Páginas

11.26.2014

Atlas do IDH: o Brasil é um exemplo!

A desigualdade entre as metrópoles diminuiu. Por causa dos programas sociais !
Alisson Matos, editor do Conversa Afiada -sociedade e qualidade de vida
Árvore do IDHM compara os anos 2000 e 2010 (Foto: Reprodução)

As regiões metropolitanas de posição mais baixa no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal  foram as que mais cresceram entre os anos 2000 e 2010.

Com isso, o Brasil reduziu, em dez anos, pela metade, a desigualdade entre as regiões metropolitanas.

Entre São Paulo (SP) e Manaus (AM), respectivamente melhor e pior colocadas no IDHM, a porcentagem da desigualade caiu de 22,1% para 10,3%.

É o que aponta o relatório “Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras”,  que foi lançado nesta terça-feira (25) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro.

“O Atlas das Regiões Metropolitanas mostra como o Brasil está avançando. A ênfase da pesquisa é local e pode ajudar no desenvolvimento de políticas públicas”, afirmou Marcelo Neri,  Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Segundo a analise, as disparidades entre as 16 regiões metropolitanas estudadas diminuíram e todas estão na faixa de alto desenvolvimento humano.

São Paulo (0,794), Distrito Federal e Entorno (0,792), Curitiba (0,783), Belo Horizonte (0,774) e Vitória (0,772) são as regiões que apresentaram os melhores resultados para o IDHM em 2010.

Embora a distância tenha diminuído e todas tenham melhorado, as regiões metropolitanas de mais baixo índice em 2000 são as mesmas dez anos depois: Manaus (0,720), Belém (0,729), Fortaleza (0,732), Natal (0,732) e Recife (0,734).

A diferença é que, em 2000, somente São Paulo tinha índice de desenvolvimento humano alto. Manaus tinha baixo e as outras regiões, médio. Agora, todas passaram a ter IDHM alto.

De acordo com o documento divulgado hoje (25), as políticas públicas do Governo brasileiro foi a principal causa dessa redução.

“Foram adotadas políticas anticíclicas eficientes, políticas públicas ativas de diminuição da desigualdade, de transferência de renda condicionada e de superação da pobreza e da pobreza extrema. O fato é que o Brasil de hoje ainda luta para superar um passivo histórico que é resultado de décadas de descaso com o desenvolvimento humano. Mas já é possível perceber melhoras significativas no cotidiano”, observa o texto.

O IDMH é composto de três variáveis: longevidade, renda e educação, que foi a que mais avançou.

O indicador é um número que varia entre 0 a 1: quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano de um estado, município ou região metropolitana.

As regiões avaliadas foram Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Distrito Federal, Fortaleza (CE), Goiânia GO), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Luís (MA), São Paulo (SP) e Vitória (ES).

O avanço na Educação

No ano 2000, os índices de maior diferença em Educação estavam entre as regiões metropolitanas de São Paulo (0,592) e a de Manaus (0,414). Passados dez anos, as maiores disparidades se encontram entre São Luís (0,737), que aparece à frente, e Manaus (0,636), ou seja a diferença diminuiu para 15,9% agora, já que antes era de 43%.

“Para além de evidenciar o fato de que o país ainda tem um caminho a percorrer na redução das desigualdades em suas cidades, a intenção do Atlas é justamente ajudar no estabelecimento de políticas inclusivas que tenham como fim a melhoria das condições de vida das pessoas”, disse o representante do Pnud no Brasil, Jorge Chediek.

Em relação ao IDHM Longevidade, o maior índice é o da região do Distrito Federal e entorno, com 0,857. O DF lidera também no IDHM Renda, com 0,826.

Em 2000, as Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e de Porto Alegre apareciam entre as cinco com maior Índice de Desenvolvimento Humano. Em 2010, entraram em seus lugares o DF e a região metropolitana da Grande Vitória.

Brasil como exemplo

O levantamento ainda analisou 9.825 Unidades de Desenvolvimento Humano (UDHs), áreas menores que bairros nos territórios mais populosos e heterogêneos, mas iguais a municípios inteiros quando estes têm população insuficiente para desagregações estatísticas. Em casos de extremidade, na mesma região metropolitana há UDHs com renda domiciliar per capita mensal de quase R$ 7,9 mil, enquanto em outras  o valor não ultrapassa a R$ 170.

