostra, a partir de agosto, sobre rótulos de vinho Madeira do século 20, e outra, no final do ano, sobre a Primeira Grande Guerra, em parceria com o Museu Nacional de Imprensa, que fica na cidade do Porto.
Por falar em guerra e em Madeira, quem passou por Câmara de Lobos foi Winston Churchill, então primeiro-ministro inglês, em 1950. Foi descansar e pintar. A imprensa local registrou a presença em primeira página, conforme se vê no acervo do museu.
Desde o primeiro jornal, lançado em 1821, são mais de 300 títulos. “Grosso modo, uma característica interessante dos periódicos publicados ao longo destes quase 200 anos é a de que são quase sempre muito politizados. Procuraram sempre afirmar e defender convicções muito explícitas e determinadas. Uns mais conservadores, outros mais liberais e alguns satíricos”, diz o diretor do museu, Lourenço Freitas, um ex-jornalista que durante dois anos coordenou o processo de coleta e recuperação do patrimônio que hoje compõe o acervo.
Museu da Ilha da Madeira Manoel de Oliveira
Museu teve exposição sobre o cineasta Manoel de Oliveira, morto no último 2 de abril aos 104 anos
O MIM foi aberto em setembro de 2013. Em um ano e meio, recebeu aproximadamente 5 mil visitas, sendo 800 de estrangeiros. “O percurso da imprensa tem evoluído ao longo do tempo. Desde a descoberta de Gutenberg no século 15 até hoje, e o MIM reúne não só antiguidade e memória, mas também cultura e conhecimento. No primeiro ano de atividade recebemos 74 visitas de estudo, o que por si só revela o interesse que existe em saber que conhecimento encerra o museu”, comenta Freitas.
A máquina mais antiga, fabricada em 1816, é uma impressora Minerva, da empresa norte-americana Golding&Company. Há outra de 1817, da alemã Augsburg, e uma máquina de composição mecânica de 1911, que pertenceu ao Diário de Notícias da Madeira, fundado há mais de 130 anos e ainda em atividade. O museu conta ainda com “um considerável patrimônio histórico tipográfico”, lembra Freitas.
É um lugar onde pode se conhecer o processo de elaboração de jornais que funcionou até relativamente pouco tempo atrás. Um processo fabril e braçal. “Acredito que conforme o homem vai evoluindo, vai deixando atrás de si um rastro que quando é reunido num museu permite mostrar no presente como era uma certa atividade no passado – e essa lição pode ser cultural, industrial ou sociológica”, analisa o diretor.
Formado por quatro ilhas, o arquipélago tem hoje 270 mil habitantes, sendo 112 mil apenas na capital. A Madeira era um local estratégico para a navegação à América do Sul e à África. Tinha a economia baseada na agricultura e nas exportações – particularmente, um período de produção intensa de cana-de-açúcar, no século 15. Posteriormente, o vinho deu fama à ilha. Algumas crises levaram a amplos processos de emigração, já no século 19, e um dos principais destinos foi o Brasil – estima-se que aqui exista uma comunidade de 150 mil madeirenses. Embora não seja um roteiro turístico usual, até pela localização, apenas o seu visual já recomenda a visita. Andar pela orla muito bem cuidada e arborizada, conhecer o Jardim Botânico, conferir o curioso Mercado dos Lavradores e passear no teleférico valem por um bom começo.
DAVID STANLEY/FLICKR/CC As ilhas
A Madeira é um arquipélago formado por quatro ilhas. Tem hoje 270 mil habitantes
 
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/105/as-maquinas-da-madeira-a-ilha-portuguesa-e-suas-surpresas-146.html 

4.21.2015

Domínio da Elite é pela Imprensa

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Quem é o totalitarista?

