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12.05.2017

Na CPI da JBS: população entende que a mídia não cobre, encobre...

A mídia hegemônica encobre, mente e distorce os fatos de acordo com os próprios interesses

por Jos̩ A. Ba̤o* para Chuvaacida РSociedade e Imprensa Golpista

NTÓOÉ vergonhoso. Os dias passam e a velha imprensa continua em silêncio sobre o depoimento do advogado Rodrigo Tacla Durán. Isso surpreende? Não. O desdém pela democracia e pelo próprio jornalismo tem sido a regra para os títulos do costume. As denúncias, que lançam um manto de suspeita sobre a Lava Jato, têm indiscutível valor jornalístico. É preciso investigar. Esse é o papel da imprensa. Nem que seja para desmentir o advogado. Mas a mídia não cobre. Encobre.

Há um déficit de democracia nas redações. Para muitos títulos da velha mídia brasileira, o valor-notícia passou a ser definido de acordo com os próprios interesses corporativos. “Deontologia”, essa palavra tão apreciada nos regimes democráticos, porque define valores éticos, não entra no dicionário. Os escrúpulos foram mandados às urtigas e a infâmia tornou-se uma linha editorial. Essa mídia tornou-se um poderoso vetor para a destruição dos valores éticos no país.

Há muito por esclarecer. Tacla Durán acusa o advogado Carlos Zucolotto, padrinho de casamento de Sérgio Moro, de ter oferecido redução de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões numa multa que lhe seria imputada. E outros US$ 5 milhões deveriam ser pagos na forma de honorários. Ou seja, o famoso “por fora”. É grave. E no meio desse turbilhão surge uma sigla que já vai ficando famosa: DD, de Curitiba. Tentar adivinhar quem seria o tal DD virou uma das manias na internet. Seria Dower Doint?

A denúncia também explodiu no colo do casal Moro, uma vez que o nome de Rosângela Moro, mulher do juiz, apareceu no olho da tempestade. Há denúncias que envolvem dinheiro. Em sua defesa, ela postou que “o tempo esclarece tudo”. Esperemos. O escândalo não acaba aqui. Há ainda a denúncia de que procuradores da Lava Jato estariam a usar documentos de autenticidade duvidosa para legitimar a palavra de delatores. E mais: haveria uma intenção de direcionar essas delações para atingir alvos específicos. Quem seria? Pergunta retórica.

As acusações de Tacla Durán devem ser vistas com alguma cautela. Afinal, o homem não é um santo. Mas por que acreditar nele e não nos outros? Há pelo menos uma razão de peso. O advogado não está preso (nem será extraditado da Espanha, onde vive atualmente) e, por isso, não sofre do stress do encarceramento. Quem nunca ouviu acusações de que Curitiba é a “Nova Guantánamo”? Ou seja, um lugar onde o esgotamento psicológico é usado como técnica para quebrar os presos e obter delações.

Mas voltemos à mídia. É lídimo fazer projeções. Se fossem denúncias contra Lula, Dilma ou o Partido dos Trabalhadores, por exemplo, alguém duvida que haveria transmissão em direto pela televisão? Edições especiais? Ou até helicópteros? Mas o tema Tacla Durán foi relegado à não-existência pela velha mídia. E todos sabemos que se uma coisa não é vista no Jornal Nacional, então não existe. O lado bom é que o tema dominou as redes sociais. Mas o Brasil é um país de infoexcluídos e a internet ainda não consegue levar as notícias a todos os lados.

Eis o cerne da questão. A mídia hegemônica encobre, mente e distorce os fatos de acordo com os próprios interesses. E tem contribuído, com relevo, para a instalação desse clima de pouca-vergonha no país. Ã‰ preciso mudar. As plataformas digitais são uma solução de futuro, porque ainda carecem de maior implantação. Mas sem a democratização da mídia não há democracia. Infelizmente, só resta esperar que o próximo presidente, seja quem for, tenha tomates para resolver essa questão. Pelo bem do país.

É a dança da chuva.
*
http://www.chuvaacida.info/2017/12/tacla-duran-midia-nao-cobre-encobre.html

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