A esperança de vida ao nascer varia, em média, 12 anos dentro das RMs. Se consideradas todas as mais de 9 mil UDHs pesquisadas, das 16 RMs analisadas, o melhor dado corresponde a 82 anos, enquanto o mais baixo é de 67 anos. São 15 anos de diferença em termos de expectativa de vida ao nascer.

Na divulgação dos dados, Neri ressaltou que tanto a renda quanto o Produto Interno Bruto (PIB) subiram mais no Nordeste do que no resto do país, na última década.  “É verdade que as regiões com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) são as do Norte, do Nordeste, mas existe uma desigualdade dentro das regiões bastante grande. A boa notícia é que ela está em queda”, confirmou.

O relatório conclui que o Brasil é “um exemplo bem-sucedido” na redução de vulnerabilidades.
http://contrapontopig.blogspot.com.br/2014/11/contraponto-15438-atlas-do-idh-o-brasil.html

O que falta no Brasil são nacionalistas

por Marco Aurélio Mello - sociedade e poder

Do Facebook 25//11/2014"O que falta ao Brasil são nacionalistas." A frase saiu da boca de um libanês radicado aqui há mais de 60 anos. Confesso que fiquei assustado. Sempre tomei nacionalismo como palavrão, associado a regimes políticos fundamentados no ódio, no arbítrio e na exceção. Afinal, o nacionalismo serviu de base para o fascismo, para o nacional-socialismo alemão que desaguou no nazismo e que também fincou raízes aqui, com o integralismo.
O libanês, por sua vez, tomava como parâmetro pessoas que lutaram pela libertação de países próximos à realidade dele, e baseado ao certo em sua experiência de imigrante, forçado a deixar pequeno com a família seu país de origem, o Líbano. Sua história de vida permitiu que ele passasse a admirar em particular dois nomes: Gamal Abdel Nasser (15/01/1918 - 28/09/1970), primeiro-ministro do Egito e responsável pelo fim da dominação Franco-Britânica e o indiano Mahatma Gandhi (02/10/1869 - 30/01/1948), o maior líder revolucionário pacifista da história da humanidade, depois de Jesus Cristo.

Portanto, o conceito de nacionalismo forjado por meu interlocutor ía muito além das minhas amarras históricas limitadas pelos livros. Conceito que virou pergunta, depois que li o artigo do empresário e economista Ricardo Semler na Folha de São Paulo, na semana passada. Um texto que captura um "espírito do tempo" e propõe um novo paradigma logo no título, que vem a ser sua tese central: Nunca se roubou tão pouco no Brasil. Seria Semler um desses nacionalistas em falta no Brasil, aos quais se referia o libanês?

Afinal, o artigo partira de alguém cuja ficha de filiação partidária leva rubrica de nada mais, nada menos, do que a cúpula do tucanato, partido de oposição ao Governo de turno e que levou a guerra pelo poder às últimas consequências nas eleições deste ano. Ao se posicionar em favor da Petrobras, alvo de um "escândalo sem precedentes", muitos consideraram Semler como mais um desertor. Se é assim, que o empresário serre suas fileiras ao lado de outros traidores, como Luiz Carlos Bresser-Pereira, Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ives Grandra Martins e Claudio Lembo.

A menção ao "quarteto dissonante" é necessária. Todos eles levantaram suas vozes contra o golpismo midiático, sempre pela legalidade, pedra de toque de qualquer Estado dito republicano, pelo combate às profundas desigualdades sociais, fundamental para a consolidação de democracias modernas, e também por transcenderem o debate superficial imposto pela mídia: se neoliberalismo ou "bolivarianismo".

Aliás, minha ignorância não permitia alcançar que o termo bolivarianismo também tem raízes no nacionalismo, sentimento que emerge de quando em quando, sempre associado a mudanças, seja de modelo econômico, político ou mesmo social. Se foi assim na Europa pós-medieval quando da ascensão da burguesia, não foi diferente nas lutas de libertação da América Latina, nos tempos das colônias de exploração, com Bolívar, nem na África de Mandela, nem na Índia de Gandhi, nem no Oriente Médio de Nasser...