Em recente final de semana, foi sacudido um novo escândalo político, o blogolão. Ou setentão, se preferir.
O blog Implicante, dedicado exclusivamente a divulgar baboseiras contra o partido de posição e a presidenta, e que sempre perseguiu blogs não-alinhados à grande mídia, foi desmascarado por uma matéria da Folha em que se revela que ele recebia R$ 70 mil por mês do governo de São Paulo pelo serviço.
O escândalo é particularmente picante porque o blog em questão, editado pelo advogado Fernando Gouveia, vulgo Gravataí Merengue, sempre posou de “liberal”, acusando blogs de esquerda de serem financiados por verba pública. No editorial do blog, avisa: “se você é do governo ou militante, não vai gostar do conteúdo”. Ora, se for do governo de São Paulo e militante do PSDB, vai adorar!
Nada como um dia após o outro.
A mesma Folha teve acesso, pouco tempo atrás, aos números completos da publicidade do governo federal, e descobriu que os blogueiros de esquerda não ganham praticamente nada. Só uns três ou quatro sites, de grande acesso, recebem publicidade institucional, de maneira transparente, oferecendo retorno de imagem
O Implicante ganha dinheiro sem precisar mostrar nenhum banner, o que lhe permitia acusar os outros de fazer o que ele mesmo fazia: ganhar dinheiro público para atacar agentes políticos, e defender o governo Alckmin.
Agora sabemos que a coisa é ainda mais podre.
Nassif publicou um post hoje em que especula que o mais provável é que o Implicante seja parte de um esquema maior de comunicação montado por José Serra, através de seu pitbull Marcio Aith, dentro do governo de São Paulo.
No Diario do Centro do Mundo (DCM), outra peça do quebra-cabeça foi montada, confirmando a análise de Nassif: a nova sócia do blog Implicante é Cristina Ikonomidis, uma antiga assessora de José Serra.
O blog do Esmael, do Paraná, levanta outra face do escândalo: uma estatal do Paraná também financiava o blog Implicante.
O autor do blog, Fernando Gouveia, tentou se explicar no Facebook, mas não colou. Ele apenas botou a culpa no PT…
Os tucanos repetem, portanto, em São Paulo, a estratégia que montaram em Minas Gerais.
Enquanto foi governador, Aécio Neves deixou que sua própria irmã assumisse o controle sobre a distribuição de recursos públicitários oficiais para a mídia mineira, e exercia uma vigilância severa e agressiva contra jornais e rádios que faziam crítica à administração de seu irmão.
Esses movimentos revelam o dúbio apreço pela liberdade de imprensa por parte dos tucanos. Eles amam sim a liberdade, desde que seja exercida por gente que ataque o partido da posição e os defenda.
Mas revelam também uma coisa que serve de lição ao partido e ao governo. Seus adversários estão muito atentos do que os petistas à questão da batalha da comunicação.
Em São Paulo, os tucanos dão milhões para a grande mídia, através de assinaturas sem licitação e publicidade oficial.
No Congresso, os parlamentares tucanos são os mais agressivos opositores de qualquer debate sobre a democracia na mídia, agindo, na prática, como lobistas da grande mídia corporativa.
***
Há algumas semanas, estive em Belo Horizonte, para II Encontro de Direito a Comunicação (10 a 12 de abril), organizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.
O evento reuniu mais de 600 pessoas e trouxe alguns palestrantes estrangeiros. No sábado à noite, ao jantar, bati um longo papo com Gustavo Gómez, que escreveu a Ley dos Medios do Uruguai.
Ele me contou que o governo sabia que encontraria, por parte de setores da mídia, uma intensa mobilização para pintar uma lei que aspirava a democratizar a comunicação no país, como uma lei autoritária, ou pior, como tentativa de censura.
Em razão disso, o governo Mujica (Gomez foi assessor pessoal de Mujica durante seus quatro anos de mandato) passou a estudar argumentos para reagir a essas acusações. Foram atrás de documentos internacionais que tratam do tema democracia na mídia, e conseguiram vencer, na opinião pública, a batalha de narrativa. Conseguiram convencer a maioria da população que se tratava de uma lei para ampliar a liberdade de expressão. A lei foi aprovada em dezembro do ano passado.
Gomez observou, contudo, que a mídia uruguaia, apesar de conservadora, não demonstra a histeria oposicionista da nossa. Além disso, a mídia uruguai não é tão absolutamente concentrada como a brasileira e, sobretudo, os donos da mídia não estão entre as famílias mais ricas do país, como é o caso da família Marinho, a mais rica do Brasil.
Aqui, o governo ainda parece totalmente desorientado diante dos ataques da mídia. Não é preciso, porém, reinventar a roda para sair da crise: um porta-voz, uma comunicação mais centralizada e mais eficiente, maior exposição, mais assertividade, investimento na comunicação pública, em especial o sistema EBC, uma postura mais pró-ativa na defesa política do governo.
Diante desse novo escândalo tucano, evidencia-se a guerra desproporcional que experimentamos no Brasil.
De um lado, grandes meios de comunicação alinhando-se num bloco absolutamente homogêneo, buscando de todas as maneiras argumentos para anular o voto de 54 milhões de eleitores e derrubar a presidenta. Todo o dia agora eles vem com um pretexto diferente, após fazerem entrevistas com ministros do TCU que mais parecem cobranças políticas de um posicionamento.
Do mesmo lado, blogueiros regiamente pagos pelos governos tucanos para envenenar a opinião pública e detonar o partido da posiçào e os blogueiros de esquerda.
De outro, um governo que ainda não tem uma estratégia de comunicação definida. Não se tem sequer a pachorra de variar, de vez em quando, a foto da presidenta nas redes sociais. Tudo é sempre burocrático, frio, sem graça.
Por um acaso, Dilma trocou de secretário de comunicação, e agora tem um nome novo – o que é bom.
A presidenta, porém, persiste na estratégia de não ter uma estratégia de comunicação. Até mesmo seu aliado mais dúbio, o deputado federal Eduardo Cunha, em entrevista recente a um grande jornal, disse claramente que o governo não tem uma comunicação política eficiente, e não consegue informar o que faz, o que pensa, o que pretende.
Cientistas políticos reunidos pela revista Inteligência afirmaram a mesma coisa.
E agora, estamos nesta situação, bipolar. Um dia achamos que haverá golpe. No outro, que ele foi superado.
O que demonstra, obviamente, que a pele do governo afinou-se. Qualquer pequeno golpe o machuca severamente.
A presidenta nunca poderia resistir, por exemplo, a um escândalo tão pesado como o assassinato de um promotor público, como aconteceu na Argentina.
Não resistiria se enfrentasse uma conspiração parecida à liderada por Carlos Lacerda, contra Jango.
No Judiciário do Paraná, um magistrado abusa do apoio que recebe na mídia para prender quem ele quiser, e usa a prisão preventiva, que acontece antes da sentença e, portanto, antes da defesa, como condenação de fato. A produção de factoides políticos pelo juiz Sergio Moro parece seguir uma agenda previamente (ou mesmo tacitamente) combinada com a mídia. Os vazamentos são rigorosamente seletivos. Qualquer denúncia contra tucano, é abafada. Qualquer denúncia contra PT, é levada à capa dos jornalões.
Quando uma linha de investigação deixa de ser midiática, segue-se outra. Os promotores posam para capa dos jornais, e fazem lobby descarado para destruir o maior partido do congresso nacional, com mais de 1 milhão de filiados e uma história bonita de defesa dos direitos humanos, democracia, justiça social e liberdade de expressão.
Tempos difíceis!
Para consolar, pensar nas décadas mais turbulentas da Roma Antiga, com suas terríveis guerras sociais, suas conspirações políticas, seus golpistas frequentes, etc, dá um certo desconforto.
A frase “O homem é cobaia da história”, pessoal, não me sai da cabeça.
http://www.ocafezinho.com/2015/04/20/setentao-ou-blogolao-o-novo-escandalo-tucano/

