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7.26.2015

Software livre: como migrar de soft's patenteados para formatos abertos?


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Vale substituir extensões patenteadas, como “docx”, “xls” e “mp3″ por alternativas livres. Você resiste a monopólios e garante uso pleno e longevidade de seus dados
Por André Solnik*, na coluna Código Aberto | Imagem: Paula Vio
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Domingão, família reunida, e você resolve resgatar das profundezas do seu HD aquela apresentação de slides com as melhores fotos dos anos 90. Ansiosos, todos se reúnem em volta da tevê. O show já vai começar! É só abrir o PowerPoint, selecionar o arquivo e… PAM!
Um alerta salta na tela: o formato do arquivo é muito antigo e já não é mais suportado pelo programa. Você fica com aquela cara de tacho e por um instante considera seriamente a hipótese de esganar o Bill Gates em praça pública. Salvo pelo gongo: o caçula da família chama a responsabilidade, baixa o LibreOffice e consegue ressuscitar os slides.**
A solução, nesse caso, está mais para uma gambiarra do que para qualquer outra coisa. Isso porque o formato ppt, utilizado como padrão até o PowerPoint 2003, assim como o doc e o xls, formatos do Word e do Excel respectivamente, são segredos muito bem guardados pela Microsoft: ninguém sabe exatamente como eles funcionam a não ser, é claro, a própria Microsoft.
Talvez você não se importe que uma apresentação de slides não abra exatamente do jeito que você a configurou anos antes. Uma foto descentralizada aqui, uma fonte errada acolá…e bola pra frente. Mas um órgão público, por exemplo, certamente quer ter a garantia de que os arquivos que guardam os balanços anuais, folhas de salários, contratos etc, irão permanecer intactos por tempo indeterminado.
Ora, se não é possível saber como o bendito formato funciona, a única alternativa é rezar para que o fabricante dê suporte ad eternum para os seus produtos e que nunca vá à falência. Ao utilizarmos formatos proprietários, muitas vezes não temos escolha e somos forçados a rodar um programa específico, provocando uma reação em cadeia: cada vez mais pessoas são obrigadas a obtê-lo para ler e editar os arquivos corretamente, favorecendo o crescimento e o fortalecimento de monopólios.
Afinal, quem controla nossos dados? Se um arquivo tiver um formato tal que só permita a utilização de um software específico e, além disso, não ofereça nenhuma garantia de compatibilidade futura, é evidente que ficamos totalmente à mercê do fabricante e, consequentemente, impossibilitados de controlá-los.
Agora imagine que esse mesmo arquivo tenha sido salvo em um formato cuja estrutura e modo de funcionamento são públicos e padronizados. Nesse caso, elimina-se a necessidade de ter que recorrer sempre ao mesmo programa: como a receita para implementar um formato aberto não é secreta, qualquer software, livre ou proprietário, pode adotá-lo. Garante-se, portanto, sua interoperabilidade. Também há bem menos problemas de compatibilidade, já que, mesmo considerando a hipótese de que em um futuro distante não exista mais nenhum software capaz de lidar com determinado formato, ainda é possível criar um.
Convencido da importância de se utilizar formatos abertos? Então mão na massa! Para salvar seus arquivos de texto, suas planilhas e apresentações, a melhor pedida é o formatoOpenDocument (ODF), padrão do LibreOffice, a suíte de escritório livre indicada no primeiro post desta série. O ODF foi formalizado por um comitê técnico composto por diversas organizações e homologado como um padrão internacional ISO desde 2006. No Brasil, o ODF também foi aprovado como norma ABNT. Graças a essa padronização, vários órgãos governamentais e grandes empresas pelo mundo adotaram o formato, garantindo sua longevidade.
O MP3 é um formato extremamente popular e pode ser executado em praticamente todos os softwares de áudio, inclusive os livres. No entanto, ainda que suas especificações sejam conhecidas, ele é protegido por patentes, o que pode dar uma baita dor de cabeça em quem quiser implementá-lo. Formatos abertos não combinam com barreiras técnicas nem legais, por isso aqui as patentes não têm vez.
Conhece o Ogg Vorbis? É um formato aberto, não proprietário, livre de royalties e patentes, e ainda tem qualidade superior ao concorrente! Diferentemente do Ogg Vorbis ou do MP3, oFLAC é capaz de comprimir um arquivo de áudio sem que isso signifique perda de informação. Ideal, por exemplo, para arquivar sua biblioteca de CDs no computador.
Formatos de vídeo envolvem vários componentes e, por essa razão, há diversas iniciativas relacionadas. Uma das mais relevantes é o projeto patrocinado pelo Google que desenvolve oWebM, um formato de vídeo otimizado para a web: alta performance em streaming e boa qualidade de reprodução mesmo em computadores antigos.
O PNG é um formato de compressão de imagem que preserva toda a informação do arquivo original e, assim como o WebM, também foi projetado para aplicações web. Se você trabalha com imagens vetoriais, descubra o SVG, formato padronizado pelo W3C (o consórcio que define as “regras” da web) e utilizado pelo GIMP e o Inkscape.
** Adaptação livre do relato do professor Alfredo Goldman, do IME-USP, que passou por situação semelhante ao tentar reciclar os slides de um curso dado por ele alguns anos atrás.
*André Solnik é estudante e ativista do movimento pelo software livre
http://outraspalavras.net/blog/2015/07/22/software-livre-por-que-usar-formatos-abertos/

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