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7.31.2017

IBGE: pesquisa mostra Brasil mais rural do que o imaginado

A publicação, com base em dados de 2010, propõe uma discussão sobre os critérios até então utilizados na delimitação do território nacional, de forma a aprimorar o Censo Demográfico de 2020, para oferecer à sociedade avanços na diferenciação das áreas rurais e urbanas, de modo a "subsidiar a implementação de políticas públicas e o planejamento em geral no país".
Na proposição da nova topologia a ser utilizada para caracterizar os dois espaços, que adota nova metologia, a população urbana cai nestes sete anos da data base dos dados utilizados dos 84,4% que vigorava na metodologia até então utilizada para 76%, concentrados em 26% dos municípios. Já 60,4% dos municípios existentes enquadrados como rurais concentram apenas 17% da população total do país.
A nova topologia para a caracterização dos espaços urbanos e rurais leva em conta a densidade demográfica, a localização em relação aos principais centros urbanos e o tamanho da população. Esses são, na avaliação do IBGE, "os critérios fundamentais da metodologia, que, no entanto, ainda está em debate.
A partir do cruzamento dessas variáveis, os municípios se classificariam em cinco tipos distintos, o urbano, o intermediário adjacente, o intermediário remoto, o rural adjacente e o rural remoto.
Censo 2020
Pelos critérios atuais, o espaço urbano é determinado por lei municipal, sendo o rural definido por exclusão à área urbana. Nesta classificação, o Brasil tem, de acordo com o Censo 2010, 84,4% da população vivendo em áreas urbanas e 15,6%, em zonas rurais.
Ao propor a discussão sobre os critérios hoje utilizados na delimitação do território nacional, o IBGE mira o aprimoramento da divulgação dos dados do Censo 2020 "de modo a que a publicação dele advinda possa oferecer à sociedade avanços diferenciados de áreas rurais e urbanas que possam servir de base para a otimização de políticas públicas e do planejamento privado".
O coordenador de Geografia do IBGE, Claudio Stenner, enfatiza, no entanto, que a nova metodologia não vai substituir a utilizada atualmente e que "o IBGE vai continuar a delimitação legal de urbano e rural".
"O objetivo é que no Censo 2020 se tenha mais de um tipo de classificação, oferecendo um dado melhor qualificado em termos de recortes territoriais e uma informação estatística mais aderente à realidade, para subsidiar políticas públicas e planejamento em geral".
Ele ressalta, ainda, a importância da participação da sociedade e de outras instituições no debate para que o estudo tenha desdobramentos concretos para o Censo 2020: "Temos que ter esse debate com a sociedade, é um tema tão relevante, tão fundamental, que não podemos lançar um documento sem promover o diálogo. A partir do ano que vem, pretendemos nos reunir com alguns ministérios para avançar e formalizar esse debate com o Estado brasileiro".
Segundo o IBGE, a nova metodologia aplicada está alinhada a de organizações internacionais como a União Europeia, e a de países como os Estados Unidos, o que permite a comparabilidade dos resultados brasileiros.
"Por meio da análise de abordagens consagradas nos âmbitos internacional e acadêmico, a publicação propõe a discussão de nova delimitação rural-urbana adequada às iniciativas da Nova Agenda Urbana, adotada pelos 167 países participantes da Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Habitat III) e nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)", diz o instituto.
A publicação está disponível em formato digital na Plataforma Geográfica Interativa, que incorpora, em um mesmo ambiente, todas as informações contidas no projeto.
Regiões
O novo retrato que o IBGE propõe confirma o Sudeste como a região mais dinâmica do país; o Centro-Oeste como uma região de grandes contrastes; o Sul com as menores proporções de municípios intermediários e remotos (urbanos e rurais); o Nordeste com menor percentual de pessoas em áreas urbanas; e o Norte com elevado percentual de municípios rurais.
No caso do Sudeste, com seu "dinamismo econômico", encontram-se as maiores porcentagens de municípios urbanos, com 37,5% do total e onde vivem a maioria de sua população (87%). Já no Sul, onde concentram as menores proporções de municípios intermediários remotos (0,02%) e rurais remotos (0,03%), há uma grande proximidade física entre as sedes municipais.
Ainda com base na nova metodologia que vem sendo proposta, o Norte destaca-se pelo elevado percentual de municípios rurais, com 65% do total, apesar de 66,3% de sua população viver em municípios urbanos. Já o Nordeste é a região que possui a menor porcentagem de pessoas vivendo em municípios urbanos (59,3%), com 29,5% da sua população – o equivalente a 68,9% do total) vivendo em 1.236 pequenos municípios rurais.
O Centro-Oeste, por sua vez, é ao mesmo tempo a região com a segunda maior população em municípios urbanos (79,8%) e em municípios remotos, intermediários e rurais (2,3% e 4%, respectivamente).
Conclusões
As principais conclusões da nova classificação dos municípios de acordo com a tipologia rural-urbana, o IBGE ao analisar por região e população a área rural, concluiu que no Brasil, 76% da população vive em municípios urbanos e 60% dos municípios são rurais; no Norte, 10,5% da população reside em municípios rurais remotos e 65% do número de municípios são rurais; no Nordeste, um terço da população reside em municípios rurais, representando 68,9% do total de municípios; no Sudeste, 87% da população reside em municípios urbanos; no Sul, apenas 0,05% da população reside em municípios remotos; no Centro-Oeste, 79,8% da população reside em municípios urbanos.
https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/309218/Pesquisa-do-IBGE-mostra-Brasil-mais-rural-do-que-o-imaginado.htm