História da Praça Tiradentes

Contada por Luiz Antonio Simas - Sociedade e a História

O Brasil é um oxímoro (contraditório) em forma de país: um português proclamou a independência; um monarquista proclamou a República; a revolução contra as oligarquias em 1930 foi feita pelas próprias oligarquias; o presidente da redemocratização em 1985, Zé Sarney, foi homem dos milicos; o Oeste Novo Paulista não fica no Oeste de São Paulo; a terra roxa nunca foi roxa; um beato asceta e reacionário, que esperava a volta de um rei morto mais de trezentos anos antes para anunciar o fim do mundo, virou ícone da esquerda revolucionária e uma espécie de Lênin do sertão. 
 Não bastasse isso,  na Praça Tiradentes - aqui no Rio - a estátua é a de D. Pedro I; fato mais inusitado ainda quando lembramos que foi a avó do primeiro Pedro, Dona Maria, a Louca, que mandou matar o alferes Joaquim José da Silva Xavier. É mole?
Para esse último fato, ao menos, cabe explicação. Acontece que a figura do alferes praticamente desaparece da memória histórica brasileira após sua execução, pertinho da atual praça Tiradentes. 
Tiradentes era republicano e conspirou contra os Bragança - família de Dona Maria, Dom João VI e dos dois Pedros que governaram o Brasil. Enquanto fomos monarquia e tivemos Bragança no poder, necas de pitibiribas de homenagear o enforcado. Quando muito, era mencionado como vil traidor ou como homem de caráter fraco, incapaz de liderar qualquer movimento mais articulado contra a ordem estabelecida.
Quando a República foi proclamada, cem anos depois da Inconfidência Mineira, os novos donos da cocada preta resolveram escolher um herói nacional representativo do novo regime. Houve polêmica entre dois candidatos - Tiradentes e Frei Caneca, o líder da Confederação do Equador de 1824. O barbudo levou a melhor. Quem quiser saber mais disso pode catar o Formação das Almas, livro do Zé Murilo de Carvalho sobre esses babados.
Disse barbudo, mas faço a emenda. Tiradentes nunca teve um visual daquele - barba à Antônio Conselheiro e cabelo à Bufalo Bill. O pintor Décio Villares, por exemplo, que recebeu a encomenda de retratar o herói nacional republicano, não tinha referência nenhuma sobre como seria o alferes quando foi executado. Ninguém tinha, aliás. Villares não teve dúvidas - pintou Jesus Cristo e substituiu a cruz pela forca; como a comparar o sacrifício do Filho do Homem pela humanidade ao sacrifício de Tiradentes pela República e pelo Brasil.
Assim como fez Villares, Pedro Américo, Eduardo Sá, João Turin e Virgílio Cestari pintaram ou esculpiram o alferes com ares cristãos. Sabemos, porém, que à época os condenados tinham cabelos e barbas raspados. Tiradentes foi enforcado carequinha da Silva.
Voltemos ao tema central, até porque não sou a pessoa mais indicada para falar de assuntos capilares. Quando os republicanos resolveram fazer de Tiradentes o herói nacional, a praça mais próxima do local da execução do alferes - o velho Largo do Rocio, perto do Campo da Lampadosa - recebeu a denominação do herói. Havia, porém, um probleminha. A estátua de D. Pedro I já estava ali desde 1862, num marco em louvor ao Grito do Ipiranga.
A coisa ganhou contornos de provocação entre republicanos e monarquistas. Nesse Fla X Flu pelo controle da memória nacional, os primeiros insistiam em derrubar a estátua equestre do Imperador; os outros ameaçavam fazer um furdunço memorável se a demolição ocorresse. Após muita polêmica, chegou-se a uma solução brasileiríssima: a estátua de D. Pedro I foi mantida e a praça passou mesmo a se chamar Tiradentes.
Agora, experimentem explicar a um turista por que a praça que homenageia o mártir da independência tem uma estátua do neto da velha que mandou executar o herói. Sou capaz mesmo de apostar que, numa pesquisa com cem cariocas que cruzem a praça em uma tarde, a maioria vai dizer que a estátua é a de Tiradentes.
Quanto a este que vos digita, confesso: a referência emocional (infantil, portanto, que é quando essas coisas se consolidam no cabra) que tenho de Tiradentes é a de Francisco Cuoco representando o mártir na novela Saramandaia. Da Inconfidência Mineira, levo uma lição que tento praticar com sagrada obediência - após um dia intenso de trabalho nos trópicos, há que se tomar civilizadamente umas cervejas geladas quando o sol se põe. É a manjada liberdade, ainda que à tardinha.
http://hisbrasileiras.blogspot.com.br/2015/04/uma-historia-da-praca-tiradentes.html