O nacionalismo a que se refere nosso amigo libanês ali de cima certamente tem a ver com identidade nacional. Esta mesma identidade que os sulistas rejeitam, quando manifestam publicamente o desejo de que nordestinos e nortistas devam ser queimados vivos no fogo do inferno.

Para voltar ao tal quarteto e recuperar nossa memória de tão curto prazo, Bresser-Pereira foi fundador do PSDB, ex-ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso que, com coragem, anunciou em setembro último seu voto em Dilma, para espanto de seus pares. Seus critérios de escolha?

Fundamentalmente dois: "quanto o candidato está comprometido com os interesses dos pobres, e quão capaz será ele e os partidos políticos que o apoiam de atender a esses interesses, promovendo o desenvolvimento econômico e a diminuição da desigualdade."

Outro a assombrar o ninho tucano, também em setembro, foi Luiz Carlos Mendonça de Barros. Ele teve a petulância de escrever na Folha de São Paulo às vésperas do pleito que a ideia de associar o Brasil à Argentina e à Venezuela era uma grande bobagem. "A recessão que estamos vivendo é fruto de um ajuste natural e benéfico de nossa economia." O texto desmontou a tese em construção pela mídia de que o Brasil passava por uma "venezualização" ou "argentinização". No primeiro caso, pelo suposto abuso do controle do Estado sobre a sociedade e, no segundo, pela briga de Cristina Kirchner com os credores internacionais quando do anúncio da reestruturação da dívida do país vizinho.

Já Cláudio Lembo, filiado ao PSD, e ex-governador de São Paulo, é aquele que no poder cunhou a célebre expressão “elite branca”, para nomear os "pobres paulistas" tão cheios de ira. Pobres paulistas... Ira... Captou? Disse Lembo à época: “Temos uma burguesia má, uma minoria branca perversa”. Hoje, ele acusa o tucanato de não estar a serviço do Brasil. “Eles estão mais preocupados em servir a interesses de grandes grupos econômicos do que com a manutenção de programas sociais”. Mais recentemente Lembo chamou os legalistas de plantão para por um basta na mais recente tentativa de golpe que se forja, via STF.

Outra manifestação de civilidade republicana relativamente recente veio de Ives Gandra Martins, um advogado e professor especializado em "planejamento tributário". Traduzindo: sonegação fiscal legalizada. Técnica de encontrar brechas na lei para grande grupos econômicos arrecadarem menos.

Afinal, é sempre bom lembrar, quem paga muito imposto ou é pobre, ou de classe média, classe média que se inspira nos ricos das novelas, aceita doses cavalares de telejornais sanguinolentos e consome intervalos comercias cheios de glamour. Quanto tempo gasto diante da TV...

Gandra teve a insensatez de, no ano passado, acusar o STF de condenar José Dirceu sem provas, para desespero de seus iguais, na mídia e fora dela. Segundo ele, um dos alicerces do direito, o de que a dúvida é sempre em favor do réu, foi simplesmente jogado no lixo. O jurista foi duro ao criticar a adoção de uma teoria que não é aplicada nem mesmo em seu país de origem, a Alemanha: a do domínio do fato, que isenta a Justiça da necessidade de se produzir prova de materialidade antes de se condenar qualquer réu.

Portanto, pelo menos pela pequena amostra acima, acho que não faltam nacionalistas no Brasil. Eles estão bem vivos e abrem boas possibilidades de diálogo, à direita ou à esquerda do espectro político-ideológico. São homens que podem enxergar a floresta em vez da árvore e que pensam o país como nação, como um todo integrado, muito além do individualismo egoísta e preconceituoso da grande maioria. E promovem um debate de nível mais elevado ao buscar responder à seguinte questão: o que queremos para o futuro do nosso país, dependência ou soberania?
 
Marco Aurélio Mello.
Jornalista na empresa Mello e Moreira de Mello Ltda.Atual: Mello e Moreira de Mello e Rede Record
http://contrapontopig.blogspot.com.br/2014/11/15441-o-que-falta-ao-brasil-sao.html