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9.21.2023

A verdade sobre o PIX e as entranhas desses pagamentos digitais que não se fala

A falácia do PIX e os lucros dos pagamentos revelados

 por Esmael Morais em seu blog – Sociedade e O Mercado é um Cassino que Não Pode Falir

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Figura: a falácia do PIX e os mistérios dos pagamentos digitais 





Durante as eleições presidenciais de 2022, o candidato derrotado alardeava ser o criador do PIX.

Através deste texto, procura-se desvendar as pequenas letras por trás desse método de pagamento bancário instantâneo, de uma forma que poucos escreveram sobre o mercado financeiro privado e público.

É um processo bancário que poucos conseguem entender.

Imagine alguém pegando uma nota de cinquenta reais para pagar suas compras em uma mercearia próxima.

O dono da mercearia, por sua vez, utiliza a mesma nota para adquirir produtos de um vendedor de sorvetes.

O sorveteiro, por sua vez, repassa a mesma nota ao posto de gasolina para abastecer seu veículo.

Após 20 ou 30 transações financeiras, a nota de cinquenta reais continua valendo exatamente o mesmo valor.

Agora, se em vez de usar dinheiro vivo, você opta por pagar o dono da mercearia com um cartão de crédito ou débito. Assim, uma porcentagem é destinada ao banco ou que os economistas gostam de dizer spreed.

O mesmo ocorre quando o dono da mercearia efetua o pagamento ao padeiro com cartão, e assim por diante.

Após 20 ou 30 transações realizadas com cartões, os cinquenta reais simplesmente desaparecem das mãos das pessoas, migrando inteiramente para o sistema bancário, através dos spreed’s.

Portanto, há uma evidente concentração de renda nas mãos dos poucos banqueiros ou sistema financeiro, se preferir ou o tal do mercado.

Isso nos explica por que os bancos estão tão ansiosos para eliminar o dinheiro em espécie e digitalizar tudo.

Além desta ciranda ou que alguns agora chamam de pirâmide, os bancos com os pix’s conseguem diminuir o pessoal, pois as transações bancárias ou pagamentos são totalmente digitais, diferente da circulação de dinheiro que obrigatoriamente tem que passar nas mãos das pessoas, além da economia dos bancos em segurança.

Agora, voltando ao PIX…

De acordo com o Banco Central, o PIX movimentou R$ 10,9 trilhões em 2022.

Ou seja, meia dúzia de banqueiros podem ter lucrado entre 330 e 500 bilhões de reais do montante movimentado.

A título de comparação, os orçamentos da saúde e da educação para este ano somam apenas 300 bilhões de reais.

Revelando as intrincadas taxas do PIX

O PIX, em sua maioria, oferece transferências gratuitas.

No entanto, há situações em que os bancos podem impor taxas sobre essas transações.

Desde 2020, o Banco Central autoriza tal cobrança, deixando para as instituições financeiras a definição das regras e valores.

Quando pode haver cobrança?

Pessoas jurídicas são o principal alvo.

A taxação pode ocorrer tanto ao realizar quanto ao receber um PIX, pois a transação é categorizada como uma compra.

O Banco Central não estipula uma tarifa fixa ou um limite, deixando a cargo dos bancos determinar o quanto e se vão cobrar.

Por outro lado, pessoas físicas, micro-empreendedores individuais (MEIs) e empresários individuais (EIs) podem realizar ou receber PIX gratuitamente.

A cobrança entra em vigor apenas se a pessoa:

1.      Optar por atendimento presencial (incluindo telefone) quando meios eletrônicos estiverem disponíveis para efetuar o PIX;

2.      Receber mais de 30 PIX por mês (a cobrança inicia a partir do 31º);

3.      Receber PIX por meio de um código QR dinâmico;

4.      Receber PIX por meio de um código QR de pessoa jurídica;

5.      Receber PIX em uma conta definida em contrato como de uso estritamente comercial.


Abaixo, você confere os custos das transferências PIX para pessoas jurídicas em sete das principais instituições financeiras do Brasil:

Bradesco: O Bradesco cobra tarifas de pessoas jurídicas conforme determinado pelo Banco Central. Os valores podem ser encontrados no site do banco e nas agências.

·         Envio de PIX: 1,4% do valor transferido (mínimo de R$ 1,65, máximo de R$ 9)

·         Recebimento de PIX: 1,4% do valor recebido (mínimo de R$ 0,90, máximo de R$ 145)

Itaú Unibanco: O Itaú aplica tarifas diferentes para transferência e recebimento de PIX por pessoas jurídicas.