4.16.2015

Frei Betto: 'Solução para o governo ajustar as contas é cobrar sonegadores do andar de cima'

Teólogo e assessor de movimentos sociais afirma que fazendo os ricos devolverem o que devem ao fisco, como por exemplo a "operação zelotes" ou os desvios de correntistas do HSBC, será desnecessário mexer no bolso do trabalhador
por Redação RBA - Sociedade e Impostos
Wilson Dias/ Agência Brasil
ABR250913DSC_8039.jpgPara Frei Betto, é preciso cobrar as empresas sonegadoras para que elas "parem de lesar o povo brasileiro"
São Paulo – “Estou propondo e dizendo como o governo pode conseguir R$ 19 bilhões”, disse o assessor de movimentos sociais Frei Betto nesta terça-feira (14), em sua coluna na Rádio Brasil Atual.  Ele abordou o tema ajuste fiscal com uma proposta para que o Brasil possa equilibrar as contas públicas, apenas cobrando os sonegadores que ficam livres do fisco.
“Todo mundo sabe que quem paga imposto pode cair na malha fina, daí a pessoa vai à Receita Federal e acerta as contas. Mas quando se trata de uma grande empresa ou banco, como aquelas investigadas pela Operação Zelotes, ela cai na malha grossa, bastando ir ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), que agora está sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.”
“Os grandes devedores ficam livres de pagar impostos. Sonegam milhões, mas têm que deixar uma caixinha de R$ 500 mil no bolso dos conselheiros indicados pela iniciativa privada. Essa devassa no Carf calcula que as fraudes cometidas nos últimos anos podem chegar a 19 bilhões. Um bilhão a mais que o corte dos direitos trabalhistas previsto no ajuste fiscal pouparia para o governo.”
Frei Betto conclui que é preciso coragem da presidenta Dilma Rousseff para cobrar as empresas e bancos de forma que elas parem de lesar o povo brasileiro, e que os R$ 38 bilhões almejados pelo ajuste fiscal anunciado pelo ministro Joaquim Levy, da Fazenda, chegariam logo aos cofres do Tesouro, sem a necessidade de retirar alguns benefícios dos trabalhadores.
O colunista lembrou quando a presidenta disse que as finanças nacionais estavam indo mal, e avalia que ela errou ao colocar Joaquim Levy para cuidar da economia, tendo que economizar para não ficar no vermelho. “A meta deste ano com esse ajuste é engordar o caixa do governo com mais R$ 66 bilhões, que equivalem a 1,2% do PIB previsto para 2015. É preciso garantir o superávit primário”.
Caso o Congresso aprove o ajuste, o governo arrecadará da população cerca de R$ 38 bilhões oriundos do aumento de impostos, como o PIS, e a volta da Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico), que aumentará o preço do combustível. “Vai significar para nós, consumidores, que vai ficar tudo mais caro, porque tudo, no Brasil, é transportado por caminhões, sobretudo os alimentos”, afirmou.
Segundo Frei Betto, o setor elétrico também está incluso no aumento, deixando a conta de luz mais cara. O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Importações (II) estão envolvidos no acréscimo. “O governo espera ainda obter R$ 18 bilhões com o corte de direitos trabalhistas, como o seguro-desemprego, a desoneração da folha de pagamento e a pensão viuvez. Talvez o Congresso não aprove essas medidas. Há uma intensa discussão, mas se passar, o governo não vai arrecadar os R$ 18 bilhões. A tendência é arrecadar apenas R$ 3 bilhões”, afirma.

http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2015/04/frei-betto-solucao-para-o-governo-equilibrar-as-contas-e-cobrar-sonegadores-2371.html

4.10.2015

Memória da cozinha brasileira reunida em um livro

Para pesquisador da Embrapa Hortaliças de Brasília, Nuno Madeira, "o livro vem ao encontro de novas demandas da sociedade – o consumidor, que busca cada vez mais uma alimentação saudável, e o produtor, que procura novas oportunidades de mercado, ambas aliadas à valorização das tradições culinárias e de paladar especial e diferenciado”. 
Adital - Sociedade e Saúde

O Ministério da Saúde (MS) lança a nova edição do livro "Alimentos Regionais Brasileiros”. A publicação foi apresentada durante evento promovido pelo Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, em 4 de março, em Brasília. A obra resgata uma parte do patrimônio culinário que integra a memória afetiva e cultural brasileira. O objetivo é favorecer o conhecimento acerca das mais variadas espécies de alimentos existentes no Brasil, além de estimular o desenvolvimento e a troca de habilidades culinárias, valorizando o ato de cozinhar e apreciar a alimentação.
divulgacao 
Para o pesquisador da Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), Nuno Madeira, "o livro vem ao encontro de novas demandas da sociedade – o consumidor, que busca cada vez mais uma alimentação saudável, e o produtor, que procura novas oportunidades de mercado, ambas aliadas à valorização das tradições culinárias e de paladar especial e diferenciado”.
Em 2002, o MS publicou a primeira edição do livro com o objetivo de divulgar a imensa variedade de alimentos do país, além de apoiar a educação alimentar e nutricional e incentivar a alimentação adequada e saudável. A partir de 2007, a Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN) conduziu um processo de atualização e revisão dos alimentos e das preparações do livro, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), instituições de ensino, pesquisadores e profissionais de saúde.
divulgacao

A nova edição divide as espécies por região e exibe em suas 500 páginas as frutas, hortaliças, leguminosas, tubérculos, raízes e cereais, farinhas e preparações, ervas, condimentos e temperos do Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. O material traz ainda receitas culinárias, dicas de como cozinhar com mais saúde e uma lista de possíveis substituições para as preparações desenvolvidas, ressaltando a diversidade cultural.
http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=S&cod=84590

O que está por trás da Lei da Terceirização?

