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7.11.2018

Futebol: deixa o menino jogar !


O lance de Philippe Coutinho em 2009, no jogo do Vasco contra o ABC de Natal, em São Januário, pela Série B do Campeonato Brasileiro é a prova cabal de que querem enterrar o nosso futebol.

por Bruno Padron ''Porpeta''* no Portal Vermelho – Sociedade e Brincando de Futebol
Figura da internet
Reverenciado por todo o mundo pela sua ginga e beleza, agora qualquer passada de pé sobre a bola se torna um crime contra o fair-play. Mas o que se entende como fair-play?
O futebol profissional vive de resultados! As Copas de 1982 e 1994 foram balizas importantes para definir na cabeça de muitos que o resultado é fundamental.
Em 82, jogamos maravilhosamente, encantamos o mundo, mostramos craques como Zico, Falcão, Sócrates, dentre outros. Infelizmente, o futebol de resultados da Itália nos derrotou. Já em 94, tínhamos um gênio e um time que jogava para vencer. Vencemos, pela primeira vez na história das Copas, nos pênaltis, e contra a mesma Itália.
Desde então, o resultado se tornou uma obsessão. Independente da beleza do futebol, montamos times para vencer. Consideramos empates em 0 a 0 fora de casa como vitórias. Há sua razão, todos os torcedores gostam de títulos. Nada melhor para fidelizar seus consumidores do que as vitórias. Às vezes, a paixão e os negócios caminham juntos. Nada mais óbvio na sociedade em que vivemos.
Vá lá que para nós, dedicados apaixonadamente aos nossos clubes, a vitória seja importante, mesmo que não tão bela, embora sempre prefiramos ganhar bonito. Mas se há algum personagem nessa história que deve zelar pelo futebol jogado, esse é o árbitro.
O homem de preto, agora em versões fluorescentes, é o responsável pela preservação do bom jogo, pela coibição do uso da força em detrimento da jogada, seja ela um cruzamento na área pelo alto, seja um drible.
Do drible conhece-se como uma jogada na qual se ludibria o marcador adversário, usando o corpo ou somente os pés, tocando a bola ou não. Compreende-se que ele faz parte do jogo, e serve também ao resultado, sendo feito com o propósito de criar uma jogada de gol ou sair de situação adversa no campo defensivo.
O Vasco vencia por 3 a 0, e numa clara intenção de deixar o tempo correr até o fim do jogo, o time cruzmaltino segurava a bola no campo de ataque, inteligentemente, diga-se de passagem, pois visava à manutenção do resultado. Quando Philippe Coutinho carregou a bola para próximo da lateral direita do campo, na tentativa de driblar o adversário passou o pé várias vezes sobre a bola. O zagueiro conseguiu o corte e jogou a bola para fora.
Percebam que nessa jogada, o jovem atacante vascaíno de 17 anos e um talento, mas que infelizmente foi vendido para a Inter de Milão (ITA) se apresentando ao novo clube em julho do próximo ano, gastou alguns segundos de jogo passando o pé sobre a bola e ainda ficou com a posse de bola. Nada mais útil naquele momento do jogo.
Mas o árbitro Luiz Alberto Bites entendeu que aquilo era uma tentativa de “humilhação” do adversário e repreendeu o garoto, ameaçando aplicar-lhe um cartão se ele prosseguisse fazendo aquilo.
O que ele não pode fazer? Ganhar o jogo?
Essa bronca revela muito sobre o que alguns pensam sobre o futebol. Leia-se aí, a alta cúpula do futebol.
Qualquer iniciativa mais artística vinda dos jogadores é uma ofensa à mediocridade imposta pelo futebol de resultados. Condecora-se uma penca de brucutus que jogam a base do porte físico e da seriedade e responsabilidade que possui um bico para o alto.
Classificam o espetáculo dado pelo drible como uma afronta ao fair-play. Mas não explicam a contradição entre a busca incessante pelo resultado e a capacidade de manter-se honesto com o adversário e compromissado com o jogo limpo.
Quantas vezes uma equipe faz rodízio de jogadores para cometer faltas sobre os atacantes adversários, a fim de evitar cartões e paralisar o jogo a todo o tempo? Nada mais antiético, embora nunca repreendido individualmente pelo árbitro. Afinal, o que dizer para um marcador que cometeu duas ou três faltas somente? Ainda mais se forem as chamadas “faltinhas” só para trancar o jogo, em geral cometidas sem violência excessiva.
Cometer faltas, para impedir o progresso do adversário enquanto se reorganiza o sistema defensivo, é do jogo. Assim como também é do jogo “cavar” faltas próximas à grande área, ou até mesmo dentro dela, gerando uma possibilidade real de gol.
A mesma serventia ao jogo que teve o lance de Philippe Coutinho, ganhando tempo para consolidar a vitória.
Assim como o drible da foca, que rendeu muitas pancadas em Kerlon, do Cruzeiro, que, minimamente, abria a possibilidade de uma jogada de bola parada. Não fosse isso, ele pararia na cara do gol.
A falta cometida às vezes serve ao resultado, no entanto carrega seu ônus. Mas a violência e a crítica ao drible só servem para provar que faltam miolos a alguns jogadores e a muitos dirigentes.
Porém, o árbitro deve ser o guardião do espetáculo, aplicando e interpretando a lei quando se faz necessário, e para isso precisa de duas coisas: inteligência e gosto pelo futebol. Se não possuir estas duas qualidades está sujeito a cometer barbaridades como a de Bites. E assim dar uma inestimável contribuição ao futebol sem alegria.
Descrição: http://www.vermelhoanterior.provisorio.ws/ctt/img_upload/aut_386.jpg* Bruno Padron ''Porpeta'', É bancário e, diante da inabilidade para praticar esportes, passa sua vida falando deles.
http://www.vermelhoanterior.provisorio.ws/base.asp?texto=61081

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