7.30.2017

Finalmente



Aceitando-se a tese evolucionista, nós descendemos dos débeis mentais de Neandertal, dos que nasceram com o cérebro incompleto, dos fraquinhos que ficavam em casa só aprendendo besteira

por Luís Fernando Veríssimo para site Contexto Livre – Sociedade e a (in)Volução Humana

O homem de Neandertal tinha uma caixa craniana maior do que a nossa e, presumivelmente, um cérebro mais desenvolvido. Mas não falava. Usava instrumentos de pedra, dominava o fogo, enterrava seus mortos e vivia em comunidades como as nossas, talvez um pouco menos selvagens. Mas não tinha uma linguagem. Só se comunicava com os outros com grunhidos e tapas no ouvido. Pela aparência, estava mais bem preparado para dominar o planeta do que nós. Além do crânio enorme, tinham ombros maiores, mais músculos e ossos mais fortes. Mas, embora tivesse todo o equipamento necessário, não falava. 
Hoje, especula-se que era o cérebro que atrapalhava. A gestação da mulher de Neandertal durava mais tempo, o que significava que o cérebro já nascia pronto. E, em vez de ter a infância prolongada e protegida que literalmente faz a nossa cabeça, o guri de Neandertal recebia um tacape na saída do útero e já ia caçar. Sabe-se que o embrião humano reproduz, no ventre, toda a evolução da espécie e que há um momento na gestação em que nosso cérebro fica tão completo quanto o do feto de Neandertal. Mas aí começa um processo de depuração, de eliminação de cédulas e modificação de circuitos, que continua no período pós-natal, e é essa adaptação que nos permite falar. Ou seja, a linguagem é o produto de uma carência programada do cérebro e o poder da fala uma compensação pelos neurônios perdidos. O homem de Neandertal era evoluído demais. Tinha o cérebro tão acabado que não precisava da linguagem, mas sem a linguagem foi um fracasso social. Não durou nem 80 mil anos, e com aqueles ombros. 
Aceitando-se a tese evolucionista, nós descendemos dos débeis mentais de Neandertal, dos que nasceram com o cérebro incompleto, dos fraquinhos que ficavam em casa só aprendendo besteira. Foi a linguagem que permitiu ao modelo seguinte dos pré-humanos se organizar, conceitualizar, trocar informações e mentir. Isto é, civilizar-se. Se você prefere a tese antievolucionista, ela diz que a Natureza sabe o que quer e seu objetivo era dar nome às coisas e uma retórica aos elementos, que antes da linguagem rugiam de frustração com a incapacidade de falar. Tudo na Natureza – os vulcões, os vendavais, os terremotos e os bichos – seria uma dificuldade de expressão. 
Tentando e errando (o homem de Neandertal, alguns políticos), tudo o que a Natureza quer é que falem por ela, que sejam o poeta que ela, por mais que se esforce, não consegue ser. Mas, segundo outra tese, malvada, a internet e seu vocabulário eletrônico teriam sido inventados para, finalmente, dar uma voz aos neandertais.
http://www.contextolivre.com.br/2017/07/finalmente.html


