Histórinha para contar as(os) adolescentes e jovens... os adultos não acreditam

original por Miguel Paiva no Brasil 24/7 – Sociedade e um certo país ex-tupi-guarany

Imagem no Brasil 24/7, onde os Jornalistas pela Democracia escrevem e bordam (hã)...

Somos países tão parecidos, falamos a mesma língua, temos tamanhos e realidades diferentes, é claro, mas vivemos dois mundos completamente opostos pelo oceano atlântico. Nosso encontro pelo zoom continuou com essas e outras revelações... Passamos pelas acusações aos ministros, o envolvimento de vários deles com corrupção, venda ilegal de madeira, garimpos, grilagens, continuamos com vendas de sentenças, financiamento ilegal de campanhas, gabinetes do ódio, gabinetes paralelos, reuniões para incentivar a venda de cloroquina e por aí fomos. Até parece que é um país onde viveram os povos sérios tupis-guarany´s antes de chegarem os portugueses de além mar...

A um certo momento ele me lembrou que que o presidente  baseou toda a sua campanha na guerra à corrupção, demonizando o partido dos trabalhadores, com a ajuda da imprensa apoiada pelos ricos, como o grande protagonista da roubalheira (alguém já ouviu falar no pt) . Concordei. Foi assim, e usando também de notícias falsas ou as famosas fake news. Aliás como em outras eleições pelo mundo, que o candidato a presidente conseguiu se eleger. A nós ele não enganou, confirmei ao Antônio lá de Portugal. Nós quem, cara-pálida, retrucou ele usando uma expressão bem brasileira (sic, e dizem que não tinha índio no Brasil). É verdade, concordei. Ele mesmo, o Antônio, por mais sábio que seja, acabou acreditando um tantinho (bem pouquinho mesmo) nessa possibilidade. Boa parte do eleitorado também, acrescentei e foi isso que elegeu o ex-militar que acabou virando“mito” e conseguiu carregar essa fama por um bom tempo. Até hoje ele pensa que está enganando as(os) brasileiras(os). Agora o cenário é outro, mas ainda assim há resistência...

Antônio se espanta com a inércia das instituições para frear o presidente eleito por votos honestos (dizem que o Ernesto contribuiu nas urnas, outros(as) falam que foi o juiz Moro, aqui entre nós, mas não fala para ninguém heim...). Respondo que é assim mesmo. Portugal viveu uma ditadura por décadas (a tal das rosas), mas não está mais habituado a golpes de estado. Aqui na América Latina passamos por isso como passa o trio elétrico nas ruas de Salvador, óbvio, fora do carnaval. Num golpe que falam que foi articulado, como foi o que tirou a Dilma, as etapas eram ultrapassadas tão rápidas, que nem a Globo conseguiu ver. As leis e os trâmites eram atropelados em nome de um propósito maior para o bem da nação e do povo, só os tupis-guaray’s sabiam disso... 

Agora, já que não há golpe para derrubar o presidente, tudo segue no ritmo institucional da mais bela democracia do hemisfério sul. Ué, me pergunta Antônio, não era o partido dos trabalhadores acusado sempre de ser antidemocrático, terrorista, que deixa as crianças abandonadas (a mamadeira de piroca foi censurada)...? Respondi que sim. Era o que eles estavam tentando, mas só conseguiram botar fogo na Amazônia. Agora, para derrubar um presidente, é preciso muita paciência. Apesar de querer muito isso, prefiro assim, com esse ar de democracia inabalável. Isso mostra que a democracia é e deve ser mais sólida do que a que houve com a Dilma, foi realmente um contra golpe, pois tinham derrubado os militares e a melhor elite do mundo. Fica quieto, só para disfarçar a censura...

Antônio insiste na inércia da imprensa que se diz velha e que apesar de agora brigar com o presidente, custou a tomar partido, depois que deixaram escapar petróleo no nordeste, lá do meio do Atlântico. O Antônio brasileiro-português ainda reluta um pouco. Se sente atraído imediatamente por qualquer aceno de retomada da vida cultural e da econômica. É o fantasma do neo-liberalismo que persiste nas redações desses jornais que os jornalistas não sabem nada, ou melhor, nas chefias das redações desses jornalões desembestados, típicos de vida moderna. A inércia do Congresso também assusta, meu caro Antônio. Pelo acúmulo de pedidos de impeachment de um mundaréu de gente, em qualquer outro país do mundo fora do hemisfério sul, já teria sido tocado adiante. É no mínimo uma questão de honra ou seriedade mesmo aqui do povo alegre e explorado. O presidente da Câmara dos Deputados se arvora o direito de decidir o que a nação quer ou não, de acordo com seus princípios políticos e não com a realidade nacional. E o Congresso Nacional nem se fala, lá os velhos e novos políticos pintam e bordam, e o presidente dança qualquer música...

Ainda por cima, para desespero do meu amigo português, a Copa América está para acontecer no Brasil para alegria do presidente, que verá neste evento a tentativa de confirmação de sua tese que está tudo bem, maravilhoso no meio da pandemia. Mas tem torcida de tudo quanto é lado, do Superior Tribunal Federal, da FIFA, da imprensa falada, escrita, cibernética, dos EUA e do outro mundo também... Uma reedição do “reina a paz em todo o território nacional”. Lembram lá quando o Brasil não tinha ditadura, perto de 1970, na copa do mundo (fica quieto) ? Pois é, mas antes de terminarmos nosso papo on-line ele me lembrou. Não deixem de seguir o rastro do dinheiro dos banquinhos virtuais tupi-niquins, nem da cloroquina, nem da Copa América, nem do Gabinete do ódio, e por aqui fica difícil falar na CPI do Congresso Nacional, dizem que virou desfile de palavreado dos políticos. E todo mundo ainda fica pensando que o dinheiro comanda esse espetáculo burlesco, quer dizer carnavalesco, sabe-se lá o que, daqui mesmo..

P.S.: Meu amigo Antônio para quem escrevi a história acima , jornalista português (sic), se espantou de modo inédito quando disse pra ele que o presidente no Brasil continuava com um certo apoio dos eleitores... Para ele era inaceitável. Quando prossegui e disse que ele continuava a não usar máscara e a aglomerar no meio da pandemia, achou que eu estava debochando dele, tirando sarro de sua cara. Adoraria que fosse isso. Mas é a mais pura verdade. Continuamos em meio a uma pandemia gravíssima e o presidente está anunciando uma nova manifestação com motos, bandeiras, camisa do Palmeiras, seleção brasileira, dessa vez em São Paulo, lá onde o dinheiro dos banqueiros não vale nada. Antônio, meu amigo, riu para não chorar. E disse que eu vivo num país do faz de conta, hemisfério abaixo, aquele alí dos otimistas malucos ...

É verdade. Nos despedimos e prometi, assim que fosse possível um encontro presencial ou aqui ou acolá, em Portugal. Pra falar a verdade, acho melhor lá. Mais seguro, lá tem poucas motos...

Edição: Mazinho Vieira

Publicado no Br24/7 : 8 de junho de 2021

 

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/brasil-abaixo-de-todos?amp