·         Envio de PIX: 1,45% do valor transferido (mínimo de R$ 1,75, máximo de R$ 9,60)

·         Recebimento de PIX: 1,3% do valor recebido (máximo de R$ 150 para transações nas maquininhas ou QR code estático; para QR code dinâmico, há um mínimo de R$ 1).

Assim como no BB, os clientes PJ do Itaú têm direito a uma quantidade limitada de transferências gratuitas via PIX, variando conforme o perfil da conta.

O banco destacou que as tarifas “são aplicadas apenas às empresas e não sofreram aumento desde sua implementação no final de 2020.”

Nubank: No Nubank, as transações via PIX são gratuitas para pessoas jurídicas.

PagBank: As transferências via PIX no PagBank, do Grupo UOL, também são gratuitas para pessoas jurídicas.

Santander: O Santander cobra tarifas de pessoas jurídicas, exceto MEIs e EIs, quando realizam PIX. MEIs e EIs são sempre isentos de tarifas para enviar ou receber PIX por meio de um QR Code estático. Quando há cobrança, os valores variam de acordo com a natureza da transferência e o tipo de QR code utilizado (se aplicável).

·         Envio de PIX: 1,4% do valor transferido (mínimo de R$ 1,75, máximo de R$ 9,60)

·         Recebimento de PIX via QR code estático ou dinâmico: R$ 6,54

·         Recebimento de PIX via Checkout ou GetNet: 1,4% do valor recebido (mínimo de R$ 0,95) 

Caixa Econômica Federal: Tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem realizar ou receber PIX gratuitamente no banco. A cobrança de tarifas por parte de pessoas jurídicas, inicialmente prevista para 19 de julho, foi suspensa por decisão de Lula. O banco alegou que a decisão de cobrar pelo serviço estava planejada desde o ano anterior, mas não foi implementada devido à necessidade de ajustes nos sistemas internos.

Banco do Brasil: Clientes pessoas jurídicas (exceto MEIs e EIs) podem ser tarifados toda vez que efetuam um PIX manualmente ou por chave PIX. Todas as contas PJ do BB incluem um número limitado de transferências PIX gratuitas, variando de três a 20 PIX por mês, dependendo do tipo de conta. Além desse limite, as taxas são as seguintes:

·         Envio de PIX: 0,99% do valor transferido (mínimo de R$ 1, máximo de R$ 10)

Recebimento de PIX: 0,99% do valor recebido (máximo de R$ 140)

É importante destacar que o Banco Central definiu um limite de 30 transações gratuitas para MEIs e EIs, após o qual tarifas podem ser aplicadas.

Através de uma velha expressão popular é lembrado ao usar o PIX, cartão de crédito ou cartão de débito:

Não existe essa coisa de almoço grátis“.

Moral do PIX : é uma enganação sem igual, uma picaretagem no mercado financeiro, que atenta contra a economia popular, além de possibilitar a apropriação do dinheiro pelos bancos privados e públicos.

Publicado no blog do Esmael:  9 de setembro de 2023

Fonte: https://www.esmaelmorais.com.br/a-verdade-sobre-o-pix-e-os-pagamentos-online-que-ninguem-nunca-te-contou/

 

9.12.2023

Drogas: sociedade brasileira deve aprender que é um caso social e não policial

 Quem lida com pessoas em situação de rua precisa ter capacitação pedagógica. Saber encará-las em sua dignidade, em seus direitos humanos, em sua condição de filhos e filhas da natureza. É preciso ter paciência, saber escutar, deixar que cada um conte a sua história de vida familiar e profissional, e expresse seus sonhos e desejos”, fr. Betto

por Frei Betto[1] no site fr Giovander Moreira – Sociedade e Brasil Fracassa na Justiça e na Policia Quanto a Política das Drogas

Drogas_imagem na internet

       Várias cidades brasileiras já contam com redutos onde os usuários de crack se reúnem – as Cracolândias. Na capital paulista, se situa na região central. Em Brasília, no “Buraco do Rato”, no Setor Comercial Sul. Em Fortaleza, no bairro Moura Brasil.

       Em São Paulo, onde moro, chega a reunir cerca de duas mil pessoas por dia. A Unifesp constatou, em pesquisa recente, que 43% dos usuários ali se encontram devido a conflitos familiares; 9,5%, violência doméstica; e 7%, extrema pobreza.

       Tanto a prefeitura paulistana quanto o governo estadual já tentaram várias medidas para erradicar a Cracolândia. Todas ineficazes. É fato que os usuários prejudicam o comércio local, dificultam a circulação de moradores e veículos, sujam as ruas. 

