Páginas

10.03.2016

O país só sairá da crise política através da resistência popular



  • O efeito do golpe de 2016 e a vitória da mídia que desequilibra o jogo político: eleições municipais de São Paulo assume seu lado mais difícil

por Wellington Fontes Menezes*, para blog sub21 - Sociedade e Poder no Brasil (fonte no final)
acelera-spA administração pública mudou radical hoje em São Paulo. No golpe de estado que vive-se no país, o candidato escolhido pelo governador paulista, Geraldo Alckmin, o milionário João Dória é eleito prefeito. Vamos refletir esse fato para a vida paulistana e o que representa para o país.
A pergunta que se faz é: quem é João Dória? Dória é um ilustre desconhecido que sequer vive de forma normal no país, não sabe quantos bairros tem na cidade, exceto os Jardins, onde ele tem seu casarão. Com uma campanha milionária e desproporcional com relação aos seus concorrentes, o poder da máquina paulista do governador Alckmin e uma imprensa que é bem paga para impor o domínio midiático sobre a população, Dória passou de um desconhecido para um (des)conhecido eleito prefeito da maior cidade do Brasil!
Dória que após ter comprado votos para se eleger em seu próprio partido, o PSDB e criar uma divisão interna, com uma curta campanha eleitoral imposta pela legislação eleitoral criada pelo ex-presidente do Congresso Nacional, Eduardo Cunha, o mesmo deputado que conseguiu impor o impecheament, recebeu votos que talvez não esperava, de uma massa dominada pela grande mídia que elege-o em primeiro turno. A mesma massa que Dória, o “grã-fino” dos Jardins, não gosta! Resumindo, Dório é quase um completo ignorante político e um corrupto das falcatruas lobistas da calada da noite.
Quem votou de fato no candidato de Alckmin sequer tem ideia quem é Dória! Um voto no escuro teleguiado pela mídia que domina e tem ódio do PT. O sempre sorridente Dória, sabedor declarado de que nada melhor do que um bom caviar e champanhe francesa feita com as melhores parreiras, não passa de um descendente típico da herança colonial paulista, cujas suas empresas muito pouco produzem, mas lucram com lobby e tráfico de influência. É o tipo paulistano da “alta sociedade” que fica o mais longe possível dos humildes, cospe na cara deles, sem pudor algum… Tudo que os que fizeram propaganda dele foi maquiar o produto (propaganda enganosa) e dizer o slogan: “João é trabalhador”. Qual trabalhador? O grande engodo é que, exceto a labuta em participar de festas colossais para milionários, Dória precisou trabalhar muito pouco na vida!
Com a campanha da mídia, abriu-se espaço para os partidos que protagonizaram a derrubada da presidenta Dilma se consagrasse em um espetáculo de baixo nível político em quase todas as regiões paulistanas. Dória foi o líder do movimento da elite brasileira chamado “Cansei”, visando derrubar o governo Lula em 2007 . Lembrando que foi o foco do movimento anti-PT da elite na derrubada do governo Dilma em 2015 e 2016, como as marchas anti-PT na Avenida Paulista, sendo o principal ponto de irradiação no país a cidade de São Paulo.
Dória agiu em favor do PSDB, prometeu que irá vender tudo que for possível e derreter o patrimônio público, com propostas de campanha absurdas, tal como por exemplo prometer aos humildes consultarem-se em “postos móveis” às madrugadas dentro de caminhões, a população mais carente paulistana irá certamente sentir como a elite age.
A campanha política de ilusão e farsa, é marca principal da retórica de manipulação de massas imposto no país: a negação da política. O político (sic) chega de paraquedas em uma prévia partidária, compra votos para se eleger, aproxima-se do atual governador, gasta muito dinheiro na campanha eleitoral, manda publicar pesquisas forjadas nos principais meios de comunicação da cidade e, além disto, é suspeito de mandar pichar monumento histórico público somente para atacar o atual prefeito e, como propaganda enganosa, diz que não é “político”?
Fato que deve ser destacado é a formação política média da população paulistana, principalmente os mais humildes das periferias, que foram manipulados, e a desconstrução e distorção sistemática da grande mídia da idéia de política na vida pública, por parte da população. Além disto, o que chama atenção é o número de abstenções, nulos e votos em branco é superior ao número do prefeito eleito. Propaganda enganosa se alimenta do analfabetismo político e o desprezo da democracia para vingar em uma sociedade.
As classes mais humildes, que sempre foram mais simpáticas às candidaturas populares, demonstraram nas urnas uma espécie de ingratidão das conquistas mínimas alcançadas e promovidas pelo partido do atual prefeito paulistano e, canalizadas pela política enganosa da mídia, parecem ignorar o futuro melhor, submetendo-se em servidão às elites e a violência cotidiana imposta pelo grande aparato de opressão da elite cruel e impiedosa. O arrependimento virá logo mais, com as agressões policialescas, desemprego, e pessimismo.
Nada mais convincente à população que a intensificação da política de propaganda enganosa. Quanto a isto, as esquerdas não consegue fazer leitura da conjuntura, para poder atuar perante a sociedade neste momento político dominando pelas forças conservadoras. Diante da situação, o que as esquerdas, em São Paulo, agora irão fazer? O futuro é algo muito difícil de prever!
A percepção de como a elite venceu em São Paulo e a prova que “humilde de direita”, dominado por uma mídia sem contraponto ou concorrência, é o fenômeno que mais causa dano a qualquer democracia que busca se libertar do domínio. São Paulo é o carro-chefe da elite à brasileira e isto jamais poderá ser desprezado perante o futuro, que está se formando, após a consolidação do impecheament da ex-presidenta. Sim, estamos todos sujeitos a tempos duríssimos, que hoje ocorre no Brasil.
A vitória do pacto entre a grande mídia e Alckmin é a certeza que o projeto do governador será levado a cabo até a eleição do novo presidente em 2018. Se a elite aumentar o seu domínio, haverá ainda mais pressão sobre a população, como ocorreu na política brasileira anterior ao governo Lula. É um enorme risco que corre-se atualmente e a nação poderá se livrar desses males, através da firme e positiva resistência popular.
* Wellington Fontes Menezes (e-mail: wfmenezes@uol.com.br): doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Bacharel e licenciado em Física pela Universidade de São Paulo (USP). Professor Universitário e da Rede Pública do Estado de São Paulo.
http://www.sul21.com.br/jornal/o-rescaldo-do-golpe-de-2016-e-a-vitoria-do-analfabetismo-politico-eleicoes-municipais-de-sao-paulo-assume-seu-lado-mais-perverso-e-fascista-por-wellington-fontes-menezes/