7.29.2017

Rússia: turismo e impressões sobre o país da Copa 2018


Em uma viagem não entender tudo o que se ouve, nada do que é lido, jamais se esquece o que é visto e, principalmente, o que a alma sente

por Raquel Ramos* para site Revi * - Sociedade e Globalização

Em relação à Rússia, mais do que nunca, ela se encaixa perfeitamente em conhecer uma cultura muito diferente. O idioma russo é escrito em alfabeto cirílico, originário do grego e do hebraico com 33 letras. Por exemplo, assim se escreve ALFABETO RUSSO: РУССКИЙ АЛФАВИТ, mesmo sem entender o idioma, uma viagem feita em três etapas é possível conhecer essa rica cultura euro-asiática.
Ao passar no país vizinho, em Helsink, na Finlândia, ali as surpresas já foram surgindo. A começar pela travessia de Ferry Boat para Tallinn, na Estônia. Vale a pena entrar em um navio quebra-gelo, meio de transporte daquela região de rios congelados pelo inverno rigoroso.
Meia-noite em Helsink, na Finlândia
A surpresa maior nessas duas primeiras cidades foi vivenciar o chamado “sol da meia-noite”. Não existe noite escura como se está acostumado a ver. O fenômeno acontece nos meses de junho e julho nos dois polos, Norte e Sul. A fantasia, em torno desse fenômeno, fica por conta do filme com o mesmo nome, estrelado por Mikhail Baryshnikov, em 1985, e o livro Noites Brancas, de Dostoiévski.
O sol se põe, mas não desaparece. Às duas da manhã, quando se pensa que vai escurecer, o dia já está amanhecendo. É  “um dia que não escurece, uma noite que nunca chega”.
De Tallin a São Petersburgo a viagem pode ser feita de ônibus. Na fronteira com a Rússia, o controle é bastante rigoroso. É necessário passar por três guaritas para conferência dos passaportes. O procedimento é tenso. Antecipadamente é avisado para se descer e tirar os óculos de sol diante de um agente público que olha demoradamente para a foto do passaporte e para a pessoa, a fim de comparar se não há fraude. Em seguida, confere a autenticidade do passaporte utilizando vários tipos de scanners.
Uma das passageiras, antes de embarcar no Brasil, havia extraviado seu passaporte e viajou com um emitido com urgência na Polícia Federal. Este era de cor diferente dos demais e tinha uma inscrição que dizia “Provisório”. A brasileira teve que responder a várias perguntas, misturando seu inglês e alemão, e deixou gravada uma explicação sobre o ocorrido. Enquanto isso, outros soldados entravam dentro do ônibus para a vistoria. É desses momentos em que se sabe que não foi feito nada de errado, mas “e se eles ‘invocarem’ com alguma coisa?”
Ali, na fronteira, através de ficha de autorização para permanência no país, apresentada obrigatoriamente no aeroporto, quando da saída. Enquanto tudo isso acontecia. Com tudo resolvido é possível a chegada São Petersburgo.
Uma farmácia do ano 1422, em Tallinn, ainda em funcionamento em São Petersburgo

Um mergulho na cultura russa

Para conhecer São Petersburgo, bastam três dias, a cidade dos palácios de Pedro, O Grande, e Catarina, a Grande. O famoso Museu Hermitage também vale a pena ver e fazer alguns passeios. A partir dali o percurso até Moscou uma forma de viagem é por cruzeiro fluvial, um programa chamado “Por entre rios e lagos na rota dos Czares”.
Nesta terceira etapa, quatro pequenas cidades do interior da Rússia é interessante passar, após 16 eclusas, que são represas ou câmeras de concreto, com duas enormes comportas de aço nas extremidades.  Elas formam um canal de passagem para possibilitar a navegação quando há grandes desníveis no rio.
Depois de passar a entrada no famoso Rio Volga, é chegado o destino. Durante a maior parte desse trecho, que durou sete dias, o efeito das noites brancas continua acompanhando.
O navio utilizado era pequeno, com capacidade para 200 passageiros. Haviam confortáveis ambientes de bar, biblioteca, sala com wifi, embora de pouca potência, e atividades envolvendo os passageiros com a cultura russa. Foi ali que tive a oportunidade de ter algumas aulas do idioma russo, aprender mais sobre a história do país.
São experiências para não se esquecer. Numa viagem em que você só conhece pontos turísticos, não dá para perder a menor oportunidade de se envolver com a cultura do povo. Um mundo tão diferente, um lugar onde sente-se na pele a real sensação do que é ser analfabeto global. É impossível ler, escrever ou entender uma única palavra.
Foram três aulas de russo, quando foram apresentados o alfabeto cirílico, algumas poucas frases de cumprimentos e agradecimentos. As letras das músicas foram escritas em alfabeto latino, de modo a representar a pronúncia das palavras. Quem conseguiu escrever um diálogo com as frases ensinadas recebe um diploma.
Kizhi – Casa de camponês considerado rico por ter todos os equipamentos necessários para trabalhar. Moravam em cerca de 25 a 30 pessoas na mesma casa
De tão pequenas, duas cidades visitadas são chamadas de aldeias. Mandrogi e Kizhi foram restauradas para se tornarem pontos turísticos desse trecho da navegação. Mandrogi tem 150 habitantes e Kizhi, 80, fora os moradores permanentes, muitos deles provenientes da Sibéria, outras 200 pessoas deslocam-se diariamente das cidades maiores, ao seu entorno, para trabalhar nessas aldeias. As edificações construídas em madeira, tora a tora, encaixadas sem pregos ou parafusos e o artesanato das matrioscas são os principais atrativos, um trabalho lindo, minucioso, verdadeira arte de pintura.
Casas de madeira são muito comuns na Rússia e, por isso mesmo, o país sofreu com muitos incêndios provocados pelo material de fácil combustão. Fazer o percurso entre as duas maiores cidades da  Rússia, São Petersburgo e Moscou, é como andar sobre águas rodeadas por florestas de pinheiros. O transporte da madeira é feito por embarcações no rio. Chama atenção o desmatamento, bastante visível nesse trecho.
Em Goritsy e Uglish há belas construções, igrejas, campanários e um comércio de roupas de linho para o verão e de casacos e gorros de pele. Belas peças a bom preço.
Nas metrópoles, há calefação em todos os ambientes, edifícios e ônibus. A guia comentou que ninguém sobrevive sem calefação, mas, no interior, as casas eram construídas com fornos a lenha, em formato quadrado, para aquecimento, e que também serviam de cama para crianças, idosos ou enfermos.
Esse passeio no inverno, quando os rios e lagos ficam congelados, é feito de trem. É preciso roupas e sapatos adequados para sobreviver. No interior, muitas pessoas são pobres e não têm condições de comprar material e equipamentos  contra o frio. Por todo o percurso veem-se belas casa à margem do rio, acampamentos onde a população aproveita seus poucos dias de verão.
Trono de Pedro, O Grande – Museu Hermitage
Palácio de Verão de Pedro, O Grande, nas margens do Mar Báltico

