Páginas

1.21.2017

A mão da tragédia conduzindo a política brasileira

por Sergio Saraiva para GNN - Sociedade e Luta pelo Poder
  • O que comove na morte de Teori Zavascki não é a morte em si. Homens morrem. O que comove na morte de Zavascki é a tragédia. Ou ainda, como a mão da tragédia molda a política brasileira.




A morte do ministro Teori Zavascki mudará a política brasileira. O Brasil seria um com ele à frente da relatoria da Lava Jato. Será outro, agora.
Teori Zavascki – juiz austero e experimentado era uma ilha de equilíbrio dentro do STF.
Os ministros do STF têm mostrado, em várias situações, facetas de suas personalidades que de modo algum tranquilizam a população. Alguns claramente partidários e boquirrotos, outros, extravagantes de várias formas ainda que formalmente enegrecidos em suas togas circunspectas. Outros ainda, simplesmente parecem frágeis demais ou influenciáveis demais para o cargo que ocupam.
Talvez o melhor elogio a Teori tenha vindo da boca de Romero Jucá: “um cara fechado”. Um dos “poucos caras ali”, no STF, com quem Jucá não mantinha relações de proximidade. Conhecendo minimamente Romero Juca, tal afirmação passa por atestado de idoneidade.
E de isenção, Teori não constava do grupo de “ministros” com os quais Jucá tramou o golpe para derrubar a presidente Dilma para “estancar a sangria da Lava Jato”.
Em relação à Lava Jato, o momento atual, quando se avalia as delações da Odebrecht que envolvem os verdadeiramente poderosos, entenda-se, os não-petistas, pede um magistrado experimentado em fazer frente ao poder.
Além de Zavascki, talvez somente Lewandowski tenha experimentado o que é isso. Quando do julgamento do “mensalão”. Zavascki pagou o preço de ter feito com que o juiz Moro atentasse-se ao devido processo legal.

Teve a si e à sua família perseguidos por celerados. Devia tê-los mandado prender, não fez. Mas manteve-se firme. Essa firmeza nos fará falta neste momento. Porém, o que me comove é a tragédia. Como mais uma vez a tragédia molda a política brasileira. E vou buscar na memória outro momento crucial onde a tragédia moldou o Brasil.

A morte de Tancredo Neves. O Brasil não teria sido o que foi e talvez o que é se Tancredo tivesse governado. Dúvidas quanto a isso são difíceis de ter, basta lembrar que, com Tancredo vivo, não teríamos Sarney como presidente. Dúvidas quanto a outro Brasil que teríamos?
Agora a morte de Teori. Quem o substituirá na relatoria da Lava Jato? Um ministro indicado por Temer. Mas Temer é um dos implicados na Lava Jato. Temer escolherá seu próprio juiz. Um absurdo somado à tragédia tornando a ainda mais trágica.
Poderia se dizer que Joaquim Barbosa, indicado pelo PT, foi um juiz duríssimo contra o próprio PT. Mas não, aqui a ordem dos acontecimentos é tudo. Barbosa foi indicado antes para julgar depois. O juiz de Temer será indicado posteriormente a Temer ser envolvido na Lava Jato.
Alguém espera o republicanismo de Lula em Temer? Temer é tão republicano quanto FHC. Basta ver as indicações de FHC.
Que outro ministro atual do STF tem a têmpera de Zavascki para homologar as delações que envolvem alcunhas como o "Santo”, o "Careca” e o “Mineirinho”?
Uma nova política depende disso. Preocupações que me vêm à mente. A tragédia de Tancredo nos levou à tragédia de Sarney.
Uma nova política dependia de aonde nos levaria as indignações de 2013. Levou-nos ao golpe e a Temer.
A tragédia de Zavascki nos levará aonde?
http://jornalggn.com.br/blog/sergio-saraiva/a-mao-da-tragedia-conduzindo-a-politica-brasileira-por-sergio-saraiva


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O comentário será analisado para eventual publicação no blog