“População pobre vai viver insegurança não só em 2022, mas em 2023”, alerta Tereza Campello
AuxÃlio Brasil segue no alvo de especialistas que apontam estatÃstica de cerca de 29 milhões de pessoas desassistidas
por Cristiane Sampaio no Brasil de Fato – Sociedade e PaÃs destruÃdo no golpe contra o Brasil
Estudo da USP mostrou, em 2020, primeiro ano do auxÃlio emergencial, que a taxa de brasileiros na pobreza baixou de 25% para 20% - Marcello Casal/Agência Brasil
Especialistas que lidam com o tema da pobreza seguem manifestando preocupação com as caracterÃsticas e a metodologia do AuxÃlio Brasil, programa que sucedeu o Bolsa FamÃlia e que está na segunda semana do pagamento da primeira parcela.
A ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello disse que a polÃtica do governo Bolsonaro joga a população mais vulnerável em um perÃodo de desassistência que vai além do próximo ano.
“14,5 milhões de famÃlias receberam esse novo e provisório programa AuxÃlio Brasil. Então, nós tÃnhamos quase 44 milhões de famÃlias recebendo auxÃlio emergencial ou Bolsa FamÃlia e, neste mês, 14,5 milhões de famÃlias apenas recebendo o [novo] benefÃcio. Isso significa que 29 milhões de famÃlias foram excluÃdas”, destaca a economista, ao dizer que o governo fez “um corte raso” e sem critérios.
“Elas foram excluÃdas sem que qualquer avaliação fosse feita. Essas famÃlias foram excluÃdas sem que ninguém avaliasse se elas continuam precisando, se elas estão passando fome, se elas conseguiram arranjar emprego ou não”, acrescentou.
O governo prevê o encerramento da nova polÃtica para o final do ano que vem. A dinâmica difere do que era feito com o Bolsa FamÃlia, que foi executado durante 18 anos como programa permanente de transferência de renda.
“[Ela] deixa milhões de brasileiros completamente desassistidos a partir do ano que vem e submete ainda as famÃlias pobres a uma situação de insegurança total. A gente sempre fala muito em segurança para o mercado, mas a população pobre, que hoje vive uma insegurança alimentar gravÃssima, vai viver uma insegurança, não só para 2022, mas também para 2023”, projeta Campello.
A ex-ministra também disparou crÃticas contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 23/2021, a chamada “PEC dos Precatórios”. A medida está em discussão no Senado, onde Tereza Campello participou de um debate na segunda (22), e pode ser votada nesta quarta (24) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). [Continua após o vÃdeo.]
Boso-Guedes enganam a todos com rota de fuga do teto de gastos
A PEC é apontada pela gestão Bolsonaro como saÃda para financiar parte dos R$ 400 liberados pelo AuxÃlio Brasil. O texto propõe um adiamento no pagamento dos precatórios a serem pagos pela União em 2022 para liberar uma brecha fiscal que ajude no custeio do programa, cuja verba extrapola o Teto de Gastos em R$ 100 para cada benefÃcio pago.
A proposta é polêmica e enfrenta resistência de diferentes grupos, não só da oposição, porque, entre outras coisas, oficializa o descumprimento de decisão judicial. Ao reforçar o coro dos crÃticos, Tereza Campello disse aos senadores, nesta segunda, que a medida também não enfrenta o desafio gerado pelo encerramento do auxÃlio emergencial. As últimas parcelas foram pagas no final de outubro, assim como as do Bolsa FamÃlia.
“A proposta do governo não só não resolve os reais problemas que temos que enfrentar hoje no Brasil como acaba criando uma sorte de outros problemas”, afirmou a ex-ministra, ao mencionar que o texto se trata de “um subterfúgio para salvar o Teto de Gastos” e evitar a revisão do ajuste.
Desalento em um Brasil que a elite rouba descaradamente
Na mesma sintonia, a Rede Brasileira de Renda Básica (RBRB) também manifesta preocupação com a conduta do governo diante da área de assistência social. A diretora de Relações Institucionais da entidade, Paola Carvalho, realça que a desassistência aos cerca de 29 milhões que agora estão sem benefÃcio se soma ao cenário de desemprego e alta do custo de vida no paÃs.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), o paÃs fechou o trimestre que se encerrou em agosto com taxa de 13,2% de desemprego. Há cerca de 13 milhões de pessoas em busca de emprego no território nacional.
Neste contexto, o Brasil amarga a maior taxa de desemprego entre os paÃses que integram o G20, aqueles considerados mais ricos do planeta, além de ter o quarto pior Ãndice entre as principais economias do globo. O dado é da Austin Rating, agência de classificação de risco que organiza um ranking com base na situação de mais de 40 paÃses.
O cenário de inflação também tem chamado a atenção dos brasileiros. Dados do IBGE do final de outubro mostram os 12 meses anteriores registraram alta de 12,54% no preço dos alimentos, por exemplo. Considerando o perÃodo de pandemia, o aumento chegou a 21,39%.
Para a Rede Brasileira de Renda Básica, neste contexto, a consequência direta da redução do alcance das polÃticas de assistência será o aumento da miséria e da pobreza no paÃs. Para Paola Carvalho, há uma “situação de invisibilidade” da população de mais baixa renda:
Essa é uma realidade muito dura de fome e de miséria que a gente está passando e que o governo finge não ver
"E, se vê, procura enganar a população [com a ideia] de que esse tipo de atendimento do AuxÃlio Brasil vai garantir o mÃnimo de dignidade à população brasileira. Nós temos uma situação, do ponto de vista da sobrevivência, que é muito grave.”
Um estudo divulgado em abril deste ano pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made), da Universidade de São Paulo (USP), mostrou o impacto do auxÃlio emergencial nas faixas de pobreza e extrema pobreza. Os pesquisadores observaram que, em 2020, primeiro ano da polÃtica, a taxa de brasileiros na pobreza baixou de 25% para 20%. Na ausência das parcelas do auxÃlio, a equipe projetou que o Ãndice tende a saltar para 30%.
Veja também o vÃdeo: BdF Entrevista | Ex-diretor da FAO Graziano fala sobre o Bolsa FamÃlia e o desmonte imposto por Bolsonaro do bolsa famÃlia
Edição: VinÃcius Segalla
Publicado no BdF: 23 de Novembro de 2021
Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/11/23/populacao-pobre-vai-viver-inseguranca-nao-so-em-2022-mas-em-2023-alerta-tereza-campello
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