 
Cristina Fontenele - Adital - Sociedade e Trabalho
 
A aprovação da terceirização é mais um sinal da convivência parasitária entre capital, empresas e governo,  Ermanno Allegri/Adital

O Projeto de Lei (PL) nº 4330, que trata da regulamentação do trabalho terceirizado no Brasil, estava há 11 anos tramitando no Congresso Nacional, mas foi aprovado com agilidade, em sessão fechada na Câmara dos Deputados, nesta quarta, 08 de abril. Movimentos sociais denunciam que a Lei da Terceirização já seria uma "devolução” dos parlamentares pelo financiamento recebido nas campanhas eleitorais. A recente discussão em torno da redução da maioridade teria sido também um "boi de piranha” para ocupar a sociedade e a mídia, facilitando a passagem da terceirização. Caso seja ainda aprovada a manutenção do financiamento privado das campanhas, todas essas medidas juntas seriam uma espécie de golpe final contra a reforma política no país.
gazetadooeste
Lei da Terceirização seria uma "devolução” dos parlamentares pelo financiamento recebido nas campanhas eleitorais.
 
Em entrevista coletiva, a presidenta disse que "existe uma questão ligada à terceirização, sim, que precisa ser tratada. Agora, a posição do governo é no sentido de que a terceirização não pode comprometer direitos dos trabalhadores. Nós não podemos desorganizar o mundo do trabalho. E temos de garantir que as empresas contratadas assegurem o pagamento de salários, de contribuições previdenciárias e, ao mesmo tempo, também paguem seus impostos”.
Os destaques e sugestões de alterações ao Projeto de Lei da Terceirização devem ser discutidos, na próxima semana, na Câmara, seguindo para a aprovação do Senado e, por fim, para a sanção presidencial. Apenas três partidos – Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – orientaram seus parlamentares a votarem contra o projeto.
Para o diretor executivo da Adital, Ermanno Allegri, a aprovação da terceirização é mais um sinal da convivência parasitária entre capital, empresas e governo. "Está tudo conectado. É preciso desmascarar a hipocrisia religiosa desses pastores fundamentalistas, ‘feiticeiros da religião’, que formam a bancada da Bíblia, ou poderia se dizer do "Belzebu” – o pai da mentira.” Allegri refere-se às bancadas parlamentares conhecidas como os 3Bs – Boi, Bala e Bíblia. Ele questiona ainda: "quando as igrejas chamadas Evangélicas vão acordar pelo mal que estão fazendo ao favorecerem a bancada de Belzebu? Isso é um falso moralismo que rouba sistematicamente a verba pública”.
A terceirização seria uma forma de grandes empresas que ganham licitação delegarem a terceirizadas a produção e a responsabilidade pelo trabalho a ser realizado. Os movimentos sociais afirmam que o desemprego atual seria programado para facilitar a contratação de trabalhadores terceirizados em condições inferiores de salário e direitos, inclusive com potencialidade de mais acidentes de trabalho. A mão de obra terceirizada corresponde, hoje, a 25% dos trabalhadores do país. A fragmentação sindical deve também ser outro agravante para a situação do trabalhador, pois os terceirizados não dispõem de uma representação sindical forte, como os trabalhadores contratados diretamente pelas empresas.
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Terceirizadoscorrespondem a cerca de 25% dos trabalhadores do país.
 
Para o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, a terceirização será o fim da categoria profissional e o surgimento de uma nova categoria de trabalhadores: "os prestadores de serviços. Estes, desprovidos de direitos, terão remuneração, em média, 40% menor e serão as maiores vítimas da elevada incidência de doenças ocupacionais e de óbitos, como já se constata na atividade terceirizada”.
Dados indicam que, de dezembro de 2012 até hoje, os contratos de trabalhadores terceirizados cresceram 50%, passando de 8 milhões para mais de 12 milhões, atualmente. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o contingente de desocupados, em fevereiro de 2014, foi estimado em 1,4 milhão de pessoas, apresentando uma elevação de 10,2% em comparação com janeiro (acréscimo de 131 mil pessoas nessa condição). Em fevereiro de 2015, a taxa aumentou 0,8 ponto percentual. A pesquisa é realizada, mensalmente, em algumas regiões metropolitanas do país.
Uma associação de 21 movimentos sociais, partidos políticos, pastorais sociais e centrais sindicais realizarão um ato na próxima quarta-feira, 15, contra o projeto de lei das terceirizações (PL 4.330) e a redução da maioridade penal e em defesa da reforma política, do fim do financiamento privado de campanhas e pela taxação de grandes fortunas. Já estão agendadas mobilizações em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte [Minas Gerais], Fortaleza [Ceará] e Curitiba [Paraná].

http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=84661

4.06.2015

Imposto do Brasil comparado aos outros países

Imposto no Brasil - o país é o 32. no mundo, está é a verdade que a imprensa não conta para os leitores, telespectadores e ouvintes

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Fonte: http://noticiadafonte.blogspot.com.br/

4.02.2015

Mudança climática tem as primeiras vítimas na Terra

Em Thule e Tuvalu, as primeiras vítimas da mudança climática.

