© AP Photo / Lucas Dumphreys
Desenvolvimento cientÃfico e tecnológico na pandemia
Para Guilherme Werneck, médico epidemiologista e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), esses oito meses mostraram que houve muitos avanços no campo cientÃfico, apesar de o conhecimento ser ainda incipiente.
Werneck considera que o tratamento de suporte para o paciente grave e internado melhorou muito, com a descoberta da eficácia de diversas drogas, como a dexametasona, e de tratamentos especÃficos que ajudaram a reduzir a gravidade e a letalidade entre os doentes internados. O especialista também destaca os avanços no desenvolvimento na área de imunologia e vacinas, com diversos imunizantes sendo testados, vários deles na fase III, como é o caso da vacina russa Sputnik V.
"O desenvolvimento cientÃfico e tecnológico vem avançando muito no campo da imunologia, de forma a permitir imaginar, neste momento, que teremos vacinas no ano que vem, que estarão disponÃveis para a população", disse o especialista à Sputnik Brasil.
Além dos avanços na área cientÃfica e tecnológica, o professor da UERJ também destaca o grande desenvolvimento experimentado no campo da vigilância epidemiológica. Segundo Werneck, há entre os especialistas "a percepção de que existe uma série de iniciativas que podem ser feitas para a identificação de casos, para o rastreamento de contatos, para a interrupção da transmissão", e que diversos paÃses no mundo, como China e Nova Zelândia, executaram essas ações de forma exemplar, em consonância com as medidas de enfrentamento da pandemia, mitigando seus efeitos mais graves e permitindo a recuperação da economia.
Atuação das autoridades brasileiras
Já em relação ao comportamento das autoridades brasileiras, o médico epidemiologista foi enfático: "Se o enfrentamento da COVID-19 dependesse delas apenas, o Brasil estaria em uma situação muito pior, pois a maior parte dessas autoridades, a começar pelo governo federal, está dando uma resposta à pandemia que não se alia ao conhecimento cientÃfico", frisou.
Para Werneck, a resposta das autoridades é relativamente pÃfia, pois não tem qualquer embasamento no conhecimento cientÃfico acumulado até o momento.
"São promessas de medicamentos que não existem, de intervenções que não acontecem, são formas de minimizar o impacto da pandemia na população, levando-a a acreditar que a situação está totalmente controlada, o que faz com que as pessoas deixem de se engajar nas medidas preventivas. Além disso, há uma disputa polÃtica sobre qual vacina deveria ser financiada pelo governo", acrescentou o especialista.
Na opinião do especialista, o foco dos governos parece estar voltado quase que totalmente para a recuperação da economia nacional, o que ele acredita ser um equÃvoco total. "Não existe possibilidade de retomada econômica sem controle da pandemia. É o contrário do que as autoridades dizem, não é a economia que nos salva da pandemia, é enfrentar a pandemia seriamente que permitirá a recuperação mais rápida da economia. A ênfase na economia em detrimento da segurança da população só contribui para piorar a situação", sentencia o epidemiologista.
Segunda onda no Brasil
Muitos paÃses europeus vivenciam neste momento o que vem sendo chamado de segunda onda. Após o controle relativo da propagação do vÃrus durante o verão europeu, muitos paÃses estão voltando a adotar medidas restritivas, como a imposição de toques de recolher durante a noite, ao verem os números da doença explodirem novamente com a proximidade do inverno.
O professor da UERJ assinala que as doenças respiratórias, historicamente, tendem a aumentar durante o inverno. Como ainda não existe uma vacina disponÃvel, é previsÃvel que a COVID-19 volte a se espalhar pelo Velho Continente e os governos locais tenham que recorrer a medidas mais duras de distanciamento social para conter a expansão do vÃrus, como vimos no decorrer da última semana em paÃses como França, Espanha, Bélgica e Itália.
No entanto, ele não considera que seja possÃvel fazer uma comparação ente as situações vividas na Europa e no Brasil. "O paÃs não controlou sua primeira onda, então é difÃcil entendermos o Brasil, e alguns estados e cidades do paÃs, em uma situação semelhante à da Europa, em que poderia ocorrer uma segunda onda. O Brasil ainda está tentando resolver a primeira", avalia.
Para o médico epidemiologista, a chegada de uma segunda onda vai depender de uma série de questões, como o grau em que a doença se espalhou, a existência ou não de uma vacina e as estratégias de controle populacionais. Ele também não vê indÃcios de que haverá a imposição de novas medidas restritivas, pois o paÃs não soube lidar com a pandemia de forma pragmática desde o inÃcio. Além disso, estamos à s vésperas das eleições municipais, e muito polÃticos hesitam em impor novas medidas restritivas, pois temem seus possÃveis reflexos negativos nas urnas.
"Nunca houve lockdown no Brasil, medidas restritivas intensificadas na forma de proibição de pessoas nas ruas, imposição de multas, etc., isso não foi feito no paÃs. O que existiu foram recomendações de distanciamento social com fechamento de certas atividades econômicas", comenta.
O docente do Instituto de Medicina Social da UERJ acredita que é necessária a intensificação das medidas de isolamento social, e que as pessoas precisam perceber que também são responsáveis pelo controle da pandemia. "Para isso, é fundamental o envolvimento de todos, e as autoridades deveriam ser as primeiras a se posicionar para fazer o possÃvel para controlar a epidemia. Com a proximidade das eleições, a maior parte dos candidatos não quer conversar com a população e responsabilizá-la, e também a sua eventual gestão no futuro, com recomendações impopulares", conclui.
Publicado Sputinik : 26.10.2020
Fonte: https://br.sputniknews.com/opiniao/2020102616282964-se-o-brasil-dependesse-apenas-das-autoridades-a-pandemia-seria-pior-opina-medico/
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