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9.04.2015

A maior ameça do planeta Terra: o ser humano, por Leonardo Boff

Estão se acabando os recursos na dispensa da "Casa Comum'', ou "Mãe Gaia"ou "Terra", nossa sobrevivência começa a mudar e dar sinais de fraqueza...
 
por Leonardo Boff - Site de notícias Adital - Sociedade e Sobrevivência no Planeta

A Terra é um planeta pequeno, velho, com a idade de 4,44 bilhões de anos, com 6.400 km de raio e 40.000 km de circunferência. Há 3,8 bilhões de anos surgiu nele todo tipo de vida e há cerca 7 milhões, um ser consciente e inteligente, altamente ativo e ameaçador: o ser humano. 
Preocupante é o fato de que a Terra já não possui reservas suficientes em sua dispensa para fornecer alimentos e água para seus habitantes. Sua biocapacidade está se enfraquecendo dia a dia.

O dia 13 de agosto foi o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshooting Day). 

É o que nos informou a Rede da Pegada Global (Global Footprint Network) que, junto com outras instituições como a WWF e o Living Planet, acompanham sistematicamente o estado da Terra. A pegada ecológica humana (quanto de bens e serviços precisamos para viver) foi ultrapassada. As reservas da Terra estão se esgotando e precisamos de 1,6 planeta para atender nossas necessidades, sem ainda aquelas da grande comunidade de vida (fauna, flora, micro-organismos). Em palavras de nosso cotidiano: nosso cartão de crédito entrou no vermelho e estamos todos falidos, será que alguém sobreviverá?
Até 1961 precisávamos apenas de 63% da Terra para atender as nossas demandas. Com o aumento da população e do consumo, já em 1975 necessitávamos de 97% da Terra. Em 1980 exigíamos 100,6%, a primeira Sobrecarga da pegada ecológica planetária. Em 2005 já atingíamos a cifra de 1,4 planeta. E atualmente, agosto de 2015, 1,6 planeta.
Se hipoteticamente quiséssemos, dizem-nos biólogos e cosmólogos, universalizar o tipo de consumo que os países opulentos desfrutam, seriam necessários 5 planetas iguais ao atual, o que é absolutamente impossível além de irracional (cf. R. Barbault, Ecologia geral, 2011, p.418).
Para completar a análise cumpre referir a pesquisa feita por 18 cientistas sobre "Os limites planetários: um guia para o desenvolvimento humano num planeta em mutação” publicada na prestigiosa revista Science nos EUA, de janeiro de 2015 (bom resumo em IHU de 09/02/2015). 
Aí se elencam 9 fronteiras que não podem ser violadas, caso contrário, colocamos sob risco as bases da vida no planeta (mudanças climáticas; extinção de espécies; diminuição da camada de ozônio; acidificação dos oceanos; erosão dos ciclos de fósforo e nitrogênio; abusos no uso da terra como desmatamentos; escassez de água doce; concentração de partículas microscópicas na atmosfera que afetam o clima e os organismos vivos; introdução de novos elementos radioativos, nanomateriais, micro-plásticos).
Quatro das 9 fronteiras foram ultrapassadas, mas duas delas – a mudança climática e a extinção das espécies –, que são fronteiras fundamentais, podem levar a civilização a um colapso. Foi o que concluíram os 18 cientistas.
Tal dado coloca em xeque o modelo vigente de análise da economia da sociedade mundial e nacional, medida pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Este implica uma profunda intervenção nos ritmos da natureza e a exploração dos bens e serviços dos ecossistemas em vista da acumulação e, com isso, do aumento do PIB. 
Este modelo é uma falácia ou uma análise falsa, sem fundamentos científicos, pois não considera o tremendo estresse a que submete todos os serviços ecossistêmicos globais que garantem a continuidade da vida e de nossa civilização. De forma irresponsável e irracional considera tal fato, com suas graves consequências, como "externalidades”, vale dizer, fatores que não entram na contabilidade nacional e internacional das empresas.
E assim "gaiamente", ou quem vive na Terra, vamos ao encontro de um abismo que se abre logo aí à nossa frente.É a falência que foi citado acima.
Curiosamente, nas discussões sobre temas econômicos que se organizam semanalmente nas TVs (por exemplo, o Painel da Globonews, da rede Globo, canal fechado, aos sábados e domingos) nunca ou quase nunca se faz referência aos limites ecossistêmicos (exploração das riquezas do planeta) da Terra. Com raras exceções, os economistas parecem cegos e cegados pelas cifras do PIB ou do ganho fácil, reféns de um paradigma velho e reducionista, de analisar a economia concreta que temos, como se a natureza não existisse ou a Terra fosse igual a uma simples máquina que quando quebra é só trocar...
Se todas as fronteiras forem violadas, como tudo parece indicar, que acontecerá com a Terra viva e a Humanidade? Temos que mudar nossos hábitos de consumo, as formas de produção e de distribuição, como não se cansa de repisar o Papa Francisco, ausente nos analistas de O Globo, Folha, Veja, Band, SBT, Época, etc., que sequer fazem uma referência a um tema tão fundamental como os limites do planeta Terra, ou são completamente ignorantes quanto ao assunto. 

Mal imaginam que podemos conhecer um "armagedom”  (é só lembrar desse filme) ecológico-social sem precedentes.

Imaginemos o planeta Terra como um avião de carreira da Gol, TAM, American Line, Alitalia ou outro qualquer. Possui limites de alimentos, de água e de combustível. 1% viaja na primeira classe; 5% na executiva e os 95% na classe econômica ou junto às bagagens num frio aterrador, dentro do compartimento de cargas, isso mesmo. Chega um momento em que todos os recursos se esgotam.

O avião fatalmente se precipita, vitimando todos e de todas as classes. 

Queremos este destino para a nossa única Casa Comum, Gaia ou Terra, e para nós mesmos? 
Não temos alternativa: ou mudamos nossos hábitos ou lentamente definharemos como os habitantes da ilha de Páscoa até restarem apenas alguns representantes, talvez invejando quem morreu antes, isso mesmo, somente sobraram as estátuas na ilha de Páscoa, cadê a vida?
Efetivamente, não fomos chamados à existência para conhecermos um fim tão trágico. Seguramente "o Senhor, soberano amante da vida” (Sab 11,26) não o permitirá. 
Não será por um milagre, mas pela nossa mudança de hábitos e pela cooperação de todos, ou todos podemos escolher irmos viver em Marte, que não tem água, nem oxigênio... 
Leonardo Boff escreveu Proteger a Terra-cuidar da vida: como escapar do fim do mundo, Record, Rio 2010.
Fonte: Blog do autor Leonardo Boff
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=86406

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