Em Tuvalu a mudança climática causa o avanço da água com o aumento do nível do mar que ameaça engolir todo o arquipélago, como se fosse uma Atlântida do século 21.

 Por Vinicius Gomes - Sociedade e Clima


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Exibido em mostra brasileira, documentário de Matthias Von Gunten expõe de forma poética tragédia de povos sem futuro no Ártico e Pacífico. Diretor pergunta: “queremos fazer algo”?

Desembarcando de um monomotor no pequeno aeroporto de Thule, no norte da Groenlândia, um jovem casal traz consigo seu filho recém-nascido. Essa é a primeira vez que Rasmus, um caçador inuit, coloca os olhos em seu neto. Ali, na imensidão branca e inóspita do Círculo Polar Ártico, o sorriso de Rasmus em ver a felicidade de sua família é logo substituída pelo característico franzir no cenho do caçador de 40 anos.
Milhares de quilômetros ao sul, em Nanumea, ilha que faz parte do país-arquipélago de Tuvalu, o pescador Patrick finalmente termina de construir a primeira canoa para seu filho mais velho. Uma vez dentro da água, na imensidão azul do Pacífico Sul, o sorriso de Patrick ao ver a felicidade da criança que quer seguir os passos do pai, é logo substituído pelos olhos semicerrados observando o horizonte infinito.
Assim como todo pai ou avô, mãe ou avó, em qualquer lugar do mundo, Rasmus e Patrick desejam um futuro melhor para sua família. Porém, diferente de outros lugares do mundo, as famílias do caçador e do pescador estão entre aquelas que já sofrem em primeira mão os efeitos perversos do aquecimento global e das mudanças climáticas: enquanto em Thule, o problema já se manifesta com o derretimento do gelo, em Tuvalu é o avanço da água com o aumento do nível do mar que ameaça engolir todo o arquipélago, como se fosse uma Atlântida do século 21.