       Como o capitalismo adota a lógica analítica e, portanto, só atua sobre os efeitos dos fenômenos, as medidas tomadas pelo poder público são sequer paliativas. Uma delas é o combate ao tráfico de drogas, que só serve para enxugar gelo. Se a repressão ao narcotráfico funcionasse, os EUA não seriam o maior mercado mundial de consumo de drogas ilícitas. Segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, durante a pandemia, em um ano, mais de 100 mil usamericanos morreram de overdose.

       Sou a favor da descriminalização das drogas e da liberação de seu uso controlado, desde que todo o processo, da fabricação ao consumo, esteja sob administração da saúde pública e tenha, por objetivo, livrar o usuário da dependência e erradicar o narcotráfico, fr Betto. 

       Quero aqui, entretanto, retomar o que falei para cerca de 1.500 profissionais do SUAS (Serviço Único de Assistência Social), em Salvador, dia 14/8, no 23º Encontro Regional Nordeste de Colegiados de Secretários(as) Municipais da Assistência Social (Congemas).

       Uma das medidas equivocadas adotadas pelo poder público de São Paulo foi alocar usuários em hotéis. Ora, essa gente vive na miséria. E precisa de dinheiro para alimentar o vício. Resultado: os hotéis foram depredados, pois arrancaram as pias dos banheiros, as lâmpadas do teto, as cadeiras do quarto, para vender e obter recursos. Tivessem as autoridades um pouco mais de conhecimento da história da assistência social, saberiam que na década de 1950, na Cruzada São Sebastião, no Rio, moradores de favelas, trasladados para prédios no Leblon, “depenaram” os apartamentos para fazer dinheiro.

       Qual a solução? Uma delas reside no fator pedagógico, no resgate da autoestima dos frequentadores da Cracolândia. Como eles são tratados pela polícia? Como indesejados, viciados, vagabundos e nojentos. E pelos comerciantes e vizinhos? Do mesmo modo que a polícia os trata, como estorvo. Como são tratados pela assistência social? Como anônimos, invisíveis, meros objetos desprezíveis de um trabalho burocrático?

       Aquele é um aglomerado de pessoas. Ali, cada ser humano tem um nome, parentes, história de vida. Não merece ser encarado como mero “viciado” ou, como canta Chico Buarque, “E tropeçou no céu como se fosse um bêbado / E flutuou no ar como se fosse um pássaro / E se acabou no chão feito um pacote flácido / Agonizou no meio do passeio público
/ Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego.” 

       Se eles se drogam é porque não suportam a própria realidade – como acontece a todo dependente químico. Todo viciado em drogas é um místico em potencial. Alguém que descobriu a verdade: a felicidade é uma experiência subjetiva. Não resulta da soma de prazeres, como tenta nos convencer a sociedade de consumo. Nem da conta bancária gorda ou dos títulos que a pessoa ostenta (e a eles se agarra como carrapato na pele), pois, ao perder os títulos ou a função, a pessoa entra em depressão por não ter suficiente autoestima. Ela necessita de adornos para fazer reluzir sua presença no mundo, como inúmeros políticos.  Raros os que, como Fidel Castro, têm a ousada humildade de determinar, em seu testamento, a expressa proibição do uso de seu nome em ruas e avenidas, universidades e hospitais, estátuas, placas e monumentos. 

       A diferença entre o místico e o viciado é que o primeiro entra pela porta do Absoluto e o segundo, pela do absurdo. 

       Quem lida com pessoas em situação de rua precisa ter capacitação pedagógica. Saber encará-las em sua dignidade, em seus direitos humanos, em sua condição de filhos e filhas da natureza. É preciso ter paciência, saber escutar, deixar que cada um conte a sua história de vida familiar e profissional, e expresse seus sonhos e desejos.  Somente através desse processo “terapêutico”, essencialmente paulofreiriano, é possível ajudá-los a tomar a iniciativa de se submeter a tratamento, abandonar o vício e mudar de vida.

       É graças à autoestima que uma pessoa se sente feliz e realizada, seja faxineiro, astrofísico, operador de máquina ou porteiro de prédio. Ela necessita emergir da invisibilidade, se sentir socialmente reconhecida, útil, enfim, cidadã. A política do descarte e da repressão só agrava o sentimento de revolta e humilhação.

       As Cracolândias não podem ser tratadas como caso de polícia, e sim como caso de política social.

[1] fr Betto, Escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual – freibetto.org

Publicado no site fr Giovander Moreira: 12.set.2023

Fonte: http://gilvander.org.br/site/cracolandia-e-subjetividade-por-frei-betto/