Catedral do Sangue Derramado, em São Petersburgo

Mudança de regime trouxe sentimentos contraditórios

A Rússia possui uma história forte, rica e poderosa, sobrevivente de muitas guerras. É um país em transformação.
De fato, o povo russo é muito fechado. Não há como fugir dessa ideia inicial . Eles têm somente 40 dias de sol por ano. No inverno rigoroso, quando o dia escurece às 16 horas, todos dão muito valor às poucas horas do dia em que há luz, mesmo sem sol. Além disso, viveram o sistema opressor da ditadura soviética, quando não podiam manifestar sua ideias, e os jovens ainda sofrem essa influência na educação recebida em casa.
O desenvolvimento de Moscou
Sobre a diferença  entre viver no socialismo do regime soviético ou no capitalismo atual, Lomakina de Leiva Svetiana, guia turística de Moscou, opina: “Es todo lo mismo”. Segundo ela, o capitalismo era uma grande esperança para os russos. Tinham a ilusão de que seria muito melhor. Svetiana conta que seus avós preferem a ditadura soviética, pois se sentiam mais seguros; os jovens preferem o capitalismo.
Esse sentimento contraditório das pessoas em relação aos dois regimes parece muito presente.  Ekatarina Petrovna Ivanyuskina, também guia turística, diz que antes eles tinham o básico, o que precisavam, mas não tinham liberdade. Embora tenha um sentimento de nostalgia, por ter vivido uma infância feliz, prefere o capitalismo de hoje. Afirmou também ter sido muito dura à sobrevivência nos primeiros anos, sem emprego e trabalho para os mais velhos.
O Kremlin é uma fortaleza. Há vários kremlins por toda a Rússia. Em Moscou, o palácio do governo russo está localizado dentro do Kremlin, formado por suas  muralhas, na Praça Vermelha. E sobre a Praça Roja, há também uma curiosidade: o nome Praça Vermelha não se refere às construções rubras, mas porque “rojo”, em russo antigo, significa bela, portanto, é a Praça Bela.
Dizem os russos que, se eles são o maior país em território, têm a maior capital e a maior população do mundo,  precisam ser a maior nação. E quem tiver a oportunidade de visitar a Rússia não terá dificuldade em entender o sentido dessa frase. É só olhar em volta.  Todos os monumentos históricos e igrejas vêm de sucessivas reconstruções. Destruídas por sucessivas guerras, as edificações parecem intactas, como se fossem novas. Isso parece fazer crer que Moscou se renova não só para o Mundial de Futebol do próximo ano, mas para todo o sempre. 
A Praça Vermelha em Moscou
Marco Zero: não passa de um local onde as pessoas jogam moedas para o alto, fazem um pedido, mas ao cair no chão, outros turistas, crianças ou mesmo pedintes, recolhem e levam
Raquel Ramos * - rranjos@gmail.com
Revi * - Revista Eletrônica da Faculdade de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc
http://www.ielusc.br/aplicativos/wordpress_revi/