Em Thule e Tuvalu, que esteve recentemente em exibição na 4ª Mostra de Cinema Ambiental Ecofalante, em São Paulo, o documentarista suíço Matthias von Gunten filma com maestria poética como os povos de dois lugares — tão distantes geograficamente e tão próximos pelas incertezas de seus futuros – estão sendo forçados a abandonar suas culturas e modos de vida seculares por conta do aquecimento do planeta. A situação de Thule e Tuvalu, em vias de se converter em exemplo trágico, encaixa-se perfeitamente na Teoria do Caos, com o degelo ártico sendo o “bater de asas da borboleta” e o aumento no nível do mar, ameaçando as ilhas do Pacífico Sul, sendo o “tufão” subsquente.
Von Gunten estava presente na sessão no cine Reserva Cultural, em São Paulo, em 23/3. Por ironia, falou que as filmagens ocorreram em 2012, e que, por conta do Ciclone Pan, que poucas semanas atrás atingiu diversos países no Pacífico Sul, incluindo Tuvalu, muito do que a platéia estava prestes a assistir já não existia mais. O suíço disse que não tinha muitas informações sobre a situação em Nanumea, nem mesmo o embaixador de Tuvalu nas Nações Unidas lhe respondia há dois dias . “Ele geralmente me responde em poucos horas, então imagino que eles estejam com muito trabalho”. Curiosamente, durante a roda de discussão que se seguiu após o término do filme, o suíço finalmente recebeu um e-mail de uma representante da comunidade em Nanumea. Sem se pronunciar a respeito, von Gunten leu que todas as casas na ilha haviam sido praticamente destruídas. Catorze famílias estavam vivendo em um centro comunitário, “como refugiados, sem paredes nem banheiros”. Outras 63 famílias tiveram de ficar na casa de parentes em outras ilhas tuvaluanas. Nenhuma morte foi relatada, mas hortas comunitárias foram destruídas, muitas árvores foram derrubadas e todas as estradas que davam acesso à criação de galinhas e porcos, estavam bloqueadas.
Outras Palavras conversou um pouco com o diretor sobre como foi filmar e conviver com esses povos desconhecidos por boa parte do planeta, que além de enfrentar as difíceis condições de seus ambientes – seja no inóspito frio de Thule, ou nas extremamente isoladas ilhas tropicais de Tuvalu – ainda correm o risco de ser as primeiras vítimas do aquecimento global. Seus povos, em mais uma irônica tragédia, não têm responsabilidade alguma pelo processo. Sobre o que o mundo pode fazer a respeito desses e de outros povos ameaçados pelas mudanças climáticas, o suíço nos provoca com uma reflexão: “A questão não é ‘o que se pode fazer?’. A pergunta é, simplesmente, ‘nós queremos fazer alguma coisa?’. Pois, até o momento, nós decidimos todos os dias que não queremos fazer nada”.
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Além do fato de estarem na linha de frente dos efeitos da mudança climática no planeta, o que mais você acredita que conecta os povos, tão distantes entre si, como de Thule e Tuvalu?
Isso foi algo que não havia sido previsto por mim, porque eu os conectava, primeiramente, pelo fato de que estes serem alguns dos lugares mais sensíveis e expostos aos efeitos do aquecimento global. E o meu interesse não era apenas sobre as mudanças climáticas, era muito mais nos seres humanos e em suas condições. Então, eu estava muito interessado em filmar como eles viviam, pois quando você observa como as pessoas vivem, isso lhe faz refletir sobre sua própria vida – o que é algo que eu gosto em um filme: ele te convida a uma reflexão a sua própria maneira, sem te impor nada. Então, com o tempo, eu comecei a enxergá-los [os povos de Thule e Tuvalu] sendo muito próximos um do outro, e isso se deve, principalmente a duas coisas: uma são suas histórias. Ambos começaram sua história exatamente onde estão há 2 mil anos atrás. Os inuit chegaram ao norte da Groenlandia há dois mil anos, assim como os tuvaluanos se estabeleceram naquelas ilhas – e ninguém sabe como eles chegaram lá, é um mistério. Mas uma vez lá, eles desenvolveram suas habilidades de sobrevivência em condições extremamente difíceis.
Então esse é um ponto. O outro é a relação com a natureza. Eles conseguem sobreviver apenas por serem extremamente hábeis em ler e conversar com a natureza, em dialogar com os animais e com o clima, e se inserir nesse contexto. Então, os dois povos não apenas desenvolveram suas habilidades de sobrevivência, mas também desenvolveram uma espécie de compreensão de fazerem parte da natureza, de fazerem parte de uma coisa muito maior.
Além disso, suas vidas consistem em, basicamente, conseguir alimentos – que é algo que nós nos esquecemos. Nossa vida é sobre ser o melhor jornalista ou ser o melhor documentarista, sobre conseguir dinheiro. Então nós nos esquecemos que a vida é, em sua maior parte, sobre conseguir comida (risos). Nós não nos importamos mais com isso, nós apenas compramos [alimentos]. Inclusive, isso foi algo muito importante, pois seria muito difícil eu conseguir fazer esse filme se os dois povos vivessem de maneiras totalmente diferentes um do outro. Porque eu queria que o filme fosse apenas uma história, apesar de serem sobre dois lugares. E o fato de ambos possuírem tão similares necessidades e compreensão sobre a vida e a existência, me ajudou muito em fazer o filme como uma só história.
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Entre as muitas tragédias sobre a situação de ambos os povos, uma delas é o fato de eles não serem responsáveis por ela: sua taxa de emissão de gases estufa na atmosfera é praticamente nula, mas ao mesmo tempo, eles não aparentam culpar ninguém.
Eles não culpam, você está certo. Eles não fazem isso porque… (longa pausa) Essas pessoas são muito humildes e modestas, de certa maneira, mas ao mesmo tempo são orgulhosas. Como eu disse, eles conseguiram sobreviver em condições terrivelmente difíceis e eles têm orgulho disso. Esse é o mundo deles, essa é sua riqueza que possuem – eles sabem sobreviver com suas próprias capacidades junto à natureza.
Eles não estão em uma competição política [sobre as mudanças climáticas]: “esses são os malvados e esses são os bonzinhos” e eles não responsabilizam ninguém, especialmente os caçadores em Thule. O orgulho que eles possuem na vida é que são capazes de resolver qualquer problema que apareça em seus caminhos, pois do contrário eles morrem – e eles estão sempre prontos para morrer.
Mas culpar alguém seria, para eles, humilhante. Seria admitir que eles não são capazes de lidar com um problema. Como Lars (um caçador inuit de 71 anos), disse, “nós vemos que os animais se adaptam, então nós temos que nos adaptar também”.
E o mesmo ocorre em Tuvalu. Eles sabem o que é mudança climática, mas eles não estão em constante fluxo de informação. [Em Nanumea], eles não têm televisão, não têm jornal, possuem apenas um rádio. Então sua capacidade de ter notícias é reduzida e o estilo de vida que eles têm não é orientado por notícias. Eu não consigo viver sem notícias, mas eles não precisam. Eles precisam saber onde estão os peixes, como está o vento, se há nuvens se aproximando, e coisas assim. Essas são as “notícias” que eles precisam. Então eles não estão nessa [de responsabilizar outros] também.
Apesar das similaridades, é possível observar no filme um certo contraste: os inuit de Thule, como você disse, apenas seguem em frente não importa o que aconteça. Em Tuvalu acontece o mesmo, mas alguns deles ainda se agarram à religião, na esperança de que nada lhes aconteça, além do fato de terem um engajamento mais político junto à ONU, por exemplo para que o resto do mundo tome ações decisivas contra o aquecimento global.
A Groenlandia não é muito ativa politicamente, isso é verdade. E lá existe algo de diferente em relação a Tuvalu: suas perspectivas sobre a mudança climática são, vamos dizer, ambivalentes. Por um lado, [com o degelo] eles estão perdendo algo e eles não sabem o que esperar do futuro, por outro lado, eles têm uma chance de ficar extremamente ricos. Pois com o derretimento polar, novos recursos naturais podem se tornar acessíveis. Sim, isso pode significar muito dinheiro para o país, ou pode significar muitos problemas – se você olhar para a Nigéria, por exemplo, o petróleo, seu principal recurso natural, não tornou o país rico, apenas alguns nigerianos são ricos. E os inuit também não têm experiência com esses tipos de negociações.
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Então existe um medo sobre as mudanças climáticas, mas também existe uma certa esperança – o que não é o caso de Tuvalu. Basta ver o que aconteceu duas semanas atrás com o Ciclone Pam. (Ele para ler o e-mail que recebeu na noite anterior relatando toda a destruição que ocorreu na ilha de Nanumea). Então você vê, Patrick (um dos pescadores de Tuvalu), perdeu sua casa. Eu tenho certeza que ele irá reconstruí-la, mas quantas vezes mais ele terá de fazer isso e com que estado de espírito? Ele reconstrói sua casa, mas talvez dentro de alguns anos ou apenas semanas, eles são atingidos por outro ciclone.
É isso que está ocorrendo ali em Tuvalu, a mudança climática está acontecendo bem em cima deles. A questão é quando eles atingirão o limite onde eles sintam que aquilo é insuportável. Naquelas condições… para construir sua família e manter a coragem…
Durante o debate você disse que foi difícil conversar com eles sobre essas coisas, que eles tinham uma barreira…
É porque eles querem falar sobre a vida. Eles têm de viver, eles têm que arrumar comida todos os dias e para ter força e motivação é necessário ter uma atitude positiva. Então você não pode ficar falando o tempo inteiro sobre problemas, do contrário você não quer sair para caçar – e ser caçador é uma profissão muito difícil. Ela requer muita paciência, requer saber lidar com o fracasso, pois muitos tiros não são certeiros, e você não pode perder seu humor, senão você continuará não acertando nada. Então se você tem esses pensamentos ruins, como “eu estou perdendo minha existência”…se você sai da cama pensando isso, você não quer sair para caçar. Então eles têm de focar em suas necessidades, que são diárias.
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Eu acho que é por isso que eles tinham uma certa barreira em discutir essas coisas. Não era porque eles eram covardes ou cegos. Eles têm de viver, de sobreviver, de conseguir alimento, de estar de bom humor para suas crianças. Você não pode dizer a seus filhos, todos os dias, “oh, vocês não têm um futuro”. Eu vejo dessa maneira e por isso é bem delicado lidar com esses assuntos sem forçá-los a falar. Mas claro, isso pertence a essa profissão [de documentarista]. Você tem que sempre saber “ler” as pessoas e compreender quem são elas, como elas pensam e o que as deixa confortável ou inconfortável, e o porque disso. E isso não apenas por serem pessoas em uma condição vulnerável, quem quer que seja que você tenha em frente a sua câmera, é necessário observar cuidadosamente e abordar da maneira correta.
E eles te aceitaram em suas vidas, como você os seguindo nas caças em Thule.
Bem, nós tivemos que pagar. Nós sempre pagávamos quando os estávamos filmando. Mas eles ficavam felizes quando os seguíamos nas caças, porque sim, eles ganhavam um pouco de dinheiro, mas nós sabíamos que eles gostavam de nós. Eles entenderam o que estávamos fazendo e eles gostaram muito da ideia de relatar o que estava acontecendo tanto em Thule, como em Tuvalu – e eles também estavam muito curiosos sobre Tuvalu. Toda vez que eu estava lá [em Thule], fazendo minhas pesquisas, eu perguntava o que eles queriam que eu trouxesse da próxima vez (risos). Então alguns deles me pediam alguns instrumentos tecnológicos que eles não tinham. Lars me pedia cigarros e Rasmus me pediu por uma pedra coral de Tuvalu. Eu trouxe uma e ele ficou muito, muito feliz. Ele realmente queria estar conectado com os tuvaluanos.
Como está sendo a repercussão do seu filme?
Até o momento muito boa. Em Thule eles gostaram muito, assim como o governo [da Groenlandia]. Eles assistiram o filme e ficaram muito orgulhosos. O governo de Tuvalu colocou imediatamente o pôster do filme em seu site oficial. Os dois primeiro-ministros se conheceram em uma conferência sobre o clima em Nova York por causa do filme, eles ainda não se conheciam. Então ambos os representantes na ONU organizaram uma exibição do filme na sede da organização em Nova York para todos os diplomatas da ONU, então eles estão muito felizes que esse filme exista, pois mostra algo que ainda não havia sido mostrado. Há muitas pessoas fazendo relatos sobre as mudanças climáticas [em Thule e Tuvalu], mas elas geralmente o fazem de maneira científica ou em um nível estatístico. Nada havia sido feito em nível pessoal, até então. Por isso eles se sentem muito bem representados nesse filme, dentro de seus ambientes e com seus pensamentos.
Como o mundo pode fazer algo para Thule e Tuvalu?
Eu conscientemente não abordei essa questão. Eu só queria fazer uma descrição da situação dessas pessoas, pois todas as outras questões – quem é responsável, quem é culpado, o que podemos fazer – nós temos todos os dias na mídia e todos nós já sabemos. Então, eu não queria focar nisso, pois senão se tornaria um filme ativista e não era isso que eu queria fazer. Eu queria um filme mais reflexivo e poético.
Eu acho que a questão não é “o que se pode fazer?”. A pergunta é, simplesmente, “nós queremos fazer alguma coisa?”. Pois até o momento, nós decidimos todos os dias que não queremos fazer nada. Todo mundo sabe o que deve ser feito, há muito tempo e em muitos detalhes, o problema é que nós não queremos fazer nada. Muitas pessoas assistem o filme e dizem, “oh, essas pobres pessoas em Thule e Tuvalu”. Mas aí eu pergunto: quem é que quer reduzir o seu consumo de gasolina, quem está pronto para deixar de lado seus carros, em viajar menos e outras coisas do tipo?

http://outraspalavras.net/destaques/em-thuletuvalu-as-primeiras-vitimas-da-mudanca-climatica/